Os discos da minha vida #3: Gord's Gold
«A vida inteira depende de dois ou três sins e de dois ou três nãos ditos antes dos vinte anos.»
Não consigo lembrar-me de quem é esta citação que em mim calou fundo. É de um autor francês, encontrei-a há muito, muito tempo num livro de Berthe Bernage (e já estou a ver a Ana a sorrir...) e nunca a esqueci, possivelmente por se me aplicar tão bem. O meu palpite iria para Abel Bonnard, mas não passa disso: um palpite.
Dois discos houve que tiveram um papel determinante na minha vida. Este é um deles. O outro aqui virá parar a seu tempo.
Conheci este Gord's Gold em 1979, graças a uma prima do Vítor, um pouco mais velha do que nós, que vivia nos Estados Unidos e lho trouxe de presente numa breve visita, sabedora de que ele era um completo taradinho por música. Claro que o passo seguinte foi a partilha, e lembro muitas tardes passadas no quarto dele a descobrir a maravilha que este disco (duplo) é. Ainda é no formato de vinil que a minha cabeça o ouve, e sei que o lado A do primeiro disco era (e continua a ser, passados mais de trinta anos, critério mais do que seguro para avaliar a qualidade) para se ouvir inteiro, corrido, sem levantar a agulha. Sim, agulha, eu ainda sou desse tempo.
É um disco mágico. Gordon Lightfoot, o meu trovador canadiano - não consigo chamar trovador ao meu irmão Leonard Cohen, também canadiano... como canadianos são vários outros muito importantes na minha vida -, traça imagens lindas, fala-me de paisagens muito amadas em imaginação que este ano poderei ver e sentir como ele e como um outro, John Denver, as cantaram: os lagos, as montanhas, aquela imensa Natureza a perder de vista.
Viria a comprar o disco (e outras preciosidades) em Genève, lá por 1985. Em Portugal nunca apareceu. Quando surgiu o formato CD, e muito antes da Internet, eu passava as tardes de sábado na Discoteca Roma, dividida entre o piso térreo e a cave (onde estavam a música clássica e a Ópera), a consultar os catálogos. E encomendava, e encomendava... Eram meses de espera. Quatro ou cinco vezes por mês, ao entrar em casa, tinha o gravador de chamadas a piscar com uma mensagem que me iluminava. Numa tarde cinzenta de Fevereiro de 1992 a mensagem dizia «Fala da Discoteca Roma, chegou o seu Gord's Gold.»
Tenho plena noção de que vos falo de um nome desconhecido, ou quase (talvez conheçam Sundown). Acontece que é um disco IN-DIS-PEN-SÁ-VEL. A minha paixão por ele inteiro nunca arrefeceu, em todos estes anos. Mas foi uma música, uma só, a responsável mais directa (co-responsável, a meias com Hasten Down the Wind, de Linda Ronstadt) pela decisão mais errada de toda a minha vida. Assim sensíveis e permeáveis somos... quando temos menos de vinte anos. A música é esta. If You Could Read My Mind.
If you could read my mind, love
What a tale my thoughts could tell
Just like an old time movie
'bout a ghost from a wishin' well
In a castle dark or a fortress strong
With chains upon my feet
You know that ghost is me
And I will never be set free
As long as I'm a ghost you can't see
If I could read your mind, love
What a tale your thoughts could tell
Just like a paperback novel
The kind that drugstores sell
When you reach the part where the heartaches come
The hero would be me
But heroes often fail
And you won't read that book again
Because the ending's just too hard to take
I'd walk away like a movie star
Who gets burned in a three way script
Enter number two
A movie queen to play the scene
Of bringing all the good things out in me
But for now love, let's be real
I never thought I could act this way
And I've got to say that I just don't get it
I don't know where we went wrong
But the feelin's gone
And I just can't get it back
If you could read my mind love
What a tale my thoughts could tell
Just like an old time movie
bout a ghost from a wishin' well
In a castle dark or a fortress strong
With chains upon my feet
But stories always end
And if you read between the lines
You'll know that I'm just tryin' to understand
The feelings that you lack
I never thought I could feel this way
And I've got to say that I just don't get it
I dont know where we went wrong
But the feelin's gone
And I just can't get it back
Ei minha linda e exausta amiga... Que grata surpresa e recordação! Pois saiba que também este disco em vinil me foi trazido dos Estados Unidos por um então namorado da minha irmã do meio, e depois creio ter saído sim no Brasil, mas com capa diferente. Lembro-me muito bem dessa música (que não era A minha favorita) mas curiosa que sou fiquei a imaginar que grande erro ela lhe suscitou. Adorei tua visita (apesar de ter certeza de que já sabes) porque adoro-te sempre aqui, lá, e nestes outros sítios amigos pra onde me carregas com tuas palavras. Descansa, Teresa... Que o sono te renove e te inspire, mais e mais.
ResponderEliminarUma boa recordação, ou nostalgia, não?
ResponderEliminarA Ana está a sorrir, sim, mas de puro gozo beatífico por causa desta música... tens que deixar-me gravar isto!!
ResponderEliminarbeijinhos
Que engraçado!
ResponderEliminarO meu post de ontem fazia referência a esta citação que perdoa-me, não é bem assim: não é antes dos 20 anos.É na altura certa, e quem escreveu isto foi Victor Hugo.
Beijinhos e bom domingo
E antes dos 20anos teremos maturidade para tal?
ResponderEliminarBeijinhos e bom domingo
É sempre bom ler-te...
ResponderEliminarBoa semana.
Gostei da citação! :)
ResponderEliminarboa semana :)
ResponderEliminarbjinhos