sábado, 7 de junho de 2008

Eu, possidónia, me confesso...

... e podem rir para aí tudo o que vos apetecer, serei a primeira a rir convosco.

Isto devem ser resquícios de infância. Ainda me lembro com uma ponta de amargura de que, quando Vicky Leandros ganhou a Eurovisão com o grande Après Toi (ainda falarei disso), o broche de cerejas que levava como único enfeite em cima do severo vestido preto fez furor. Quinze dias depois, as réplicas vendiam-se em toda a parte e toda a gente usava aquilo. Eu também queria! Até porque uma colega de turma já tinha! Chamava-se Anabela, o que podia ser uma pista. A minha Mãe despachou-me e atirou-me para canto com um ríspido «isso não é para a tua idade» e eu lá engoli a decepção como pude. Tinha onze anos, idade em que se é mesmo muito piroso.

Todos temos os nossos recantos obscuros. Eu tenho esta costela pirosa, não há volta a dar-lhe. Não vou ao ponto de gostar de Il Divo... mas tenho cá as minhas asas quebradas, que acabam por redundar em piroseira. O patriotismo é uma delas. Há lá coisa mais bonita que ver subir a nossa bandeira num mastro, em terra estrangeira, ao som do hino nacional? Até parece que fui eu a ganhar aquilo, choro sempre, é infalível. Então se forem as imagens da vitória de Carlos Lopes na maratona dos Jogos Olímpicos de 1984, em Los Angeles, sai dilúvio. É que choro mesmo baba e ranho!

Sou benfiquista de alma e coração. A fotografia à esquerda, da dedicatória do querido Rui, a quem tanto devo, num livro no qual muito trabalhei, bem o atesta — é uma história engraçada, fica para breve. Embirro solenemente com o Porto, nada a fazer. A não ser que (alto lá! aí pára o baile) o Porto jogue com estrangeiros: transformo-me na mais leal adepta, vejo o jogo numa ansiedade. É Portugal, carago!

Eu levo estas coisas do Europeu e do Mundial muito a sério, tenham lá paciência. Bem sei que em nada melhoram a vida do povo português, tão longe de ser fácil. Bem sei que são apenas um hiato num quotidiano muito duro. Bem sei que cada vitória é só isso, uma vitória, e que no dia seguinte a realidade é a de sempre. Mas é Portugal, e eu gosto de me orgulhar de Portugal!

Não vivi o mítico Mundial de 1966, era muito pequena. Vivi o Europeu de 1984 com toda a intensidade. Acabei rouca de tanto gritar naquele desaire no Parque dos Príncipes, nos feriados de Junho, estava eu no Algarve. Vivi em cheio o Europeu de 2000 até ao momento da derrota, aquele Portugal-França de 28 de Junho a que não assisti em directo porque um outro amor, infinitamente maior, tinha falado mais alto: a Música. Estava num concerto de Andreas Scholl, já contei aqui. Vivi — e como! — o Europeu de 2004. Com todos os sinais exteriores de saloiice. Bandeira na janela, bandeira no carro. Ia o Europeu a meio, o meu amigo António convidou todo o grupo do Liceu para uma sardinhada na sua coutada do Alentejo. O dia foi prodigiosamente divertido, não obstante... a) eu detestar sardinhas — fui pelo convívio; b) ter sido o dia mais quente desse Verão, para mim ainda mais grave por o rafeiro tinhoso que por lá andava se ter tomado de amores por mim e ter resolvido instalar-se em cima dos meus pés durante o longo almoço; e c) ter sido impiedosamente achincalhada pelo grupo todo por andar de bandeira nacional na janela do carro; a Vanda também. Aguentámos os sarcasmos de cabeça erguida e em atitude de desafio.

A Vanda é uma das pessoas mais inteligentes que conheci em toda a minha vida. Eu não sou completamente estúpida. Por natureza, somos avessas a superstições. Coisa curiosa, criámos superstições nesse Europeu de 2004. Ela, por mero acaso, tinha comprado mais um Swatch no dia da primeira vitória de Portugal e estava com ele posto aquando do jogo. Passou a usá-lo sempre que Portugal jogava. Eu, por mero acaso também, e porque o restaurante onde almoçava todos os dias fechava à quarta-feira, fui no dia do nosso segundo jogo, que era contra a Rússia e que ganhámos, almoçar aos frangos de Chão de Meninos. Passei a ir lá almoçar sempre que Portugal jogava, não fosse o Diabo tecê-las...

Isto para não falar em cachecol ao pescoço enquanto vejo o jogo. A bandeirinha, como devem ter percebido, está na janela do carro.

7 comentários:

  1. Já falei da Selecção Holandesa? Já? ahhh ok

    Cor-de-laranja olé olé
    Cor-de-laranja olé olé

    hihihihihi (raspando-me)

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  2. Eu ainda te vou ao focinho!!!

    E o Nuno Gomes acaba de acertar no poste, irra!!!

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  3. O Euro 2004 foi angustiantemente passado nos US, onde nem pelo canal de cabo pago mais remoto se conseguia ver a transmissão do Euro. Vinha para a faculdade ouvir as emissoes em streaming online porque a ligação à net lá era mais rápida. Mesmo assim ouvia tudo com 2 e 3 minutos de atraso, quando conseguia ouvir... uma agonia. A Mãe colada no msn ia-me dizendo o resultado antes de eu ouvir por rádio, mas teclava muito devagarinho porque nunca tinha aprendido a usar um computador antes... ai que sofrimento.
    Mae - golo
    Nima - DE QUEM? DE QUEM? DE QUEM?
    Nima - NÃO ME MATES DE SUSPENSE... escreve rápido mulher de Deus... Golo nosso???
    (demoravam umas três frases de desespero para ela atinar a escrever a resposta...)
    Mae - deles
    Nima - grrrrrrrrrrrr

    Estão a imaginar isto na nossa final com a Grécia? Sofri muito mais que vocês nos penalties... Devo ter sido a única portuguesa que não conhecia do Cristiano Ronaldo no fim do Euro.

    Pessoalmente não gosto de bandeiras. Até usaria um cachecol, mas nunca me deu para ter um.

    Embirras com o Porto? Não faz mal... o sentimento é mútuo! ehehehe Qualquer portista que se preze tem um profundo desrespeito pelo Benfica. Excepto em jogos internacionais claro, que aí somos todos portugueses. Até o Scolari também faz os possíveis para não usar jogadores do Porto na selecção, chega a ser escandaloso. Mas a verdade é que Apitos Dourados ou não, por muito broncos que nos achem, o FCP é um grande clube, com um grande espírito de equipa e bem mais coeso que os do Sul. É por isso que vencemos e sem as arrogâncias tão típicas de outros habituados a perder. Ainda me recordo que no ano em que vivi em Lisboa o Sporting ganhou o campeonato. No dia seguinte a camara tinha enchido as ruas da cidade de posters verdes com o slogan "Lisboa deu-te mais um campeão" em placards e postes publicitários. Nunca semelhante se viu no Porto. Até a festa que o povo fazia em frente à camara proibiram.

    Mas a verdade é que não ligo nenhum ao futebol no dia a dia. Nem sabia quem era o Quaresma até ao último jogo do Porto. Só agora estou a conhecer os jogadores da seleção por exemplo. Gosto de ver os jogos internacionais dos clubes e da selecção, claro... e do campeonato nacional, fico-me pelos últimos emocionantes, quando me avisam que aquele jogo é para ver. :D

    No futebol, giro giro é irmos para o piolho beber cervejas, comer uns petiscos, bater palmas e gritar golo com a resto da malta em festa. O resto é media e a esses não assisto nem leio.

    Beijinhos

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  4. lá em casa tínhamos (temos!) o ich hab' die Liebe geseh'n e aceito que não seja uma virtude por aí além.

    mas convenhamos, naquele tempo, a minha mãe e o meu pai gastavam mais tecido nas golas das suas camisas que propriamente em calções para mim e para a minha irmã. éramos (ai, graças a deus nunca deixámos de ser) uns desequilibrados.

    ainda assim, vicky leandros é francamente um nome que representa muito dos anos setenta lá de casa.

    eu diria mesmo, que era menino para pôr vicky leandros como nome a uma cadela. melhor ainda, a um cão!

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  5. Teresa,

    estás atrasada nas modas!!! Este ano o que está a dar é ter na antena do carro umas tiras com as cores da bandeira! Sabes aquelas dos casamento? Nem mais!

    beijos

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  6. Pois eu tenho uma bandeirona de metro e meio pendurada no alpendre!

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