sexta-feira, 25 de maio de 2007

Charles Aznavour - Non, Je N'Ai Rien Oublié

Muitos anos passados, ele cruza-se por acaso, numa rua qualquer de Paris, com o seu primeiro e nunca esquecido amor. Há incredulidade – nunca pensara voltar a vê-la –, as perguntas banais e inevitáveis.

Casado, ele? Não, gosta da sua liberdade. E, só entre eles, talvez não tenha encontrado a mulher da sua vida. Sugere que vão beber qualquer coisa, quer saber dela. Em que ocupa os dias? Vive sozinha em Paris? Mas então… o tal casamento?

Ao princípio nem sabe bem o que dizer, tantas as lembranças que o assaltam, é todo um passado que volta. A conversa prolonga-se, é irresistível relembrar o amor que foi tão grande, a ruptura incompreensível, o sofrimento dele, o muito tempo que levou até conseguir conformar-se. E não, ele não esqueceu nada.

O tempo voa, o café já vai fechar. Ele quer prolongar ainda o momento, tê-la ainda mais um pouco, acompanha-a pelas ruas mortas.

Fez-lhe bem, aquele reencontro, sente-se diferente, um pouco mais leve, às vezes precisamos mesmo de um banho de adolescência... E é tão doce voltar ao passado...

E vem o pedido tímido, entrecortado, cheio de hesitações. Gostava... enfim, se ela quiser... sem querer pressioná-la… de voltar a vê-la... enfim… se for possível... se ela tiver vontade... se ela estiver disponível. Se ela nada tiver esquecido. Como ele, que não esqueceu nada.

O primeiro amor, numa maravilhosa evocação de Charles Aznavour. Que nos traz, a todos nós, inevitavelmente, a lembrança de um rapaz ou de uma rapariga da nossa adolescência, o nosso primeiro amor.

Lembrei-me de um texto magnífico de Miguel Esteves Cardoso, no seu livro Os Meus Problemas, de 1988. Chama-se justamente O Primeiro Amor. Continua a encantar-me, como tenho a certeza de que vos encantará. Podem lê-lo aqui.

Há coisas que nunca se esquecem. E escolhi esta música porque me lembrei há pouco, ao reparar na data, que faz hoje anos que começou o meu primeiro amor – muitos anos. Talvez ele também se lembre. Nunca se esquece, não é?

NON, JE N'AI RIEN OUBLIÉ (1972)

Je n'aurais jamais cru qu'on se rencontrerait
Le hasard est curieux, il provoque les choses
Et le destin pressé un instant prend la pause
Non, je n'ai rien oublié

Je souris malgré moi, rien quà te regarder
Si les mois, les années marquent souvent les êtres
Toi, tu n'as pas changé, la coiffure peut-être
Non, je n'ai rien oublié

Marié, moi? Alons, donc, je n'en ai nulle envie
J'aime ma liberté et puis, de toi à moi
Je n'ai pas rencontré la femme de ma vie
Non, je n'ai rien oublié

Que fais-tu de tes jours? Est-tu riche et comblée?
Tu vis seule à Paris? mais alors, ce mariage?
Entre nous, tes parents ont dû crever de râge
Non, je n'ai rien oublié

Qui m'aurait dit qu'un jour, sans l'avoir provoqué
Le destin tout à coup nous mettrait face à face
Je croyais que tout meurt avec le temps qui passe
Non, je n'ai rien oublié

Je ne sais trop que dire, ni par où commencer
Les souvenirs foisonnent, envahissent ma tête
Et le passé revient du fond de sa défaite
Non, je n'ai rien oublié

A l'age où je portais mon amour pour toute arme
Ton père ayant pour toi bien d'autres ambitions
A brisé notre amour et fait jaillir nos larmes
Pour un mari choisi sur sa situation

J'ai voulu te revoir mais tu étais cloîtrée
Je t'ai écrit cent fois, mais toujours sans réponse
Cela m'a pris longtemps avant que je renonce
Non, je n'ai rien oublié

L'heure court et déjà le café va fermer
Viens je te raccompagne à travers les rues mortes
Comme au temps des baisers qu'on volait sous ta porte
Non, je n'ai rien oublié

Chaque saison était notre saison d'aimer
Et nous ne redoutions ni l'hiver ni l'automne
C'est toujours le printemps quand nos vingt ans résonnen
Non, je n'ai rien oublié

Cela m'a fait du bien de sentir ta présence
Je me sens différent, comme un peu plus léger
On a souvent besoin d'un bain d'adolescence
C'est doux de revenir aux sources du passé

Je voudrais, si tu veux, sans vouloir te forcer
Te revoir à nouveau, enfin... si c'est possible
Si tu en as envie, si tu es disponible
Si tu n'as rien oublié
Comme moi, qui n'ai rien oublié


11 comentários:

  1. olá!
    como é bom recordar o Charles:)
    bom fim-de-semana***
    paula e rui lima

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  2. é verdade... fica sempre alguma coisa... que nos prende naquela lembrança...

    que será??? ficamos sempre com um carinho especial por aquele amor...

    será a questão do mal resolvido??
    não sei...mas que fica algo... fica...

    Beijos

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  3. Música do ano em que eu nasci... confesso que não conhecia.

    Um beijo, Teresa, e um excelente FDS!

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  4. Nunca se esquece. Por mais força que façamos, por mais tempo que passemos sem nos lembrar acabamos sempre por nos apercebermos que nunca esquecemos. Tenho a certeza que também ele não (te) esquece.

    Hoje estou assim... nostálgica, deve ser do tempo.

    Beijos, Teresa :)

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  5. Paula e Rui (Dupont & Dupond),
    Resolvi prestar-lhe uma semana inteirinha de homenagem, com uma música diferente todos os dias. Acham bem?

    Um beijo aos dois e bom fim-de-semana.

    Peste,
    Não me parece que seja uma questão de coisas mal reslvidas. O que acho é que temos saudades de nós num tempo em que ainda havia em nós uma enorme inocência e ainda acreditávamos em para sempre.
    Leste o texto do MEC? Olha que vale mesmo a pena.
    Grande beijo.

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  6. Rafeiro,
    Então ainda não levaste umas valentes vassouradas da tua jove por causa do post provocador? Com aquela denúncia d Diabba ela deve ter dado contigo com toda a facilidade!
    Tenho mais músicas do Aznavour deste ano para pôr aqui. Pelo menos uma tem de entrar, é obrigatória.
    Bom fim-e-semana e beijo grande.

    Thunderlady,
    O tempo pode aumentar a propensão para a nostalgia, sim.
    Mas este caso foi diferente. Eu já tinha agendada uma semana Aznavour (esta já é a 4.ª música) e a música que deveria tocar aqui hoje até era outra - Que c'Est Triste Venise. Acontece apenas que ao preparar o post reparei na data e achei graça. Claro que esta canção entraria sempre, é obrigatória,
    Beijo grande!

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  7. Querida Teresa,
    Mais um post fantástico, sobre o tema não vou dizer nada pois tudo foi já dito e o que é bom dispensa palavras basta ouvir e sonhar.
    Beijos

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  8. Teresa,

    foi uma querida em ter tirado as lentes de contacto verdes à pantera Teodora, para podermos admirar a beleza dos seus ternos olhos âmbar!

    até esta lindíssima canção do C.A. me soa mais melancólica..

    não porque me recorde o meu primeiro amor, mas porque me faz sentir saudades do futuro (amor?)

    só sei que nada sei.

    (nem sei se já recebeu o correio..)

    beijo grande

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  9. Querido António,
    Pois é... que mais haverá a dizer?
    Eu até deveria limitar-me a pôr aqui as músicas. Acontece que cada vez vai havendo menos gente que saiba francês, daí que me tenha parecido necessário apresentar as canções e explicar por alto do que falavam, já que os poemas são tão carregados de significado.
    Esta é a Semana Aznavour na Gota, pronto!
    Um beijo e bom fim-de-semana.

    Querida Kuskinha,
    Estou sem palavaras!!
    Quando me falou em correio, eu achei naturalmente que se referia a correio electrónico. Ora a minha caixa da netcabo está com a travadinha desde ontem de manhã, tenho estado a usar a do gmail. Quando voltou a falar nisso estranhei. E isso fez-me pensar que há uns bons dias não via o correio. Para começar entro pela garagem, e a caixa é no exterior. E como ninguém me escreve e aquela caixa só me dá desgostos (conta e mais contas), mantenho com ela o mínimo de contacto indispensável.
    Fui lá abaixo. Ó Kuska, que amor! Muito, muito obrigada! Fiquei tão sensibilizada! Já está ali à cabeceira, a prometer-me leitura para quando me deitar. ADOREI!

    Gostou então da Teodora? É uma beldade, não é?
    Um grande beijo e, mais uma vez, MUITO OBRIGADA!
    Bom fim-de-semana.

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  10. O meu pc morreu no fds, por isso li todos os post Aznavour agora.
    O amor...não me vou pronunciar. Existe um texto recente do MEC em que ele insulta o que nós fazemos ao amor nos dias de hoje. Também é muito bom.
    http://coisasimplesepequenas.blogspot.com/2007_04_01_archive.html
    Procura o post "O último romântico"

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  11. Eskisito,
    Já li, obrigada (tive de o colar num documento de word, a leitura é quase impossível no blogue, por causa das imagens em pano de fundo, talvez alguém devesse alertar a dona para o facto).

    Muito bom, sim. Mas com (ou sem) aquele qualquer coisa que faz que a escrita dele, MEC, tenha perdido o brilho de outros tempos, há mais de vinte anos, quando eu ao sábado saía de casa de propósito para comprar o Expresso só por causa da coluna dele.
    Não sei explicar. Mas sinto.

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