sábado, 14 de março de 2009

Câmara dos Horrores #6: Roberto Leal

Eu devia era ter juizinho e ficar muito caladinha da próxima vez que tiver a veleidade de denegredir as produções canoras da S'Dona Simone (está bem, abelha...) nos loucos anos sixtes. Afinal as versões da S'Dona Simone são primorosas (not!) e eu fazia troça sem ponta de razão!

A minha única atenuante é que ainda não conhecia este prodígio de Roberto Leal, tradução (?) livre, mesmo muito livre, do próprio: Recado a John Lennon (Ei Tu) — e nem vos passa pela cabeça a vontade de rir que este Ei Tu me dá...

Como provavelmente terão reconhecido — com alguma sorte e um apurado ouvido musical —, isto é Hey Jude, dos Beatles. Mas não é uma versão qualquer, é uma versão eivada de lusitanidade, em ritmo de vira do Minho e com um cheirinho inconfundível a rancho folclórico: ele há acordeão, ele há adufe, ele há ferrinhos, ele há o que se queira para dar a atmosfera única das festas de Nossa Senhora d'Agonia. E agonia é bem o que se sente a ouvir isto, não obstante o fascínio hipnotizado que nos força a ouvir até ao fim. E o fim vale a pena, porque ainda somos brindados com uma escorregadela para Lucy in the Sky with Diamonds, enquanto o artista geme, desorientado, «não sei onde estás para me dar a mão». Obrigada, Luís!

Deixo-vos com a letra. Se alguém a perceber, importa-se de ma explicar? Já agora, lembrem-me de vos contar, um dia destes, como eu, que nunca fui de pedir autógrafos, acabei há muitos anos (aturdida e derrotada) com um autógrafo de Roberto Leal na mão.

Recado a John Lennon (Ei Tu)
Ei tu
Que eu não pensei
Que estas canções fosse esquecer
Relembro e encontro dentro de mim
Um pouco de ti
De um tempo feliz

Ei tu
Puseste ao chão
A bandeira da minha geração
E lembra meu canto a te chamar
E o mundo a chorar, saudades de ti
Não sei quem foi que te mudou
Não fiques só
Junto aos outros três és bem melhor
Porque insistir em te mudar?
Perdoa a mim, mas tua missão não teve fim

Ei tu
Onde andarás,
Onde estará tua canção?
E então não há um coro a cantar
Só ouço tua voz
Perdida no ar

Ei tu
Puseste ao chão
A bandeira da minha geração
E lembra meu canto a te chamar
E o mundo a chorar, saudades de ti

Não sei onde estás pra me dar a mão
Não sei onde estás pra me dar a mão.

12 comentários:

  1. Pedro,
    A capa... ou a cara e cabelo?
    É que a capa até é admiravelmente discreta para o género...

    Ana,
    Disseste tudo.
    Nem sonhas as coisas que eu para aqui tenho... :)
    Faduchos sexta-feira?

    Beijos!

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  2. Voltei, não resisti. "Hei tu"???? O Lennon deve estar aterrorizado na tumba, com a ideia de ter de dar a mão ao Roberto Leal! E ainda gostava de saber o que quer ele dizer com "puseste ao chão a bandeira da minha geração". Se calhar acha um grande elogio...

    Faduchos? Vocês agora não querem outra vida, hein?? Tenho de ver... estive anos sem ir aos fados e agora é esta peregrinação à Mariquinhas!! lol

    beijo

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  3. Ah! Ah! Autógrafo de Roberto Leal? Também tenho um! E que história! Em 1979 acompanhei profissionalmente uma visita de Soares ao Brasil. Sem tempo para compras, pedi a uma das meninas que nos dava assistência que me comprasse o LP que mais se vendia em São Paulo. E ela trouxe-me o LP de um tal Roberto Leal que eu nem sequer sabia quem era. Só em Lisboa ouvi o disco e me disseram que era português. Fiquei para morrer! Um dia na Poylgram encontrei-o e contei-lhe a história. Ofereceu-se para me autografar o LP e eu aceite...

    LT

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  4. Ana,
    Percebo-te: isto é mesmo irresistível, de tão mau.
    Só não percebes essa parte? Felizarda!

    Quanto aos faduchos, não és nada exagerada! Alinhas?

    Pedro,
    Só pode!

    Luís,
    Já percebi tudo! Ele anda por Portugal e Brasil a oferecer autógrafos! Vou contar a história, está decidido.

    Beijos!

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  5. Maria e David,
    Vocês ainda não viram NADA!

    Me aguardem...

    Beijos.

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  6. Não sei se devia ter vindo aqui antes de ir dormir. Temo o pior na minha fase rem desta noite...

    ;)

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  7. Estava com umas quantas postas em atraso e ainda bem que vim agora, que estava tão aborrecido com coisas cá da minha vida. Poupei no Prozac. Este "Ei tu" é uma pérola. Como é que eu não conhecia isto?

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