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quarta-feira, 8 de janeiro de 2014
Foi logo depois do lauto almoço que se seguiu à caminhada que contei na entrada anterior. A amiga do Luís que tinha almoçado connosco trabalhava na livraria da LX Factory, insistiu que aparecêssemos por lá. E nós fomos com todo o gosto.
Em má hora, confesso. Dei logo com os olhos na capa de um livro que me pôs a hiperventilar. Ainda antes de pegar no dito já devia saber que ia entrar numa disputa. Sou tão parva! O expositor estava mesmo à frente do balcão, em que pontificava uma senhora de ar teutónico, cabelo grisalho já a atirar para o branco e cortado asceticamente curto, ar tudo menos simpático. Interpelei-a com o livro na mão, «Desculpe, que parvoíce é esta? Isto é o De Profundis!» Deviam ver o ar sobranceiro da senhora, que mentalmente baptizei logo como Frau Helga, olhando desdenhosamente para aquela criatura em trajos de caminhar e que, seguramente, não sabia nada de livros. A criatura era eu e, para desgraça de Frau Helga, sabia mais sobre Oscar Wilde de olhos fechados do que ela com todos os sentidos alerta. Frau Helga despediu altivamente uma frase para reduzir o mosquito (eu) ao silêncio: «Isto é um livro novo.»
Não fosse Oscar Wilde um dos amores supremos da minha vida, não lhe conhecesse eu toda a obra de cor e salteado, fosse eu mais nova, talvez tivesse respondido. Não, com mil diabos! Eu estive no Père Lachaise a 30 de Novembro de 2000 à hora exacta em que se cumpriam cem anos sobre a morte de Oscar Wilde, por coincidência o livro que levei comigo até era justamente De Profundis (há algures neste blogue uma fotografia, nem vou procurá-la agora), aquele último grito desgarrador de uma paixão que só redundou em desgraça. Não dei mais resposta à muito arrogante Frau Helga, dei meia volta e fotografei a capa do livro. E a primeira página de texto. Frau Helga é uma besta, Frau Helga percebe tanto de livros como eu percebo de Física Quântica.
Um livro novo? Frau Helga, por favor! Fique aqui com a digitalização possível do original daquela primeira página. É que o livro (The Complete Works of Oscar Wilde, comprado em Sheffield a 13 de Junho de 1990) tem 1216 páginas e não quero danificá-lo, como tal a qualidade da digitalização é pobre.
Frau Helga, provavelmente, continua a passar informações erradas a leitores sequiosos como eu sou desde sempre.
Foi deliberadamente que me abstive de a contrariar, logo que percebi que a senhora era ignorante. O que me preocupa são as informações esdrúxulas que a senhora possa passar a pessoas genuinamente interessadas nos livros que encontram na Ler Devagar. Frau Helga é uma calamidade.
segunda-feira, 31 de outubro de 2011
Joan Plowright como Lady Bracknell
Dame Joan Plowright, baronesa Olivier, Lady Olivier, a viúva de Lord Laurence Olivier, o actor mais reverenciado de todo o século XX, fundador e primeiro director do meu tão amado National Theatre. Adoro-a. Dame Joan detém também a glória de ser, até hoje, a única actriz a ter conquistado dois Globos de Ouro no mesmo ano.
Abaixo a sua assombrosa prestação como Lady Bracknell. Que, apesar de tudo, não é a minha favorita. Prefiro-lhe a caricatura de Dame Wendy Hiller. Dame Joan é, fisicamente, uma Lady Bracknell mais adequada, mais nova, diria que com a idade certa. É também, seguramente, a mais socialmente acertada e aceitável, com uma contenção admirável e, no entanto, irresistivelmente cómica. Dame Joan, não podemos esquecer, vem de uma escola de teatro mais natural e realista, fez a primeira produção do Entertainer de John Osborne, participou activamente em toda a renovação do teatro que foi o grupo dos Angry Young Men.
Uma grande senhora e uma das maiores glórias do teatro britânico.
Perdidos e achados
As conversas são como as cerejas. Foi na caixa de comentários do post anterior que a Izzie e eu, anglófilas convictas e maníacas por Oscar Wilde, a propósito do desempenho (que não vimos) de Patricia Routledge como Lady Bracknell, abrimos o baú das memórias.
As memórias são semelhantes, mas as versões favoritas são diferentes. A Izzie gastou até à exaustão a versão cinematográfica em VHS de The Importance of Being Earnest de 1952, com Michael Redgrave, da qual não gosto por muitas e variadas razões, sendo a principal o facto de o texto, o incomparável texto de Oscar Wilde, estar horrorosamente mutilado.
A minha versão favorita e inesquecível, mesmo depois de ter visto a grande Joan Plowright como Lady Bracknell, continua a ser a de 1985, filmada para a televisão a partir da peça, da qual encontrei este cartaz da produção de 1981.
E também eu tenho uma história com esta (para mim) insuperável versão filmada. Vocês que são muito mais novos talvez não saibam que quando os gravadores de vídeo começaram a ser vendidos havia dois sistemas, VHS e BETA. Durante uns tempos coexistiram nos clubes de vídeo, sendo que a qualidade do BETA era superior. O Rui, que ia sempre para o que de melhor havia, aderiu ao BETA. No espaço de dois ou três anos, o sistema foi desaparecendo, nos clubes as prateleiras tinham cada vez menos títulos, julgo que houve negócios de milhões por trás da sua agonia. Ora lá por 86 ou 87 o Rui, sabedor da minha paixão por Oscar Wilde, ofereceu-me esta maravilha, que tinha gravado da televisão. Em BETA, claro. Na altura eu nem gravador de vídeo tinha ainda, mas ele emprestou-me um SONY portátil (até alça para pôr ao ombro tinha) que muito viajou para casas de amigos, e nem imaginam a quantidade de vezes que nos deleitámos com esta peça.
O tempo foi passando, a cassete arrumada na estante, o sistema BETA já era apenas uma memória vaga. Subsistia em mim a ideia incómoda de que urgia passar aquilo a VHS quanto antes. Só o fiz lá por 94 ou 95, custou-me um dinheirão e o resultado foi tão desconsolador que até me telefonaram do laboratório a avisar de que aquilo estava impróprio para consumo. Teimosa, achando que se referiam apenas a uma imagem menos que perfeita, mandei-os ir em frente. Grossa asneira, como vim a verificar. Fiquei para todo o sempre com um mono na prateleira.
Criatura obstinada que sou, fiz incontáveis buscas na Amazon ao longo de todos estes anos. Edições em DVD nem vê-las. Só nunca me tinha lembrado de procurar no YouTube. Coisa que hoje fiz, por causa da conversa com a Izzie.
E aqui a têm, a minha versão de eleição, a grande Dame Wendy Hiller (vencedora de um Oscar), que talvez os mais velhos lembrem como a princesa Dragomiroff do Crime no Expresso do Oriente de Sidney Lumet, no papel de Lady Bracknell.
A qualidade da imagem deixa bastante a desejar, é bastante enevoada, mas ainda assim continuo a considerar esta a melhor versão filmada da peça. E aqui fica o texto integral do hilariante diálogo de Lady Bracknell com John Worthing. O diálogo que, tinha eu 16 anos, me apresentou a peça, como já contei algures lá trás.
segunda-feira, 22 de agosto de 2011
I ♥ Amazon
Mais um para a minha colecção de livros sobre Oscar Wilde. Em segunda mão, vindo dos Estados Unidos. Encadernado, como novo, tirando aquela minúscula mossa da sobrecapa de papel no canto inferior esquerdo.
O preço? A anedota abaixo. Fnac who?
quarta-feira, 13 de julho de 2011
O incomparável Oscar Wilde
Ontem à noite peguei na que é a minha biografia favorita de Oscar Wilde, a de H. Montgomery Hyde.
O que este livro já viajou! Oferecido, foi comprado no Canadá, julgo que em Toronto. Acompanhou-me logo de seguida para umas férias em Barcelona e reservei a leitura, a primeira de muitas, para a lânguida semana numa praia da Costa Brava. Quando pego nele vêm-me imediatamente à memória manhãs de sol luminoso, areia clara e mar morno, tão fortes são as impressões que o primeiro contacto com um grande livro deixa em nós. E lembro-me de rir baixinho, de me emocionar, de me entristecer, de ler alto passagens ao M., também ele, por contágio, já rendido ao sortilégio de Oscar Wilde.
Do Algarve a Nova Iorque e Miami, passando por Londres e Paris ou Denver, esta biografia já andou comigo um pouco por toda a parte.
Ontem, ao folheá-la, tentando decidir em que parte havia de fixar-me, tropecei numa das minhas histórias favoritas de Oscar Wilde.
Quem o conheceu é categórico: o espírito borbulhante e irreverente que perpassa nas peças e em Dorian Gray era quase pálido se comparado com a conversação de Oscar Wilde. Era brilhante, fascinava pela graça, pelo humor, pelo paradoxo. De tal forma que o Marquês de Queensberry, pai de Bosie e autor da sua desgraça e infâmia futuras, ficou positivamente encantado com ele ao conhecê-lo num almoço num Savoy de também muito tristes memórias.
Vaidoso, Wilde sabia desse seu talento, e gabou-se num jantar de poder discorrer de imediato e com espírito sobre qualquer assunto que lhe propusessem. Alguém lhe lançou um repto: «The Queen.»
A resposta foi pronta, fulminante e deliciosa: «The Queen is not a subject.»
Gostava de poder acabar assim, mas convém deixar uma explicação para os menos familiarizados com o inglês e com o período da História que se vivia. Sua Majestade Imperial, a Rainha Vitória, reinava havia longos anos e tinha-se tornado uma figura venerada, uma verdadeira instituição (foi a senhora que disse «We are not amused»). Gracejar a seu respeito teria sido desrespeitador e de extremo mau gosto. Oscar Wilde resolveu a dificuldade num ápice, brincando com a palavra subject, que significa em simultâneo assunto e... súbdito.
quarta-feira, 16 de junho de 2010
The Go-Between
«Estou hoje dividido entre a lealdade que devoÁlvaro de Campos, Tabacaria
À Tabacaria do outro lado da rua, como coisa real por fora,
E à sensação de que tudo é sonho, como coisa real por dentro.»
Tive esta noite uma das conversas mais penosas da minha vida. Tão penosa que, devendo estar a dormir há horas, voltei para o computador, pus música, sempre a minha solução mágica, tentei fugir ao peso de tanto a que sou alheia e que vem abater-se sobre mim sem que eu tivesse querido, sem que fosse essa a minha escolha. Num assomo de mau feitio, apetecia-me pegar noutros versos do meu Álvaro de Campos, no seu Lisbon Revisited, eu que ainda ontem revisitei Brideshead:
«Queriam-me casado, fútil, quotidiano e tributável?
Queriam-me o contrário disto, o contrário de qualquer coisa?
Se eu fosse outra pessoa, fazia-lhes, a todos, a vontade.
Assim, como sou, tenham paciência!
Vão para o diabo sem mim,
Ou deixem-me ir sozinho para o diabo!
Para que havemos de ir juntos?»
Da conversa tão penosa nasceu uma ânsia de claridade, claridade que só consigo encontrar agora na pureza miraculosa dos lilases, as flores da minha paixão, como eram de Oscar Wilde, grande amor da minha vida. E sentir que se está a ser manipulada, que há recados dados em surdina, muito à vol d'oiseau, não é fácil de digerir.
Não aprofundámos a questão dos lilases entre nós. Cortei um cacho daquele esplendoroso arbusto frente ao tribunal, viajou connosco, no meu colo, durante centenas de quilómetros. O Vítor, ao volante, ia pedindo para cheirar, apaixonado pelo perfume mágico. De cada vez que lhe punha o cacho debaixo do nariz tinha vontade de chorar, nunca tinha partilhado os lilases com ninguém.
E agora perdi-me, e nem sei onde queria chegar com isto, só sei que me agarrei à beleza do lilás da minha infância como a uma âncora de salvação.
E tudo isto é tão absurdo que, pela primeira vez em muitos anos, dou comigo a sentir-me sozinha. Daí a música. Se não perceberem italiano... azarzinho. Mas talvez tenha mesmo passado muito, demasiado tempo desde a última vez que senti alguma coisa por alguém. E se calhar até seria bom conseguir voltar a sentir alguma coisa. Ou não.
ADENDA: A insónia atacou forte e feio, o dia de amanhã anuncia-se complicado. Mas há coisas que apaziguam e consolam, coisas que não têm preço. Poucos minutos depois de publicar esta entrada confusa, recebi um sms de uma amiga: « Posso ajudar em alguma coisa?»
Quem me dera que pudesse! E que difícil é explicar que não sou eu quem tem problemas, que são os problemas alheios que vêm assombrar-me.
Mas também não é isso, quando se é amigo os problemas passam a ser também nossos, nunca são alheios. E estou metida numa camisa de onze varas.
Toto Cutugno - Da Poco Tempo Che
«Da troppo tempo che
non nasce più un fiore
nel giardino dellamore
Da troppo tempo che
non batte più un cuore
nella casa dellamore
da troppo tempo che
nei giorni sempre uguali
vivo, vivo io
e non mi basta più
la donna più speciale
se non lamo io.
Da poco tempo che riesco a far lamore
con la testa e con il cuore
da poco tempo che
con te dopo lamore
stiamo li per ore ed ore
da poco tempo che
noi stiamo bene insieme
come voglio io
e un emozione in più
un sentimento vero
e dentro di me
na na na na na
va, che grande tu
che donna tu
che bella tu
che amante tu
violenta tu
che dolce tu
ribelle tu fra le mie mani
io ti scherzo per strada
ti porto la spesa
ti bacio ti gioco
ti porgo una rosa
ti vedo in vetrina
vestita da sposa
che pazzo con te è un altra cosa
e con te e con te
e con te e con te.
Da poco tempo che sto veramente bene
senza angoscie e senza pene
da poco tempo che
io non ho più paura
il gelo e qui fra queste mura
da poco tempo che
noi stiamo bene insieme
come voglio io
un emozione in più
un sentimento vero
e dentro di me
na na na na na
va, che grande tu
che donna tu
che bella tu
che amante tu
violenta tu
che dolce tu
ribelle tu fra le mia mani
io ti scherzo per strada
ti porto la spesa
ti bacio ti gioco
ti porgo una rosa
ti vedo in vetrina
vestita da sposa
che pazzo con te è un altra cosa
va, amare sognare
parlare. giocare
tremare, piacere di fare lamore
e poi respirare
sentire il cuore
che vive, che scoppia damore.»
sábado, 6 de março de 2010
Old Souls - III
Nos dias bonitos, de manhã, a caminho do Colosso, gosto de ir a pé para o metro. Nos outros, os carregados de chuva como tem sido o caso há já nem sei quanto tempo, apanho um autocarro.
Foi assim que ontem (nem sou de me queixar do tempo, lição aprendida há muitos anos com o meu grande Mestre, Alberto Caeiro, mas já estou TÃO cansada de chuva, TÃO necessitada de sol!) entrei num autocarro. Havia um lugar livre e sentei-me. Na paragem seguinte entrou um senhor de idade. Levantei-me imediatamente e ofereci-lhe o lugar, como é óbvio. O senhor, pelo menos uns 80 anos muito compostos, recusou que se fartou. Eu, de iPod nos ouvidos, lá o convenci com um definitivo e sorridente «saio na próxima paragem». Percebi que ele continuava a falar, resignei-me a tirar o som ao iPod, já só apanhei um «mas se sai mesmo na próxima paragem, agradeço.» (deduzo que o que perdi passava por não querer aceitar o lugar de uma senhora). E continuou, graças a Deus já sentado, enquanto o autocarro dava solavancos e eu me equilibrava como podia: «Que lindo chapéu! É uma pena que as senhoras já não usem chapéu!»
Foi nesse momento que reparei melhor nele, no sobretudo cinzento de corte de alfaiate... e no chapéu cinzento de bom feltro, enfeitado por uma discreta pena cinza, a piscar o olho ao meu chapéu castanho de flamejante pena cor de fogo.
«Adoro chapéus — disse eu, como quem se desculpa —, o do senhor também é muito bonito.»
Sorrimos os dois, numa cumplicidade amiga. A seguir o autocarro deu aquela difícil curva de 90 graus a virar para o Jardim Zoológico, tentei equilibrar-me. Foi quando o vi tirar da algibeira um livro que reconheci imediatamente pela capa, que só vi de relance. Era a edição (muito manuseada) dos Livros RTP da minha infância de O Retrato de Dorian Gray, a que primeiro me deu a conhecer o soberbo romance do meu amado Oscar Wilde, lá pelos meus 14 anos.
Sorri para dentro. Éramos old souls um do outro, tive a certeza.
quarta-feira, 24 de dezembro de 2008
Wounds of love
O Veuve Clicquot (várias garrafas) está a gelar, o banquete de sushi e sashimi do Aya já está a postos, o bolo de chocolate de Campo de Ourique que se auto-intitula o melhor do mundo (a Mad garante que nos arranja ainda melhor, vai ter de cumprir — óvisteS?) idem.
Depois vos contarei como surgiu esta tradição, agora venho mesmo só desejar-vos um muito santo e feliz Natal. E deixar-vos a todos o meu presente: The Selfish Giant, o maravilhoso conto do meu amado Oscar Wilde. Nunca consigo ler o final sem chorar, tanto me comove. E não podia ser mais adequado para este dia. Wounds of love...
Informação adicional: Oscar Wilde, já nos últimos dias da doença, já naquela cama do hotel paupérrimo onde morreu quase como indigente (sic transit gloria mundi), converteu-se e abraçou a Santa Igreja Católica. Oscar Wilde tinha por S. Francisco de Assis o mesmo culto apaixonado que eu. Da primeira vez que li sobre isto, há muitos anos, tremi nos alicerces. Como se não chegassem os lilases... também S. Francisco? Old souls.
Podem ler o texto integral do conto de incrível beleza aqui. Ponho as palavras finais (as tais que não consigo ler sem chorar) depois do filme.
«Suddenly he rubbed his eyes in wonder, and looked and looked. It certainly was a marvellous sight. In the farthest corner of the garden was a tree quite covered with lovely white blossoms. Its branches were all golden, and silver fruit hung down from them, and underneath it stood the little boy he had loved.
Downstairs ran the Giant in great joy, and out into the garden. He hastened across the grass, and came near to the child. And when he came quite close his face grew red with anger, and he said, "Who hath dared to wound thee?" For on the palms of the child's hands were the prints of two nails, and the prints of two nails were on the little feet.
"Who hath dared to wound thee?" cried the Giant; "tell me, that I may take my big sword and slay him."
"Nay!" answered the child; "but these are the wounds of Love."
"Who art thou?" said the Giant, and a strange awe fell on him, and he knelt before the little child.
And the child smiled on the Giant, and said to him, "You let me play once in your garden, to-day you shall come with me to my garden, which is Paradise."
And when the children ran in that afternoon, they found the Giant lying dead under the tree, all covered with white blossoms.»domingo, 30 de novembro de 2008
Dois Gigantes

Havia já muitos anos que tinha prometido a mim mesma que estaria no Père-Lachaise no centenário da morte de Oscar Wilde, à hora exacta a que partiu deste mundo, já contei a história aqui. Sim, fui a Paris de propósito. Há doidos piores...
Volto a proclamar a minha gratidão eterna à Dr.ª Teresa Monteiro, a quem devo a qualidade do meu inglês e a minha desmedida paixão por Oscar Wilde e por Teatro. Nem sabia ela no que se metia ao pôr-me a ler The Importance of Being Earnest, de Oscar Wilde, e Look Back in Anger, de John Osborne, tinha eu 16 anos. A culpa é sua, querida Dr.ª Teresa! Esta semana vou mandar-lhe um retrato que eu e o Vítor tirámos em Londres há dias. Tenho a certeza de que vai lembrar-se imediatamente dele! — foi seu aluno no sexto ano.
O segundo Gigante que morreu nesta mesma data, trinta e cinco anos mais tarde, é Fernando Pessoa, que devo a outro grande Gigante, que tive a honra e o privilégio de ter como Professor: Vergílio Ferreira.
segunda-feira, 24 de dezembro de 2007
Presente de Natal da Gota de Ran Tan Plan para os seus amigos...
Não consigo lembrar-me de nada melhor para vos oferecer do que este maravilhoso filme, que vi lá pelos meus 14 anos no célebre programa de Vasco Granja. Nunca o esqueci, e bastante o procurei durante muito tempo. Encontrei-o no Youtube há meses e reservei-o para uma data especial. A data chegou. O Príncipe Feliz, o mais belo de todos os contos de Oscar Wilde, avassaladora paixão minha que vem da adolescência, como poderão ler aqui, narrado pela voz magnífica de Christopher Plummer.
Um muito feliz Natal para todos, todos todos! Ficam em boa companhia.
Parte I:Um muito feliz Natal para todos, todos todos! Ficam em boa companhia.
Parte II:
Parte III:
segunda-feira, 16 de outubro de 2006
Happy Birthday, Mr Wilde!
«You came to me to learn the pleasure of life and the pleasure of art. Perhaps I am chosen to teach you something much more wonderful – the meaning of sorrow and its beauty.»
in De Profundis
in De Profundis
Mais uma vez, devo esta paixão a uma professora. A de inglês do 7.º ano. Uma senhora pouco simpática mas verdadeiramente competente. Chamava-se Teresa, já não me lembro do apelido. Um dia levou para a aula umas folhas fotocopiadas com um excerto de uma peça de teatro. Vibrei com o texto, absoluta e delirantemente absurdo — era aquele extraordinário interrogatório de Lady Bracknell a Ernest (John) Worthing para investigar se ele seria um partido aceitável. No fim da aula ela, de livro na mão, anunciou que tinha ali a peça completa. Alguém quereria levar para ler? Contrariando todos os meus princípios — podia cheirar àquilo que tanto detestávamos e a que chamávamos «manteiga», levantei a mão. E levei o livro para casa. Era The Importance of Being Earnest, apenas a peça mais brilhante de Oscar Wilde. Devorei-a inteira nessa mesma noite. E ele continua a ser um dos nomes mais fulgurantes nos meus amores literários.
Aquela aula foi o motor de arranque para um amor imorredoiro. Conheço tudo quanto ele escreveu, li incontáveis biografias, tenho até livros relacionados com ele que são preciosidades de coleccionador. O presente de Natal que o Victor me deu em 2000 foi uma enorme extravaganza: conseguiu até desencantar-me algures nos Estados Unidos, em segunda mão, evidentemente, a autobiografia — recheada de mentiras — de Lord Alfred Douglas (Bosie), o causador da grande tragédia. Eu tinha-a procurado em vão durante anos, soube por um alfarrabista de Londres que tinha esgotado nos anos 50 e não mais fora editada. O que não me surpreende. Nem quero imaginar quanto terá aquele livro custado, e não só em dinheiro, a pesquisa deve ter-lhe levado meses. Aquele e outros, que o rapaz presenteou-me com coisas notáveis. É assim a amizade.
Por volta dos 20 anos já sabia tanto sobre Oscar Wilde e sobre a sua ascensão e queda que fiz a mim mesma a solene promessa de estar em Paris no dia 30 de Novembro de 2000, centenário da sua morte, no Père Lachaise e pôr-lhe flores no túmulo. Lilases, se possível, porque eram as flores preferidas dele, como já eram as minhas. Impossível encontrar lilases em Paris em Novembro, mesmo nas melhores floristas. Mas estive lá. Levei-lhe três lírios brancos (ele também adorava lírios). E estava no cemitério à hora exacta da morte sua morte: 13h50. Tenho um retrato, pedi a um japonês que estava ali pelos mesmos motivos que me fotografasse. E só não fiquei no hotel onde ele morreu porque estava em obras, tremendo azar. Mesmo assim ainda fui lá beber uma flûte de champanhe com o meu amigo Artur, à glória eterna deste imortal. O bar e algumas salas mantinham-se abertos. «It's me or the wallpaper, one of us has to go», terá sido uma das suas últimas frases, já agonizante. E até sobre a sua extrema miséria conseguiu ironizar. «I'm dying beyond my means.»
Curiosa coincidência, também Fernando Pessoa — outra paixão minha — morreu a 30 de Novembro, só que em 1935. E George Harrison, dos meus idolatrados Beatles. O mesmo dia, que estranho, não é? O nosso Eça morreu em Paris como Oscar Wilde, e no mesmo ano. Só que a 16 de Agosto. Às vezes ponho-me a fantasiar que estas duas grandes figuras das letras podem ter-se cruzado num boulevard qualquer, quem sabe terão estado sentados no mesmo café. Tenho a certeza de que Eça, com o seu amor pela literatura inglesa, conhecia a obra de Wilde, ele era uma celebridade — para não mencionar o facto de ter sido réu numa cause célèbre. Obrigada, Dr.ª Teresa, nesta data em que aproveito para lhe prestar também homenagem, por ter feito entrar na minha vida esta grande paixão. E ainda uma outra: o Teatro.
No terceiro período do 7.º ano, a Dr.ª Teresa atribuiu a cada aluno da turma um livro para ler, livro esse que posteriormente deveria ser apresentado numa aula. Aquela senhora era demoníaca, palavra! Ou tinha uma intuição qualquer a meu respeito. Lembro-me dos livros que destinou às pessoas que me eram mais chegadas. Ao Duarte, Pygmalion, de Bernard Shaw. À Clara calhou The Heart of the Matter, de Greene, ao Manuel Animal Farm, de Orwell. Eu fui brindada com uma coisa obscura chamada Look Back in Anger, John Osborne. Lembro-me de ter ido com o Duarte à Buchholz comprar os livrinhos. O meu custou 42$50, ainda tem o preço marcado a lápis. Não dá para acreditar, pois não? Hoje em dia um café ao balcão de um sítio reles custa pelo menos o dobro!
Foi assim que eu fui apresentada à geração dos Angry Young Men, pela mão da peça que mudou o rumo do teatro inglês. Fiquei doida com ela... e a minha apresentação foi um sucesso. A partir daí comecei a ler mais e mais teatro, descobri grandes autores, peças extraordinárias. Mas Look Back in Anger terá sempre um cantinho muito especial em mim. Foi o primeiro amor, o forerunner (mais um). Infelizmente nunca o apanhei em cena. Mas ainda não perdi a esperança.
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