It's time

Os últimos três anos da minha vida foram complicados, muito complicados. Só recentemente comecei a emergir aos poucos de um longo período de trevas, em que me fechei num casulo no qual muito poucos penetravam. Das minhas visitas regulares aqui, ninguém sabe isso melhor do que a AEnima (aka Cangalheira Emigra, aka Seproftora), com quem mantive longas conversas noite fora no msn. «And the darkest hour is just before dawn», como cantavam os meus adorados Mamas & Papas e eu me esforçava por lhe lembrar, quando o desânimo quase nos vencia - é que eu sou uma optimista incurável. E não é que tinha razão? E para as duas?

Ainda há muito a estruturar e a reorganizar na minha vida, mas já me sinto capaz de fazer planos outra vez. E NY acena-me, canta-me o seu eterno e irresistível canto de sereia. Tenho tanta saudade de NY que chega a doer nos ossos. Não é uma imagem poética, é uma realidade. Tenho saudades de tudo. Da sensação electrizante e de absoluta euforia do mero andar pelas ruas, das coisas miudinhas como ir comer uma sanduíche de pastrami e o melhor cheesecake do mundo ao Carnegie Deli, esquina da Sétima com a Rua 54, de entrar num Starbucks e trazer um café (tall, latte, hazelnut flavoured) que vou depois bebendo rua fora, de subir ao alto do nosso menino (meu e do Victor, o Empire State Building) e de ver a noite descer sobre a cidade, John Barry e o seu maravilhoso tema de Out of Africa nos ouvidos - «a glimpse of the world through the eyes of God.»

Está decidido. Na Primavera volto. Com o Victor, claro. Ainda nem o consultei e já sei que vamos: com o ele o verbo é sempre ir.

Aproveito também para vos contar que ontem, pela primeira vez em mais de um ano deste cantinho, o Victor deixou aqui um comentário. Foi preciso eu pôr aqui uma coisa verdadeiramente rasca para ele me dar a honra de comentar, a minha gratidão para com o Pedro não faz senão crescer...

Pequeno apontamento cómico: o Vítor (tenho de me habituar) foi toda a vida... Victor. O nome não será um primor de gosto, calhou-lhe em sorte por causa do padrinho, um senhor muito importante e conhecido que era o melhor amigo do pai. Os três irmãos do Victor-agora-Vítor têm nomes muito bonitos, por escolha directa dos pais: Francisco, Miguel e Ana Margarida.

Ora há três anos o Victor (que ainda o era) teve de renovar o passaporte e... deram-lhe nova identidade. Passou a ser Vítor. Nem imaginam o que eu ri da última vez que fomos aos Estados Unidos com as trombas da hospedeira! É que, antes de aterrar, todo o cidadão não americano tem de preencher um papelinho verde a querer saber tudo e mais alguma coisa: motivo da viagem, onde se vai ficar, quanto tempo... uma chatice. E o Vítor enganava-se sempre, escrevia sempre Victor, e tinha de pedir novo papel... E isto por quatro vezes...

Tal como eu, a primeira reacção dele à Mudança foi de repúdio. Depois, tal como também eu faço sempre, adaptou-se. Já assumiu inteiramente a nova grafia do nome, como me contou ontem, quando eu a estranhei no comentário. Só não mudo a etiqueta, por ser anterior. Mas o Victor também aqui passa hoje a ser Vítor.

Now playing: Simon & Garfunkel - The Only Living Boy in New York
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P.S. Mudei de ideias. Mudei também a etiqueta. Há que ser coerente.