Mais de trinta anos depois...
... este livro tão amado regressa às minhas mãos. More William, em português Novas Aventuras de Guilherme, da extinta Estúdios Cor, a mesma que publicou a soberba edição de Ana Karenine traduzida por Saramago. Tudo por obra de uma certa Old Soul que é um autêntico mago, sempre a tirar coelhos da cartola.
Já por várias vezes falei aqui de Guilherme, esse herói tão pouco convencional, de longe a minha personagem favorita na literatura infantil. Tenho a colecção quase completa, construída a pulso ao longo dos anos, em alfarrabistas, poucos são os volumes que me faltam.
Era uma paixão que partilhava com o Nuno, e foi engraçado como descobrimos mais esse laço, ao fim de quase dez anos de debates acalorados sobre os Cinco de Enid Blyton (e sobre Proust, e Stendhal, e Balzac, e Eça, e Mafalda, e...). Foi no fim do Verão do ano em que o Nuno e a Mafalda casaram. Estávamos os dois ainda de férias, tínhamos almoçado juntos, fui depois conhecer a que foi a sua primeira casa, um minúsculo e encantador apartamento em Campo de Ourique. Instalámo-nos na sala a ouvir música e a varrer uns whiskies (muito bebíamos nós, aguentávamos balúrdios). A certa altura tive de ir à casa de banho, tendo de passar pelo quarto. E reparei na pilha de livros em cima da mesinha ao lado da porta: no topo estavam três ou quatro do Guilherme! De regresso à sala, interroguei o Nuno. Então ele também conhecia o Guilherme?! Nessa noite, desafiados pelo Luís Ferreira da Costa, voltámos a encontrar-nos. No Stone´s, claro, o sítio em que fazíamos parte da mobília. E, empoleirados no parapeito junto da cabina, nosso eterno poiso, falámos durante horas do Guilherme, lembrando histórias, frases, episódios. O último presente que dei ao Nuno, ele já tão doente, no hospital, entregue pelo Pedro, foi um livro do Guilherme, O Dia de Folga. Encontrei-o num alfarrabista, não era um dos que me faltavam. Mas podia ser que ele não o tivesse, comprei-o. Resta-me o consolo de saber que lhe pude dar essa alegria, que quando o Pedro acabou a visita ainda o viu abri-lo a sorrir, para se pôr a ler.
Este Novas Aventuras de Guilherme (a que já reli a primeira história, a fabulosa Um dia Ocupado, não resisti, tamanha a saudade) volta hoje às minhas mãos. Sempre foi o meu livro preferido entre todos os livros do Guilherme. E foi por isso mesmo que fiquei sem ele. Com esta minha necessidade premente de partilhar, lá pelos nossos 18 anos, emprestei-o ao Vítor, exigindo que o lesse, prometendo-lhe que ia rir como um doido. Não só não o leu como o livro levou descaminho lá em casa (a mesma coisa viria a acontecer com um outro livro que até hoje não consegui recuperar, o hilariante O Amor em Portugal no Século XVIII, de Júlio Dantas). Foi muito tempo, foi muita saudade. Vou digitalizar e pôr aqui Um Dia Ocupado. É uma promessa.
Obrigada, Old Soul. You did it again.
(do fabuloso Oliver!. Acho apropriado)
Morra o Dantas PUM....desculpa, quero dizer... agora o objectivo é o Dantas.....
ResponderEliminarEsse parece-me bem mais difícil... :(
ResponderEliminarHá trinta anos que o procuro, falhei-o por dez minutos no tal leilão de livros de funestas consequências.
P.S. Não acusei o toque em relação ao Manifesto porque me pareceu desnecessário ;)
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