terça-feira, 10 de junho de 2008

Sex and the City, the movie: not so good...

Ontem, véspera de feriado, o Colosso estaria a meio-gás, era previsível que houvesse pouco trabalho. Yeah, right! Saí de lá já perto das oito e meia, e a tarde foi frenética. Tinha desafiado as Cell Blog Chicks para irmos ver o filme juntas, apontando o dia seguinte à estreia. A Mad, já se sabe, está a milhares de quilómetros. A Rosarinho não deu cavaco. A TCL respondeu desinteressadamente. A Sofia ripostou (e muito bem!) que nesse dia jogava a selecção. As únicas que queriam realmente ver o filme quanto antes éramos eu e a Ana.

Quando finalmente estava a ultimar as coisas para sair, decidi que ia ver o filme ontem, sozinha ou acompanhada. Precisava daquela evasão, tão cansada estava. Ainda tentei ligar à Ana, que não atendeu. Fui sozinha.

Bem que eu estava renitente quanto a esta transposição ao cinema! Não se deve mesmo mexer no que é perfeito, e a série de televisão era-o. Por outro lado, e vamos com calma, não é um mau filme — é apenas decepcionante para quem, como eu (e acredito que milhões de mulheres), conhece a série de cor.

O filme está bem feito, que está. É razoavelmente credível, se nos abstivermos do facto de uma caramela com uma crónica semanal num jornal piolhoso chamado The New York Star [e com isto intitula-se escritora, coisa que sempre me fez confusão] poder comprar Manolos, Jimmy Choos e Louboutins a toda a hora. A evolução das quatro amigas, aquilo a que chegaram quatro anos depois, é plausível. Mas o filme é poucochinho. O filme é de um exibicionismo parvo. Sarah Jessica Parker volta a ser vetada por toilettes disparatadas, e ainda tenho bem fresco na memória o esdrúxulo objecto que pôs na cabeça na estreia mundial do filme, em Londres — o Vítor achou que era uma montagem... Se o filme pretende ser, em simultâneo, uma homenagem a Nova Iorque, até aí desilude. Tirando um breve lampejo da Bethesda Fountain que me pôs logo um nó na garganta, tirando um certo encontro a pé na ponte de Brooklyn (que também só fiz até meio), não vi imagens arrebatadoras da cidade como só ela sabe ser e a série tão bem tinha mostrado.

Vamos agora à história, e farei os possíveis para não estragar a surpresa a quem ainda não viu.

Tentarei não misturar actrizes e as personagens a que tão bem deram vida, que são todas fabulosas. Cynthia Nixon é, para mim, a melhor de todas, e não é debalde [WOW!, outra vez no mesmo dia!] que já leva um Emmy por SATC e um Tony, talvez o mais nobre de todos os prémios, no curriculum, por Rabbit Hole [Vítor, posso voltar a dizer que te odeio?] Fiquei deslumbrada quando, lá por 2000, revi mais uma vez Amadeus e a reconheci na criadinha adolescente que Salieri tinha contratado para espiar Mozart. Além disso é, para mim, a mais bonita das quatro — aqui antecipo vozes discordantes. Kristin Davis é linda, certo. Kim Cattrall é encantadora e tem um corpo que vou ali e já venho, e nem vou falar no facto de já ir nos 51 anos. Sarah Jessica Parker, grande actriz, é a menos bonita das quatro. Cynthia Nixon, para mim, supera-as a todas. É uma nova Meryl Streep, com uma beleza que vem de dentro, qualquer coisa que irradia e que nem toda a minha verbosidade chega para explicar. Dois apontamentos, para quem não saiba: Cynthia Nixon, mãe de dois filhos, vive neste momento com uma mulher — nunca se deteve a analisar a sua sexualidade, acontece apenas que se descobriu apaixonada por outra mulher; Cynthia Nixon derrotou recentemente um cancro da mama.

Em Sexo e a Cidade, as minhas personagens favoritas sempre foram Miranda e Samantha. Miranda pelo sentido de humor ácido e demolidor, tão de acordo comigo. Samantha pela sexualidade alegre e assumida que faz dela duplamente personagem de ficção. Eu acho que não há mulheres assim, tenho amigos que dizem que há, e que conhecem algumas. A mulher mais próxima da personalidade exteriorizada de Samantha que conheci era profundamente infeliz. Usava o sexo como tentativa desesperada para encontrar um grande amor, e nunca me pareceu que com bons resultados. Acabava cada one night stand maltratada, humilhada, acabrunhada. Foi a ela que ofereci, há muitos anos, o livro que a querida Cora me reencontrou, A Nova Mulher.

Há mais razões a fazerem de Miranda e Samantha as minhas preferidas. São genuinamente as mais generosas, as mais compassivas. Samantha até abdica de uma tarde de extremo luxo com um cabeleireiro da moda, marcada com meses de antecedência, para a ceder à amiga perdida numa maternidade recente. Até cede o vibrador acabado de comprar para aquietar o filho da amiga, que não pára de chorar. Quando Carrie, a viver uma relação sólida com Aidan, volta a envolver-se com Mr Big, então casado, só a Samantha tem coragem de confessar a verdade. Carrie sente-se tão culpada que lhe pergunta por que não a julga, por que não a recrimina. Samantha encolhe os ombros, estende-lhe um copo de vinho, faz um sorriso triste que diz mundos e responde apenas «Not my style

Charlotte e Carrie são bem mais egoístas. Parecem umas queridas, eu sei. Miranda e Samantha são pessoas melhores. Quando Miranda tem um acidente que a imobiliza nua no chão da casa de banho e pede socorro a Carrie (a mais egoísta de todas, mas que, por misteriosos desígnios do guião, é a amiga adorada das outras três) ela despacha o namorado para a ajudar, submetendo-a a uma enorme vergonha. Quando Carrie se vê na iminência de ficar sem casa, Samantha é a primeira a oferecer-lhe o dinheiro para a entrada, Miranda (a tal fria e dura) secunda-a imediatamente, mesmo estando no fim de uma gravidez e com enormes despesas pela frente. Charlotte, a próspera, que acaba de receber um senhor apartamento na Park, alheada, faz barulho com a palhinha, a chupar o resto do batido...

Mas voltemos ao filme, que é o motivo deste discurso interminável.

O filme nem enche nem preenche. Deu para matar saudades delas, mas nada daquilo convence. Empenharam-se de mais no guarda-roupa e nos acessórios, e de menos numa estrutura sólida e convincente para as personagens. E é aí que estão tramados, que milhões de mulheres por esse mundo fora conhecem-nas muito bem, às personagens. Até chegaram ao ponto de se projectar em algumas delas. Esse é, em última instância, o grande problema de SATC: é que rara é a mulher que não se identifica com todas as heroínas, neste ou naquele aspecto. Em cada uma de nós há, ao mesmo tempo e tudo misturado, um bocadinho daquelas quatro, por isso nos são tão queridas. A céptica e mordaz Miranda, tão vulnerável; a incorrigível romântica que é Charlotte (mas vejam lá se ela deixou fugir o apartamento de milhões na Park? Ou se, quando casou pela segunda vez, o marido não era um próspero advogado com casa nos Hamptons? Uma romântica com objectivos...). A fogosa Samantha, que descarta homens como se fossem lenços de papel. O grande enigma continua a ser Carrie. Para mim a menos simpática. Provavelmente a mais verdadeira.

Nota mental: vejo-me forçada a considerar que as deploráveis maneiras de Carrie à mesa, sempre a falar de boca cheia e a gesticular com os talheres, devem ser mesmo composição de personagem. Repetem-se no filme. É que até dói.

4 comentários:

  1. Hummmm, vejamos por partes... (como diria o esquartejador)

    Corri ao filme, como fizeste, mesmo na estréia, também antes de tudo para matar a saudade de vê-las. E se me decepcionei também pela falta de cenas externas de NYC... Meu Deussss!!! Que closet era aqueleeeee???? Pra mim só pela iluminação, já virou um personagem à parte (rsrsrs) Quanto às considerações sobre beleza física de cada uma, lol, quanta diferença do teu pensamento (ou impressão)... Acho a Samantha a mais bonita de todas, depois a Carrie (vê bem, olhos azuis como aqueles não se acha fácil!), depois a Miranda (que tem estilo próprio- e isso acaba dando-lhe um charme especial) e por último a Charlotte - que pra mim sempre apenas "precisava" estar lá para fazer o contra-ponto de 3 mulheres de conteúdo. Não é feia, está certo, mas acho-a totalmente insossa... :(
    Quanto ao filme, como um novo episódio, anos mais tarde, valeu... Mas nada assim um THE movie, realmente. Prós e contras reunidos, divertiu-me e gostei.

    PS: Mas a Samantha dispensar aquele gato.... bom... ela é que sabe

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  2. Charlotte só foi mesmo muito parva quando deixou o trabalho como galerista. De qualquer das formas, é para mima mias bonita.

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  3. Hum...Também acho a Samantha a mais bonita. A Carrie tem dias (e há dias em que nem pintada de ouro), a Miranda tem um cabelo demasiado agressivo, apesar de simpatizar com o seu sentido de humor e pragmatismo, e a Charlotte é como no comentário da Cora, gira mas pãozinho sem sal. Passa despercebida, apesar de ter alguma graça o seu puritanismo provinciano.
    Ainda não fui ver o filme, precisamente porque antecipei uma 'desilusão'. Mas talvez vá.
    Quanto a identificar-me com alguma delas...um misto de Miranda e Carrie. Sendo que eu mastigo de boquinha fechada, não desfazendo ;)

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  4. Eu gostei do filme, mas também fiquei desiludida com algumas pequeninas coisas.

    A Miranda, de longe a minha favorita, muito presa numa vida suburbana e a um divórcio pouco plausível depois de problemas tão reais e normais. A diferença entre ela e o marido muito gritante... ela sempre chiquérrima, ele ainda de t-shirt e ganga. Na vida real o casal adapta-se sempre um pouco um ao outro: ele vestiria um pouquinho melhor e ela se produziria um pouco menos. Mas é filme, é showbizz, é de importância menor.

    A Charlotte muito apagada. Da Samantha gostei... a melhor composição de personagem quanto a mim e mais fiel à original.

    A Carrie continua a mesma sem sal mas adorei a assistente! Fabulosa aquela miuda.

    O tema "fashion" para as amigas era muito definido. Não foi só no casamento que se viu o vermelho, azul, preto e branco... as cores iam repetindo-se para as personagens ao longo do filme. Não sei se para ajuda da caracterização do personagem, mas também nao me parece que tenha funcionado.

    Fiquei triste realmente por não ter visto mais da cidade nem mais conversas desbocadas e giras. Focaram-se muito no fascinante mundo da moda mas menos nos eventos fabulosos a que costumavam ir, nas pessoas malucas com que se cruzavam, nas situações interessantes que acontecem na vida de 4 mulheres modernas, ricas e "solteiras" em NY. Acho mesmo que as más maneiras à mesa são da actriz. Provavelmente não se controla tanto nessa série porque é suposto a Carrie ser um pouco desvairada, mas tem esses defeitos no sangue. Já em entrevistas ela também gesticula bastante e aponta com o dedo. Gostei de a ver com aqueles botins que salvo erro vi na Chanel da 5th (admito que não tenho a certeza absoluta, podem ser Choo ou mesmo Prada, mas quase que punha a mão no fogo pela Chanel porque as fixei... queria-as para mim!!!) durante o filme todo... e uma das amigas com um par igual em branco. Afinal os patrocínios não são ilimitados :D

    Terminei com água na boca por um daqueles fabulosos cosmos... ou mesmo logo pelos 4!!!

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