domingo, 31 de julho de 2011

I ♥ Amazon


No Verão de 1984 encontrei na Livraria Férin um livro em francês que me deixou fascinada. Folheei-o por uma boa meia hora. Sustentava a teoria de que o Diário de Anne Frank não passava de uma fraude grosseira, uma fabricação posterior à guerra. Parecia profusamente documentado, com fotografias de caligrafias diferentes (mesmo muito diferentes) que surgem no manuscrito do diário. Infelizmente era caríssimo, três contos certos, lembro-me perfeitamente, isto numa época em que o preço médio de um livro devia andar entre os duzentos e os trezentos escudos (sim, entre um euro e um euro e meio, leram bem).

Estupidamente, coisa que nem parece minha, esqueci-me tanto do título do livro como do nome do autor. Mais tarde voltaria à Férin, interrogaria os empregados. Nenhum se lembrava, não souberam dar-me qualquer informação. Rumei à que era a catedral dos livros estrangeiros, a Buchholz, onde as empregadas eram sempre um poço de conhecimento. Os resultados foram iguais. Pesquisámos catálogos, fizemos buscas temáticas. Nada.

Anos mais tarde, viria a fazer muitas buscas na internet, nunca descobri que livro seria aquele. Há poucas semanas, graças ao documentário sobre o pai de Anne de que aqui falei (e que já me chegou), suspeitei de que o autor poderia ser Meyer Levin, sendo o livro que eu folheei uma tradução para o francês. Corri a investigá-lo, mas não também não é ele, não obstante a sua notória obsessão por Anne Frank e pelo pai, que deu aliás um livro que me parece interessantíssimo e que, obviamente, já está no meu sempre cheio carrinho de compras da Amazon (muitas páginas, nem queiram saber), para encomendar um dia destes.

A verdade é que algures nos anos 70 ou já nos 80 surgiu grande polémica sobre a autenticidade do diário.  O Instituto Estatal Holandês para os Documentos de Guerra procedeu a um rigoroso e monumental estudo do diário, que resultou neste calhamaço (719 páginas quase A4 em letra miudinha) que vêem na imagem. Há muito que o livro andava lá, no tal atafulhado carrinho de compras. Adiava sempre a encomenda por ser francamente caro, chegou a custar mais de 60 dólares numa época em que o valor do dólar  era superior ao do euro. Se somarmos a isso o IVA, os portes e a desagradável possibilidade de ter de pagar alfândega, percebe-se que a compra fosse sempre adiada.  Mas há duas semanas encontrei-o na Amazon britânica a preço mesmo muito convidativo e não hesitei mais. Em segunda mão e como novo, ninguém diria que alguma vez foi aberto. Gotta love Amazon!

Acresce que creio ser esta a primeira publicação integral do diário, com a inclusão de passagens omitidas por decisão do pai de Anne, ora por serem bastante duras para com a mãe, ora por falarem muito explicitamente do seu amadurecimento físico e da sexualidade.

A ir lendo aos poucos.

7 comentários:

  1. Não preciso explicar-te que fiquei absolutamente curiosa e com a pulga atras da orelha ao ler este teu texto. Agora (também) quero saber a verdade!

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  2. Fiquei um pouco defraudada, confesso, pois no ano passado comprei uma outra edição do "Diário" onde, supostamente, já estariam essas ditas passagens que o pai dela terá cortado inicialmente.
    Assim sendo, lá terei de acrescentar estes livros que referes à minha lista de compras.

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  3. Elite,
    Queres um spoiler? :)

    Mariah,
    Vá à Amazon britânica, neste momento só está disponível em segunda mão, é saber escolher o que estiver em melhor estado e tiver melhor preço. Eu comprei por 25 libras, neste momento já se encontra a preços um pouco mais altos. O meu exemplar, como disse, parece acabado de sair da gráfica.
    Não vale a pena comprar na americana, vai sair mais caro e quase de certeza paga alfândega.

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  4. P.S. Já agora, vejam estas interessantes e muito informativas críticas:

    http://www.amazon.com/Diary-Anne-Frank-Revised-Critical/dp/0385508476/ref=sr_1_1?s=books&ie=UTF8&qid=1312151490&sr=1-1

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  5. Pois é, estou curiosa. Fui confirmar que livro é que tinha e é "apenas" uma edição do diário. No prefácio está realmente um comentário sobre a inclusão de algumas passagens que originalmente o pai de Anne Frannk decidiu cortar.

    Não tenho comigo aqui em casa, mas há alguns anos, descobri em casa da minha avó um livro da Miep Gies, em que ela conta a outra parte da história, a de quem, tal como ela, se ocupava de, no exterior, tudo fazer para os ajudar.

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  6. Elite e Maariah,
    O diário é genuíno. Acontece que há muitas divergências nas traduções de país para país. Tudo está pormenorizadamente explicado neste livro. Há as passagens que o pai de Anne deixou de fora, algumas por considerar simplesmente sem interesse para o leitor (o seu clube de ping-pong), outras por se referirem à mãe em termos muito duros, outras ainda por falarem da sua sexualidade. Algumas dessas saíram na primeira edição alemã, mas parece que em poucas mais. A portuguesa, que li aos nove anos pela primeira vez, não as tinha.

    Esta edição é tão completa que nos mostra inclusivamente as diferentes versões de muitas entradas, todas pelo punho de Anne. É que ela, quando ouviu na telefonia que, depois da guerra, iriam publicar relatos de experiências pessoais, começou a reescrevê-lo, com o sonho de que pudesse vir a ser publicado.

    Sabemos que nem nos seus sonhos mais ambiciosos poderia imaginar a repercussão que viria a ter.

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