domingo, 23 de outubro de 2011

Aceitem um bom conselho


Quem for da minha idade ou mais velho (mais novo já não será fácil) sorrirá deliciado e vagamente enternecido ao ouvir as primeiras notas lânguidas desta valsa que era o tema de abertura daquela que, ainda hoje, continuo a considerar uma das séries da minha vida, e há-de reconhecê-lo de imediato. Há coisas que nunca esquecemos.

Ando apaixonada por Downton Abbey, é o meu lado anglófilo, nada a fazer, já para não mencionar a participação da minha adorada Dame Maggie Smith. Ao mesmo tempo, à medida que vou vendo mais episódios (só a primeira temporada está editada em DVD, obrigada pelo resto, Charlotte!), vai crescendo em mim a sensação de déjà vu, e é irresistível não lembrar Upstairs Downstairs, que em Portugal começou a passar como A Família Bellamy, tinha eu treze anos, mesmo sendo a série de 1971 (tudo chegava cá com atraso).

Para quem conhece as duas séries, é impossível não achar que a mais recente foi inspirada na mais antiga, com aquela dicotomia tão rígida, criando uma linha divisória nítida entre o andar de cima e o de baixo, o dos amos e o dos criados, mesmo havendo breves intersecções possíveis, ainda que indesejáveis — people should know their places.

Há mais paralelismos, que começam nas épocas retratadas. A acção de Upstairs Downstairs vai de 1902 a 1930, ao longo de cinco temporadas, atravessando toda a época eduardiana e capturando ainda a maior parte do reinado de Jorge V — com grande incidência na terrível I Guerra Mundial, tal como em Downton Abbey. Como devem estar lembrados, Downton Abbey começa com a notícia da tragédia do Titanic (12 de Abril de 1912), que cria o grande problema da sucessão do título e da propriedade. Também em Upstairs Downstairs o naufrágio tem enormes repercussões, logo no princípio da terceira temporada.

Upstairs Downstairs retrata um meio de grande riqueza, mas menos imponente do que o de Downton Abbey. Lady Marjorie, a dona da casa e filha mais velha do conde de Southwold, vive com o marido, Richard Bellamy, membro do Parlamento, no n.º 165 de Eaton Place, na luxuosa Belgravia. Há também os dois filhos, James e Elizabeth, ele já adulto, ela a debutar na sociedade. Via de regra, o fio condutor dos episódios é mais trivial, doméstico e quotidiano do que em Downton Abbey, permitindo-nos um fascinante vislumbre da vida privada de duas classes sociais muito diferentes numa época em que o abismo entre ambas era praticamente intransponível.

Upstairs Downstairs foi servida por um notável leque de actores. Impossível esquecer Gordon Jackson, o inflexível mordomo Hudson, de forte pronúncia escocesa. Ou Jean Marsh, uma das criadoras da série, como a criada Rose. Verdade, verdadinha, são todos inesquecíveis, desde Lady Marjorie e o marido ao pessoal da cozinha, em que reina a resmungona Mrs Bridges, de coração de ouro.

Bem vistas as coisas, e fazendo uma média, por enquanto a minha preferência continua do lado de Upstairs Downstairs, porque old loves die hard. É para ela que o meu coração se inclina mais. Consideremos a idade, 40 anos, e a disparidade de meios técnicos e financeiros. Basta ver como são raros os exteriores.

Como a maior parte dos que me lêem é bem mais nova do que eu, fica o meu conselho: não deixem fugir esta pérola. À laia de apresentação, fica aqui a primeira parte do primeiro episódio (as cinco temporadas estão disponíveis no YouTube), depois é só irem seguindo.



Por último, para fechar com chave de ouro e para quem quiser, depois de vista a série, fica este mimo final, que me ocupou hoje a tarde: The Story of Upstaisrs Downstairs, em cinco episódios.


6 comentários:

  1. Hehehe, de nada ;)

    Quanto à Upstairs Downstairs já tinha realmente lido que era a inspiração de Downton Abbey, mas ainda assim tenho tanta coisa para acompanhar que me falta tempo. Mas assim que puder, dou uma espreitadela.

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  2. "Mais novo já não será fácil"? Errado, cara Teresa! Apesar de a série ter a minha idade, lembro-me de a ver em pequenita. Não a seguia com toda a regularidade, mas gostava muito da Família Bellamy (o meu lado anglófilo tanto me fazia vibrar com esta como com os Monty Python: os meus pais não percebiam bem o que fazia uma garota de dez, doze anos gostar tanto daqueles tontos). E quando vi o primeiro episódio de Downton Abbey lembrei-me logo dos Bellamy, juro.
    Estou a amar Downton Abbey, o nível de representação é magistral, a magnífica Maggie Smith diz tanto com os olhos, ai, aquilo é um portento.

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  3. Lembro-me de ver em casa dos meus Avós.
    Foi preciso passar por aqui para me voltar a lembrar.
    Obrigado

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  4. Vou seguir o conselho, sim. Já avisei a gataria: sábado ao final da tarde (vão repetir o episódio da passad 2ª feira) não quero ouvir nem um pio!)

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