sábado, 15 de janeiro de 2011

Sem conserto?

Estou tão farta de ouvir, na voz dos locutores da SIC Notícias, que "o candidato X é o melhor posicionado nas sondagens"!

Não é o melhor posicionado, é o mais bem posicionado, irra!

Abstendo-me de explicações gramaticais mais complexas, dou só o boneco da coisa: se deriva de bem é mais bem, se deriva de bom ou boa é o melhor, ou a melhor.

Exemplos? 
Bem vestida — a lista das mais bem vestidas.
O Café de S. Bento tem um bom bife — o melhor bife de Lisboa.

Será assim tão difícil?

10 comentários:

  1. Encontrei várias respostas a esta questão no Ciberdúvidas. Por exemplo:

    http://ciberduvidas.sapo.pt/pergunta.php?id=119

    Parece-me que não há um consenso nesta questão. Ou seja, não se poderá dizer que A está certo e que B está errado. Claro que a mim também me soa muito melhor o mais bem + particípio passado, mas se não é considerado necessariamente um erro e nos meios de comunicação se começa a disseminar a opção do "melhor", talvez a língua venha a evoluir nesse sentido.

    ResponderEliminar
  2. Minha Amiga,
    O Ciberdúvidas é neste momento o mais eficaz instrumento da língua que temos (a Academia demora séculos, não consegue acompanhar os tempos). Respeito imensamente o Ciberdúvidas, a que passo a vida a recorrer. Nem imagina as dúvidas que tenho a cada momento! E tento clarificar. Achar que se sabe é muito muito mau, eu duvido sempre.

    Nesta questão parece-me que não há alternativa. A não ser que venha a ser consagrada a prática errada, por força da mera habituação. Queremos a nossa língua assim adulterada? Eu não quero, mas lá terei de aceitar, se assim me for ditado. A repetição da asneira gera língua. Cono tal, terei de aceitar esta alteração, num tempo que espero ainda esteja distante.
    Tenho uma colega no gabinete que acha que sabe muito de português, como acha que sabe muito de tudo. Até dá lições, imagine. Eu fico sempre muito caladinha. E rio a bom rir para dentro quando lhe foge o pé para a natural chinela e a oiço perguntar «Então, filha? FosteS ao médico? E o que é que (devia ser o "que foi que") almoçasteS?

    A língua evolui, sim. Veja os meus posts sobre (contra) o acordo ortográfico. Mas, por amor de Deus, que não evolua no sentido de camuflar e consagrar asneiras!

    ResponderEliminar
  3. É verdade o que diz. Mas também é verdade que grande parte da evolução da língua ao longo do tempo se faz a partir de erros. Basta pensarmos nas inúmeras palavras que sofreram metátese. Lembro-me sempre dos "joelhos", que já foram "geolhos" (ou "jeolhos", agora não sei ao certo). A verdade é que, se a língua não fosse sofrendo transformações, ainda falávamos todos latim. E transformações incluem erros, deformações que os falantes vão introduzindo. Não estou com isto a querer fazer a apologia do erro. Acho que se deve escrever em bom português. O bom português, claro está, de agora. Estava apenas a constatar que este poderá ser um dos casos em que a língua irá mudar, ou apenas ter duas normas neste caso. E constatei-o porque vi dois ou três «posts» no Ciberdúvidas sobre o assunto e percebi que nenhum dos linguistas disse "a forma correcta é esta; a outra está errada",embora, no geral, tenham dado preferência à forma "mais bem + part. pass."

    ResponderEliminar
  4. Li este post com um grande aaaaaaaaaaaah, finalmente alguém diz isto! É que já começo a duvidar de mim própria...

    Parece-me que estamos a assistir a um fenómeno muito divertido na nossa língua: pessoas que querem falar melhor (não é mais bem, pois não?) que as outras, e por causa disso deturpam a língua, convencidas que estão a seguir a norma erudita.
    É um caso de self fulfilling prophecy da gramática!

    Parece-me que é isso, e a confusão entre o bom isolado (parece que estou a falar de Rousseau), o bem isolado (Kant), e o bem ligado a um particípio passado:
    - eu falo bem, tu falas melhor
    e
    - eu escrevo frases bem esgalhadas, tu escreves frases mais bem esgalhadas que as minhas
    e
    - aquele gajo é muito bom, ah, mas havias de ver o amigo dele que consegue ser ainda mais bom (hihihi)

    Domingo à tarde: hora de brincar.

    ResponderEliminar
  5. Ainda sobre este assunto (e correndo o risco de me tornar extremamente insistente, irritante e maçadora), apesar de nunca na minha vida ter dito algo como "o artigo dele está melhor escrito do que o meu", sempre tive esta dúvida. E porquê? Porque, partindo do exemplo que inventei, será que "bem escrito" é mesmo todo um corpo, inseparável? Na verdade, o que eu quereria dizer com a frase do exemplo é que o artigo dele está melhor do que o meu. Está escrito de forma melhor. Ora, se eu disser que o artigo dele está "mais bem escrito do que o meu", o meu tem de estar, obrigatoriamente, "bem escrito". E se eu quiser apenas dizer que o artigo dele está escrito "de uma forma melhor", sem que isso obrigue a que o meu artigo esteja bem escrito? E se não estiver bem escrito, mas apenas escrito de forma medíocre? Será que posso compará-lo com outros, dizendo que os dos outros estão mais "bem escritos"? Ou será que estão "melhor escritos", uma vez que o meu não está bem escrito? É por esta razão que hesito antes de considerar isto um erro. Mas admito que possa estar a interpretar mal as intenções do "mais bem".

    ResponderEliminar
  6. Teresa, ainda hoje te liguei porque tive dúvidas em relação a uma palavra, mas como tinhas o telemóvel desligado arrisquei na forma que me parecia a melhor. Depois confirmo contigo.

    Ontem, bem, ontem estava capaz de encomendar a alma.

    Bj

    ResponderEliminar
  7. Secretária de S. Jerónimo,
    parece-me que a gramática não é inteiramente uma questão de lógica.
    Se o seu artigo está fraquinho, e o da outra pessoa está muito bom, o melhor é nem comparar, para não ficar com complexos de inferioridade...
    Contudo, se fizer mesmo questão, pode dizer que o outro é "vinho de outra pipa", está nos antípodas, coisas assim.
    Ou entrar na onda americana, que chama "good job" ao grau zero: tudo o que for melhor que isto é, logicamente, "mais bem feito".
    (ainda estou em ritmo de domingo à tarde)

    ResponderEliminar
  8. Perdoem-me... É que comecei a ler o blog há pouco depois de o descobrir através de um link para um sketch do Herman.
    As lágrimas dificultavam-me a leitura quando comecei a ler os primeiros posts e, sem que notasse, muitos minutos depois percebo surpreendida o sorriso que se instalou!
    Estou completamente encantanda com este livro maravilhoso.
    Obrigada! Obrigada! Obrigada!!

    ResponderEliminar
  9. Helena, adoro as tuas discorrições de Domingo à tarde. Principalmente aquela do amigo que ainda é mais bom.

    ResponderEliminar
  10. :-) para o Paulo.

    Havemos de ir beber uma cervejinha os dois num domingo à tarde. Fazemos a nossa versão da Valsinha do Chico Buarque, mas com gargalhadas.

    ResponderEliminar