Mostrar mensagens com a etiqueta P.M.. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta P.M.. Mostrar todas as mensagens

quarta-feira, 13 de abril de 2011

The Big Five O (and a once upon a time)

Podia pôr aqui um retrato teu. Podia pôr aqui um dos poucos retratos que temos juntos, há muitos anos, numa festa do Stone's (e estávamos tão giros, apetecia mesmo!). Não devo nem vou fazê-lo. Procurei uma fotografia da Pindô na Internet, não encontrei nenhuma. Fica esta, e as coordenadas são bastantes.

Por mais que isso possa irritar outras pessoas (e muito irritou, em tempos idos), esta é uma música que só consigo associar a ti e àqueles tempos tão longínquos em que fingíamos estudar no teu quarto de paredes estridentemente cor de laranja (que raio de cor!) e só ríamos muito, e ouvíamos muita música, e o frasco de álcool já era presença habitual na secretária, para apagar cada risco da esferográfica Cross (que perdi há muitos anos) que ia parar ao teu braço a cada disparate que me dizias. E ríamos, ríamos.

Apanhaste-me, uma vez mais, mas só até Agosto. Serei sempre mais velha, mesmo que só oito meses. E gosto, sempre gostei, vou gostar muito de ti a vida inteira. Nada a fazer, terei sempre este enorme fraco por pessoas muito inteligentes. Verdade seja dita, tu não és meramente inteligente. És brilhante. Só espero que não tenhas sido ainda atacado pelo senhor alemão, e que reconheças a música. e ela te transporte no tempo. Porque foi um tempo bonito. Porque és o meio amor dos dois grandes amores e meio da minha vida.

sábado, 19 de março de 2011

Felizmente há luar!

Não resisti a usar a peça de Sttau Monteiro, autor hoje injustamente esquecido, como título para esta entrada. Não sei que sortilégio irresistível há numa lua cheia, só sei que é coisa de imensa beleza que me põe a sonhar e me arranca suspiros. 

Por qualquer estranha razão, o dia dos meus anos, 27 de Agosto, tem registado, ao longo dos anos, insólitos fenómenos astronómicos (façam uma pesquisa com estas palavras-chave "moon, August 27" e ficarão surpreendidos com a quantidade de comportamentos lunares únicos nessa data), parece que os mais notáveis foram os de 2003 e 2010. Esqueci as razões, à época amplamente divulgadas na imprensa. Contento-me com a beleza, sem querer investigar-lhe as razões. O que sei é que, em grande parte da minha vida, o dia dos meus anos foi assinalado por deslumbrantes luas cheias. 

Nenhuma tão bela como a da noite dos meus vinte anos. A caminho do Fox Trot, o carro parado ali perto (felizes tempos, agora é impossível estacionar naquela zona), a subir a Travessa de Santa Teresa, levantei os olhos e lá estava ela, a lua mais cheia e mais arrebatadora que me lembro de ter visto. Dei uma cotovelada muda ao P. M., ficámos parados a encher-nos daquela visão de beleza pura. «É em tua honra», acabou ele por dizer com um sorriso, ao fim de uma eternidade de contemplação extasiada. E a seguir, a provar mais uma vez que me conhecia como muito poucos, e que sabia que eu preciso sempre de me traduzir em música, acrescentou (há coisas que nunca esquecemos) «E aposto que agora só te apetece Mozart, mas vais ter de te contentar com un gin tónico.» Rimos os dois e o feitiço desfez-se, voltámos à terra. Também é certo que a minha vida mudou nessa noite, com o meu consentimento tácito.  Lembro como se fosse hoje o gesto muito suave dele, o indicador a passear no meu ombro dourado pelo sol da minha Nazaré tão amada. «Há mais de um ano que espero por ti, não me faças esperar muito mais, não? Custa.»

Não teve de esperar muito mais, foi menos de um mês. Ele é o meio amor dos dois grandes amores e meio da minha vida. E ainda hoje gosto de me ver pelos olhos dele, porque vê sempre em mim coisas que não vejo. Acha-me sempre mais bonita, mais inteligente e melhor do que sou realmente. E nem o facto indesmentível de ele ser uma das inteligências mais brilhantes que tive o privilégio de conhecer consegue persuadir-me de que talvez possa ter razão. Nunca conseguirá dissociar-me da menina de 18 anos com quem tinha conversas apaixonantes, essa é a imagem que lhe ficou. Devo-lhe muito, arrastou-me para fora dos anos 60 na música, mesmo enquanto aprendia a conhecer a minha música. Os discos são muitos, e são discos da minha vida. E nunca esquecerei a nossa figura desvairada atrás do vinil de Born to Run, a rebolar Avenida Estados Unidos abaixo, eu quase fui atropelada naquela tonta operação de resgate.

A banda sonora para homenagear a esplendorosa lua cheia que teremos hoje? Não, não é Mozart. Podia ser a celebérrima ária da Rusalka de Dvořák, mas acontece que nem gosto assim tanto dela. É Beethoven e a sua Mondschein Sonate (Moonlight, Clair de Lune, como vos der mais jeito). Nunca o refiro porque Mozart ofusca sempre tudo e todos, mas Beethoven é bem outro grande amor meu. Sempre depois de Mozart e de Bach, sabe-se.


quinta-feira, 25 de março de 2010

Os discos da minha vida #18: Hasten Down The Wind

Os pecados antigos projectam sombras compridas. Dias há em que, estranhamente, voltam para nos assombrar. Foi o que aconteceu hoje.

No regresso a Lisboa de um jantar de amizade, numa daquelas conversas em que brevemente se afloram coisas grandes com ar ligeiro e são ditas coisas dolorosas e que nos desnudam (e eu sempre tenho e sempre tive esse grande pudor de me mostrar), falei de um episódio muito antigo na minha vida. O mais antigo de todos, aquele que foi o Verbo (no princípio era o Verbo, para quem não saiba).

Ao chegar a casa, ligo isto para enviar os retratos do jantar que foi tão bom. E encontro um comentário de alguém a um retrato meu muito antigo, dessa época de grandes mudanças. Impossível não sorrir da ironia. Porque na viagem eu tinha falado deste disco, e de como ele me encaminhou fatidicamente para a decisão mais errada da minha vida (de mãos dadas com Gord's Gold, a reponsabilidade é a meias). E abrir o computador e dar com um comentário a um retrato meu dessa época (prodígios do Facebook!, don't ask), precisamente pela mão da pessoa mais directamente ligada a essa tão tremendamente errada decisão, foi um poderoso coice no estômago. E, em simultâneo, motivo para um sorriso enternecido. Fica tudo lá tão longe que os contornos são esbatidos. Lembro tudo, cada minuto, cada sorriso, os meus cabelos guardados no caderno de apontamentos (Curtains, de Elton John, um dia lá iremos), a ansiedade expectante do outro lado. Já a dor é-me mais difícil de lembrar, que o meu lado escolhido na vida é o do sol, e a minha eleição é sempre a da alegria. E houve dor, sim. Com a minha aguento mais ou menos bem, lido mal com a que possa ter infligido.

Too much information,  vamos ao que interessa: este é MESMO um dos discos da minha vida. E a música que lhe dá o título, esta que agora toca, é responsável, paredes-meias, pela decisão mais errada de toda a minha vida. Quando se é muito novo também se pode ser muito tonto, e erros há que se pagam caro.

Porque, meus amigos, eu acredito mesmo numa certa frase lida algures na minha cada vez mais distante adolescência: «A vida inteira depende de dois ou três sins e de dois ou três nãos ditos antes dos vinte anos.»

Disse os sins e os nãos errados. Disse-os mal e com misturas (sempre ele, o meu irmão Caeiro). Sei que fiz o melhor que pude, e sei que não bastou. A consciência acusa-me de muito, mas nunca de ter magoado consciente e deliberadamente, de tal não seria capaz. Não é grande lenitivo, bem sei. 

Sei também outra coisa. De nós todos, os três envolvidos nessa estranha espiral, talvez hoje em dia eu seja a mais feliz. É como naquela última carta de amor de Fernando Pessoa àquela Ofélia que foi o único amor que lhe conhecemos (e sabemos que ela não podia perceber, e isto dava matéria para páginas e páginas, mas é melhor poupar-vos e preservar-me):

«Fiquemos, um perante o outro, como dois conhecidos desde a infância, que se amaram um pouco quando meninos, e, embora na vida adulta sigam outras afeições e outros caminhos, conservam sempre, num escaninho da alma, a memória profunda do seu amor antigo e inútil.»

Hasten Down The Wind

«She tells him she thinks she wants to be free
He tells her he doesn't understand
She takes his hand
And tells him nothing's working out the way she planned

She's so many women
He can't find the one who was his friend
He's hanging on to half a heart
But he can't have the restless part
So he tells her to hasten down the wind

Now he agrees he thinks she ought to be free
Now she says she'd rather be with him
Oh it's just a whim
That she's designed to keep him out there on that limb

She's so many women
He can't find the one who was his friend
He hanging on to half a heart
But he can't have the restless part
So he tells her to hasten down the wind
He tells her to hasten down the wind.
»

sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

Os discos da minha vida #3: Gord's Gold

«A vida inteira depende de dois ou três sins e de dois ou três nãos ditos antes dos vinte anos.»


Não consigo lembrar-me de quem é esta citação que em mim calou fundo. É de um autor francês, encontrei-a há muito, muito tempo num livro de Berthe Bernage (e já estou a ver a Ana a sorrir...) e nunca a esqueci, possivelmente por se me aplicar tão bem. O meu palpite iria para Abel Bonnard, mas não passa disso: um palpite.

Dois discos houve que tiveram um papel determinante na minha vida. Este é um deles. O outro aqui virá parar a seu tempo.

Conheci este Gord's Gold em 1979, graças a uma prima do Vítor, um pouco mais velha do que nós, que vivia nos Estados Unidos e lho trouxe de presente numa breve visita, sabedora de que ele era um completo taradinho por música. Claro que o passo seguinte foi a partilha, e lembro muitas tardes passadas no quarto dele a descobrir a maravilha que este disco (duplo) é. Ainda é no formato de vinil que a minha cabeça o ouve, e sei que o lado A do primeiro disco era (e continua a ser, passados mais de trinta anos, critério mais do que seguro para avaliar a qualidade) para se ouvir inteiro, corrido, sem levantar a agulha. Sim, agulha, eu ainda sou desse tempo.

É um disco mágico. Gordon Lightfoot, o meu trovador canadiano - não consigo chamar trovador ao meu irmão Leonard Cohen, também canadiano... como canadianos são vários outros muito importantes na minha vida -, traça imagens lindas, fala-me de paisagens muito amadas em imaginação que este ano poderei ver e sentir como ele e como um outro, John Denver, as cantaram: os lagos, as montanhas, aquela imensa Natureza a perder de vista.

Viria a comprar o disco (e outras preciosidades) em Genève, lá por 1985. Em Portugal nunca apareceu. Quando surgiu o formato CD, e muito antes da Internet, eu passava as tardes de sábado na Discoteca Roma, dividida entre o piso térreo e a cave (onde estavam a música clássica e a Ópera), a consultar os catálogos. E encomendava, e encomendava... Eram meses de espera. Quatro ou cinco vezes por mês, ao entrar em casa, tinha o gravador de chamadas a piscar com uma mensagem que me iluminava. Numa tarde cinzenta de Fevereiro de 1992 a mensagem dizia «Fala da Discoteca Roma, chegou o seu Gord's Gold.»

Tenho plena noção de que vos falo de um nome desconhecido, ou quase (talvez conheçam Sundown). Acontece que é um disco IN-DIS-PEN-SÁ-VEL. A minha paixão por ele inteiro nunca arrefeceu, em todos estes anos. Mas foi uma música, uma só, a responsável mais directa (co-responsável, a meias com Hasten Down the Wind, de Linda Ronstadt) pela decisão mais errada de toda a minha vida. Assim sensíveis e permeáveis somos... quando temos menos de vinte anos. A música é esta. If You Could Read My Mind.

If you could read my mind, love
What a tale my thoughts could tell
Just like an old time movie
'bout a ghost from a wishin' well
In a castle dark or a fortress strong
With chains upon my feet
You know that ghost is me
And I will never be set free
As long as I'm a ghost you can't see
If I could read your mind, love
What a tale your thoughts could tell
Just like a paperback novel
The kind that drugstores sell
When you reach the part where the heartaches come
The hero would be me
But heroes often fail
And you won't read that book again
Because the ending's just too hard to take

I'd walk away like a movie star
Who gets burned in a three way script
Enter number two
A movie queen to play the scene
Of bringing all the good things out in me
But for now love, let's be real
I never thought I could act this way
And I've got to say that I just don't get it
I don't know where we went wrong
But the feelin's gone
And I just can't get it back

If you could read my mind love
What a tale my thoughts could tell
Just like an old time movie
bout a ghost from a wishin' well
In a castle dark or a fortress strong
With chains upon my feet
But stories always end
And if you read between the lines
You'll know that I'm just tryin' to understand
The feelings that you lack
I never thought I could feel this way
And I've got to say that I just don't get it
I dont know where we went wrong
But the feelin's gone
And I just can't get it back