segunda-feira, 9 de novembro de 2009

I guess I'd rather be in Berlin...*

Já devem ter percebido, tamanha a falta de assiduidade a escrever aqui, que a minha paciência para a blogosfera anda em níveis anormalmente baixos. Não só não me tem apetecido escrever como ando numa fase de torcer o nariz a quase tudo o que me aparece pela frente no Google Reader. E se tropeço em erros ortográficos temos o caldo entornado. Hoje mesmo apaguei do GR dois blogues que até seguia há alguns meses, só por terem dois erros tão crassos, tão imperdoáveis que, no momento em que, implacável, os eliminava da minha lista de leituras, a indiferença já a sobrepor-se à irritação, só pensei: «Passo bem sem ler bodegas destas!»

Não é que o lado fútil tenha uma incidência menor em mim do que na maioria das mulheres por essa blogosfera fora, que gosto tanto de trapos, de carteiras, de sapatos ou de cremes como todas as outras. É apenas que começo a ficar farta de tropeçar a toda a hora em blogues que se cingem a pouco mais do que isso. Ou que tecem considerações levezinhas sobre as relações entre os sexos, quase sempre com muito pouco ou mesmo nenhum sumo. Espremido, não sai nada. E nada me é acrescentado. Ora o meu tempo, o tempo que tenho para estar comigo, é um bem precioso.

Dir-me-ão vocês que um blogue é isso mesmo, um espaço ameno, descomplicado, onde se vai descomprimir. Que quem quer boa escrita vai procurar outras coisas (Saramago, não? Livra!). Certo. Parcialmente certo. Percebo a ideia, mas não comungo totalmente dela

Bem sei que nesta vasta blogosfera há espaço para todos as escritas e para todos os registos. Mas a verdade, meus amigos, é que o tempo que me sobra depois das longas horas em que estou por conta de quem me paga o ordenado e me põe comida na mesa é pouco, e há que fazer escolhas, gerir criteriosamente um bem que é escasso face a necessidades que são múltiplas.

Posto isto, e porque continua (o Senhor seja louvado!) a haver muitos blogues a que aporto sempre com prazer, blogues que me fazem reflectir, que me ensinam coisas, que, eles sim, me acrescentam, confesso que hoje, 9 de Novembro, estou cheia de inveja da Helena. Porque a Helena vive em Berlim e tem-me mostrado, aqui e ali, muitas coisas que me deixam a suspirar e só avivam o meu grande desejo de conhecer a cidade.

Numa entrada muito antiga, sendo o assunto completamente outro, acabei por contar aqui as minhas reminiscências dessa noite histórica de há vinte anos:

quinta-feira, 17 de Maio de 2007


Jornalista Acidental


As minhas aventuras e desventuras como astróloga já foram assunto de um post, há coisa de dois meses. Na altura resolvi dar ao venerável e já extinto jornal um nome fictício, A Patada (a Diabba, fina como um coral, topou logo a origem do nome), e A Patada continuarei a chamar-lhe.

Não pensem, porém, que só de mapas astrais e previsões imbecis foram feitos os meus dias naquela nobre instituição! Todos os dias aconteciam coisas, muitas coisas tantas que é possível que este post venha a ter continuação.

Decidi ilustrá-lo com uma notícia sobre o acontecimento mais marcante daquela época, a queda do Muro de Berlim. Foi uma noite fervilhante de excitação, as notícias não paravam de chegar, o telex (alguém ainda sabe o que isso era?) não parava de vomitar informação, as telefotos chegavam em catadupas. Em Berlim fazia-se História, e nós estávamos a assistir. Os primeiros alemães de Leste transpunham timidamente os escombros do muro e vinham deslumbrados e ainda meio desorientados espreitar como era o mundo do lado de cá. Por causa dessa noite única e emocionante o mapa da Europa sofreria mudanças incríveis nos anos seguintes. E durante uns tempos o que de mais próximo dos novos contornos geográficos que se iam desenhando se conseguia arranjar passaram a ser os mapas da Europa anteriores à Grande Guerra, a de 1914-1918, a tal guerra para acabar com as guerras, como lhe chamaram. Viu-se...»

A Helena foi viver para a Alemanha três dias antes da queda do muro. Esta noite a Helena está em Berlim. Ouçamos o que ela conta, ao som da filarmónica da cidade hoje em festa (uma das maiores orquestras do mundo, há quem sustente ser a maior de todas), regida por Karajan, nesse maravilhoso e exultante cântico que é o andamento final da 9.ª de Beethoven.


Conta mais, Helena...

08 Novembro 2009


os olhos cheios de água


Há vinte anos caía o muro, e Berlim comemora.


Dizem que anda por aí um milhão de turistas, mas eu sei mais que eles: um milhão e dois, que são o nosso Giordano Bruno e a esposa. Tenho andado num stress cultural que nem queiram saber.

Ao longo da antiga linha do muro, entre a Potsdamer Platz e o lado de lá do rio, junto ao Reichstag, fizeram um dominó com mil blocos pintados. Estes foram enviados para todo o mundo, para receber as diversas interpretações deste acontecimento. Tem blocos pintados por habitantes de países ainda hoje divididos, blocos pintados por artistas, blocos pintados por miúdos das escolas primárias. Há um feito pela família do Nelson Mandela, outro feito em conjunto por crianças israelitas e palestinianas.

Já estão expostos, preparados para o grande acontecimento de amanhã: a Festa da Liberdade, Fest der Freiheit.

Por volta das 8 da noite, Lech Walesa empurrará a primeira pedra, que empurrará a seguinte, que empurrará a terceira... até à Porta de Brandemburgo. No outro extremo, Durão Barroso (melhor dizendo: o Presidente da Comissão Europeia) empurrará também uma pedra, que empurrará a seguinte... até à Porta de Brandemburgo. Um dominó democrático muito carregado de simbolismo.

Pelo meio muita música, discursos, as figuras políticas que há vinte anos tornaram este milagre possível, fogo de artifício.

(Desconfia-se até que as nuvens se abrirão para deixar passar o espírito de Reagan, mas ainda não é certo)


Lá estaremos, claro. Já estou a tirar o pó aos fatos de ski, para tentar sobreviver a umas 4 ou 5 horas de pé ao frio. O que a gente não faz só para poder ser parte do momento...

Ontem passeámos ao longo dos blocos, apreciando a criatividade e o grito de Esperança que sai de cada um deles. Lindos. Mas, mais belo ainda, era ver as pessoas que avançavam lentamente ao longo da linha de blocos: com os olhos cheios de água.


Berliner Philarmoniker, Herbert von Karajan

* Adaptação do título de uma certa música de John Denver, I Guess He'd Rather Be In Colorado.

7 comentários:

  1. Tinha dez anos e é a minha mais antiga memória histórica mundial.

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  2. Teresa,

    Vale a pena ler a Visão História, recentemente em banca, sobre Os 20 Anos da Queda do Muro de Berlim.

    Concordo consigo no preâmbulo que fez ao vibrante post da Helena.
    O tempo é tão escasso, depois das longas horas cumpridas no trabalho, que é mesmo necessário seleccionar o que ler...

    Por questões muito específicas criei o meu blog. Espero cumprir o objectivo para quem se interessa pela matéria!

    Beijo

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  3. Teresa,
    obrigada!
    Espero que nunca me aconteça um erro craço... ;-)
    Contei um pouco mais, mas nada de especial. Só encontrei lá turistas e chuva, de modo que regressei a casa para ver em directo pela televisão.

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  4. Medes as peçoas pêlo bem que excrevem?? ohhh com mile milhões de maquacos... já fui! (tou que nem poço de dejgojto pelas tuaj motivassões para largares açim as peçoas!)

    hihihihihi
    (çaindo a çaracotiar a kauda)

    hihihihihi

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  5. Só para ti irritar: falta-te um ponto final no terceiro parágrafo :)))
    Grande post!

    Mad (sem lhe apetecer fazer log in)

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  6. Já agora, e utilizando o plural majestático tão caro ao Joaquim Sérvulo Correia, reitor do seu bam-amado Liceu, e se mencionássemos a interpretação da Concertante em escuta? Cá por casa é a da Israel Philharmonic Oechestra, dirigida pelo Zubin Mehta e c/ Itzhak Perlman (vi-o na Gulbenkian há uns anos tocar o meu bem amado concerto para violino de Beehtoven) e Pinchas Zukerman.
    Só tenho esta, acho. Esta sua acho um pouco estridente...
    Se quiser algo de WAM, peça. Pode ser que tenha (tenho mtª coisa dele).
    all the best

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