Agatha dearest
«One knows that an author has been well loved if, when he or she dies, fans wish there was one more book left for them to read; no one is more deserving of such an accolade than Agatha Christie.»
Estas são as linhas finais de um livro que li há pouco tempo, graças à I., já que lhe desconhecia a existência, e que me apaixonou: Agatha Christie and the Eleven Missing Days, de Jared Cade.
Tanto a I. como eu achámos o livro apaixonante e (palavras dela em privado, com as quais concordo integralmente), escrito com muito carinho e humanidade. Eu vou um bocadinho mais longe: acho que o livro é uma soberba biografia. Para devotas da obra de Agatha Christie como nós, juntou muitas pontas soltas, pontas muito dolorosas para a escritora, coisas que nem sequer remotamente aflorou na sua autobiografia (cuja leitura, ainda assim, recomendo).
Muitas vezes, ao reler Agatha Christie (sim, eu releio-lhe os livros), tropecei na sua imensa compaixão por amores desesperados, nas descrições que intuí serem quase pessoais. À cabeça ponho a Elinor de Sad Cypress (em português Poirot Salva o Criminoso), senti que havia ali muito do seu imenso amor pelo primeiro marido, Archie; ponho também a Elsa de Five Little Pigs (Poirot Desvenda o Passado), que me parece um exercício quase catártico. Outras personagens há. Até no ciúme feroz e orgulhoso de Mary Cavendish, no seu primeiro livro, poderíamos já encontrar pistas para o seu trágico primeiro casamento.
À medida que vou envelhecendo, os livros de Agatha Christie vão-me sendo ainda mais queridos. Comecei a lê-la aos 16 anos, incitada pelo D., o meu namorado. A Colecção Vampiro Gigante, que ia publicar a sua obra integral por ordem cronológica, tinha acabado de ser lançada. Um livro novo de três em três meses, dei comigo a desejar que aquilo se prolongasse muito mais, não queria o dia em que já não houvesse um livro novo para ler.
Outras palavras de Jared Cade que me tocaram muito, por perceber muito bem aquilo de que ele fala, aquela nostalgia de um tempo perdido:
«Agatha was destined to be known as the disappearing novelist in more ways than one; much of the world she knew and wrote about has almost completely vanished: a world of chauffeured Daimlers and Bentleys, solvent aristocracy and stately homes.» — a isto voltarei amanhã, a propósito de Miss Marple.
Não foi fácil encontrar um retrato de Agatha Christie para pôr aqui, um retrato que lhe fizesse justiça, o mais provável é que fosse apenas pouco fotogénica. Jared Cade é peremptório, era uma mulher muito atraente e com grande encanto, foi-o até depois dos 40 anos, quase até aos 50, repete-o várias vezes ao longo do livro.
E agora temos um novo destino de sonho, a I. e eu: Greenway.
Mais, muito mais haveria a dizer sobre Agatha Christie. Acho que fica para outro dia, tão cansada me sinto.
Recado para a Charlotte: corre a comprar o livro. É uma autêntica biografia. E das melhores.
Apontamento à margem: este retrato de Agatha Christie é de 1926, o ano da grande tempestade, que só detonou em grande em Dezembro. Aposto que o casaco de malha que Agatha veste era de Archie: abotoa ao contrário, à homem.
Apontamento à margem: este retrato de Agatha Christie é de 1926, o ano da grande tempestade, que só detonou em grande em Dezembro. Aposto que o casaco de malha que Agatha veste era de Archie: abotoa ao contrário, à homem.
Pronto, e eu sou bem mandada :) lá terei de espreitar a amazon e o bookdepository
ResponderEliminarObrigada pela dica, podem vir mais * (ainda por cima a tipa é exigente, hem?)
E' um grande amor meu tb... que muito influenciou a minha familia. O nome da minha irma e' prova. Vi o documentario da BBC dos 11 dias desaparecidos dela, baseado no livro do Cade e amei amei. Sem duvida feito com muito amor e carinho por um grande admirador. Sabes que eu aqui vivo em Clifton, a menos 5 minutos a pe da igreja em que ela casou com o Archie? Com os anos descubro cada vez mais coincidencias do destino destas.
ResponderEliminarO five little pigs e' dos meus favoritos e a Elsa passa-me pela mente quando perco ao amor. Ainda estou a fazer a coleccao toda. Ja tenho perto de 70 dos seus 76. A cada que termino nao deixo de ficar um pouco triste por estar mais perto do fim.
Faz-lhe justiça, sim senhora. A foto e o teu post.;)
ResponderEliminarTeresa, junte-me ao clube, embora praticamente só me renda a Miss Marple e Hercule Poirot e já me tenha esquecido da grande maioria das histórias, que no entanto ali continuam na estante prontas para as releituras.
ResponderEliminarUma ida verde a Greenway parece um excelente objectivo para uma próxima visita ao Reino Unido.
Charlotte,
ResponderEliminarVais ver que não te arrependes.
Acabo de espreitar as críticas ao livro na Amazon, que aquando da compra nem sequer li, até porque comprei outra edição, a encadernada:
http://www.amazon.com/Agatha-Christie-Eleven-Missing-Days/dp/0720611121
AEnima,
ResponderEliminarEu sei, há muito que sabemos ter esta paixão em comum, e bem sei que o nome da tua irmã é eloquente.
Agora ando aqui a pesquisar feita doida, à procura desse documentário da BBC. O primeiro resultado nas buscas está justamente nas críticas ao livro na Amazon. Eu tenho de deitar as unhas a esse documentário, vê lá se consegues ajudar-me (logo eu, a taradinha dos documentários)!
A coincidência de estares tão perto da igreja em que ela casou é perturbadora, sim.
E sabes uma coisa que te invejo (e aposto que a I. e a Gi também) e da qual não estás a tirar partido? À semelhança do que a Luna sabiamente fez, quando estava a viver em San Francisco, e aproveitou para viajar para todo o lado no país ao fim-de-semana, tu podes enfiar-te num carro e ir explorar essa maravilhosa Inglaterra rural da qual só conheci uma parcela ínfima no Yorkshire, e que continua a ser uma das mais memoráveis viagens da minha vida.
LM,
ResponderEliminarAinda bem, fico contente, obrigada.
Fui espreitar o teu blogue (que vai para o GR) e chorei a rir com o nome. Claro que identifiquei logo a origem. :)))
Gi,
ResponderEliminarBem-vinda ao clube, não somos exclusivistas nem ciumentas, é um prazer saber que mais gente partilha este nosso culto por Dame Agatha.
Mas não esqueça Tommy e Tuppence (poucos livros, bem sei, apenas quatro romances e um livro de contos). Mas nunca esquecerei a excitação da minha primeira leitura de O Adversário Secreto.
Quanto a Greenway, veja a minha resposta à AEnima.
E há grandes livros soltos pelo meio.
A ver se hoje escrevo sobre Miss Marple.
Ai o Tommy e a Tuppence...Perguntem a Evans (não estou a confundir, pois não? Acho que não, que tenho (vaga) memória de ver uma série e de um fraquinho pelo Tommy)
ResponderEliminarTambém sou (melhor, fui, que não tenho alimentado a chama)fã da Agatha, mas ia buscar os livros à biblioteca. Três de cada vez, daqueles de capa mole que tinham dois títulos. Devorava-os. O meu espólio Christiniano é pouco menos que miserável, com grande pena minha. Sei que vou sempre a tempo, mas ainda não me dediquei à enorme empreitada.
PS: Não sei se o casaco seria do Archie, mas espero que sim que só um grande amor justificaria o uso de semelhante peça. Feiote, não?
Teresa, estava precisamente a pensar no Tommy e na Tuppence, que na minha humilde opinião não tinham tanta graça.
ResponderEliminarQuanto à AEnima, concordo consigo. Aproveite a estadia, AEnima!
Não sei se já conhecem este site que descobri há bocadinho: All about Agatha Christie e parece interessante.
Já me esquecia: já mandei vir o livro.
ResponderEliminarE a Cleópatra de Stacy Schiff, comprada outro dia, já lhe pegou? Traz alguma coisa de novo?
Teresa, é ums honra, e a casa é tua. ;)
ResponderEliminarCá está o link da explicação que tu, e poucos como tu, dispensam:
http://fuivereraoovario.blogspot.com/2010/06/o-nome-do-blog.html
Oh linda, mas quem te disse que nao estou a tirar partido???
ResponderEliminarJa passei varias ferias em romaria pela cornualha... terra a terra... agora um hotel aqui, uma praia ali, uma pecita no anfiteatro de porthcurno, um passeiozito por um moor da vida (dartmoor, bodmin)... Ando-me a apaixonar completamente pela cornualha e tenho a sorte de ter um gajo que partilha o amor. Tenho mais umas quantas agendadas, desta vez para outra zona!
Eu nao escrevo e' nada no blog sobre o que vou fazendo de interessante na vida :)
Ah... esse documentario passou varias vezes ha uns meses na BBC... ja nao sei em qual delas. Pelo que informaram, foi baseado nesse livro. E' possivel que nao esteja editado para distribuicao comercial ainda. Investiga!
ResponderEliminarTeresa,
ResponderEliminarTem certamente os romances da nossa amada Agatha sob o pseudónimo de Mary Westmacott!
Adoro!!!
Beijo
ei, eu adoro a Agatha Christie também. E leio e releio, desde os 14 ou 15 anos também. Já tinha vagamente ouvido dizer que ela despareceu subitamente sem deixar rasto, é verdade?
ResponderEliminarvou comprar esse livro de que tanto falam, a saber
Confirmo tudo, o livro é bem bom, uma biografia sem palha, bem estruturado, escrito com muito respeito e carinho. E tem uma cronologia da obra da Agatha! Que ainda me vai dar imenso jeito, pois já tenho 74 (contei há bocado ;P) e se a AEnima tem razão, faltam-me dois. E não faço ideia de quais.
ResponderEliminarJá agora, para a Safira, o Perguntem a Evans não é com o Tommy e a Tuppence, mas o casal protagonista dá ares, daí a confusão.
Safira,
ResponderEliminarComo a I. já esclareceu, Perguntem a Evans não é com Tommy e Tuppence. Eu gosto muito deles, e são livros escritos com um grande sentido de humor.
Já o casaco: pois eu gosto dele, e acho adequadíssimo para passeios a pé pelo campo inglês. :)))
Gi,
Vou agora espreitar o site, obrigada!
Quanto ao Cleópatra, ainda não lhe peguei, tenho estado a ler outras coisas. Depois conto
AEnima, tu não me fales na Cornualha que eu fico para aqui a salivar!!!
ResponderEliminarFoste a Tintagel? E a Penzance? (só à menção desta começo logo a cantarolar).
Quanto ao documentário, só encontrei este pequeno excerto, que julgo fazer parte dele, confirma, por favor:
http://www.youtube.com/watch?v=AOWNvpwUDog
Aparece o neto Mathew a falar (senhor cujo património vale 600 milhões de libras, coisa pouca, quando tinha nove anos a avó doou-lhe os direitos de autor de A Ratoeira, está tudo dito).
Conceição,
ResponderEliminarDe Mary Westmacott só li dois romances, já nem me lembro de quais, e ainda estão em casa da minha mãe.
O que é muito interessante neste livro é que o autor, que conhece a obra da nossa menina Agatha a fundo e lhe estudou a vida durante seis anos, sustenta muito plausivelmente que ela passou para vários romances de Mary Westmacott sentimentos muito pessoais seus. Durante muitos anos ninguém soube que ambas eram a mesma pessoa.
A.i.,
É inteiramente verdade, e assunto ao qual ela tentou fugir o resto da vida (nem o refere na autobiografia).
De tal maneira que quando, em 1978, já depois da sua morte, estava em produção um filme com Vanessa Redgrave e Dustin Hoffman sobre o desaparecimento, a família tentou impedir o lançamento.
Vi-o na altura, e ainda se arranja na Amazon, mas não está a um preço muito simpático.
LM,
ResponderEliminarClaro que percebi logo que a origem só podia ser essa, mas obrigada pelo link, foi um prazer rever aquela tonteira dos bons velhos tempos em que o Herman era genial.
Já falei dele aqui por duas vezes:
http://gotaderantanplan.blogspot.com/search/label/Herman%20Jos%C3%A9
I.,
Estamos de acordo, já se sabe.
E sim, o jeitão que aquela cronologia dá! :)))
Em Penzance acabamos por ficar um so dia em vez dos 3 inicialmente planeados devido a percalcos mirabolantes (mas stressantes) com hoteis 'a chegada. Os restantes foram passados inesperadamente em St. Ives, num hotel em cima da praia e sem marcacao previa numa noite especial em que todo o sudoeste estava superlotado... e que com uma sorte incrivel no meio de tanto azar conseguimos com vista directa para o mar! Vista maravilhosa. No regresso a casa fizemos a tal visita a Tintagel. Memoravel viagem essa.
ResponderEliminarÓ pra mim morta de inveja!!!
ResponderEliminarE diz-me uma coisa... em Penzance não terás encontrado muitas referências a piratas? (estou a rir para dentro).
O que eu adoro esta opereta!
http://www.youtube.com/watch?v=oRy_qhHcnTs
ahahah.... sim... tb estive o tempo todo com a opera na cabeca. A verdade e' que todo o sudoeste tem muitas referencias a piratas. Desde nome de ruas, historias que a populacao conta, reliquias nos portos e navios afundados para os mergulhadores (uma escola de mergulho em Plymouth faz o roteiro!). E' apaixonante! Mas quando me deixo levar muito faco o exercicio mental de repetir para mim mesma 20 vezes: "Eram os barcos portugueses que eles atacavam!" a ver se me passa um pouco a fantasia :)
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