sábado, 24 de março de 2007

Os Homens da Minha Vida


Mozart. O amor maior e o mais antigo. O Victor costuma dizer que Mozart para mim não é uma paixão, é uma religião.
Recorro a ele na alegria e na tristeza. Todos os dias.

Eça de Queiroz. Comecei a lê-lo aos 12 anos. A Cidade e as Serras, os Contos, O Mandarim. Mas foi a leitura de Os Maias, aos 16 anos, que fez de mim uma fanática. Devorei o livro num fim-de-semana, já o li centenas de vezes, é sempre com encantamento que volto a ele, mas poucas coisas há na vida mais emocionantes do que esse primeiro encontro com um grande livro, que sentimos imediatamente que vai ficar connosco para o resto da vida. À medida que nos aproximamos das últimas páginas somos invadidos por uma sensação de prejuízo, porque aquela primeira leitura nunca poderá repetir-se. Nunca vou de férias sem ele.




Fernando Pessoa. Nem sei falar sobre ele, tamanha a importância que teve na minha vida. Álvaro de Campos e Alberto Caeiro, principalmente. Vai comigo para onde quer que eu vá. Sei-o praticamente de cor, dou comigo a dizer em voz baixa versos dele nas situações mais esdrúxulas. Mestre, meu querido Mestre!





Proust. Todos os anos releio na íntegra Em Busca do Tempo Perdido. À minha cabeceira há sempre um qualquer volume desse livro obcecante. Lê-lo pode ser um exercício muito doloroso. Mas volto sempre.

Oscar Wilde. Sobre ele já escrevi bastante. Foi o assunto de um dos primeiros posts que publiquei. Ver. Obrigada, querida Dr.ª Teresa Monteiro!

S. Francisco de Assis. Para mim a figura mais perfeita da história da humanidade. Uma vez, há alguns anos, disse isto a um padre. Ele sorriu e contou-me que tinha tido um professor no Seminário que costumava dizer ”Primeiro é S. Francisco, e depois Jesus Cristo”. É também o santo padroeiro dos animais, daí que o Dia Mundial do Animal seja justamente 4 de Outubro, dia de S. Francisco de Assis. Das várias orações que nos deixou, aquela que é conhecida como Oração de S. Francisco de Assis é, juntamente com o Pai Nosso, a oração mais bela que conheço.

Quino (Joaquín Salvador Lavado). O pai da Mafalda. Conheci-o aos 13 anos, no 4.º ano do liceu. Na época os livrinhos da Mafalda eram editados pela D. Quixote num formato pequeno, muito cómodo para ler às escondidas nas aulas, fácil de disfarçar debaixo de um caderno aberto, numa emergência. Na minha turma, ainda só de raparigas – as turmas mistas só viriam no ano seguinte – havia sempre umas cinco ou seis a ler a Mafalda à socapa. Tantos anos depois, continuo a rir-me com a mesma vontade do inesgotável poder de observação deste homem, que vai bem para além da Mafalda. Os álbuns de cartoons dele são extraordinários, não só pela comicidade como pelo traço, tão pessoal e inconfundível.

Beatles. Muitos homens há na minha vida, caramba! Só com estes são quatro de uma assentada! Mas tenho de referi-los, fazem até parte de uma certa imagem minha, um pouco como o perfume, que há mais de 25 anos é o mesmo, toda a gente que me conhece nem que seja só um bocadinho os associa automaticamente à minha pessoa, os Beatles e o tal perfume. Também tiveram direito a post, claro, porque todos os anos lhes dedico um dia por inteiro, que eu sou muito leal aos meus amores e gosto de os celebrar. Ver.


Simon & Garfunkel. Que Deus me perdoe mas, como eu digo muitas vezes... teria vendido a alma ao Diabo para estar naquele concerto do Central Park, a 19 de Setembro de 1981. Aquele momento em que, em The Boxer, ao cantar uns certos versos adicionais que não fazem parte da música como foi editada originalmente, eles trocam sorrateiramente um olhar cúmplice e Art pousa uma mão carinhosa nas costas de Paul, continua a deixar-me com os olhos cheios de lágrimas.






Leonard Cohen. O homem da voz sépia. Companheiro de neuras e desgostos, uma espécie de versão masculina do meu dark side, uma espécie de Álvaro de Campos cantado. Depois de ouvir Leonard Cohen só há duas opções: música clássica ou... continuar a ouvir Leonard Cohen. Aquele concerto a 18 de Fevereiro de 1985, em Cascais, continua a ser para mim uma lembrança mágica. Se fechar os olhos copnsigo ver-me outra vez, sozinha na multidão – fugi dos amigos com quem tinha ido, que Leonard Cohen é para se ouvir em solidão – numa expectativa doida em relação à música com que ele abriria o concerto. Ficou provado que eu conhecia realmente muito bem o meu irmão Cohen. Foi com Bird on a Wire. E também foi com essa música que eu sempre senti que era provavelmente aquela que melhor o contava – daí que eu prefira Songs from a Room a Songs of Love and Hate, mesmo tendo este Avalanche e Joan of Arc– que ele fechou o concerto. Tenho o bilhete emoldurado.

Charles Aznavour. Tempus fugit. Está quase com 83 anos. Uma vez, há muito anos, eu estava em Genève, onde ele vive. Ia todas as noites ao Griffin’s, que era considerado o melhor clube privado do mundo. Uma noite ele estava sentado na mesa ao lado da minha. Não é que me arrependa da minha excessiva contenção, de não ter arriscado abordá-lo e dizer-lhe como ele fazia parte da minha vida, mas tenho uma certa pena. Sempre autor de música e letra (tirando as letras inglesas, maravilhosamente adaptadas por Herbert Kretzmer, o homem das letras inglesas de Les Misérables - outro post que se impõe, mais tarde ou mais cedo). Uma sensibilidade extraordinária. Uma voz única e inconfundível. Aproveito para agradecer ao Pedro Oom. Amigo muito querido, antigo disc-jockey de um certo sítio chamado Stone’s, do qual eu fazia praticamente parte da mobília. Na noite dos meus 21 anos, o Duarte, o meu empregado favorito, veio dar-me um recado: – Menina Teresinha – é favor não rir, ainda hoje é assim que os empregados do velho Stone’s que andam por aí dispersos me tratam – o Pedro manda dizer que a próxima é só para si. Fiquei expectante. Não, claro que não era o Parabéns a Você, que também tocou, claro. Era Hier Encore, de Aznavour. Hier encore, j’avais vingt ans. Obrigada, querido Pedro. Nunca esqueci. Como nunca esqueci aquela noite em que pôs só para mim The Only Living Boy in New York. Mas isso é outra história…

Há mais Homens da Minha Vida, corro o risco de começarem a achar que sou uma promíscua do pior. Três deles já foram referidos no post “Vozes”: Jeremy Irons, Anthony Hopkins e Morgan Freeman. Restam estes dois:


Clark Gable. Francamente, acho que as nossas avós tinham melhor olho para homens do que nós. Clark Gable? O REI. Há actores melhores, sim senhor. Mas este homem tinha qualquer coisa inexplicável. Rhett Butler. Ou, como é apresentado no genérico daquele filme eterno… A Visitor from Charleston. O último filme (morreu pouco depois) mostra um Clark Gable envelhecido, inchado. Nem isso lhe retira a magia. Aquele The Misfits de John Huston (argumento de Arthur Miller, convém não esquecer) é uma espécie de glorioso canto do cisne. Dear Mr Gable.


Al Pacino. Não gosto de homens baixos, tenham lá santa paciência. Abro uma excepção para este. Apaixonei-me por ele aos 14 anos, quando vi Serpico. No ano seguinte a paixão transformou-se na convicção de que era um dos maiores actores de sempre, quando vi Dog Day Afternoon, também de Sidney Lumet. Aqueles olhos tristes dão vontade de lhe dar colo. Recentemente teve outro desempenho que fica para a história, como Roy Cohn em Angels in America, de Mike Nichols.

Apre! Isto está gigantesco! Mas há outro homem que tenho de incluir aqui. Porque uma grande amizade é talvez a forma mais perfeita e imperecível de amor. Até que a morte nos separe.


O
Victor.
Damo-nos tão bem um com o outro
Na companhia de tudo
Que nunca pensamos um no outro,
Mas vivemos juntos e dois
Com um acordo íntimo
Como a mão direita e a esquerda.Alberto Caeiro

Amores... dos outros? Sim, também tive (também tive quem também me sorrisse, como dizia Álvaro de Campos). Dois. Dois grandes amores. Dois e meio, vá lá. Mas isso não é para aqui chamado. Porque... Entre uma coisa e outra todos os dias são meus.

23 comentários:

  1. Hummm com o S. Francisco zanguei-me há uns anos, ainda não fiz a pazes, nem sei se farei algum dia... ele sabe bem porquê!

    Simon & Garfunkel, ouvi imenso em miúda, num altura que conheci uma miuda americana que andava à aventura pela europa, ela nunca tinha ouvido falar deles e achou as musicas (e letras) ridiculas, não concordei com ela, mas o meu inglês era muito fraco (continua a não ser grande coisa) que não consegui argumentar.

    Leonard Cohen, ahhhhhhhhhh um senhor, merecedor de um lugar no pódium da vozes!

    Clark Gable, não me diz grande coisa, a única coisa que me lembro é de ter lido que a actriz k contracenava com ele em "E Tudo o Vento Levou" se queixava imenso do mau hálito do senhor... hihihihi aqueles dentinhos muito direitinhos... era dentadura postiça e parece que ele não tinha grandes hábitos de higiene dentária! hehehehe

    Al Pacino, outro digno do podium da vozes... e este sim, excelente actor!

    Os meus herois? Inacio (avô) e Nuno (marido)

    beijos d'enxofre

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  2. Nem imaginas o quanto gostei da última frase!

    Beijinho!

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  3. Eu não tenho heróis. Além de ainda ser novo, com pouco conhecimento de causa e tal, não tenho por hábito mistificar as coisas por forma a ter um herói definido!

    Mas concordo com muitas das coisas que afirmas neste belíssimo post, bem à tua imagem!

    Beijinhos grandes e desculpa a ausência

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  4. olha olha... O anónimo feio e mau voltou! Muito bem! Seja bem aparecido! Volte sempre meu velho! Aqui há três tipos de chá e dois de água das pedras! Para a azia tá a ver? Sinta-se à vontade!

    DUHHHHHHHHH!

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  5. Concordo com quase todos...e acrescentaria, se me é permitido, José Régio, Verdi, Schubert e Villaret.

    Talvez faltem ainda alguns, mas estes são indispensáveis.

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  6. Respondi ao que me pediste no post "Porque?"

    Beijinhooooooooooooooo

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  7. Diabba,
    Acho que devias esclarecer as coisas com S. Francisco, já estou a vê-lo a chamar-te "Irmã Diabba"!
    Essa americana que considerava as letras dos S&G ridículas era uma idiota chapada. O Paul Simon é um grande poeta. O poema do "Sounds of Silence", só para citar um, há mais de 30 anos que é estudado nos cursos de literatura contemporânea das universidades americanas.
    O Clark Gable, mesmo com dentadura postiça e orelhas de abano, tinha um carisma extraordinário. Dos hábitos de higiene dental (ou falta deles) não sabia. Deixá-lo descansar em paz, que morreu pouco depois de eu nascer.

    Actriz,
    O mérito não é meu, não reparaste que a frase estava em itálico? É do Alberto Caeiro, que sei praticamente de cor. Aquele senhor, uma vez, há muitos anos, salvou-me a vida.

    Morsa,
    Eu tenho heróis, e não me envergonho de o dizer, e de lhes prestar a minha homenagem. Até fui de propósito a Paris para pôr flores na sepultura do Oscar Wilde no dia do centenário da morte dele, à hora exacta em que ele morreu. Tontices minhas.

    Anónimo,
    Descanse, que não vai ficar novo a vida toda. Cretino é que, começo a desconfiar, acho que sim.

    José,
    Confesso que nunca embarquei muito no culto do Villaret. Na música, para mim, há um nome que se sobrepõe a todos os outros (excepção feita a Mozart, claro): BACH. Venero-o.

    Aenima,
    Já vi, já lá vou responder.

    Alien,
    Pois... a lista já ia longa. E isto por enquanto não passa de um flirt. Se o meu amigo quisesse... já éramos dois a querer... LOL

    Beijos a todos.

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  8. Teresa:
    Não é tontice! É crença... Quem faz as coisas porque acredita é assim. Gostou da minha prendinha amiga?

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  9. Morsa,
    ADOREI, obrigada! Bastava ser Mozart...
    Sei aquela peça de cor, nota por nota, os quatro andamentos.
    Há no Amadeus uma cena fabulosa em que ela aparece, logo no princípio, quando a enorme inveja de um Salieri louco nos é apresentada.
    Beijo grande.

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  10. Querida Teresa, muito embora a minha especialidade não sejam os homens...rssss reconheço que a sua é uma boa escolha e que de uma forma ou de outra admirei a sua arte não tão em profundidade para alguns, mas Beatles, Cohen e Pacino merecem 20 numa escla de 0 a 20. Mozart conheço relativamente, algumas obras, muito embora para mim seja Bach o meu ideal, cada um com o seu. Tenho pena que não goste do meu Maquiavel...rsssss O Princípe continua a ser um dos meus livros preferidos. Mas seja como for os meu parabéns pelas escolhas e pelo excelente post, aliás igualmente bom como os demais, escreva sempre pois é um prazer de ler
    Beijinhos minha amiga

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  11. Assim que descobri a tua paixão por Mozart pus-me à procura daquela música entre as minhas 19.000... ;)

    Descobri dez minutos antes de ta enviar! Não tava com nome... Tava como track 3 do cd 124... Tive que correr os 123 primeiros até descobrir! Demorou mais ou menos 6 horas em frente ao computador!

    Só pra quem merece!!!! :D

    Agora vou ver a segunda parte da selecção. Beijinhos e até amanhã

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  12. Não me vou pronunciar sobre os "homens" da tua vida, são escolhas muito pessoais, mas admiro a generalidade das tuas escolhas. Acho que não me atrevo a fazer uma lista dessas tão exaustiva, mas certamente colocaria 3 tipos: o meu Pai, pelo modelo que sempre foi e é para mim, Mozart, por me ter aberto as portas da música clássica e o Freddy Mercury, por ter sido quem me despertou para a música.

    Uma beijoca, Teresa!

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  13. É espantosa a paixão que tens. Pela musica, pela vida, pelos homens. Afortunados, os que contigo se cruzam.

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  14. Tens toda a razão. Despertaste a minha curiosidade, e fui pedir ajuda à minha amiga wikipeia, onde facilmente encontrei:

    "Se depois de eu morrer, quiserem escrever a minha biografia,
    Não há nada mais simples.
    Tem só duas datas - a da minha nascença e a da minha morte.
    Entre uma e outra todos os dias são meus."

    Beijinho!

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  15. Al Pacino...

    [poof... o meu coração não aguenta.]

    Vi o Serpico, vi o Any Given Sunday, vi o documentário que ele fez sobre os actores americanos e Shakespeare, sempre que o vejo penso: Grande Actor! Com A grande!


    beijinhos e obrigada pela visita

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  16. Morsa,
    Lá voltaste tu ao futebol, LOL! (até rima...)

    António,
    Por acaso gosto do seu Maquiavel, sim senhor. Mas estes são mais importantes para mim.

    Rafeiro,
    Para mim a grande graça destas listas é serem todas tão diferentes e pessoais, não é? Boas férias, para onde quer que vás. Não cheguei a comentar que ADOREI a foto do teu último post. Impagável!

    Martini Man,
    Que exagerado! Fiquei com um sorriso parvo de convencimento.

    Actriz,
    Fica com mais estes versos, os versos finais do Alberto Caeiro (paixão mesmo avassaladora):

    É talvez o último dia da minha vida.
    Saudei o sol, levantando a mão direita,
    Mas não o saudei dizendo-lhe adeus,
    Fiz sinal de gostar de o ver antes: mais nada.


    Maria,
    Volta sempre, uma mulher que gosta do Al Pacino é uma mulher de bom gosto e é sempre bem-vinda.
    Fizeste-me inveja com esse documentário, que nunca vi. Tenta ver o assombroso "Angels in America", está cá editado em dvd.

    Alien,
    A dizer mal de mim? Assim não vale!

    Beijos a todos e um grande fim-de-semana.

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  17. Oh! E então o Boss?!...E o Tim?!...

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  18. Este anónimo é para mim de identidade transparente :).

    NUNO!

    Ao referir o Tim denunciou-se escandalosamente, meu querido!

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  19. Frio! Talvez algum yé-yé que te acha graça...mas nem sei se sou esse...!?

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