Que a
Luna tem sido uma mártir com plágios já todos sabemos, que me lembre já foram umas três ou quatro vezes, a última (e a mais grave) muito recentemente, com direito a criação de grupo no Facebook e tudo.
Mas a coisa é mais complexa, e tem vindo a agravar-se. Já não é o mero pegar num texto alheio e fazer
copy/paste, a coisa é mais subtil e insidiosa do que isso. O que se passa é que anda meio mundo a copiar o outro meio. Das mais variadas formas. Ora se recria uma quase réplica de um blogue conhecido, estética incluída, copiando fórmulas até à exaustão, ora se vai buscar exactissimamente um mesmo qualquer assunto insignificante (não, os temas nunca passam pela Economia, pela política, pelo desemprego ou pela crise de vocações), estou a lembrar-me, uma vez mais, da
Luna e da
Nutella — arre, a rapariga é uma predestinada! Pega-se numa dessas trivialidades recentemente abordadas em blogues de destaque e vai de falar também delas como se de uma epifania se tratasse (este substantivo pode ser traiçoeiro, já percebi que há muito boa gente que não sabe nem desconfia que significado tem — leu-se a palavra algures, achou-se de efeito, consultar um dicionário é trabalho adicional nada apetecível, toca a dizer disparates). É melhor nem trazer a estrada de Damasco para a conversa, que aí é que os neurónios entram em curto-circuito, fiquemo-nos pela epifania, ilustra suficientemente.
Mas há mais. Há a escrita, geralmente paupérrima, mesmo em blogues que estão na lista dos cem mais lidos. Em alguns desses até já encontrei medonhas asneiras de português, por gente que faz da escrita profissão, e/ou que até tem livros publicados (e NÃO, NÃO estou a falar da
Pipoca, evidentemente, deixem-se de ideias parvas). Mas nem sequer é isso que está aqui em questão. Aquilo em que é impossível não reparar é que até no estilo de escrita (de medíocre para baixo) as cópias se multiplicam até ao infinito, usando eternamente chavões, sempre os mesmos, de tal maneira que eu, que leio tudo no
Google Reader, muitas vezes tenho de subir a página para confirmar que blogue é aquele: é que pode ser um de vinte. Ele é aquele «e tudo e tudo» (que pode levar hífen, consoante a autora), ele é o «mimimi», também com ou sem hífen, ele é a Heidi ou a Giselle que pariram recentemente e já estão outra vez as deusas que sempre foram: acaba-se o
post com um eficaz e
estafado original «cabra», ou «
bitch». Fica sempre bem, compõe um género modernaço e
cool. Ele é a crucial questão de saber em que lado da barricada da H&M se fica, a favor ou contra. Ele é a indecisão quanto às
clogs, se se gosta ou não. E quem diz
clogs diz transparências, chumaços nos ombros (e não, não são
enchumaços, dizer
enchumaços equivale a dizer
entropeçar, está bem?), ou o
Particulière da Chanel. Aproveito também para esclarecer muita mente confundida que insiste em dar dois nn à marca, talvez achando que dobrando a consoante lhe redobram o prestígio: é Chanel, não é
Channel. Os exemplos são infindáveis e não vale a pena continuar.
Um pequeno aparte, que é a
Pipoca, e em quem isto tudo é mesmo capaz de ter começado. Ela foi a pedrada no charco, e as sucessivas ondas concêntricas que tentaram copiá-la, sem terem a graça que ela genuinamente tem, cansam e são ridículas. Não têm um estilo, uma cor, uma identidade, é mesmo tudo uma mesmice (substantivo do grande Eça que tão rotunda e eloquentemente cataloga tudo isto). Estão para o blogue da
Pipoca como uma Vuitton de Canal Street está para uma autêntica. E como não suporto imitações chego a preferir os blogues trapalhões e idiotas que vou acrescentando ao GR, com um prazer perverso e partilhado em privado com duas ou três outras
bloggers, lá iremos um dia destes. A
Pipoca anda nisto há seis anos, ou coisa que o valha. Apanha-se o comboio em estações e apeadeiros posteriores, dois, três ou quatro anos depois. Se ela pode, nós também podemos, certo? Errado, tremendamente errado. A Pipoca é a Pipoca, os outros são os outros. A Pipoca é autêntica, goste-se mais ou menos dela. Os outros são clones toscos, mantas de retalhos de coisas dela e de outras, numa mixórdia confusa que não é carne nem peixe, em que não há individualidade. E a Pipoca pode alinhavar um texto de 3600 caracteres (a média de duas páginas A4) num quarto de hora, enquanto cada ovelha Dolly da blogosfera sua para produzir dois curtos parágrafos amorfos. E, já se sabe, profusamente recheados das parvoíces costumeiras. Muito provavelmente rematadas com um
cabra. Ou com um
bitch.
Já estou a alongar-me mais do que previa e queria, mas tenho ainda de referir um último caso de esperteza saloia blogosférica, que é o da criação
espontânea de pensamentos interessantes. «Fui eu que inventei, sou boa, não sou?» É a réplica em moldes diferentes do que aconteceu recentemente com a Luna, gente a querer brilhar com ditos ou ideias alheios. Só que subestimar a esperteza alheia é um erro gravíssimo. E quem diz a esperteza... diz a memória. A minha, tão decantada, que tantas pessoas deixa em êxtase, não é mais do que o fruto de boas associações de ideias, e de muito ter lido, de muitos filmes ter visto, de muitas centenas de letras de músicas (sempre o culto da palavra) armazenadas num escaninho do cérebro que até pode estar adormecido. Mas a lembrança está lá, e sou capaz de a reconstituir, sou capaz de ir recuperá-la, com mais ou menos trabalho. E tenho um faro especial para a aldrabice, para a incongruência, para os desníveis entre o que é copiado ou adaptado (que é bom) e o que é produção própria (que vai de fraco a patético). Ainda ontem deparei com um pensamento
giro num blogue sobre o qual já tinha fortes suspeitas. Ler e saber de onde aquilo vinha foi imediato, a cena do filme projectou-se automaticamente na minha cabeça, revivi mentalmente o diálogo. Comentei subtilmente. A autora (do blogue, não da ideia, evidentemente) fez-se de morta.
Yeah, right.
Um dia destes, qual nova Isilda, mas pela positiva, ponho aqui a lista dos meus blogues favoritos. Há sempre essas gloriosas excepções, e eu continuo a gostar muito da blogosfera. Não sou de desistir facilmente.