Pérolas de Tradução #1
Ao longo dos anos tenho encontrado barbaridades prodigiosas, daquelas de bradar aos céus. E que, ao mesmo tempo, me dão vontade de rir como uma perdida. Hoje deixo apenas aqui duas. A primeira caçada em DVD, a outra na televisão. Ficam já prometidas mais umas quantas para breve, que a lista é extensa.
Sex and the City — Por acaso até acho que a SIC (pelo menos a SIC Mulher, que da outra só vejo noticiários) tem excelentes tradutores. Dei com a asneira que vou contar na 6.ª temporada da série em DVD, que comprei mal saiu, uma vez que ainda não tinha passado na televisão e eu estava a ressacar, que a 5.ª temporada, com apenas oito episódios, tinha sabido a pouco.
As taradinhas da série devem lembrar-se da cena, mas é melhor contá-la: a nossa querida Samantha começa a andar com um tipo que é criado num restaurante — na verdade ele quer é ser actor. Quando ela começa a envolver-se mais com ele resolve ajudá-lo na carreira. Consegue. Ele começa a ser o centro das atenções, vem a fama, vêm os tablóides. De uma fotografia inocente com Stanford e o namorado (da qual ela é cortada na publicação) nasce o rumor de que Smith é gay. Ela, mulher segura, nem pestaneja. Ri, acha que faz parte do processo (first the gays, then the chicks, then the industry). O que a incomoda verdadeiramente é ouvir casualmente no cabeleireiro uma coisa que a deixa a ranger os dentes: uma galinha qualquer (sabedora de que ela é oficialmente a namorada do Smith) comenta com uma amiga que sempre tinha julgado que Samantha Jones had the hottest sex life in NY. E afinal era só uma Fag Hag...!
Sam resents this. Tudo menos aquilo! Profissional experiente de PR, resolve resgatar a sua reputação. Prepara uma câmara de vídeo estrategicamente colocada, posiciona-se devidamente com o namorado — a intenção é mandar a gravação por FED EX para umas quantas pessoas bem escolhidas. Já a postos, Smith ainda hesita. Pessoalmente está-se nas tintas que pensem que é gay, ela acha que aquilo é boa ideia, quer ir com aquilo em frente?
A nossa Sam ajeita a peruca (já está na fase de quimio) e diz só «If it worked for Paris Hilton...»
Legenda: — Se funcionou com o Hilton de Paris...
Yes Minister e Yes Prime Minister — Tenho completas em DVD, tinha quase tudo em VHS. Confesso que ainda não verifiquei. Reporto-me a uma certa tradução apanhada na TV2 ou RTP2 ou só 2 (nunca sei ao certo, tantas vezes o diabo do canal tem mudado de nome). São ambas geniais, textos ABSOLUTAMENTE BRILHANTES. Paul Eddington é fabuloso como Jim Hacker, o ministro. Mas Nigel Hawthorne, Sir Nigel Hawthorne, no papel de Sir Humphrey, desafia a minha adjectivação! Vê-lo representar é puro deslumbramento. Nem imaginam o que eu suspirei quando, num intervalo num teatro qualquer da Broadway vi cartazes de peças antigas e descobri que ele tinha feito lá Shadowlands, que só conheço em filme, com o meu idolatrado Anthony Hopkins e Debra Winger, e que, quando o vi no cinema, acompanhada da minha Mãe, nos fez chorar sem parar em quase toda a segunda parte. Saímos de lá com os olhos inchados.
Lá estou eu a dispersar-me! Voltemos às traduções. Num episódio qualquer sobre um projecto de míssil, o sinuoso e matreiro Sir Humphrey tenta denodadamente convencer Jim Hacker, já primeiro-ministro, a aprovar o projecto de compra, e não regateia encómios ao raio do míssil. Perante a hesitação do outro, lança-se numa sucessão de entusiásticas comparações. O míssil é do melhor que há, é o topo de gama, é o supra-sumo, é... «It's the Rolls Royce... it's the Saville Row suit...»
Legenda: — É a suite em Saville Row...
(para quem não saiba, Saville Row é a famosa rua de Londres onde ficam os mais prestigiados alfaiates)
As taradinhas da série devem lembrar-se da cena, mas é melhor contá-la: a nossa querida Samantha começa a andar com um tipo que é criado num restaurante — na verdade ele quer é ser actor. Quando ela começa a envolver-se mais com ele resolve ajudá-lo na carreira. Consegue. Ele começa a ser o centro das atenções, vem a fama, vêm os tablóides. De uma fotografia inocente com Stanford e o namorado (da qual ela é cortada na publicação) nasce o rumor de que Smith é gay. Ela, mulher segura, nem pestaneja. Ri, acha que faz parte do processo (first the gays, then the chicks, then the industry). O que a incomoda verdadeiramente é ouvir casualmente no cabeleireiro uma coisa que a deixa a ranger os dentes: uma galinha qualquer (sabedora de que ela é oficialmente a namorada do Smith) comenta com uma amiga que sempre tinha julgado que Samantha Jones had the hottest sex life in NY. E afinal era só uma Fag Hag...!
Sam resents this. Tudo menos aquilo! Profissional experiente de PR, resolve resgatar a sua reputação. Prepara uma câmara de vídeo estrategicamente colocada, posiciona-se devidamente com o namorado — a intenção é mandar a gravação por FED EX para umas quantas pessoas bem escolhidas. Já a postos, Smith ainda hesita. Pessoalmente está-se nas tintas que pensem que é gay, ela acha que aquilo é boa ideia, quer ir com aquilo em frente?
A nossa Sam ajeita a peruca (já está na fase de quimio) e diz só «If it worked for Paris Hilton...»
Legenda: — Se funcionou com o Hilton de Paris...
Yes Minister e Yes Prime Minister — Tenho completas em DVD, tinha quase tudo em VHS. Confesso que ainda não verifiquei. Reporto-me a uma certa tradução apanhada na TV2 ou RTP2 ou só 2 (nunca sei ao certo, tantas vezes o diabo do canal tem mudado de nome). São ambas geniais, textos ABSOLUTAMENTE BRILHANTES. Paul Eddington é fabuloso como Jim Hacker, o ministro. Mas Nigel Hawthorne, Sir Nigel Hawthorne, no papel de Sir Humphrey, desafia a minha adjectivação! Vê-lo representar é puro deslumbramento. Nem imaginam o que eu suspirei quando, num intervalo num teatro qualquer da Broadway vi cartazes de peças antigas e descobri que ele tinha feito lá Shadowlands, que só conheço em filme, com o meu idolatrado Anthony Hopkins e Debra Winger, e que, quando o vi no cinema, acompanhada da minha Mãe, nos fez chorar sem parar em quase toda a segunda parte. Saímos de lá com os olhos inchados.
Lá estou eu a dispersar-me! Voltemos às traduções. Num episódio qualquer sobre um projecto de míssil, o sinuoso e matreiro Sir Humphrey tenta denodadamente convencer Jim Hacker, já primeiro-ministro, a aprovar o projecto de compra, e não regateia encómios ao raio do míssil. Perante a hesitação do outro, lança-se numa sucessão de entusiásticas comparações. O míssil é do melhor que há, é o topo de gama, é o supra-sumo, é... «It's the Rolls Royce... it's the Saville Row suit...»
Legenda: — É a suite em Saville Row...
(para quem não saiba, Saville Row é a famosa rua de Londres onde ficam os mais prestigiados alfaiates)
(porque me apetece!)
Fui anteontem ver «Tributo a Nina Simone» no Teatro Independente de Oeiras. Sofrível, mas bem intencionado.
ResponderEliminarNo ULTIMO quadro que apresentaram escreveram qualquer coisa no estilo: «Apesar do seu sucesso, Nina Simone atingiu poucas REALEZAS tento morrido pobre».
Foi giro porque se ouviu uma gargalhada para aí de 1/10 dos espectadores (uma taxa altíssima, digo eu!).
Suponho que o autor da atrocidade pens que Royalties seja a família real inglesa...
Aqui há uns 20 anos, vi uma das melhores. Infelizmente, nunca mais revi o filme, cujo nome esqueci.
ResponderEliminarCena:
Pai e filho, ao balcão de um bar, de copo na mão. Diz o pai ao filho (legendas): «E que tal uma torradinha?».
E o que eu ouvi foi, obviamente: «What about a little toast?»
Isto para não falar nos muitos «hoteis da cidade» (Hôtel de Ville = Câmara Municipal) dos filmes em francês!
Bemmmmm que olhos e que memória.
ResponderEliminar:)
LOL! E as do Luís K.W. também são de morrer a rir!
ResponderEliminarEu devia ter tomado nota de todas as pérolas de tradução que já apanhei. Como a minha memória está cada vez mais curta não posso fazer brilharetes. Se um dia me lembrar delas, venho partilhá-las. Estas são preciosas.
ResponderEliminarLuís,
ResponderEliminarLindas, as duas! De passar ao bronze! LOL!
Quanto ao hotel da cidade, tenho ideia de já ter apanhado esse brilho algumas vezes...
Maria Tudor,
Bem-vinda ;)!
A memória já me vai pregando partidas, mas ainda vai funcionando.
Beijos!
Mad,
ResponderEliminarEu acho que é de fazer uma lista e depois pôr tudo a votação!
Paulo,
Infelizmente é só andar de olhos e ouvidos bem abertos, pode esquecer as antigas mas haverá sempre mais para acrecentar ao rol!
Beijos!
Para vossa informacao, tenho o Rolls Royce dos fatos, ja fiz um em saville Row!
ResponderEliminarOh para mim a armar ao fino!
Beijos!
Melões,
ResponderEliminarNão é a armar. Tu és fino. period.
Grande beijo.
Só para ti, do livro O relógio de areia, de Romesh Gunesekera:
ResponderEliminar«Resolveu quebrar o bolor e abrir uma brecha no sector mercantil» (break the mold, open a breach)
«a necessidade de montar a onda de nacionalismo» (ride the wave)
«sócios mais velhos» (senior partners)
Mas a minha favorita foi nos Casos Arquivados:
def and dumb = surdo e estúpido