Giuseppe Di Stefano - E lucevan le stelle...
Estou muito, muito triste. Desolada. Só hoje (culpa, paredes meias, desta vida estúpida de demasiado trabalho com a boçalidade das nossas notícias - no gabinete vejo os jornais económicos, deixo o resto da informação a cargo da Sic Notícias, que está o dia inteiro ligada, baixinho) soube da morte dele, há quatro dias.
A sexta-feira é por excelência o dia que acaba mais cedo no Colosso. A partir das seis horas comecei a ter muito pouco que fazer. Ora de manhã eu tinha pensado que queria prestar aqui algumas homenagens, precisava de caçar fotografias. Ele era um dos alvos. O primeiro resultado que me apareceu (digito o assunto na barra do Google, só depois peço imagens) era da Wikipedia e li logo a data que me deixou siderada. Foi de lágrimas nos olhos que comecei a ler. Foi já a chorar (e a tentar ser discreta, partilho o gabinete com duas pessoas) que continuei a leitura. Giuseppe Di Stefano, o grande Giuseppe Di Stefano tinha morrido.
Saí cedo, faltava pouco para as oito. Entrei no carro, liguei o leitor de mp3 à telefonia, carreguei no botão. À primeira nota que se fez ouvir subiu em mim um arrepio impossível de descrever, que se converteu quase de imediato num ataque de choro: era E Lucevan le Stelle, a última e desgarradora ária de Cavaradossi na Tosca, o seu adeus à vida. Pela voz dele, nem precisava de esclarecer, pois não? Aquela gravação continua insuperável, tantos anos passados. Tenho nem sei bem quantas músicas no leitor de mp3, umas largas centenas - tantas que às vezes chego a ficar surpreendida quando oiço uma ou outra, nem me lembrava de lá ter posto aquilo -, de manhã, quando desliguei a geringonça lembro-me de ter sido mesmo no final do Canon de Pachelbel, nem fazia ideia do que se seguia. Era E Lucevan le Stelle, afinal. Estas inacreditáveis coincidências são perturbadoras, já antes tinha contado uma, a respeito da morte de John Denver (aqui).
Quando penso em Di Stefano, seguramente nos primeiros lugares entre os maiores de sempre, os adjectivos afluem em catadupa. Um daqueles seres que os deuses parecem cumular de bênçãos. Um devorador da vida - a Ópera, tão amada, por si só não lhe bastava (E non ho amato mai tanto la vita!). Há quem diga (quem sabe muito mais disto do que eu) que poderia ter sido tão grande como o mítico Caruso. Mas Di Stefano queria tudo, queria sentir tudo absolutamente (ai, Álvaro de Campos!), a carreira magnífica acabou bem mais cedo do que deveria e poderia. Restam-nos os discos, raras aparições captadas em filme, pobres e insuficientes para contarem o carisma deste homem e, sobretudo, esta VOZ. Linda, linda, linda. Tão linda, meu Deus! Luminosa, não me ocorre adjectivo melhor.
E vindas do nada, caprichosamente, vêm-me à memória as palavras centenas de vezes lidas do final do Príncipe Feliz, escritas por aquele senhor que é um dos amores maiores da minha vida, Oscar Wilde. E modifico-as livremente, adapto-as a esta grande perda:
«You have rightly chosen,» said God, «for in my garden of Paradise HE shall sing for evermore.»
A sexta-feira é por excelência o dia que acaba mais cedo no Colosso. A partir das seis horas comecei a ter muito pouco que fazer. Ora de manhã eu tinha pensado que queria prestar aqui algumas homenagens, precisava de caçar fotografias. Ele era um dos alvos. O primeiro resultado que me apareceu (digito o assunto na barra do Google, só depois peço imagens) era da Wikipedia e li logo a data que me deixou siderada. Foi de lágrimas nos olhos que comecei a ler. Foi já a chorar (e a tentar ser discreta, partilho o gabinete com duas pessoas) que continuei a leitura. Giuseppe Di Stefano, o grande Giuseppe Di Stefano tinha morrido.
Saí cedo, faltava pouco para as oito. Entrei no carro, liguei o leitor de mp3 à telefonia, carreguei no botão. À primeira nota que se fez ouvir subiu em mim um arrepio impossível de descrever, que se converteu quase de imediato num ataque de choro: era E Lucevan le Stelle, a última e desgarradora ária de Cavaradossi na Tosca, o seu adeus à vida. Pela voz dele, nem precisava de esclarecer, pois não? Aquela gravação continua insuperável, tantos anos passados. Tenho nem sei bem quantas músicas no leitor de mp3, umas largas centenas - tantas que às vezes chego a ficar surpreendida quando oiço uma ou outra, nem me lembrava de lá ter posto aquilo -, de manhã, quando desliguei a geringonça lembro-me de ter sido mesmo no final do Canon de Pachelbel, nem fazia ideia do que se seguia. Era E Lucevan le Stelle, afinal. Estas inacreditáveis coincidências são perturbadoras, já antes tinha contado uma, a respeito da morte de John Denver (aqui).
Quando penso em Di Stefano, seguramente nos primeiros lugares entre os maiores de sempre, os adjectivos afluem em catadupa. Um daqueles seres que os deuses parecem cumular de bênçãos. Um devorador da vida - a Ópera, tão amada, por si só não lhe bastava (E non ho amato mai tanto la vita!). Há quem diga (quem sabe muito mais disto do que eu) que poderia ter sido tão grande como o mítico Caruso. Mas Di Stefano queria tudo, queria sentir tudo absolutamente (ai, Álvaro de Campos!), a carreira magnífica acabou bem mais cedo do que deveria e poderia. Restam-nos os discos, raras aparições captadas em filme, pobres e insuficientes para contarem o carisma deste homem e, sobretudo, esta VOZ. Linda, linda, linda. Tão linda, meu Deus! Luminosa, não me ocorre adjectivo melhor.
E vindas do nada, caprichosamente, vêm-me à memória as palavras centenas de vezes lidas do final do Príncipe Feliz, escritas por aquele senhor que é um dos amores maiores da minha vida, Oscar Wilde. E modifico-as livremente, adapto-as a esta grande perda:
«You have rightly chosen,» said God, «for in my garden of Paradise HE shall sing for evermore.»
E lucevan le stelle,
E lucevan le stelle,
e olezzava la terra
stridea l'uscio dell'orto,
e un passo sfiorava la rena.
Entrava ella, fragrante,
mi cadea fra le braccia.
Oh! dolci baci, o languide carezze,
mentr'io fremente le belle forme discogliea dai veli!
Svani per sempre il sogno mio d'amore...
L'ora e fuggita e muoio disperato!
E non ho amato mai tanto la vita!
Teresa,
ResponderEliminarJá me ri sozinha, desculpa: no mail que te mandei não fazia ideia de quem te tinha morrido porque não tinha lido isto ainda. Por isso o tom da mensagem. Mas, afinal de contas, há mortes que nos doem mais ainda do que a de algumas pessoas de família, não é? Por isso, pensando bem, a mensagem até nem foi descabida de todo.
Mas o que nos consola na morte destes nossos amores musicais é que podemos continuar a ouvi-los, como se estivessem ainda por aqui. O Giuseppe di Stefano não está só gravado no teu coração. Felizmente, está também no mp3.
E, já agora, só um àparte: achei graça à palavra "telefonia". Já ninguém a diz (eu digo-a também, mas agora é "a rádio"), é assim que denunciamos os aninhos que já temos...
beijinhos
Teresa
ResponderEliminarUm momento engrandecedor de ti para o teu homenageado...
Mais um momento grandioso para nós que te lemos, para mim, em especial: mais uma aprendizagem.
Desejo-te um bom fim de semana.
E envio um beijinho.
Lisa
Sou soube agora pela Teresa (ando mesmo distanciado do mundo!). Mas pior drama do que saber que estão todos a abandonar-nos (isto é que tem sido uma vaga!) é saber que nos tempos que correm os cantores líricos no activo deixam bastante a desejar. Geralmente gozam comigo por a grande maioria da minha discografia ser de gente morta. Mas não eram os melhores?!?
ResponderEliminarSou soube agora pela Teresa (ando mesmo distanciado do mundo!). Mas pior drama do que saber que estão todos a abandonar-nos (isto é que tem sido uma vaga!) é saber que nos tempos que correm os cantores líricos no activo deixam bastante a desejar. Geralmente gozam comigo por a grande maioria da minha discografia ser de gente morta. Mas não eram os melhores?!?
ResponderEliminarTeresa,
ResponderEliminareu vinha só deixar-lhe um beijinho ( atrasado, é certo) pelo dia de ontem, mas fiquei extasiada a lê-la por aqui abaixo.
Li até à última linha e último ponto desta página.
Amanhã volto para deixar os comentários, porque não merece que diga, Ah, que bonito, gostei muito, blá, blá.
Temos, realmente, muito em comum.
Até amanhã
beijinhos e veludinhos
Bonjour Thérèse!!
ResponderEliminarEu até entrava a matar cm um bom dia "daqueles"... Mas a dona da casa... a gata da menina... deixa-me sempre assim a modos que constrangida... é que se ela olha para mim de frente, dá-me uma "coisinha"!!
Olha, Teresa do mais chique que há, vim cá por dois motivos!
1- Desejar-te um Excelente Domingo!!
2- Dizer-te que me meti numa enrascada informática de tal ordem, "à cause" ali daquilo novo que tens no lado direito do blog, que nem sei se te incomode para me "ensinares" a voltar ao que tinha, se vá com olhinhos baixos ao Mestre... Sim, que tenho para mim que ele vai ficar FURIOSO por eu ter estado a mexer no que é dele - as entranhas do meu blog, portanto.
(Suspiro Mode)
reparei que subi de posto ali nos dados dessa coisinha nova que tens no blog!! Se eu ganhar ao Google, ganho eu o prémio?!? :D
Beijitos!!!
Lisa
Boa tarde, minha querida Teresa!!
ResponderEliminarVim aqui e já que cá estava, cumprimento para não dar assim ar de que vim vasculhar em casa alheia!!
Vim por aqui, mas o objectivo é ir ali à casa dos rapazes!! Dos Beatles!!
Beijinhos bons!
Lisa
Morreu a 04.03 (quanto muito!) e não a 03.04, ou a Teresa é uma bela vidente!
ResponderEliminarPaz, muita paz à sua alma!
Caro Anónimo,
ResponderEliminarBelo olho para a revisão, fico-lhe grata, fui a correr corrigir a asneira. Obrigada! E a data correcta é mesmo três de Março.
Já agora, e se não levar a mal, deixe que o corrija numa coisa insignificante que, de resto, muita gente diz com a melhor das intenções: é QUANDO muito, e não QUANTO. Em tempos tive a dúvida e fui investigar - é assim que se aprende.
Um beijo.
Aos outros respondo amanhã, pode ser? Vou arrastar-me para a cama.
Olho por olho, dente por dente...
ResponderEliminarEspero que não tenha cometido nenhum erro agora.