segunda-feira, 9 de março de 2009

Pérolas de Tradução #1

Ao longo dos anos tenho encontrado barbaridades prodigiosas, daquelas de bradar aos céus. E que, ao mesmo tempo, me dão vontade de rir como uma perdida. Hoje deixo apenas aqui duas. A primeira caçada em DVD, a outra na televisão. Ficam já prometidas mais umas quantas para breve, que a lista é extensa.

Sex and the City — Por acaso até acho que a SIC (pelo menos a SIC Mulher, que da outra só vejo noticiários) tem excelentes tradutores. Dei com a asneira que vou contar na 6.ª temporada da série em DVD, que comprei mal saiu, uma vez que ainda não tinha passado na televisão e eu estava a ressacar, que a 5.ª temporada, com apenas oito episódios, tinha sabido a pouco.

As taradinhas da série devem lembrar-se da cena, mas é melhor contá-la: a nossa querida Samantha começa a andar com um tipo que é criado num restaurante — na verdade ele quer é ser actor. Quando ela começa a envolver-se mais com ele resolve ajudá-lo na carreira. Consegue. Ele começa a ser o centro das atenções, vem a fama, vêm os tablóides. De uma fotografia inocente com Stanford e o namorado (da qual ela é cortada na publicação) nasce o rumor de que Smith é gay. Ela, mulher segura, nem pestaneja. Ri, acha que faz parte do processo (first the gays, then the chicks, then the industry). O que a incomoda verdadeiramente é ouvir casualmente no cabeleireiro uma coisa que a deixa a ranger os dentes: uma galinha qualquer (sabedora de que ela é oficialmente a namorada do Smith) comenta com uma amiga que sempre tinha julgado que Samantha Jones had the hottest sex life in NY. E afinal era só uma Fag Hag...!

Sam resents this. Tudo menos aquilo! Profissional experiente de PR, resolve resgatar a sua reputação. Prepara uma câmara dedeo estrategicamente colocada, posiciona-se devidamente com o namorado a intenção é mandar a gravação por FED EX para umas quantas pessoas bem escolhidas. Já a postos, Smith ainda hesita. Pessoalmente está-se nas tintas que pensem que é gay, ela acha que aquilo é boa ideia, quer ir com aquilo em frente?
A nossa Sam ajeita a peruca (já está na fase de quimio) e diz só «If it worked for Paris Hilton...»

Legenda: Se funcionou com o Hilton de Paris...

Yes Minister e Yes Prime Minister Tenho completas em DVD, tinha quase tudo em VHS. Confesso que ainda não verifiquei. Reporto-me a uma certa tradução apanhada na TV2 ou RTP2 ou só 2 (nunca sei ao certo, tantas vezes o diabo do canal tem mudado de nome). São ambas geniais, textos ABSOLUTAMENTE BRILHANTES. Paul Eddington é fabuloso como Jim Hacker, o ministro. Mas Nigel Hawthorne, Sir Nigel Hawthorne, no papel de Sir Humphrey, desafia a minha adjectivação! Vê-lo representar é puro deslumbramento. Nem imaginam o que eu suspirei quando, num intervalo num teatro qualquer da Broadway vi cartazes de peças antigas e descobri que ele tinha feito lá Shadowlands, que só conheço em filme, com o meu idolatrado Anthony Hopkins e Debra Winger, e que, quando o vi no cinema, acompanhada da minha Mãe, nos fez chorar sem parar em quase toda a segunda parte. Saímos de lá com os olhos inchados.

Lá estou eu a dispersar-me! Voltemos às traduções. Num episódio qualquer
sobre um projecto de míssil, o sinuoso e matreiro Sir Humphrey tenta denodadamente convencer Jim Hacker, já primeiro-ministro, a aprovar o projecto de compra, e não regateia encómios ao raio do míssil. Perante a hesitação do outro, lança-se numa sucessão de entusiásticas comparações. O míssil é do melhor que há, é o topo de gama, é o supra-sumo, é... «It's the Rolls Royce... it's the Saville Row suit...»

Legenda: É a suite em Saville Row...

(para quem não saiba, Saville Row é a famosa rua de Londres onde ficam os mais prestigiados alfaiates)

(porque me apetece!)

10 comentários:

  1. Fui anteontem ver «Tributo a Nina Simone» no Teatro Independente de Oeiras. Sofrível, mas bem intencionado.
    No ULTIMO quadro que apresentaram escreveram qualquer coisa no estilo: «Apesar do seu sucesso, Nina Simone atingiu poucas REALEZAS tento morrido pobre».

    Foi giro porque se ouviu uma gargalhada para aí de 1/10 dos espectadores (uma taxa altíssima, digo eu!).

    Suponho que o autor da atrocidade pens que Royalties seja a família real inglesa...

    ResponderEliminar
  2. Aqui há uns 20 anos, vi uma das melhores. Infelizmente, nunca mais revi o filme, cujo nome esqueci.

    Cena:
    Pai e filho, ao balcão de um bar, de copo na mão. Diz o pai ao filho (legendas): «E que tal uma torradinha?».

    E o que eu ouvi foi, obviamente: «What about a little toast?»

    Isto para não falar nos muitos «hoteis da cidade» (Hôtel de Ville = Câmara Municipal) dos filmes em francês!

    ResponderEliminar
  3. LOL! E as do Luís K.W. também são de morrer a rir!

    ResponderEliminar
  4. Eu devia ter tomado nota de todas as pérolas de tradução que já apanhei. Como a minha memória está cada vez mais curta não posso fazer brilharetes. Se um dia me lembrar delas, venho partilhá-las. Estas são preciosas.

    ResponderEliminar
  5. Luís,
    Lindas, as duas! De passar ao bronze! LOL!

    Quanto ao hotel da cidade, tenho ideia de já ter apanhado esse brilho algumas vezes...

    Maria Tudor,

    Bem-vinda ;)!
    A memória já me vai pregando partidas, mas ainda vai funcionando.

    Beijos!

    ResponderEliminar
  6. Mad,
    Eu acho que é de fazer uma lista e depois pôr tudo a votação!

    Paulo,
    Infelizmente é só andar de olhos e ouvidos bem abertos, pode esquecer as antigas mas haverá sempre mais para acrecentar ao rol!

    Beijos!

    ResponderEliminar
  7. Para vossa informacao, tenho o Rolls Royce dos fatos, ja fiz um em saville Row!
    Oh para mim a armar ao fino!
    Beijos!

    ResponderEliminar
  8. Melões,
    Não é a armar. Tu és fino. period.

    Grande beijo.

    ResponderEliminar
  9. Só para ti, do livro O relógio de areia, de Romesh Gunesekera:

    «Resolveu quebrar o bolor e abrir uma brecha no sector mercantil» (break the mold, open a breach)

    «a necessidade de montar a onda de nacionalismo» (ride the wave)

    «sócios mais velhos» (senior partners)

    Mas a minha favorita foi nos Casos Arquivados:
    def and dumb = surdo e estúpido

    ResponderEliminar