quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Dois anos

Poucas horas depois da minha chegada de Cracóvia e de Auschwitz-Birkenau, Messy partiu docemente. No meu colo, comigo a sussurrar-lhe palavras ternas alternadas com uma súplica desesperada: «Fica comigo, por favor!» Inútil. O corpo pequenino de enorme coração estava cansado, não aguentou mais. Mas ainda arranjou forças para levantar a cabecinha sedosa  e para me mordiscar meigamente a ponta do nariz, um gesto de amor muito dela. And then Messy was no more. A 27 de Janeiro, data do nascimento de Mozart, o meu tão amado Mozart.

Na manhã seguinte cheguei mais tarde ao gabinete, havia que dispor daquele corpinho que a alma tinha abandonado. Quando, um pouco depois, entrei no gabinete em frente, uma das colegas, só de olhar para mim, perguntou imediatamente o que se passava. Disse sumidamente que Messy tinha morrido nessa noite. A outra, para quem tenho vários nomes jocosos, sendo Madame Je Sais Tout o mais suave, estava de pé, de costas para a secretária, virada para a impressora, a betumar as trombas (não sei se estava a pôr blush, ou rímel, ou o que fosse, e pouco importa). Nem se virou, não teve uma palavra frouxa, um olhar compassivo. Até poderia ser de uma falsidade tremenda (e seria, sim), mas teria sido pelo menos delicado. E eu, que sou provavelmente a menos rancorosa das criaturas à face da terra, nunca esquecerei o estremecimento de horror perante tal atitude. Toda a gente no Colosso sabe do meu amor por animais em geral e pelas minhas gatas em particular, as fotografias em cima da secretária são testemunho eloquente .Àquela, meus amigos, bem pode morrer a família inteira e por atacado que eu não contribuirei com um cêntimo que seja para uma coroa de flores colectiva.

Messy, muito provavelmente, discordaria deste meu rigor, talvez até mo censurasse. Mas acontece que eu não tenho a enorme bondade de Messy.

Messy é irrepetível. And Messy is no more.

11 comentários:

  1. Nunca sei o que dizer nestas situações, mas não queria deixar de entregar um beijinho.

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  2. Beijinho enorme, enorme, enorme!

    A tua atitude não é errada. É humana mas justa.

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  3. Há aniversários muito complicados, ó se há!
    Mas Messy continua bem viva, na tua memória. Isso também tem de ser celebrado. Falo por mim, mas ajuda-me quando a tristeza bate.
    Um grande beijo solidário

    PS: não te martirizes por causa da colega indelicada. Está visto que deve ser uma cabra, pronto.

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  4. Há aniversários muito complicados, ó se há!
    Mas Messy continua bem viva, na tua memória. Isso também tem de ser celebrado. Falo por mim, mas ajuda-me quando a tristeza bate.
    Um grande beijo solidário

    PS: não te martirizes por causa da colega indelicada. Está visto que deve ser uma cabra, pronto.

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  5. Como eu te compreendo! Ainda hoje (é já lá vão 5 anos) choro o meu Beto Bicho! Meigo, brincalhão, só lhe faltava falar! Para para os termos e às alegrias que nos dão, tb temos que estar preparados para a dor da (inevitável) perda! Grande bj.
    Ana Cristina Oliveira

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  6. Uauff.

    (há pessoas que simplesmente não têm a capacidade de sentir, de se ligarem. Coitadas.)

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  7. Tiro força das tuas palavras. a minha gata está em fase terminal, e n sei qd o cancro ma levará...
    Mas sei q a memória dela, como a de Messy, será eterna.
    *

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  8. A todas, todas, a minha enorme gratidão pelo carinho. Menção especial à Safira, à Conceição, à Chat Gris, que também perderam bichos muito amados em tempos mais ou menos recentes.

    Para a Gatinha não tenho palavras. Não tenho. Enquanto ela não sofrer, tenta mantê-la contigo. Havendo sofrimento, acho que temos o dever de escolher o que é melhor para eles. A Conceição teve de fazer essa escolha tão dura. Eu também a faria.

    Um grande beijo a todas, muito obrigada.

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