I left my heart in... (#3) Beartooth Highway
A Beartooth Highway é muitas vezes referida nos livros de viagens como a mais bela estrada da América. Sabemos como são estas designações, e eu não seria capaz de escolher entre ela e a Going-to-the-Sun-Road. Mas uma estrada chamada dente de urso — o nome é claramente indígena — já tem, à partida, muito para me cativar.
Um dos problemas destas viagens é tudo aquilo que não depende de nós e não pode ser planeado com certezas absolutas. E nessa matéria a Mãe-Natureza dá cartas. Razão pela qual uma viagem como esta não deve ser feita mais cedo e tem um prazo de validade não muito largo, sob pena de se perder muita coisa. Aterrámos em Denver a 21 de Junho e a Beartooth Highway continuava fechada, intransitável (verificação diária na Internet). Se bem me lembro, só no terceiro dia, nós já de partida de Denver para Yellowstone, tivemos sinal verde. E notem que os guias turísticos dizem que a estrada está aberta entre Maio e Setembro. Fiem-se nisso e depois contem-me.
A Beartooth Highway, que serpenteia mais ou menos ao longo da fronteira entre o Wyoming e Montana, começa e acaba em Montana. Acedemos a ela a partir de Cooke Citty, a minúscula cidadezinha (aquilo é um povoado) em que a fotografia abaixo foi tirada.

Tínhamos acabado de passar quatro dias em Yellowstone, três noites com dormidas diferentes, tão grande é o parque. A última foi em Mammoth Hot Springs. Nessa tarde, na volta que demos antes de jantar e ao lusco-fusco, a tremer de emoção, avistei mais um urso. Que não era um grizzly, para meu grande desgosto. Mas era um ursoso, Deus Nosso Senhor seja louvado! A tratar da sua vidinha, como a tratar da sua vidinha ia o coiote que minutos antes encontrámos a trotar ligeiro pela estrada fora.
A meio da manhã de 28 de Junho, saímos de Yellowstone (tenho de voltar no Inverno, tenho de voltar no Inverno) rumo à Beartooth Highway. Sobe-se e sobe-se até quase 3500 m. Nunca terei palavras para contar a beleza das montanhas que nos rodeiam. A paisagem consegue ser ao mesmo tempo comovente e esmagadora. Todas aquelas curvas a atingirem pontos cada vez mais altos, a vermos por baixo de nós o bocadinho de estrada em que ainda momentos antes estávamos. Muito cedo na subida de vertigem surge-nos a neve, que depressa está por toda a parte, muitas vezes grandes bocados de gelo ainda à beira da estrada (porque é que julgam que está tanto tempo intransitável?). Aqueles cumes brancos e puríssimos devolveram-nos o espírito tonto das crianças que ainda há em nós e não resistimos a parar para uma batalha de bolas de neve. A 28 de Junho,
Abaixo, algumas fotografias (ponham em full screen) que não fazem justiça à beleza do que vi e vivi. Talvez porque estivesse mais ocupada a ver e viver.