A velha Horta da Fonte
Apanhei um trânsito absurdo e inexplicável para vir para casa, já que saio quase sempre muito tarde, a horas em que normalmente não encontro complicações de maior. Parada em bicha a meio da Av. da Liberdade, a telefonia sintonizada na M80, começou de repente a tocar So Long, dos Fischer-Z. Os dedos a repetirem no volante a batida forte, dei comigo a sorrir e a lembrar-me de quando e como tinha conhecido a música.
Numa noite de sexta-feira de Janeiro de 1981, tinha eu vinte anos, encontrei-me com um grupo de amigos na Av. de Roma, na defunta pastelaria Capri (era o quartel-general deles, eu nunca fui de fazer vida de café). O programa mais provável seria um copo no Pabe e a seguir irmos para o Ad Lib, que era quase invariavelmente o programa deles (a meio da noite alguns meninos costumavam desaparecer por um bocado e iam até às Caves Mundial, para grande fúria de algumas meninas, incluindo eu, por nunca nos levarem, que morríamos de curiosidade — era uma boîte que... enfim, não sei se estão a perceber...). Mas eis que, em boa hora, alguém sugeriu que fôssemos até à Horta da Fonte. De todo o grupo, que ainda era grande, só dois conheciam o sítio, e aderiram prontamente, explicando-nos que era uma boîte nova e giríssima no Cartaxo. Em menos tempo do que leva a dizê-lo, uns quatro ou cinco carros punham-se a caminho. A mim calhou-me o carro do Tó, que já não é deste mundo.
Ora o Tó tinha sempre as últimas novidades em matéria de música, pagava ao disc-jockey do Ad Lib para lhe gravar cassetes com tudo o que ia saindo, mal saía. E foi assim que — meu Deus, como essa lembrança permanece vívida! —, ao passarmos junto à Casa da Moeda, ouvi pela primeira vez esta batida ainda de New Wave que achei imediatamente irresistível.
— Ó Tó, o que é isto?
— Fischer-Z. So Long.
— É um espanto!
So Long chegou ao fim. «Outra vez!», pedi. O Tó fez recuar a fita. E fomos assim até ao Cartaxo, setenta quilómetros, dos quais só 23 eram de auto-estrada (que ainda só ia até Vila Franca) a ouvir So Long, sempre e só So Long. A partir da quarta ou quinta audição, o Tó já nem dizia nada, limitava-se a rebobinar a cassete. E lá vinha novamente a mesma música.
Adorei a Horta da Fonte, que na altura muito pouca gente em Lisboa conhecia. Passou a ser o meu sítio favorito para ir ao fim-de-semana, em que a música no Stone's e no Van Gogo, a rebentarem pelas costuras de cheios, não era exactamente a que mais me apetecia ouvir. E, claro está, fiz-me logo amiga do disc-jockey. Lá pelo meio de Março, ele disse-me que estava a planear fazer uma noite só de anos 60. A minha reacção, claro está, foi entusiástica. Pegámos num calendário para estudar possíveis datas e sorri, deliciada: o dia 10 de Abril, 11.º aniversário da separação dos Beatles... calhava a uma sexta-feira! Poderia haver data melhor para uma noite de homenagem aos anos 60?
A noite foi um grande sucesso. Houve muitos prémios, sempre t-shirts, para quem soubesse o que era e quem cantava esta ou aquela músicas. Quando arrecadei a minha 9.ª t-shirt proibiram-me de continuar a concorrer... o que achei uma enorme injustiça. Seja como for, cheguei a Lisboa sem nenhuma, acabei por dá-las todas...
A imagem acima, actual, é a mais parecida que encontrei com a que a minha memória guarda da Horta da Fonte naqueles tempos do princípio, antes das obras que viriam a fazer algum tempo depois. Não vou lá há uns cinco ou seis anos.
Numa noite de sexta-feira de Janeiro de 1981, tinha eu vinte anos, encontrei-me com um grupo de amigos na Av. de Roma, na defunta pastelaria Capri (era o quartel-general deles, eu nunca fui de fazer vida de café). O programa mais provável seria um copo no Pabe e a seguir irmos para o Ad Lib, que era quase invariavelmente o programa deles (a meio da noite alguns meninos costumavam desaparecer por um bocado e iam até às Caves Mundial, para grande fúria de algumas meninas, incluindo eu, por nunca nos levarem, que morríamos de curiosidade — era uma boîte que... enfim, não sei se estão a perceber...). Mas eis que, em boa hora, alguém sugeriu que fôssemos até à Horta da Fonte. De todo o grupo, que ainda era grande, só dois conheciam o sítio, e aderiram prontamente, explicando-nos que era uma boîte nova e giríssima no Cartaxo. Em menos tempo do que leva a dizê-lo, uns quatro ou cinco carros punham-se a caminho. A mim calhou-me o carro do Tó, que já não é deste mundo.
Ora o Tó tinha sempre as últimas novidades em matéria de música, pagava ao disc-jockey do Ad Lib para lhe gravar cassetes com tudo o que ia saindo, mal saía. E foi assim que — meu Deus, como essa lembrança permanece vívida! —, ao passarmos junto à Casa da Moeda, ouvi pela primeira vez esta batida ainda de New Wave que achei imediatamente irresistível.
— Ó Tó, o que é isto?
— Fischer-Z. So Long.
— É um espanto!
So Long chegou ao fim. «Outra vez!», pedi. O Tó fez recuar a fita. E fomos assim até ao Cartaxo, setenta quilómetros, dos quais só 23 eram de auto-estrada (que ainda só ia até Vila Franca) a ouvir So Long, sempre e só So Long. A partir da quarta ou quinta audição, o Tó já nem dizia nada, limitava-se a rebobinar a cassete. E lá vinha novamente a mesma música.
Adorei a Horta da Fonte, que na altura muito pouca gente em Lisboa conhecia. Passou a ser o meu sítio favorito para ir ao fim-de-semana, em que a música no Stone's e no Van Gogo, a rebentarem pelas costuras de cheios, não era exactamente a que mais me apetecia ouvir. E, claro está, fiz-me logo amiga do disc-jockey. Lá pelo meio de Março, ele disse-me que estava a planear fazer uma noite só de anos 60. A minha reacção, claro está, foi entusiástica. Pegámos num calendário para estudar possíveis datas e sorri, deliciada: o dia 10 de Abril, 11.º aniversário da separação dos Beatles... calhava a uma sexta-feira! Poderia haver data melhor para uma noite de homenagem aos anos 60?
A noite foi um grande sucesso. Houve muitos prémios, sempre t-shirts, para quem soubesse o que era e quem cantava esta ou aquela músicas. Quando arrecadei a minha 9.ª t-shirt proibiram-me de continuar a concorrer... o que achei uma enorme injustiça. Seja como for, cheguei a Lisboa sem nenhuma, acabei por dá-las todas...
A imagem acima, actual, é a mais parecida que encontrei com a que a minha memória guarda da Horta da Fonte naqueles tempos do princípio, antes das obras que viriam a fazer algum tempo depois. Não vou lá há uns cinco ou seis anos.
Bem, adoro esta música!
ResponderEliminarTambém passei muitos serões na Horta e já não entro lá há perto de vinte anos. Como estará agora?, pergunto-me quando me lembro dessa época.
ResponderEliminarQue giro... há vinte anos atrás eu era um pirralho que em casa esperava o meu pai, que trabalhava na Capri.
ResponderEliminarHoje estou a muitos km da Capri. Longe do "loucuras", do "alcantra", "do lux", do "lido"... e que saudades.
Oh tempo volta para trás!
(bom blogue!)
Bj
Há 5 ou 6 anos???? Eu não vou lá há bem mais de 20! Tinha um jardim fantástico :)
ResponderEliminarDavid,
ResponderEliminarConfesso que continua a saber-me lindamente ouvi-la.
Paulo,
Tanto quanto me lembro, não estará muito diferente. As grandes alterações foram fitas há bem mais de vinte anos.
Beijos!
Naja,
ResponderEliminarAinda diz a outra que não há coincidências! :)
E o Loucuras era de um querido amigo meu que morreu há doze anos.
Obrigada, volta sempre.
Mad,
Se não lhe mexeram entretanto... continua a ter.
Beijos!
Apesar de nunca ter sido grande adepto de qualquer estilo musical em particular (e muitas vezes nem os distingo), o New Wave é o que mais aprecio. ´
ResponderEliminarFaz-me pensar naqueles tempos em que estava a acabar a Faculdade...
E esta do Fisher-Z («...why didn't you tell me?»), é inesquecível.
Olá a todos...
ResponderEliminarO paulo disse:
"Também passei muitos serões na Horta e já não entro lá há perto de vinte anos. Como estará agora?, pergunto-me quando me lembro dessa época."
...e a Teresa respondeu:
"Paulo,
Tanto quanto me lembro, não estará muito diferente. As grandes alterações foram fitas há bem mais de vinte anos."
Bom, a Horta da Fonte é actualmente a maior refêrencia na noite do Ribatejo, tendo sido completamente remodelada a cerce de 3 anos e meio. O espaço foi redecorado num estilo contemporaneo e actual, dispondo agora de 1 jardim exterior, 1 jardim interior/zona de lazer e 2 pistas de dança, 1 de musica comercial (a maior) e 1 de musica alternativa (electro/house).
No passado mês de Janeiro comemorou 30 anos de existência com a realização de um jantar que juntou 3 gerações de DJs que passaram pela Horta e foi seguido de festa na discoteca com essas gerações de DJs a relembrarem a "antiga" Horta com musicas do passado..
Convido-os desde já a re-visitarem a horta da fonte pessoalmente ou então a "darem uma vista de olhos" pela nova horta no site www.hortadafonte.net.
Cumprimentos,
Alexander S (VJ horta da fonte)
Luís,
ResponderEliminarEu também adoro New Wave.
Alexander,
Olhe que isto é rapaziada para aceitar o convite! Então se for com copos incluídos, quando menos esperar aparecemos-lhe por aí!
Merecemos, depois desta publicidade, não acha? :)
A nossa porta está sempre aberta para todas as gerações, obviamente que os tempos mudaram, a musica mudou, as caras mudaram, mas o espirito mantem-se igual.
ResponderEliminarFalo isto por experiencia própria, porque "respiro" Horta da Fonte há uns 15 anos.. antes como cliente e desde a uns anitos para cá como parte do staff.
Apareçam, venham divertir-se na nossa companhia.
É rapaziada para isso e muito mais. Teresa, é só acertarmos as agulhas.
ResponderEliminarEm 1981 tinham os meus pais acabado de casar e de se mudar para o Cartaxo, aposto que ainda andavam por lá nas mesmas alturas. Dizia mamãe que a grande cena era ir primeiro ao Coice da Mula e depois Horta da Fonte. Eu como segunda filha já só apanhei o declínio do Coice e o declínio da Horta da Fonte e as obras que depois lhe fizeram. Mas actualmente não vale a pena, é aquele sítio em que, há 10 anos atrás, já os meus professores decidiam ir à discoteca e encontravam os alunos.
ResponderEliminarCharlotte,
ResponderEliminarPor mais incrível que pareça, já que tantas vezes eu e o Nuno (que Deus tem) nos enfiámos no carro para ir ter com o Pedro ao Cartaxo (a quinta dele é em Valada), nunca fui ao Coice da Mula.
E os teus pais devem lembrar-se do bar Oásis, que estava cheio todas as noites, lá por 92, 93, 94. Depois o Paulo, o dono, fechou o bar e abriu em 94 ou 95 o Pátio, o restaurante em que toda a gente se encontrava. Foi ele justamente quem comprou os bilhetes de todos nós para o concerto dos Pink Floyd de 94, o tal que me mencionou na lista como "Viúva". :)
O restaurante deve ter fechado lá por 97 e o Paulo foi viver para os Estados Unidos.
Vou ver se me lembro de lhes perguntar, mas em 93 tinham eles dois catraios e pouco tempo para ir vadiar (porque avós que ficam com os netos enquanto os pais saem era coisa que não existia na família). Mas do Pátio acho que me lembro, pelo menos aposto que o meu pai conhece.
ResponderEliminarO teu pai deve lembrar-se de certeza. O restaurante era muito giro e simpático, com muito bom ar, e comia-se lindamente.
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