quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

A Passion for Fashion. Or Not.

Vou confessar uma coisa  que deixará muito boa gente (mas não a maior parte das pessoas que me lêem, porque as julgo muito parecidas) de cabelos em pé: o meu interesse por moda é, sempre foi muito moderado. Mesmo muito moderado, a raiar o insignificante.

Para terem uma ideia, se tiver comprado, em toda a minha vida, umas 20 revistas de moda, terá sido muito. Sou de uma geração que cresceu com a Loja das Meias a mostrar o que se usava, mais tarde veio a Stivali, a minha querida Marias, a Max Mara, e isso sempre me foi bastante. Acima de tudo, sempre tentei que o bom senso imperasse. Nem tudo o que se usa em determinada estação nos fica bem, independentemente da idade. As calças de cintura descaída sempre tiveram a minha rejeição total. Para começar, porque são desconfortáveis. Depois evidenciam os pontos fracos da maior parte das mulheres. Então por que raio insistiram em usá-las durante tanto tempo? — e acreditem que elas voltarão, as tais calças que só ficam bem a alguém com mais de 1,70 m e menos de 47 quilos. Não têm espelhos em casa a mostrar aquela banhinha que descansa por cima do cós? Acham que ficam bonitas assim? Nem sequer é uma questão de idade, porque tenho visto muita adolescente em figuras tristíssimas (espreitem aqui, na caixa de comentários surgem opiniões totalmente concordantes com a minha; uma delas, fico feliz, de uma menina de apenas 20 anos). 

Quando vou aos Estados Unidos, compro quase sempre a Vogue. O número de Setembro costuma ser lendário e tenho dois ou três, acaba por ser interessante conhecer marcas novas e ficar com umas ideias (foi assim que conheci a Coach, que só agora, parece, chegou a Portugal, em versão diminuta). Folheei algumas vezes sem comprar a Vogue portuguesa, que achei perfeitamente pindérica em conteúdos. E depois, sabem, acho que raia o insultuoso mostrar sapatos que custam mil e muitos euros ou carteiras que custam o triplo (ou mais) num país em que o ordenado mínimo é inferior a quinhentos euros. Do mesmo modo que recuso usar uma imitação (para enganar quem e para aparentar o quê, se eu sei que aquilo é falso?), se não tenho dinheiro para o artigo genuíno passo sem ele, há preços que, para mim, beiram o absurdo.  Jamais terei uma Kelly da Hermès (e como eu amo aquela carteira!): mesmo que pudesse pagá-la, considero o preço imoral. Lá vou tendo umas Vuitton, o máximo a que a minha remediada algibeira pode chegar. 

Andando na blogosfera há cinco anos, acabei por conhecer alguns blogues de moda. Só muito recentemente, é certo. Mas cá foram surgindo. Ultimamente, nos últimos dois meses, vá lá, comecei a tropeçar algumas vezes num nome que toda a gente parecia conhecer, tirando eu,  e com quem toda a gente parecia ser tu cá, tu lá:  Anna Dello Russo (não será dello, com minúscula, Russo?). Fui investigar e fiquei perfeitamente elucidada. Parece que a senhora tem mais de quatro mil pares de sapatos. Mas quem é que, bom Deus, por mais perdulário que seja, precisa de mais de quatro mil pares de sapatos?! Num raciocínio aritmético básico, admitamos que muda de sapatos três vezes por dia: ao fim de um ano terá usado  4095. Entretanto, terá com certeza continuado a comprar. Mais sapatos e mais trapos, provavelmente quanto mais caros melhor. E não repete? Porque há peças de que gostamos tanto que queremos usá-las muitas vezes. Vou ser-vos muito franca: este não é o género de pessoa que eu possa admirar ou invejar. Admiro e até posso invejar talento, não uma coisa tão insubstancial como ter um vastíssimo guarda-roupa e uma enorme colecção de sapatos.

Porque vos disse lá em cima que agora até vou conhecendo alguns blogues de moda, e porque em privado eu e algumas bloggers vamos trocando endereços de páginas que nos fazem rir, e até blogues de moda aparecem na lista, tenho de fazer referência a alguns nacionais que conheço (recentemente, repito). E são trágicos. Aquelas pessoas fotografam-se diariamente com roupas do mais barato  e falho de qualidade e corte que há, em cenários de gargalhada, com cabelos que desafiam definições, e acham-se ícones de moda. A gargalhada suprema foi quando, há uma ou duas semanas, deparei com uma menina integralmente vestida com marcas cujo espectro ia da Zara à Bershka, passando a meio por uma Stradivarius (saberão que é um violino lendário?) e de repente apresentava. — rufar de tambores! —... nem mais que uma carteira Hermès. A que ela chamava mala, evidentemente. A carteira era tão Hermès como eu me chamo Brigitte Bardot, escusado será dizer.

Por último, e porque não posso deixar de seguir em fascínio as descrições que estas divas da moda fazem das peças que estão a usar. Se eu não tivesse um inglês bastante razoável estaria tramada, não ia perceber nada. É tudo em estrangeiro. As calças são pants. Os sapatos (são só sapatos, por amor de Deus, não são S. Jorge e o Dragão!) são pumps, ou flats, ou peep toes, as botas são boots. E insistem enervantemente em revelar (como se isso me interessasse minimamente) a época da compra nessas marcas de tremendo prestígio. Ele é colecção S/S (ler Primavera/Verão, já disse que elas falam em estrangeiro, mesmo escrevendo deploravelmente em português, cada um é para o que nasce), ele é colecção F/W (Outono/Inverno). Há alturas em que dizem francamente que a peça é "Comércio Tradicional", e fixa-se irresistivelmente na minha mente a imagem de uma loja ranhosa da Rua dos Fanqueiros ou da Av. Almirante Reis, se não tiver sido mesmo numa anónima loja do Império do Meio. Noutras alturas, e porque a camisa, ou a carteira, ou a écharpe (e há quem escreva "encharpe") foram rebuscadas no armário, chamam-lhe old. E eu rio, porque é impossível não rir. E rir, digam lá o que disserem, é sempre uma grande coisa.

Banda sonora: não mudo. Ficam muito bem com Spanish Flea. Até porque a Helena gostou (temos as nossas debilidades inconfessáveis). E convenhamos que Uptown Girl, de Billy Joel, seria anedótico para o panorama nacional. Só conheço duas honrosas excepções. Mas trata-se de duas mulheres com mundo, muito diferentes do acanhado enquadramento de uma varanda, do passeio da porta do prédio, de uma esquina do corredor ou de um recanto que se acha decorativamente apelativo e se repete até à exaustão.

12 comentários:

  1. Alexandra,
    Nunca tive dúvidas de que ligasses tanto a estas tretas como eu. :)

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  2. Cara Teresa:

    Depois de ler os comentários do post que aqui referencia, não posso deixar de me lembrar de todas as vezes que a minha mãe me disse que se deveria comprar pouco e bom e não muito e barato. Ainda hoje me horrorizo quando compro uma camisola de malha que achei ser boa e ela, passada uma estação, se enche de borbotos. Mas penso, acima de tudo, que as novas gerações querem é ter muita roupa, e andar na moda. A toda a hora, a todo o instante. Gosto de moda, de coisas bonitas, mas ando desde Agosto para substituir umas botas pretas que já me fizeram seis Invernos (e que, coitadas, já dão de si), a desesperar, porque só vejo ou coisas caríssimas, ou coisas a imitar pele. Lucidez e valores, nestas coisas da moda, precisam-se, penso eu...

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  3. Eu tambem nunca fico invejosa de um blog de moda. O sentimento e' mais: tristeza, pena, as vezes vomito, quando me passa um blog de moda pelas maos. E' mesmo triste a necessidade de afirmacao das miudas de hoje em dia. Espero mesmo que nao seja geracional, que lhe passe com a idade e se tornem mulheres interessantes, educadas e produtivas, como as maes e avozinhas delas.

    Mais triste ainda fiquei recentemente com uma blogger em especial. Tenho uma amiga que e' designer de moda. Uma designer muito particular e especial e talvez so por isso tenha ficado minha amiga, pois foi como cliente que a conheci. Para alem de ser a docura em pessoa, nao e' nada de seguir "trends". Segue sim o instinto e e' pouco ligada nas correntes tradicionais. Seja pela docura, seja pelo talento, a verdade e' que tem vindo a ter um sucesso fenomenal e eu felicissima por ela.

    O reverso da medalha e' que com a fama chegam tambem os clientes para todos os gostos, com blogs de moda muito fajutos, onde exibem as pecas que compram dessa minha amiga numa mistela de fardas da Zara 'a Berska, com "malas" H&M, "pumps" Blanco e vernizes fajutos que da ao conjunto um aspecto de peixeira vai ao baile horrivel! Doi-me o coracao ver as pecas tao lindas, tao bem feitas dessa minha amiga naquela mistelada sem gosto. Tristeza!

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  4. PS para apagares depois - O teu ano tem muuuuuuiiiitttooos dias :)

    E claro que os 4mil sapatos dela sao comprados com a verba para roupas que as editoras de revistas ganham com os seus contratos milionarios, para alem do salario. A mais famosa e' a Anna Wintour da Vogue US que supostamente tem umas centenas de milhares de dolares por ano para gastar em roupa.

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  5. Céus! Não posso crer! Teresa! Também tu és uma fã de Caucau? Não! Somos tantas, temos de fazer um fã-clube.

    (a sério, no espaço de um mês ela fotografa-se com uma birkin e uma chanel, diz que comprou uma chloe de pele de cobra e uma lv. juro, é coisa para uns dez mil euros. alguém acredita? e, já agora, até podem ser genuínas - as que aparecem nas fotos - há aquela empresa de aluguer de malocas de marca, agora, e há tolinhas que devem dar dinheiro ao negócio)

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  6. Nunca compro imitações, concordo consigo... Gostava de ter roupa de grandes marcas mas não posso (o que não me aborrece muito;) )... Mas, e acho que é essa a piada da moda, divirto-me à brava com roupa da Zara e de outras marcas mais à medida do meu bolso (e acho que não me saio nada mal)!! ;)

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  7. P.S.: Quando à Russo: "A girl's just as hot as the shoes she choose"

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  8. Alguns (poicos) blogs de moda são interessante, até para tirar ideias. Outros,n não sei se ria ou chore.
    Qto à carteira hermés, se calhar a mocinha alugou-a. Não há já empresas que prestam esse serviço? Nos EUA acho que se aluga tudo o que é de marca, para quem não tem posses para a aquisição definitiva :)
    *

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  9. Sem querer saber desses blogues, três pequenos apontamentos:
    - Uma das coisas que mais me chocou, quando era nova, foi ler um artigo numa revista francesa sobre mulheres que volta e meia faziam de prostituta de luxo para ganhar algum dinheiro para trapinhos, já que o salário de secretária (parece que era o caso mais frequente) não dava para tanto.
    - Há anos, uma candidata a Presidente da República Alemã deu uma entrevista onde contava que o seu hobby era correr lojas de segunda mão em Berlim e comprar aquelas fatiotas fantásticas e caríssimas por cerca de um 1/3 do preço a que tinham sido vendidas na época anterior.

    Teresa, podes tirar a música. ;-) Depois da décima vez, o meu filho disse que já não é preciso ouvir mais. ;-)
    Queria mostrar-lhe aquela muito bem disposta, toda assobiada, mas não tenho a menor ideia de como se chama. Podes dizer-me o nome, por favor?
    Em troca, que me dizes do meu novo vício, a Esperanza Spalding?

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  10. sempre bem humorados estes posts (et voilà a palavra inglesa !)
    Della não é com letra pequena porque em italiano não é uma partícula como nos apelidos franceses ou portugueses

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