terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Pausa para uma gargalhada

Esta manhã, ao ler uma notícia sobre tratamento de águas residuais, lembrei-me de repente de uma história muito antiga. E comecei logo a rir.

Há uns largos anos fui secretária do presidente de uma holding de engenharia do ambiente. No prédio funcionavam diversas empresas do grupo, cada uma do seu ramo específico. A administração e mais duas dessas empresas, uma delas a que recebia amostras das ETAR (estações de tratamento de águas residuais, leia-se esgotos) para análise, funcionavam no primeiro andar. Tínhamos também uma copa toda jeitosa e muito bem equipada. Café expresso e de saco, frigorífico, microondas, loiça Vista Alegre, águas, sumos, bolachas e outros mimos à discrição.

Numa bela manhã, entra-me a correr pelo gabinete com ar desvairado a directora de Marketing, garrafa de litro e meio de água do Luso na mão. «Teresa! Bebi daqui!! E agora?!» Olhei para o rótulo manuscrito colado por cima do da garrafa, onde se lia em letras gigantescas «ETAR DE FRIELAS». Confesso que também entrei em pânico.

Apontei-lhe a nossa casa de banho e comandei: «Vá JÁ tentar vomitar! Eu vou chamar o Dr...» Já não me lembro do apelido, sei que era Luís e era director da empresa que tratava da saúde dos edifícios. Sempre era médico, numa emergência servia.

Só mais de uma hora depois, a Vera de perfeita saúde e sem lhe ter acontecido nada, conseguimos apurar a verdade dos factos. E foi uma sessão de gargalhadas. O director da tal empresa de análise de águas era esquisitíssimo com a que bebia, só gostava dela muito fresca. Como tal, nunca se esquecia de pôr uma garrafa de litro e meio no frigorífico. O pior era que mais gente, que também gostava de água fresca, não tinha o mesmo cuidado e acabava por servir-se sem cerimónias da dele, sem reabastecer. E não foram poucas as vezes que ele rosnou de raiva ao ver-se sem a sua água fresca, porque alguém já a tinha bebido. E foi aí que concebeu aquela engenhosa e maquiavélica solução do rótulo falso, que trocava as voltas aos abusadores e os dissuadia de atrevimentos. Qualquer pessoa, ao ver escrito ETAR DE FRIELAS numa garrafa, pensaria que se tratava de uma amostra para análise e não lhe tocaria. Qualquer pessoa que não a distraidíssima Vera, que, de garrafa na mão, já tinha emborcado o equivalente a um bom copázio quando reparou no rótulo.

Chorei a rir agarrada a ela. Não conseguia parar. Ela, passada a indignação inicial, acabou por fazer coro comigo e com todos. É que foi o prédio inteiro a rir.

3 comentários:

  1. Ehehe.
    Já agora a ETAR de Frielas ainda existe? Acho que na ribeira de Odivelas já nao corre gota...

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  2. Muito bom, será que também funciona com iogurtes? (snif)

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  3. Jibóia, confesso que não faço ideia se existe ou não. Na altura existia e foi o nome dela que o tipo usou no rótulo falso. :)

    Rita, podes sempre tentar. Põe-lhes umas etiquetas "paea análise da DECO", por exemplo. ;)

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