Grandes são os desertos...

Grandes são os desertos, minha alma, e tudo é deserto...
Álvaro de Campos
Ocasionalmente, todos fazemos as nossas travessias do deserto. Eu, que toda a vida tive um temperamento arrebatado e excessivo, de uma dessas vezes não me limitei a fazer uma travessia figurada e poética: fui mesmo para o Sahara, que fiz até à fronteira com a Mauritânia. E percorri também o Alto Atlas, de impressionante beleza.

Se esta fotografia nocturna de um acampamento algures no antigo Sahara espanhol, já muito a sul, ao invés de ter dezanove anos fosse actual, é bem possível que eu, em vez de estar sentada, depois do jantar, a confiar as minhas impressões ao papel, estivesse de lap top com Internet a escrever um post para a Gota. Outros tempos...

Outras coisas há que não mudam. Tenho a certeza de que estas esmagadoras Gargantas do Todra estão iguaizinhas ao que eram naquele dia de Junho de 1988 em que as atravessámos e nelas pernoitámos, e parece-me haver qualquer coisa estranhamente apaziguadora nesta aparente imutabilidade da Natureza.

Estou de volta, meus amigos.

Só ontem à noite voltei a ter Internet, depois de duas semanas de fúrias, desesperos, súplicas, ameaças, lisonjas (e tudo o mais que vos passar pela cabeça) ao telefone com a PT. A todos os que deixaram aqui comentários a estranhar a minha prolongada ausência, um rasgado e reconhecido MUITO OBRIGADA. Já ontem visitei alguns dos vossos blogues, vou aproveitar o fim-de-semana para retomar contacto com todos, saber o que têm andado a fazer e... matar saudades.

Agora deixo-vos com Mozart (tinha de ser!) neste indescritível Che del Ciel, Che Degli Dei do final do La Clemenza di Tito, ópera composta no seu último ano de vida. Nunca consigo ouvir isto sem ser invadida por uma poderosíssima onda de emoção.

Fico à espera das vossas notícias. Quanto aos vossos comentários, vou já começar a responder-lhes um por um, como merecem. Tive saudades vossas. Nem vou dizer nomes. Para quê? Vocês sabem.