Post galinhola
Há muito tempo que não compro roupa. Em boa verdade nem sequer preciso de mais, tenho roupa que chegue para muitas combinações, coisas com dez, vinte e até trinta anos continuam a servir-me e fazem um vistão quando as repesco, são as vantagens de comprar pouco e de tentar comprar com qualidade. Mas não resisti a este vestido, que apanhei em saldos e a preço muito convidativo. Adoro vestidos, e achei este um amor, não resisti. Até porque acho que vai ficar-me melhor do que ao manequim, já que tenho cintura mais estreita. Até porque tem, coisa cada vez mais difícil de encontrar, um comprimento decente para uma senhora com a minha provecta idade. É que, minhas boas amigas, por melhor e mais tonificado que seja o corpo, vamos chamar os bois pelos nomes: saias curtas NÃO. Tal como, tirando raras excepções, acho que o cabelo comprido é coisa para se ter até, digamos, uns 35 anos. Tenho a felicidade de ter um óptimo cabelo, tirando o último ano, em que andou muito enfraquecido por causa da quimioterapia (apercebi-me disso no Inverno, quando os chapéus, que adoro, passaram a descer-me abaixo das sobrancelhas, e tive mesmo de pôr dois de lado), mas parece ressurgir agora com grande vigor. E ainda sem tintas, minhas queridas, o que é quase um fenómeno. Faço 53 anos daqui a dois dias e continuo a aguentar-me sem pintar o cabelo, Deus Nosso Senhor seja louvado. Seja como for, acharia disparatado usá-lo abaixo dos ombros.
Simultaneamente, ao comprar este vestido (e tenho de enviar mensagem à Lanidor, sugerindo que passem a ter mais dados sobre cada peça, principalmente a composição do tecido, que eu tenho a pancada dos materiais puros, algodão, linho, lã), fui atacada por um sentimento de culpa: o dinheiro despendido pagar-me-ia mais duas Flautas Mágicas — sim, continuo a coleccioná-las, A Flauta Mágica é para mim igual a alegria fresca como um riacho de montanha, e felicidade absoluta.
Sei que há pelo menos uma pessoa que vai perceber inteiramente o que direi a seguir: o meu agora muito diminuído orçamento permite-me muito poucas excentricidades. As que me vou concedendo são sempre no campo da música, mas isto não é de agora. Sei que o Pitx perceberá que, quando olho para os meus discos, tão ordenadinhos por ordem alfabética e suspiro de felicidade, sei que muitos deles representaram renúncias. Aquela ópera fez-me renunciar, sem hesitação possível, a uma saia da Globe, a uma camisa, um casaco ou umas calças da Marias, a um fato de banho da Loja das Meias. E sei que fiz sempre a escolha certa, porque roupa é só roupa. Pode deixar de nos servir, pode apodrecer no armário sem que a voltemos a usar, já a música, ah, a música! A música é o amparo mais seguro em momentos duros. Não estou a enfeitar, garanto. Nem sei bem o que teria sido de mim em três internamentos no IPO se não fosse a música.
Vou tentar outra vez,recebi mensagem de não ter sido enviado.
ResponderEliminarE dele,é o que tenho,este,em edição baratinha.
Um dia feliz.
Saúde.
http://www.youtube.com/watch?v=n-kG7Pr6F14
José,
ResponderEliminarUm outro assunto: gostaria de saber como estão as coisas a correr-lhe, como está o seu ânimo, e isso não é assunto para caixas de comentários. gotaderantanplan@gmail.com.
Dê-me notícias, por favor.
Um beijinho.
SAÚDE!
...então, após dois dias de espera:
ResponderEliminar- Parabéns Teresa !!!
Muitos Momentos de Felicidade.
Acho uma peça linda e com uma cor cheia de vida. Amei!
ResponderEliminarMuitos parabéns, que seja feliz e tenha saúde.
ResponderEliminarEste ano dei alguns vestidos porque não me permito usar grandes decotes e vestuário sem mangas, é que estou à beira dos 49 anos, quanto ao cabelo, também concordo consigo e tenho-o sempre curto.
Um abraço
A Lanidor tem coisas maravilhosas e que bom reler o blogue da Teresa.
ResponderEliminarEu sei que Vivaldi,desde que Stravinsky lhe decretou a irrelevância,serve apenas para ser deitado(tocado) aos cães.E tal sentença já a vi por cá alargada a Handel e,a medo,aos Concertos Brandeburgueses de um tal Bach.Pois eu não deixo de ouvir os "três da vida airada".Fez muito bem e o próprio Bach se inspirou em Vivaldi.
ResponderEliminarSaúde.
Obrigada a todos. Pelos votos de parabéns, por continuarem a vir aqui, por tudo.
ResponderEliminarJosé,
E nós ralados, não é verdade? Adoro Vivaldi, adoro Handel, adoro os barrocos. De Bach nem é preciso falar. Quanto aos Concertos de Brandenburgo, ainda ontem ouvi o n.º 5, que me apareceu no iPod.
Os vestidos são a peça que mais compro, apesar de também eu ter um guarda roupa bastante completo. E idade e figura à parte, também me tenho manifestado contra o exagero de vestidos acima do joelho, que deviam ser a excepção e não a regra nas colecções. Alguma vez é correcto ir trabalhar de saia curta? Para não falar que o comprimento midi é muito mais democrático para a maior parte das silhuetas. Dificilmente desfavorece alguém. Quanto ao poliéster, é uma praga para quem tem, como eu, a paixão dos materiais de qualidade. Já em relação ao cabelo, acho que depende. Quando passar os 35, não me imagino de cabelo pelos ombros e conheço mulheres mais velhas que o usam comprido, sem exageros e com imenso bom ar.
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