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quarta-feira, 9 de junho de 2010

Coisas que me acontecem

É fatal como o destino: sou distraída e tenho acentuada propensão para a asneira. As duas coisas juntas podem ter resultados funestos.

Ontem, para não variar, saí tarde do Colosso, estoirada. Cheguei a casa já passava das nove. Abro a carteira para tirar as chaves e não as encontro. Segue-se busca frenética e cada vez mais angustiada. Das cabras das chaves nem vestígios. Ligo para o Colosso, a D. Emília ainda lá devia estar. Foi duas vezes ao meu gabinete, de chaves nem sinal. Reconstituí mentalmente o percurso da manhã, ao sair de casa. Breve passagem no banco, um táxi para o Colosso. Eram as únicas hipóteses, o restaurante do almoço era um não declarado, mas até para lá telefonei. Nada. E foi ao lembrar-me do restaurante que me lembrei de outra coisa: que à hora do almoço tinha visto uma mensagem de voz no telefone. Havia muito barulho em volta, decidi que ouvia depois, não devia ser nada de urgente, já que era das dez da manhã, hora a que estava no gabinete. Com um mau, muito mau pressentimento, fui ouvi-la. Pois. Era do banco em que eu tinha estado de manhãzinha. A dizer que tinha lá deixado as chaves. Amaldiçoei o nunca mais me ter lembrado de ir ouvir a mensagem enquanto estava perfeitamente a tempo de recuperar as chaves, chamei-me dois ou três nomes feios, mas não demasiado, que não gosto de palavrões. 

E parti para o lado prático, não sou muito de ficar a chorar o leite derramado. Eram nove e meia. Estava à porta de casa, exausta, sem poder entrar. Podia chamar as Chaves do Areeiro, ficar nem sei quanto tempo à espera, pagar nem sei bem quanto, que nunca seria pouco — taxa de urgência, taxa nocturna, o diabo a sete. Mais valia ir para um hotel. Era certo que Agri estava em casa, mas tinha comida e tinha água, podia esperar até à manhâ seguinte.

Táxi comigo, a pensar nos hotéis mais próximos, na Av. Malhoa, Ibis ou Novotel. Consultei o motorista, que foi a favor do Novotel, «o Ibis é um hotel assim um bocadinho esquisito», disse ele com ar protector e uma piscadela de olho malandra. Como também associo o Ibis a encontros clandestinos, fui para o Novotel. Registo, essas coisas todas, pessoal simpático. Assegurei-me de que tinham tudo aquilo de que precisaria hoje de manhã. Tinham o básico. Escova e pasta de dentes eram pagas à parte. Reviraram os armários todos, estavam sem kits de higiene dental. Nova piscadela de olho: «mas ali em frente, no Ibis, têm uma máquina dispensadora, posso mandar lá alguém». Declinei a gentileza e atravessei a rua. Tinham a tal máquina, sim senhor. Que fornecia, a saber: kit de barbear, uns cinco tipos diferentes de preservativos, dois de tampões e... o meu kit para a dentuça. Fiquei fascinada, nunca tinha visto tal coisa num hotel.

E pronto, basicamente foi isto. O meu quarto era igualinho à imagem lá de cima, até na disposição, falta a parte que não se vê. Até diria que era o mesmo, se no meu os apontamentos de azul não fossem cor de caramelo ou para essas bandas. Era espaçoso, com uma boa casa de banho e um óptimo chuveiro. Cumpria. 

Acordei às sete (serviço de despertar pontualíssimo), saltei para o banho, lavei a cabeça com o shampoo possível, que era basicamente detergente, creme ali seria luxo — a minha sorte é ter um óptimo cabelo. Nua, a passarinhar-me nas sandálias, vesti a roupa da véspera, que remédio (nunca ando descalça em quartos de hotel, nem que seja no Claridge's ou no Plaza, quando viajo levo sempre chinelos de quarto — muitas vezes nem chegam a sair da mala, porque fazem parte das gentilezas do serviço, tal como um roupão). Vinguei-me no óptimo pequeno-almoço: ovos mexidos com bacon, cogumelos e tomate, excelente chá verde, sumo de laranja aceitável. O imprescindível expresso a terminar deveria ser pago, mas foi-me galantemente oferecido.

Eram oito e um quarto, saltei para um táxi, calculando que haveria gente no banco antes da hora da abertura. Recuperei as chaves, corri para casa, fiz muitas festas a uma Agri muito queixosa, de tigelinha de ração esgotada e só com um restinho de água, mudei de roupa a correr, pus tónico e hidratante nas trombas, o resto ficava para depois, e saí como um furacão. Às nove menos dois minutos estava à secretária. All's well what ends well. Mas a D. Emília ficou muito admirada por eu só pedir chá verde, em vez do habitual pequeno-almoço de café com leite e pãozinho com queijo. Abstive-me de explicações. Soube à tarde que a minha mudança de regime alimentar tinha sido comentada. People talk. Let them talk. 

«Never complain, never explain.»
Duquesa de Windsor

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Só me saem cromos repetidos - parte II

Isto poderia ter um subtítulo, que seria Inconvenientes de estar com o Skype ligado.

Instalei o revolucionário programa em Janeiro de 2005. Como todas as fabulosas coisas que a Internet tem acrescentado às nossas vidas, tem, ou pode ter, um lado sombrio.

Cedo comecei a ser importunada. Acredito que a maior parte fosse gente a experimentar o novo brinquedo e as suas potencialidades. Também aconteceu ser contactada por pessoas que tinha perdido de vista havia muito — o caso mais divertido foi o de um antigo namorado suíço, actualmente a viver nas Bahamas, onde tenho casa às ordens sempre que me apetecer (nada de maus pensamentos, o petiz está casado e é pai de família), aliás insistiu bastante para que eu e o Vítor (que ele tinha conhecido quando veio ver-me a Portugal) fôssemos até lá, aquando da viagem a Miami do Verão passado, que tive de cancelar por causa da saúde então preocupante de Agri. De Miami a Nassau é um voo de apenas 45 minutos.

E depois chegaram os árabes. Estava eu na muito entretida ao computador, na minha vidinha, com as minhas coisinhas, minding my own business, e de repente, dava um pulo sobressaltado com o toque do telefone do Skype. Aquilo irrompia-me pelo ecrã, muitas vezes às horas mais impróprias, e era invariavelmente um Abdulah ou um Mustafá qualquer, a quererem conversa. E eu desligava, claro está, ficando a rosnar sozinha. Talvez isto pudesse ter continuado indefinidamente se num certo dia a imagem do perfil que acompanhava o toque estridente não fosse uma fotografia muito real de uma enorme pila. Foi nesse momento exacto que decidi que tinha de tomar providências imediatas para barrar aquele assédio ao meu computador. Em menos tempo do que leva a escrevê-lo, já estava à procura das configurações para que tal não voltasse a acontecer. E vi-me livre dos árabes para todo o sempre.

Pelo meio ainda houve episódios cómicos. Nem toda a gente atacava via telefone, alguns faziam-no por mensagem escrita. Infelizmente não fiz print screen, mas mantenho o registo, já que pouco depois transcrevi o diálogo num e-mail para um amigo.

Julgo que o mancebo seria filho de emigrantes portugueses em França. E escrevia-me de Paris nestes termos amáveis:

  [18:35:14] francelove disse : eu gosto DE FAZER O AMOR EM WEBCAM que meu email é
  saissamy@hotmail.com o que é seu hotmail para fazer o amor no messanger do msn eu estou sozinho no repouso em beijos de Paris france

A minha resposta irritada:

  [18:39:44] Teresa disse : Vá chatear outra, seu tarado!

Alguns dirão que posso ter passado ao lado de um grande romance. Nunca saberei, que o Francelove  (uma espécie de Pepé Le Pew em versão kinky) foi imediatamente bloqueado.


segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Só me saem cromos repetidos

Como se não bastassem os árabes no Skype ao princípio, quando eu, por nabice, tinha aquilo mal configurado, também agora me aparece gente parva no Messenger. Programa que, diga-se de passagem, nem me lembro de ter, restos de um tempo passado em que, mal ligava o computador, era logo tomada de assalto por uma daquelas criaturas que se colam a nós e não percebem que temos mais que fazer na vida do que ouvi-las. 

Esta caramela de hoje deve ter sido adicionada por mim pensando conhecê-la. Escusado será dizer que já está bloqueada.

domingo, 6 de dezembro de 2009

Entrevadinha

Só me faltava esta!

Tenho tornozelos muito finos e delicados. A coisa vem de pequena, de três valentes entorses que tive aos cinco, seis e nove anos. Os tornozelos ficaram eternamente frágeis. O campo armadilhado que é a calçada portuguesa e o estado miserável de muitas ruas, com o pavimento cheio de desníveis, passam a vida a fazer-me tropeçar, e o alarme dispara imediatamente nos tornozelos, que guincham logo.

Mas desta vez a coisa foi perfeitamente estúpida. Ontem estava ao computador, dobrei comodamente a perna direita debaixo do rabo, e assim devo ter ficado muito tempo. Quando me levantei para atender o telefone, que estava no corredor, pouso a perna, sinto-a completamente dormente, o tornozelo cede e... caio desamparada no chão, com uma dor fortíssima. Levantar-me foi o cabo dos trabalhos (ainda por cima estava com botins de salto muito alto).

Passei uma noite desgraçada, sem arranjar posição para o pé magoado, mesmo apertado numa ligadura e tendo levado gelo. Mexer-me é uma coisa muito dolorosa, levo uns largos minutos do quarto à cozinha, sempre a coxear, descer escadas é muito complicado.

Prevejo que amanhã terei de me levantar uma hora mais cedo para ir para o Colosso (mesmo com um motorista a vir buscar-me a casa), tão lenta e dolorosamente me movimento. Saltos altos? Impossível! A única hipótese são as minhas leais e muito confortáveis botas Timberland. Que bem que vão ficar com um fato de calças e casaco! Mas é isso ou ficar em casa até recuperar.

terça-feira, 4 de agosto de 2009

Thanks... but no, thanks



O Facebook tem destas coisas. De repente, out of the blue, alguém nos vem sugerir amizades para as quais não estamos nem um bocadinho viradas.

Basta olhar para a setinha para perceber como esta me pareceu sedutora. Como se tudo o mais não bastasse, ainda há poucos dias o ouvi dizer poribido (proibido). Apre!

quinta-feira, 9 de julho de 2009

c0nversas n0 siti0 0nde t0da a gente anda...

mensagem da aut0ra deste bl0gue, eram n0ve e p0uc0 - ag0ra seriam d0is p0nt0s, pudesse eu escreve-l0s

teresa saiu cedo do Colosso (sete e meia) e acaba de entornar a sua adorada caneca de Yellowstone com chá em cima do teclado. A desastrada Teresa (que aqui fala sempre de si na 3.ª pessoa) está a rezar para não ter de comprar outro, já seria a segunda vez. A caneca está bem, obrigada.

mensagem da
Mad para a c0munidade, sessenta e tal minut0s mais tarde

Notícia encomendada: chá verde não faz bem aos teclados. E aqui a Teresa entornou quase um litro inteirinho em cima do dela e perdeu o pio :))))))

segue-se este dial0g0 surreal

A Madrinha Mephista
A Madrinha Mephista
Cum catano, a tal caneca de num-sei-onde leva 1L de chá??

A Madrinha Mephista
A Madrinha Mephista
A T. não toma chá, está a tentar suicidar-se por afogamento!

Madalena Vidal
Mad
Ainda se fosse com whisky...

A Madrinha Mephista
A Madrinha Mephista
Hummm a língua ficaria já temperada!!

Madalena Vidal
Mad
Só falta sal e pimenta. Eu levo a pimenta.

Teresa
p0is -alt0u.
est0u sem imensas teclas, sem maiusculas, sem acent0s, etc
w0rten n0 dia seguinte, aman-a
a letra a seguir a0 g az alta. a letra antes d0 g tambem, c0m0 p0dem ver. a cuarta v0gal idem, p0r iss0 escrevi c0m c...

drama...

Madalena Vidal
Mad
what??? Isto é cúmulo da ironia: és obrigada a escrever MAL. LOOOOOOOOOOL!

A Madrinha Mephista
A Madrinha Mephista
hihihihihi será esta a tão falada "justiça divina"??

(largo e maldoso sorriso mode)

Teresa
l00000000l
ist0 eram zer0s, a cuarta v0gal na0 mexe

A Madrinha Mephista
A Madrinha Mephista
"cuarta", é lindo!! É que boue já chamar a Pinsamentos ao Kilómetro! :D

sábado, 20 de junho de 2009

A cabra que há em mim...

... faz-me dar respostas destas a desconhecidas gaiteiras, com nomes tão estapafúrdios como Natália Vakhmistrova, que me entram pelo Skype, num dos raros momentos em que até tenho aquilo aberto, e só porque estou no meio de uma longa conversa com uma querida amiga que vive além-Atlântico.

Natália, filha (acho notável o teu nome ter acento, mas isso são outros quinhentos), faz-te à vida, daqui não levas nada. Azarzinho...

Prometo-vos para breve a história do imigrante português em França que me contactou na esperança de obter sexo com webcam. Levou uma corrida em osso, claro. Mas sempre deu para rir...

quarta-feira, 3 de junho de 2009

Mais uma para a colecção...

Jantar mensal com as amigas do Liceu, o outrora inseparável quarteto CSTV — Clara, São, Teresa e Vanda. Fomos à Tasca do João, no Lumiar, célebre pela qualidade dos petiscos. Elas foram na perdiz estufada, encomendada com antecedência, eu optei por choquinhos com coentros.

A conversa animadíssima prolongou-se já na rua, antes de nos separarmos para ir cada uma para seu carro e em direcções diferentes. Marcado o próximo encontro para o princípio de Julho, desta vez na casa da Vanda na Foz do Arelho, para uma almoçarada num sábado, lá nos despedimos.

Chego ao carro e... não encontro as chaves. Busca cada vez mais frenética na carteira, que depois de meticulosamente despejada em cima do capot me faz render à evidência de que esqueci as chaves no restaurante. Volto atrás. Fechado, tudo às escuras, tínhamos sido as últimas a sair e ainda tínhamos ficado bastante tempo a palrar. Resignei-me a tomar um táxi para vir para casa. Filosoficamente, pensei que teria sido pior esquecer as chaves de casa.

O pior é que agora, depois de ter dormido umas duas horas e tal... não há maneira de voltar a adormecer.

sábado, 14 de março de 2009

O autógrafo do artista

No princípio de Maio de 1990, a mulher do Luís P., assistente do realizador da RTP que ia fazer a cobertura do concurso de Miss Portugal, convidou-nos para assistir. Éramos seis: o Vítor e a então mulher, a Ana, o Luís Miguel, irmão dela, o Manel Zé, o Luís (claro) e eu.

Era o género de acontecimento que não nos despertava qualquer interesse, mas com jantarinho à borla (que o público pagava por bom preço) e com a perspectiva de rir bastante, aderimos entusiasmados. Eu e a Ana produzimo-nos todas, os meninos lá puseram os smokings e... Casino Estoril connosco!

O jantar decorreu na maior animação, que junto dos dois Luíses, dois palhaços por excelência, a risota era sempre garantida. Às tantas, num intervalo qualquer, o Luís, à minha direita (a mesa era redonda), dá-me uma cotovelada discreta e bichana-me «olha quem ele é!»

Era ele, Roberto Leal, o português mais brasileiro de Portugal, com aquele loiro fulgurante que puderam admirar na capa do disco abaixo. A poucos metros de distância, teria de passar forçosamente pela nossa mesa. Tentando conter o riso, fiz um gesto teatral de quem está tomada de enorme comoção e... simulei um desmaio para cima do ombro do Luís.

Imaginem agora a minha cara (e a dos outros) quando o artista, já mesmo à nossa beira, e na certa a tomar-me por uma fã em êxtase, me sorri com grande simpatia, pára e... agarra já nem me lembro se numa ementa, se no cartão com os tradicionais retratos do Casino e me pergunta como me chamo.

— Teresa —, balbuciei eu, completamente tolhida, embaraçadíssima e, certamente, com ar muito infeliz. E o artista rabiscou gentilmente um autógrafo!

Os outros estavam todos atónitos. «O que foi isto?», perguntou-me o Vítor, à minha esquerda, mal ele se afastou. Eu lá expliquei, enquanto o Luís, o único que tinha percebido a cena, já rebolava a rir. O avanço que levava foi curto, em breve a nossa mesa era um coro de intermináveis gargalhadas.

A Miss Portugal desse ano foi esta bela moçoila, de seu nome Carla Caldeira. A imagem, como podem deduzir, é dessa noite.

sábado, 31 de maio de 2008

Sexo, lésbicas e buscas

O Alf respondeu taco a taco e à sua moda sarcástica a uma idiota brasileira (bem sei que são populacionalmente mais significativos, mas... ainda assim, que contingente de anormais parece haver naquele país!) que lhe aterrou no blóguio a querer saber (sic) «como fazer as sombrancelhas da angelina jolie».

Eu sofro calada as hordas que me vêm aqui parar em busca de «Ana Zanatti nua». Com cambiantes: ora querem fotografias, ora querem filmes; no que são todos unânimes é em querer ver a senhora nua.

E depois também tenho subprodutos (ainda mais, si cabe, como diriam os espanhóis) destes. Ora espreitem a minha barra lateral. No título Visitas Frequentes hão-de (há-dem, para alguns...) encontrar este brilho brasileiro:




«Lésbicas fasendu sexo». Por acaso, e só por acaso — são muitos mais, aparecem quase todos os dias —, aqui ao lado só aparecem os pelintras que acrescentam free. Grates (não merecem melhor), à borla. Vêm de um motor de busca que já me/nos proporcionou o inqualificável «história do nascimento de Lusiano Pavarote». Um tal busca.uol.com.

O que me entristece é que desemboquem aqui pela combinação de factores diversos: o meu conhecido e proclamado apoio incondicional a todos que tenham uma orientação sexual diferente da minha; o facto de o muitíssimo bom Lésbica: Simples ou com Gelo? (ultimamente bastante parado) estar nos meus links e já ter sido aqui citado, que me lembre, pelo menos duas vezes. Aproveito para agradecer à equipa do Lésbica: Simples ou com Gelo? aquilo que é para mim uma verdadeira honra: que esta minha humilde e despretensiosa Gota de Ran Tan Plan esteja nos seus links, e nem sei como terá ido lá parar: eu leio-as sem comentar (mentira, comentei duas ou três vezes), elas lêem-me sem comentar. Eu gosto imensamente de todas e, como tal, volto a agradecer a honra que é para mim terem destacado a Gota, muito mais significativa do que os prémios idiotas que recorrente e ciclicamente circulam na blogosfera — nunca aceitei nenhum, como julgo que sabem.

Estou em crer que a Internet, maravilhoso instrumento ao qual estou diariamente grata, é também um autêntico viveiro de perversões. Uso o substantivo perversões com cautela medida. No que toca à sexualidade, nada me incomodam as preferências dos outros, eles que se entendam — o clássico «between consenting adults...» Duas únicas, rigorosas e irredutíveis excepções: crianças e animais. Isso é que não!

E não mudo a música. Por preguiça. E, principalmente, porque tal gente não merece melhor.

quinta-feira, 8 de maio de 2008

Saving Private Messy...

Messy ficou no telhado e eu saí de casa enervadíssima, como está bom de ver. O facto de logo a seguir ter ficado mais de dez minutos parada numa rua de sentido único, à espera que uma ambulância recolhesse um doente, em nada contribuiu para melhorar a minha já de si tenebrosa disposição. Telefonei ao Vítor para desabafar. Ele, claro, achou a história adorável - conhecendo-a desde bebé, não ficou nem um pouco preocupado. Messy bebe os ares por mim, Messy é a minha sombra. Quando lhe passasse o capricho estaria lá, à espera de ser resgirafada resgatada.

Claro que eu teria de ir a casa à hora de almoço, não a queria sem comida nem sem água tantas horas. Infelizmente, só consegui libertar-me tarde e passava das duas e meia quando entrei em casa.

Lá estava ela, lá ao fundo, razoavelmente à sombra. Desatou imediatamente a resmungar comigo. Estava ressentida, era evidente. Fez-se tremendamente rogada para se aproximar da janela, deu umas voltas só para me pôr à prova, e sempre com uns miados queixosos que eu sabia traduzir na perfeição. Então isto são horas? Então assim nos abandonaste? (como já disse, Messy usa sempre o plural majestático)

Finalmente, depois de rodeios infinitos, para marcar bem o seu descontentamento e o muito que a minha negligência a tinha feito padecer, lá se postou debaixo da janela. A fome e a sede já deviam fazer-se sentir, e pôs-se de pé, as patinhas apoiadas na parede, toda esticada. Por mais que eu me debruçasse, não conseguia alcançá-la... Que desespero!

É bem verdadeiro que a necessidade é mãe do engenho! De repente, tive uma ideia luminosa! Fui buscar um cobertor, desdobrei-o e estendi-o janela fora, em jeito de passadeira vertical. Messy percebeu a ideia acto contínuo e tentou trepar, ficando logo presa pelas unhas. Mas era suficiente, foi só içá-la e... numa questão de segundos já estava ao meu colo.

Se a sufoquei de beijos repreendi severamente? Oh, siiiiiim! Imeeeeenso!

All's well what ends well...

quarta-feira, 7 de maio de 2008

Messy on a Hot Tin Roof

Esta manhã, por volta das oito horas, estando na cozinha a tratar do pequeno-almoço... aconteceu a tragédia.

Messy (Messalina) andava por ali a cirandar. A manhã fresca lá fora convidava: a cozinha dá para as traseiras, é um 1.º andar e o rés-do-chão tem quintal, com um telhado de chapa ondulada a resguardá-lo. Há árvores e ouve-se o canto dos pássaros. De costas para a janela... ouvi de repente um bonk! agoirento. Numa prece silenciosa (Meu Deus! Faz com que ela não tenha saltado!), voltei-me. Tinha saltado, já não estava no parapeito. Passeava-se com prazer evidente pelo telhado de zinco, aventureira e cheia de vontade de fazer explorações.

A hora seguinte foi de desespero impotente para mim. É inútil tentar convencer um gato a fazer seja lá o que for - só condescende se estiver para aí virado. Tentei tudo. A súplica. A lisonja. O suborno. A autoridade. A ameaça. Messy ignorou-me olimpicamente, chegou ao desplante de se pôr a lavar-se meticulosamente de costas para mim, num desprezo ostensivo e calculado, enquanto eu tentava atraí-la com Kitbits (que ela adora!) e lhe implorava que se aproximasse. Está bem, abelha!...

Estivemos nisto mais de uma hora, eu completamente desvairada, de cabeça perdida, e já atrasadíssima para ir para o Colosso. Acabei por desistir, à hora do almoço tive de vir a casa tentar resgatá-la — sim, ficou lá fora a manhã inteira! Depois conto o resto da história...

Fica só este patético apontamento filmado do meu desespero... E é favor não rir (muito).

sábado, 12 de abril de 2008

R.I.P.

O meu PDA morreu. Teve uma vida razoavelmente longa (oito meses), considerando a curta expectativa de vida que estas engenhocas hoje em dia concedem. Prestou-me bons e leais serviços, que prestou. Permitia-me coisas extraordinárias que punham o observador incauto em êxtase, leia-se Mad e Ana no último jantar que tivemos, como transferir chamadas - eu estou sempre de serviço, elas foram testemunhas, várias vezes o telefone tocou, mesmo depois das dez da noite.

E como morreu o meu PDA? - perguntam os meus queridos leitores. À cabeça, em toda a blogosfera, só vejo uma pessoa a acenar aprovadoramente em jeito de it could happen to me: a Nani. Meus amigos, é que foi mesmo uma trenguice olímpica!

Entrei em dieta rigorosa, que estou uma lontra impensável. Como sou uma mulher de causas, levo tudo muito a sério e muito à séria, havia que complementar a dieta com exercício: quase todos os dias, quando vou para o Colosso, já levo no lombo quase dez quilómetros à pata, saio de casa antes das seis e meia, noite cerrada, e ando que me desunho, no meu passo elástico e comprido, Mozart e outros grandes nos ouvidos. Hoje, sábado, está bom de ver, a coisa deu-se mais tarde, bastante mais tarde. De volta a casa, pus a roupa na máquina. E no preciso instante em que ela começou a encher de água tive um flash horrorizado: não me lembrava de ter tirado o telefone do bolso das calças que já rodopiavam, indiferentes à minha sensação de náusea.

Pois é, meus amigos. O dito saiu da máquina lindo e reluzente, dava gosto vê-lo. Adiando ao máximo o momento da verdade, até o sequei carinhosamente com o secador de mão. Estranhamente (!), continua a não funcionar. E já estou antecipadamente a morrer de vergonha só de pensar que na segunda-feira, no Colosso, terei de contar isto para justificar a minha necessidade de um PDA novo - e é que não posso mesmo estar sem telefone. Além de ter tido de enviar mails a dizer que estava contactável noutro número, o número X... Isto só comigo!

terça-feira, 18 de dezembro de 2007

Será que pega?

... ou será que estou a ser ingénua e a sobrestimar o poder de persuasão das boas maneiras?

segunda-feira, 17 de dezembro de 2007

A saga do carro

Onze horas separam estas fotografias. A da esquerda foi tirada de manhã, pelas nove horas, quando cheguei ao Colosso e tinha um carro lavado. A da direita foi tirada às oito da noite, quando saí e encontrei, para variar, esta estrumeira. A quem hei-de queixar-me? À Federação Ornitológica Nacional Portuguesa?


É que é isto todos os dias! Parvalhões dos pássaros!

domingo, 4 de março de 2007

Era uma vez uma astróloga

Não é que eu ache que a minha vida pudesse dar um festival de cinema, como a da Actriz Principal. Mas lá que tem tido coisas bizarras...

Por razões óbvias, não posso usar nomes reais. Com o meu proverbial azar, ainda levava com algum processo em cima, que uma certa pessoa que faz indirectamente parte desta história adora atacar por essa via.

Há muitos anos (1989) eu era secretária do Rui. Grande amigo de quem tenho muitas saudades, morreu há cinco anos. Um entertainer nato, uma cabeça brilhante. O que nós ríamos juntos dava muitas páginas se me pusesse agora a lembrar. Foi a enterrar no dia em que a filha mais nova fazia 15 anos. Que triste, não é? Posso dizer que a vi praticamente nascer, porque estava à porta da sala de partos da clínica, e ouvia os gritos da mãe lá dentro. Quando a Marta no ano passado fez 20 anos enviei-lhe um presente que a deixou comovidíssima (não devo dizer o que foi), telefonou-me em lágrimas a agradecer. Donde se prova que os presentes caros nem sempre são os de maior significado. Este, pelas minhas contas, deve ter custado coisa de 65 cêntimos, mais envelope almofadado de correio verde.

Mas vamos à história. Em 1989 o sr. X, que era amigo do Rui, foi nomeado director de um jornal a que vou chamar A Patada, jornal com mais de cem anos de vida, um arquivo fotográfico inestimável. Viria a acabar em coisa de seis meses (tanto quanto me lembro foi entre Setembro de 89 e Março ou Abril de 90). E pediu ajuda ao Rui. O jornal estava em péssima situação financeira, havia milhares de contos de publicidade a cobrar e ninguém mexia uma palha. Tomámos conta da situação. E eu vi-me de repente com cinco páginas diárias a meu cargo – a Agenda. Havia lá de tudo. Programação da televisão, curiosidades (um dia destes hei-de ir à Hemeroteca tentar arranjar cópias dessa minha estranha passagem pelo mundo do jornalismo), farmácias de serviço. Entre as únicas rubricas realmente criativas e da minha lavra pessoal, que me lembre agora – já passaram tantos anos! – havia uma coisa chamada Pequena História das Grandes Invenções – um terreno que acho fascinante. Coisas como a tesoura, o clip, o post-it. As coisas vulgares e tão úteis em que nem reparamos. Outra rubrica a meu cargo eram pequenas biografias. Escrevi muitas, mas estranhamente neste momento só me lembro de Mozart, claro, deve ter sido logo a primeira, com a minha devoção por ele – o Victor costuma dizer que Mozart para mim não é uma paixão, é uma religião – e de Agatha Christie. E lembro-me de ter citado uma frase giríssima lida algures que a definia como «a mulher que mais lucrou com o crime desde Lucrécia Borgia». Pobre Lucrécia, que até parece que nem era nada disso. Más famas que se arranjam.

Pronto, chegámos ao ponto fulcral (decididamente, o poder de síntese não é uma das minhas qualidades). A astrologia. A maldita astrologia. Também era eu que escrevia aquela bodega todos os dias. E, como diria a minha mana AEnima, don’t get me started on that! Sofro desde sempre de uma desconfiança crónica em relação à astrologia e derivados. Quando alguém se diz muito espiritual ou muito dado às espiritualidades a minha primeira reacção instintiva é um recuar prudente. É possível que tenha pela frente alguém admirador de Paulo Coelho (que odeio). Mas adiante, let’s get to the point.

Consultados diversos jornais e revistas, decidimo-nos por um formato que para cada signo fazia previsões em três campos: amor, saúde, dinheiro. O que queria dizer que eu todos os dias tinha de inventar 36 tretas diferentes. Para mim era um martírio. Eu que, com a maior das facilidades e enquanto a Diabba esfrega um olho, encho duas ou três páginas em poucos minutos, agonizava em frente do ecrã teimosamente em branco. Cheguei ao desespero de, na redacção, tudo atarefadíssimo, gritar «Há aqui alguém de Carneiro?» Lá se levantava um braço e eu perguntava: «O que é que quer hoje para o seu signo?» E lá me vinha alguma ideia. Com o tempo tornei-me manhosa. Guardava os ficheiros todos e depois era só ir buscá-los e misturá-los. As previsões amorosas para Balança passavam duas semanas mais tarde para Caranguejo. Nunca ninguém deu por nada.

E depois rebentou a bomba.

Um belo dia, por volta das duas da tarde, ainda sem almoçar porque estava a acabar um texto qualquer na redacção, onde aliás estava sozinha, tocou o telefone. Atendi. A telefonista passou-me uma chamada com uma «Ó Dr.ª, acho que isto é consigo». Só lá pelo terceiro mês no jornal consegui que ela me tratasse pelo nome, cansei-me de lhe explicar que não tenho licenciatura alguma e decorrentemente qualquer direito a ser tratada por Dr.ª.

Ela passou-me a chamada. Uma voz de senhora idosa, diria que lá pelos 70 anos. Queria falar com o astrólogo. «MERDA! – pensei imediatamente com os meu botões – Fui apanhada!!»

Compus o ramalhete o melhor que fui capaz – tenho bastante sangue-frio em situações de emergência. Disse com a voz mais simpática possível que a pessoa que fazia a astrologia era só um colaborador do jornal (género masculino, reparem, a sacudir água do capote), que normalmente nem ia lá, mandava-nos a coluna por fax. O pior foi que a senhora não me largava. Queria saber se ele (boa malha, ficou a achar que era um homem) tinha consultório nalgum lado, gostaria muito de marcar uma consulta...

Estão a ver a minha situação, não? Em palpos de aranha, no fundo cheia de pena da senhora, fui dizendo umas coisas do género «bem, que eu saiba, ele não tem consultório. Acho que é mais um estudioso da astrologia... Como lhe disse é um colaborador, nem o conheço...»

A senhora já estava na maior intimidade comigo. E confessou-me a razão da sua insistência. Passo a citar literalmente, porque é impossível esquecer:

– Sabe o que é, minha filha? Desculpe estar a maçá-la. Mas é que eu sempre achei muita graça a esta coisa dos signos. E com o vosso jornal acontece uma coisa muito estranha, que nunca me tinha acontecido. É QUE ACERTAM SEMPRE!

Senti-me a maior charlatã de todos os tempos, mas não ia tirar as ilusões à pobre senhora, pois não? E de repente tive uma visão hilariante da minha pessoa, instalada numa banca da Rua Augusta (o jornal era lá), com um turbante na cabeça, argolas gigantescas nas orelhas, um nome exótico e uma bola de cristal, a prever parvoeiras inventadas no momento aos crédulos mortinhos por acreditar nessas coisas.

Questão pertinente: terei eu passado ao lado de uma grande carreira?

Mensagem oculta: da próxima vez que lerem o vosso horóscopo, seja num jornal ou numa revista, lembrem-se desta história.

sábado, 20 de janeiro de 2007

O Fascínio das Marcas

Foi em Paris, há uns cinco anos. Foi seguramente uma das coisas mais bizarras que até hoje me aconteceram.

Saí do hotel por volta das onze da manhã, com as ideias muito arrumadinhas. Ia à Fnac dos Campos Elísios (ai, o 202 e A Cidade e as Serras, livro que à medida que vou envelhecendo vai sendo uma paixão maior para mim, o último livro do Eça da minha paixão, livro póstumo, e a maravilhosa serenidade que transparece na parte das serras, e que me assegura que ele teve um fim de vida feliz) procurar alguns discos que insistiam em fugir-me, tomava depois um táxi para o hotel Costes, onde ia almoçar com o Artur - só para nós, que ninguém nos ouve: come-se bem, mas as mesas são minúsculas e desconfortáveis; tive dificuldades em encaixar o meu diminuto 1,63 m de maneira satisfatória. Há tempos ri imenso com o meu amigo João Paulo, que também lá foi e se queixou exactamente do mesmo.


A Avenue Montaigne é aquela perdição que se sabe. Marcas, marcas, marcas. Valentino, Dior, Prada, Porthault (aqueles lençóis!), a venerável Coty na esquina com a Francisco I - onde fica o Fouquet e eu quase me arruinei em chás, que aquele Tarry Souchong anda muito perto de ser uma experiência mística, e a John Lobb. Pois foi justamente nessa esquina que fui abordada por dois orientais.


Não querendo ser politicamente incorrecta... a verdade é que não os distingo. Sei lá eu se são chineses, japoneses, coreanos ou vietnamitas! Aqueles disseram-se chineses. Um casal. Eu devo ostentar um enorme TANSA escrito na testa e bem visível para vigaristas. Foi por isso que aqueles dois me escolheram. E que queriam eles? Que eu lhes comprasse uma carteira (quanto às pessoas que dizem
mala, mais valia não terem nascido) na Louis Vuitton, uns metros adiante. Uma qualquer, desde que no padrão com monograma, igual ao sacão que vai para toda a parte comigo, que está velhinho e estafado mas onde cabe tudo e mais um par de botas.

Fiquei perplexa. Paris, mundo livre...
hello? Por que raio precisavam eles da minha ajuda? Explicaram-me que a Vuitton não vendia mais de três artigos a cada pessoa. Compadeci-me daquela chinésida endinheirada que tinha esgotado a sua quota de Vuittons. Sem saber no que estava a meter-me, aceitei o molho de notas que me passaram para as mãos, julgo que coisa de 200 contos, à época. Não me custava nada, pois não? Entrava na loja, comprava uma carteira qualquer e fazia a felicidade da pequena. Iria para o meu registo de boas acções, que bem precisava de alguns créditos.

Entrei na loja. Primeira surpresa: precisava de uma senha com número. Fui recebida com uma amabilidade fora do vulgar (a antipatia dos empregados das lojas parisienses é tristemente célebre), até me ofereceram uma
flûte de champagne para entreter a espera, coisa um pedaço despropositada se considerarmos a hora. Mas tomei mentalmente nota. Ficando a loja a poucos metros do hotel, umas visitinhas à tarde seriam futuramente de considerar, que eu adoro champagne! Esperei e esperei. E continuei a esperar. Já estava a rosnar para dentro e de cabeça perdida quando finalmente me chamaram e levantei o rabo da cadeira em que estava instalada.

Quando entrei na loja propriamente dita fiquei estarrecida. Nunca tinha visto uma coisa assim. A olho desarmado, os únicos ocidentais éramos eu e os empregados. Bem podíamos estar em Xangai, ou em Tóquio, eram só caras de limão. Volto a pedir desculpa por estar a ser politicamente incorrecta, mas é que só consigo lembrar-me dos livros de Lucky Luke. Fui atendida por uma empregada amorosa (devia estar farta de orientais, eu era uma lufada de ar fresco). Querem saber? Não havia NADA!!!! Como aquela gente quer comprar coisas visivelmente de marca, não havia NADA com o famoso padrão do monograma. E eu já tinha desperdiçado perto de uma hora da minha manhã.
Valeu-me uma caramela oriental no balcão ao lado, que à última hora desistiu de uma carteira que estava a ver (por acaso era giríssima). Consegui ficar com a carteira, queria despachar-me, fui pagar.

Nova surpresa. Por razões de segurança, só aceitavam dinheiro até um determinado montante - acho que rondava os cem contos, foi antes do euro. A TANSA (eu, lembram-se?), que já tinha perdido tanto tempo, pagou melancolicamente a diferença com o cartão de crédito e conseguiu finalmente sair dali.
Eis-me novamente na rua, no passeio em frente da loja. Dos chineses nem rasto. Esperei uns bons dez minutos, pior do que uma bicha. Os meus paizinhos deram-me uma boa educação, inculcaram-me sólidos valores, entre eles a honestidade. Depois daquela estúpida manhã estupidamente gasta numa estúpida de uma loja a comprar uma estúpida carteira para uns estúpidos de uns chineses, vacilou tudo. Dou-lhes mais cinco minutos. Se estes anormais não aparecerem arranco com o raio da carteira, que até é gira que se farta e me vai dar um jeitão. E eles que vão para o diabo que os carregue!

Apareceram, quando eu já me dispunha mesmo a mandá-los para as urtigas. Só queria que vissem a voracidade com que rasgaram o lindo saco, o papel castanho do embrulho, coisas que eu guardo religiosamente. Nem me viram os dentes, passei-lhes o recibo da compra e ressarci-me da diferença, esquecendo-me de que no meu cartão de crédito ia ser debitada uma comissão por compras no estrangeiro. Convidaram-me para tomar um café e mandei-os à fava o mais delicadamente que consegui. A minha manhã estava arruinada, tinha tempo à justa para me enfiar num táxi e ir para o Costes. Que ódio!!!


Contei esta história a algumas pessoas. Quase todas acharam que eu tinha passado dinheiro falso (o Artur, sempre dramático, queria avisar a Interpol). Fiquei mais descansada quando a contei na Vuitton de Lisboa, de uma vez que lá fui comprar a recarga para o Filofax. As meninas da loja são uns amores e tratam-me como se eu fosse ali gastar fortunas, fazendo vista grossa ao facto sobejamente evidente de ser uma perfeita pelintra. É mesmo verdade que eles põem restrições ao número de artigos que vendem a
certos clientes. A explicação é nebulosa, passa por coisas como mercado paralelo e assim.

E os chineses?
- perguntarão. Dois ou três dias depois saí novamente do hotel pela manhã e virei à esquerda, a caminho dos Campos Elísios. Lá estavam eles, com um ar furtivo. Encarei-os bem de frente e disfarçaram. A TANSA (eu) já dera o que tinha a dar, estavam à procura de nova vítima. Talvez devesse ter feito uma escandaleira, mas resolvi não perder ainda mais tempo.

Foi a partir daí que comecei a reparar mais no fascínio que certas pessoas parecem ter por marcas. Em Paris é gritante. Experimentem olhar não para as pessoas com quem se cruzam, mas para os sacos que transportam. Se ostentarem nomes como Hermès, Vuitton, Valentino e quejandos, desloquem o olhar para as trombas do(a) transportador(a). As probabilidades de ser oriental são mais que muitas, eu diria oito em dez. Eu própria (mea culpa) tenho um culto apaixonado por alguns artigos de marca. Os carrés Hermès (tenho alguns). A minha Montblanc. Os xales da Nina Ricci (não tenho). O papel de carta da Smythson de Londres, que não tem rival. E continuam a ter sobrescritos forrados, coisa que em Portugal não se encontra vai para mais de vinte anos. A famosa Kelly Bag (que não tenho).

Há uns largos anos, estava em Madrid e estava razoavelmente endinheirada. Disse para com os meus botões
Maria Teresa, não passa de hoje, vais comprar o raio da carteira. E vais comprar o relógio da Chanel que o Miguel te deu antes que ele perceba que o perdeste! Yeah, right! A Kelly Bag custava (em 1994) 520 mil pesetas, o que andaria à volta de 600 contos, câmbio da época. Estou a falar da simples, básica, em cabedal. Podia tê-la comprado, na altura ainda não havia lista de espera. Agora há. Seis meses para uma Kelly, dois anos para uma Birkin - informação da Hermès das Bal Harbour Shops em Miami, onde apresentei ao Victor um dos amores da minha vida, a tal Kelly. Por acaso até tenho uma boa cunha, teria a carteira no dia seguinte.

A história do relógio ainda é mais aflitiva. Entrei na Chanel, na Ortega y Gasset. Lá estava o dito. Eu estava sóbria, eles não deviam estar. Aquela bodega custava quase 300 contos! Um relógio de costureiro! Por mais que o Miguel tenha sido o grande amor da minha vida, por mais que me sensibilize que me tenha dado um presente tão bonito (o relógio era lindo, verdade seja dita), achei um atentado à minha inteligência gastar tanto com um relógio de costureiro. Relógios são Omega, Patek Philippe, International, Breguet, Franck Muller, Rolex e assim. Não são seguramente Chanel, ou Dior, ou Burberry. Resignei-me a contar-lhe a verdade, a confessar-lhe que tinha perdido o raio do bicho no Algarve, por causa do fecho escangalhado.