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domingo, 11 de março de 2012

I left my heart in... (#3) Beartooth Highway

A Beartooth Highway é muitas vezes referida nos livros de viagens como a mais bela estrada da América. Sabemos como são estas designações, e eu não seria capaz de escolher entre ela e a Going-to-the-Sun-Road. Mas uma estrada chamada dente de urso — o nome é claramente indígena — já tem, à partida, muito para me cativar.

Um dos problemas destas viagens é tudo aquilo que não depende de nós e não pode ser planeado com certezas absolutas. E nessa matéria a Mãe-Natureza dá cartas. Razão pela qual uma viagem como esta não deve ser feita mais cedo e tem um prazo de validade não muito largo, sob pena de se perder muita coisa. Aterrámos em Denver a 21 de Junho e a Beartooth Highway continuava fechada, intransitável (verificação diária na Internet). Se bem me lembro, só no terceiro dia, nós já de partida de Denver para Yellowstone, tivemos sinal verde. E notem que os guias turísticos dizem que a estrada está aberta entre Maio e Setembro. Fiem-se nisso e depois contem-me.

A Beartooth Highway, que serpenteia mais ou menos ao longo da fronteira entre o Wyoming e Montana, começa e acaba em Montana. Acedemos a ela a partir de Cooke Citty, a minúscula cidadezinha (aquilo é um povoado) em que a fotografia abaixo foi tirada.


Tínhamos acabado de passar quatro dias em Yellowstone, três noites com dormidas diferentes, tão grande é o parque. A última foi em Mammoth Hot Springs. Nessa tarde, na volta que demos antes de jantar e ao lusco-fusco, a  tremer de emoção, avistei mais um urso. Que não era um grizzly, para meu grande desgosto. Mas era um ursoso, Deus Nosso Senhor seja louvado! A tratar da sua vidinha, como a tratar da sua vidinha ia o coiote que minutos antes encontrámos a trotar ligeiro pela estrada fora.

A meio da manhã de 28 de Junho, saímos de Yellowstone (tenho de voltar no Inverno, tenho de voltar no Inverno) rumo à Beartooth Highway. Sobe-se e sobe-se até quase 3500 m. Nunca terei palavras para contar a beleza das montanhas que nos rodeiam. A paisagem consegue ser ao mesmo tempo comovente e esmagadora. Todas aquelas curvas a atingirem pontos cada vez mais altos, a vermos por baixo de nós o bocadinho de estrada em que ainda momentos antes estávamos. Muito cedo na subida de vertigem surge-nos a neve, que depressa está por toda a parte, muitas vezes grandes bocados de gelo ainda à beira da estrada (porque é que julgam que está tanto tempo intransitável?). Aqueles cumes brancos e puríssimos devolveram-nos o espírito tonto das crianças  que ainda há em nós e não resistimos a parar para uma batalha de bolas de neve. A 28 de Junho,

Abaixo, algumas fotografias (ponham em full screen) que não fazem justiça à beleza do que vi e vivi. Talvez porque estivesse mais ocupada a ver e viver.

quarta-feira, 29 de junho de 2011

I left my heart in... (#2) Devils Tower

O Wyoming é um estado gigantesco, o 10.º maior dos Estados Unidos (quase três vezes o tamanho de Portugal) e o menos povoado de todos, ainda menos do que o Alasca. Apaixonei-me pelas suas estradas solitárias a perder de vista, pela paisagem rude a lembrar-nos mais uma vez como aquele enorme país está longe de ser a selva de pedra de que falam sempre os seus detractores e que é fora das grandes cidades que se encontra a alma da verdadeira América.

No dia 25 de Junho de 2008 (assim me diz o registo da máquina fotográfica) rumámos a Devils Tower, monumento nacional. Fizemos a clássica paragem para um café num Starbucks em Cheyenne, a capital do estado. A cidade impressionou-me por a ter achado diferente de todas as pequenas cidades americanas que já conheci. Pareceu-me melancólica, menos próspera, com alguma degradação mesmo nas belas moradias das avenidas centrais. Tudo muito limpo e arrumado, sim. Mas persistia uma sensação de abandono.

As fotografias que tenho de Devils Tower, que talvez lembrem de Encontros Imediatos do 3.º Grau, de Spielberg, não são grande coisa. É difícil fotografar aquela imensa mole de rocha e os seus estranhos arabescos, que se diria terem sido feitos por Deus com um garfo gigantesco. Julgo que estas duas serão das melhores:

Céus! Eu estava uma autêntica texuga!

Levámos mais de hora e meia para dar a volta completa à base. Há uma atmosfera especial, quase mística, caminhamos a falar muito baixo, a ver as centenas de pedacinhos de pano amarradas aos arbustos: Devils Tower é sagrada para várias tribos índias, razão pela qual no mês de Junho passou a ser interdita a escalada, para que as várias tribos possam fazer as suas cerimónias de culto em paz e sossego. O Vítor, que já lá tinha estado noutra altura do ano, disse-me que avistar dezenas de figurinhas do tamanho de formigas a trepar rocha acima era uma visão incrível, mas eu regozijo-me por a ter visto na sua pureza original.





As chapas de matrícula do Wyoming têm dois motivos: um cowboy num rodeo e Devils Tower, de tal maneira simboliza o estado. Esta fotografei-a em Jackson Hole, adorável cidadezinha que encontrei ainda cheia de maciços de lilases e que tem recebido muitos visitantes ilustres (até a rainha de Inglaterra e Nelson Mandela), e em que pessoas como Uma Thurman, Sandra Bullock ou Clint Eastwood têm casa.

Um pequeno filme que encontrei no YouTube, ao som da música que o grande John Williams compôs para Encontros Imediatos.



domingo, 14 de março de 2010

I left my heart in... (#1) Red Rocks

Ainda nunca aqui homenageei satisfatoriamente um dos meus amores maiores na música, que só tem rivais à altura em Mozart e nos Beatles, e em Bach (os Mamas and the Papas e Peter, Paul & Mary vêm logo a seguir): Simon & Garfunkel. Há pelo menos umas vinte músicas deles que teriam merecidamente honras de uma entrada aqui, tanto me dizem. Ironicamente, a que escolhi para aqui tocar hoje é posterior, é de um álbum (um dos discos da minha vida, Breakaway, ou não tivesse aquele I Believe) de Art Garfunkel a solo. Cinco anos depois da separação, os dois juntam-se nesta faixa única... e cantam mais uma das músicas da minha vida: My Little Town.

Por mais surpreendente que possa parecer, esta incursão em Simon & Garfunkel começa em Red Rocks, Denver, Colorado. Até foi iniciada hoje num outro espaço, só a propósito dos Beatles. Vou reformulá-la e ampliá-la agora, partindo do que lá escrevi — e não é que  lá seja menos verdadeiro, é só que é mais circunscrito.

Red Rocks é um soberbo e justamente célebre anfiteatro a oeste de Denver, Colorado. Escavado na rocha e de uma beleza de cortar a respiração, é visita a não perder se alguma vez passarem por ali. Pena tenho de o termos deixado para o último dia da grande viagem às Montanhas Rochosas de há dois anos, malas já no carro, já vestidos de viagem e com reserva para almoçar no melhor japonês de Denver, o Sushi Den. Gostaria de lá ter passado mais duas ou três horas, em vez de uma escassa manhã. Tanto a explorar, tantos nomes a reconhecer na extensa galeria fotográfica nas paredes do Visitor Center! E as placas, as dezenas de placas, uma para cada ano, com o registo de todos os concertos! Sentia-me como num recinto sagrado, tão queridos me eram os nomes e as caras em que tropeçava a cada instante.

(clicar nas imagens para ampliar)

Corria o ano de 1964, os Beatles acabavam de tomar a América de assalto, e também passaram por Red Rocks, onde actuaram na véspera dos meus quatro anos. Dois dias depois seria a vez de Joan Baez...


Em 1967, o grande ano da música, a placa deixou-me a suspirar, com as datas e os nomes inscritos. The Summer of Love. A 7 e 27 de Julho, Peter, Paul & Mary e Simon & Garfunkel; a 12 de Agosto, outro nome venerado: The Mamas and the Papas.

O grande Willie Nelson

Ella, a única


The Boss


Fiquem com a montagem que fiz da minha passagem por Red Rocks. A banda sonora  é aquela que é para mim, seguramente, uma das três melhores canções de Simon & Garfunkel —  o obcecante America. Há algumas imagens suplementares, caçadas na Internet, para que possa ter-se uma ideia do que será a atmosfera num concerto. E as imagens do soberbo almoço no Sushi Den, já nos subúrbios de uma cidade gigante como é Denver, aquele ar limpo, arrumado e pacífico que é bem a imagem da América que me é tão querida. Selva de pedra? A gargalhada que eu dou quando me definem assim os Estados Unidos! E foram justamente essas imagens tranquilas que me fizeram lembrar outra música da minha vida, o tal My Little Town. Que toca aqui agora.



Nota final: a Convenção Democrática que havia de designar Obama como candidato à Presidência decorreu em Denver, em Agosto desse ano. Eu estava em NY na altura e passei as noites suspensa da televisão, ao regressar ao hotel. E lembro-me de um Starbucks quase ao lado do Dakota Building em que estive à conversa com uma senhora de ar muito old money (nada de admirar, naquela parte da cidade), quando me apropriei indevida e distraidamente do seu jornal e ela quis saber como víamos nós, europeus, aquele candidato. E me confessou o seu medo de que ele viesse a ser alvo de um atentado. «The best of America is with him», disse-me, frase que nunca mais esquecerei. Até por concordar com ela, e por ter vivido aquela campanha de tão perto, três viagens à América entre Junho e Agosto de 2008.