segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Não

A verdade é que tenho demasiado lixo no Google Reader, mesmo depois de sucessivas limpezas. Sendo guilty pleasures, acabam por redundar mesmo em sentimentos de culpa.

Cada vez me é mais difícil tolerar os delírios parvos de quem sonha com estes sapatos, aquela carteira ou mostra os últimos produtos de maquilhagem que comprou, quando na bicha da caixa do supermercado reparo nas compras das pessoas à minha frente. O supermercado a que vou quase sempre, por ser o mais próximo de casa, é o Mini Preço, perfeitamente satisfatório para coisas básicas, mas bastante pobrezinho. A maior parte dos clientes é idosa, tem cartão e usa uns talões de desconto que nunca percebi bem e demoram uma eternidade a processar. Respiro fundo e armo-me de paciência, mais ainda quando vejo as coisas que levam. Leite, massa, atum, pão. E como contam nervosamente as moedas, cêntimo a cêntimo, na altura de pagar. Levam uma eternidade, e sinto que esse tempo lhes deve ser muito mais pesado do que a mim, que estou apenas à espera da minha vez. Empobrecida como toda a gente, mas ainda sem ter de contar tostões. Mas isto dói-me. A velhice devia ser um tempo ameno e sem angústias, muito menos privações.

Estou sem paciência para futilidades, pronto. Estou capaz de deixar um comentário agreste à próxima imbecil que vier mostrar os próximos sapatos (ou calças, ou vestido, ou carteira, ou whatever) dos seus sonhos. Wake up and smell the coffee stronger!

13 comentários:

  1. Sabes que raramente comento. Mas este post está demasiado bom para passar em branco. Não pela referência às infelizes dos sapatos e dos "outfits", couldn't care less. Mas tudo o resto. Só não é "mais bom" por ser demasiado real.

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  2. Demasiado real mesmo, minha querida. A cada dia que passa vejo mais coisas que me angustiam. E estou com medo. Por mim, claro. Mas mais ainda por quem é mais vulnerável.
    Beijo grande.

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  3. Os talões do Mini-Preço são espetaculares! Volta e meia dá para abastecer de básicos por um preço bem apetecível. Aqui é igual...o Mini-Preço é mesmo um supermercado de proximidade...

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  4. Teresa eu compreendo o que diz e custa-me ler coisas assim como me custa ver os velhinhos no mini preço. Eu vou ao mini preço e uso os talões de desconto que guardo aos montes no porta moedas. Acredite que valem a pena ;)

    Eu acho que há niveis de futilidade. Não só para quem a proclama mas para quem a tolera. Eu não tenho problemas em assumir-me futil, com o meu gosto por trapos e sonhos de consumo. Não ponho no entanto por nada, os trapos à frente de o que quer que seja. E tenho noção que tenho muita sorte e que se calhar não poderei sempre ter o estilo de vida que faço hoje. Mas para tudo tem de haver um equilibrio.

    Um blog com o tema "moda" passa por muitas ilusões, suspiros, vaidades e ego boosters: guilty in charge.

    Se esses blogues a chateiam tire-os do Reader. Mas a realidade essa não podemos apagar simplesmente.

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  5. Sãozinha,
    Um dia destes ainda adiro ao cartão Mini Preço e beneficio dos talões de desconto, Provavelmente estou a ser parva.

    Raquel,
    Nada disto tem NADA que ver consigo. É o seu trabalho, é a sua profissão. É uma máquina que tem de continuar a ser oleada. E também sei que tem outras preocupações. Love you.

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  6. Este é um daqueles post que nos deixa a pensar! E é bem verdade que muitos dos nossos idosos vivem uma vida "miserável", sem o mínimo conforto e, quando digo conforto, refiro-me a todos os aspectos da vida...

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  7. Eu sei que não tem. A mim também me chateavam certos disparates, os tais guilty pleasures. Há muito disparate por aí, muita gente sem noção da realidade. Nem todas podem ser Chiaras Ferragnis, aliás duvido que alguma consiga, mas perseguem esse sonho como quem corre pela vida no entanto esperando que as coisas caiam do céu, sem estudos, sem estágios, sem real jobs in the ral life. Deixei de dar para esse peditório porque fico exactamente com a mesma vontade de deixar um comentário menos simpático. E por isso não leio.

    Um beijinho grande.

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  8. Tenho sentido a mesma coisa recentemente. Racionalmente, penso mesmo que é importante que continuem a consumir e a ser fúteis para tentar evitar a recessão tootal, mas olho para aquelas conversas e não consigo evitar achá-las obscenas.

    (como a pobreza na terceira idade. Se como sociedade nem cconseguimos evitar a pobreza de quem já nos deu uma vida inteira, estamos a fazer alguma coisa de muito errado)

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  9. Sou esporadicamente cliente do minipreço (tenho dois perto) e também digo que os talões valem a pena, principalmente se se lá vai com regularidade. Há pessoas que deviam ser enfiadas à força no minipreço. Não são só os velhinhos a escolher criteriosamente o que levam, tudo à unidade, poucochinho de cada vez; é cada vez mais lá vermos classe média também com as mesmas preocupações.
    Acho que a poupança é uma virtude, sempre achei. É verdade que temos de continuar a consumir para manter isto a funcionar. Mas não entendo quem ainda continue a sonhar com louboutins e louis vuitton no actual panorama. Ultrapassa a questão do sonho (que é legítimo, sonhar!), mostra como se sonha com o desnecessário quando há quem sonhe com uma refeição de carne para os filhos. É obsceno para quem lê, e não revela nada de bom sobre quem escreve. Até parece que não repararam na última factura da EDP e na bonita parcela do IVA relativo a Outubro (ainda não ultrapassei, confesso), entre outras coisas.
    Estou muito raladinha, cada dia há mais sinais do que aí vem. Pior cego é o que não quer ver.

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  10. Nessas coisas tens bom remedio. Nao vas ler, que assim nao te enervas. Mas o que falaste da velhice e' algo que me entristece profundamente e que noto cada vez mais em Portugal. Doi-me o coracao. Velho em Portugal e' pobre. Depois de terem trabalhado uma vida inteira nos campos para nos sustentar, construiram os caminhos de ferro, as estradas, as redes electricas e hidricas e ainda trabalharam nas minas e nas fabricas que susteram este pais na segunda guerra, na ditadura, na revolucao (e no pos), muitos deles analfabetos mas que puseram os filhos a estudar para que os netos tenham cursos e nao lhes falte nada, sao abandonados, pelo regime que eles ajudaram a colocar no governo e muitas vezes ate pelos filhos (tb ja apertados) por quem tudo sacrificaram.

    Doi-me a alma.

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  11. First of all don´t read it.

    Quanto ao resto, nem eu, fútil consumidora assumida, tenho pachorra ou estômago para blogs que se dedicam exclusivamente a esse tipo de devaneios... Sobretudo quando vêm de miúdas que ainda vivem com os papás e não têm qualquer noção do que é ter um ordenado e despesas para gerir. É verdade que sonhar e ver imagens interessantes não faz mal nenhum, pelo contrário, alegra a vista, mas há pessoal que vive alheado de tudo.

    Quanto ao verdadeiro cerne deste post, só posso dizer-te que a realidade dos nossos velhinhos é coisa para me deixar profundamente triste... além de me sentir totalmente impotente deixa-me revoltada saber que numa idade em que já há tantas dificuldades, ainda tenham de suportar mais essa e, na maioria dos casos, sem qualquer apoio familiar.

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  12. Excelente post, parabéns. Parabéns pelo blogue , também

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  13. Excelente post.
    Obrigada Teresa. Um grande beijinho para si.

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