quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Mágicas Noite de Teatro #2: Les Misérables

Les Misérables (Les Mis, assim lhe chamamos afectuosamente, nós os taradinhos), como tema para um post, anda na minha cabeça há mais de ano e meio. Acabo por desistir sempre, que a minha paixão por esta obra é imensa, e receio de não ser capaz de a transmitir como desejaria e, acima de tudo, como ela merece. Mas agora o post torna-se premente porque quero partilhar convosco uma coisa hilariante, e a data-limite está cada vez mais próxima, é já a 3 de Novembro...

A imagem à esquerda é do programa da primeira vez que vi Les Misérables em palco, no querido Palace Theatre de Londres. Uma noite inesquecível de um fim-de-semana que foi o presente (antecipado) do Vítor pelos meus 35 anos. Um dia talvez conte a história toda. De como, depois de uma sucessão incrível de azares, acabámos por ocupar duas gigantescas suites contíguas no famoso Claridge's. Mas o melhor da história talvez seja mesmo o argumento dos melões de Almeirim, com que confrontei o gerente e nos rendeu um pequeno-almoço de nababos. Adiante...

Depois dessa primeira noite (retrato à direita), ia o musical em quase dez anos de representações, houve outras, em Londres e também em Nova Iorque. Em Londres era sempre melhor (para restabelecer o equilíbrio, o Chicago de Nova Iorque é sempre melhor, se bem que, acreditem ou não, o melhor Chicago que vi foi... em Lisboa), agora já não há termo de comparação, já não há Les Misérables na Broadway.

Eu e o Vítor somos juntos, desde os catorze anos, aquilo que vocês já vão sabendo. Partilhamos tudo, partilhamos, mais do que quaisquer outras coisas, e porque são o melhor de nós mesmos, o riso e a música. Aos dezassete anos, sentados lado a lado, distraíamo-nos do tédio das aulas de Direito (aulas em que se fumava, pasmem!) a fazer listas. Listas das melhores músicas dos Beatles, das melhores músicas dos Simon & Garfunkel... Mas só a meio da casa dos trinta começámos a partilhar a Ópera (o meu contributo para o património comum) e os Musicais (o dele). E tudo começou com esta obra. Não vou contar aqui a história, é demasiado pessoal, demasiado íntima. A música com que o Vítor me apresentou Les Misérables vinha direitinha ao encontro de coisas que me doíam muito e, quando chegou ao fim, eu estava lavada em lágrimas. E pedi para ouvir outra vez. E mais outra... Nem sequer vou dizer qual é, talvez um dia um de vocês adivinhe.

No dia seguinte o Vítor ofereceu-me o disco (este, a versão da Broadway, que foi a que ouvimos nos tempos seguintes, têm à esquerda a capa do programa de Nova Iorque, guardo tudo religiosamente). Aquilo tornou-se para mim uma obsessão, não se ouvia outra coisa em minha casa. Peguei a obsessão ao namorado nessa época recente, a primeira vez que o vi chorar foi a ouvir a cena da morte de Fantine... Come to Me, a maravilhosa Patty Lupone, que vi há mês e meio numa outra mágica noite de Teatro, e Colm Wilkinson, o meu trovador irlandês, o primeiro e inesquecível Jean Valjean... O passo seguinte era ver Les Misérables ao vivo, coisa que aconteceu dois meses depois.

No teatro, ao intervalo, o Vítor ofereceu-me o disco original, o de Londres, o melhor (a orquestra nem se compara),o que oiço sempre. Os cantores principais são os mesmos, dois anos mais tarde, em 1987, Les Misérables estreava na Broadway: Colm Wilkinson, Patty Lupone, Philip Quast, Frances Ruffelle, etc.

O post vai longo e a hora adiantada. Amanhã continuo, que muito há ainda a dizer. Deixo-vos com Do You Hear the People Sing?, que está longe (muito longe) de ser a minha música preferida. Acontece apenas que é uma das mais imediatas e empolgantes, talvez a que mais imediatamente se nos instala no ouvido como uma mania. As palavras fabulosas de Herbert Kretzmer, o senhor das letras inglesas de Charles Aznavour. E há outra razão: o vídeo, este vídeo do concerto de celebração do 10.º aniversário. Les Misérables tinha corrido mundo, já havia incontáveis produções. Nessa noite (que Deus me perdoe, mas também teria vendido a alma ao Diabo para ter lá estado), DEZASSETE Jean Valjeans de dezassete produções diferentes da obra cantam esta música, cada um na língua da respectiva produção. O primeiro é Colm Wilkinson, o criador do papel em Londres e na Broadway, e que nessa noite tinha voltado a cantá-lo. O segundo é Phil Cavill... que foi o meu primeiro Jean Valjean em palco, naquele dia 6 de Agosto de 1995.

Preparem-se para um momento mágico.

4 comentários:

  1. Estou a ver que tenho de prestar mais atenção ao musicais, mas convenhamos que não tive uma infância muito feliz ao ter um pai que gosta de Barbara Streisand e de Sarah Brightman.

    Mas o que eu quero mesmo saber é essa história do Claridge's, sobretudo se tiver boas relações com os senhores - preciso de entrar em contacto com eles - puras razões profissionais, como sempre, claro está!

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  2. Cora,
    O post é de somenos importância. Esta obra é que é maravilhosa! :)

    Pedro,
    Os musicais são uma grande paixão minha (que começou com este). Percebo o trauma. A Streisand canta divinalmente, mas parece que é uma pessoa odiosa. A Brightman... ai, até me arrepio! Só aquele vício de levantar os bracinhos para dar a nota alta...! GRRRR!

    Sugiro que comece por este (a versão de Londres), e que oiça também Miss Saigon, dos mesmos autores, LINDO!, Oklahoma e Cabaret. Isto só para começar. Vai apanhar o bichinho, juro...
    Depois lhe direi quais são as melhores versões, se quiser.

    Beijo.

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  3. A Streisand canta muito bem, se é odiosa ou não, desconheço. Mas lembro-me de um concerto dela, em que se senta numa cadeirinha alta e começa a servir-se de chá... e é melhor ficar por aqui. Antes os lanchinhos da Rita Lee no Saia Justa!

    É claro que já fiquei com os que aqui pôs. Em parte é preconceito, porque sei que há coisas muito boas. E convenhamos: The sound of Music é o quê? Bem, e se o Cabaert for o mesmo do filme protagonizado pela Liza Minelli... sou simplesmente fã... O problema é que musical lembro-me sempre de gatos a cantar e fãs histéricos...

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