Manhãs de Verão

Grand Teton National Park, Wyoming

Sou uma criatura de Verão, sou principalmente uma criatura de sol. Havendo sol, tudo me parece mais leve e fácil. Aznavour, no seu Emmenez-Moi, tem um verso que traduz maravilhosamente este poder estranho que a luz do sol detém e sempre deteve sobre mim: «Il me semble que la misère serait moins pénible au soleil.» 

E adoro a frescura das manhãs de Verão, são justamente estas primeiras horas do dia que me são mais queridas. Ando a acordar muito cedo, por volta das cinco e meia já estava de olhos abertos.Vim para o escritório, pus os auscultadores na cabeça, que a vizinhança não tem de sofrer com os meus hábitos matinais, entreguei-me à música. O céu a clarear aos poucos foi-me desenhando com nitidez cada vez maior as copas das árvores de Monsanto, que se avistam da minha janela. Agora já há sol, um sol alegre e amigo, ainda sem o rigor que se anuncia para mais tarde. Agri está estendida ao comprido no chão da varanda, do outro lado da casa, espapaçada, a gozar esta frescura que não vai durar muito.

Por todo o lado oiço queixas, na blogosfera, no Facebook, no restaurante: que calor! Não se aguenta! Eu fico calada, como calada fico no Inverno, quando o fenómeno se repete ao contrário, e toda a gente se queixa amargamente do frio. E lembro-me incontáveis vezes da serena sabedoria de uns certos versos de Alberto Caeiro:

«Fui feliz porque não pedi coisa nenhuma,
Nem procurei achar nada,
Nem achei que houvesse mais explicação
Que a palavra explicação não ter sentido nenhum.

Não desejei senão estar ao sol ou à chuva —
Ao sol quando havia sol
E à chuva quando estava chovendo
(E nunca a outra coisa),
Sentir calor e frio e vento,
E não ir mais longe.»

Banda sonora: The Moody Blues - Dawn Is a Feeling