quinta-feira, 25 de dezembro de 2014

Trégua de Natal

A Grande Guerra, a que também chamaram esperançosamente «a guerra para acabar com as guerras», tinha começado a meio do Verão, em Julho de 1914. Os soldados a caminho da frente de batalha estavam genuinamente convencidos de que a luta seria breve e chegaria ao fim antes do Natal.  Tal não aconteceu. O horror prolongou-se por quatro longos anos e fez mais de 16 milhões de mortos.

aqui disse em tempos que a I Guerra Mundial foi a última guerra a reger-se ainda por padrões centenários, apesar de já haver aviação, apesar da invenção monstruosa do gás letal. Em boa verdade, poderá considerar-se que só com ela o século XIX acabou verdadeiramente. A guerra não matou apenas milhões de pessoas, matou também uma ordem social estabelecida. Mais do que qualquer outra nacionalidade, a britânica foi abalada até ao âmago e não mais seria a mesma. A fina-flor da nobreza (que viria a perecer em números aterradores), imbuída ainda dos ideais e códigos dos cavaleiros de outros tempos, persistia em ver no inimigo meramente um adversário, como se o confronto mundial se tratasse de uma justa da Idade Média. 

O ânimo com que oficiais e soldados partiram para a frente cedo esmoreceu. Com a chegada dos frios do Outono e logo a seguir dos rigores maiores do Inverno, começou a instalar-se o desânimo, um desespero surdo no fundo da miséria lamacenta das trincheiras. Acredito que, se dependesse dos soldados anónimos dos dois lados do conflito, a guerra poderia ter acabado naquele Dia de Natal de 2014, faz hoje cem anos.

Faz hoje cem anos que, em vários pontos ao longo da frente ocidental, soldados britânicos e alemães fizeram espontaneamente uma trégua, confraternizaram, improvisaram até partidas de futebol e — o que mais me comove — deram juntos sepultura aos camaradas caídos na terra-de-ninguém.

Sobre essa justamente célebre trégua do Natal de 2014 muito se escreveu e disse, deixo aqui apenas  um muito breve documentário, encontrarão outros mais extensos e aprofundados no YouTube — valem a pena.


Em 1983 Paul McCartney lançou o álbum Pipes of Peace. O vídeo da canção-título recriava a trégua de quase 70 anos antes:

7 comentários:

  1. Obrigada, Teresa, este é um belíssimo post de Natal.

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  2. Um dos meus momentos da historia preferidos. E ver em directo campos de batalha em França e Belgica apenas fomentaram ainda mais esse sentimento.

    Quanto à nobreza e alta sociedade britanica, penso que foi a partir do Titanic que comecou a descambar e a WWI veio confirmar isso.

    Beijo enorme!

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    1. Como acompanho o teu blogue há anos, tenho ideia de teres escrito sobre isso, e de muito provavelmente ter comentado, já que é assunto que sempre me interessou imenso.

      Já quanto ao Titanic, tenho de discordar de ti. Fui inclusivamente consultar estatísticas das mortes, e descobri que morreram 25 passageiros britânicos da 1.ª classe, o que é um número sem expressão, podes conferir aqui:

      http://www.icyousee.org/titanic.html#nation

      Penso que és capaz de gostar de um outro post que escrevi há muito tempo, este:
      http://gotaderantanplan.blogspot.pt/2008/11/guerra-para-acabar-com-as-guerras.html

      Beijo enorme, feliz Natal!

      P.S. E claro que continuo a acompanhar o teu blogue, que está entre os meus favoritos de topo. :)

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