quinta-feira, 11 de outubro de 2018
Peneiras
Não gosto de Lobo Antunes enquanto escritor e embirro ainda mais com o boneco Lobo Antunes.
Basta lembrar que, mal publicou o seu primeiro livro, se apressou a mandar traduzi-lo para sueco, tradução paga do seu bolso. Porquê sueco, logo para sueco, santo nome de Deus? Tirem as vossas conclusões, meus amigos. Peneirento que faz aflição.
segunda-feira, 1 de outubro de 2018
Ce n'est qu'un au revoir
Há anos que vivia no medo deste dia.
Ei-lo. Chegou.
Em 2016 perdi David Bowie e, principalmente, Leonard Cohen. Em 2017 perdi Jean d'Ormesson (e a cabra da Academia Nobel, que teima em armar-se em interessante e em laurear escritores que não lembram nem ao Menino Jesus em palhas deitado, lá o deixou partir sem lhe dar o prémio que o meu coração exigia havia anos, "Que seja ele! Que seja ele!"). Como fez com Proust, com Borges e com Jorge Amado, só para referir os mais gritantes. Como o deu a Saramago (fiquei contente, apesar de tudo) e o negou a Vergílio Ferreira, que o merecia infinitamente mais. Uma extensa lista de vergonhas, em suma. Em 2018, hoje, 1 de Outubro, perdi Aznavour, Só me falta um gigante, Stephen Sondheim.
Noutro dia que não este, talvez seja capaz de vos contar da importância deste Senhor na minha vida. De como ele e Proust, de mãos dadas, num exercício de autodisciplina, me resgataram para a vida num distante Dezembro de 1981, eu com apenas 21 anos, lendo ferozmente um, ouvindo desgarradoramente o outro, insistindo especialmente em Il Faut Savoir, centenas de vezes ouvido e assumido como um Credo.
Aznavour faz mais parte da minha vida do que muitas pessoas de carne e osso, perdê-lo beira o intolerável. E intolerável é também não conseguir agora pôr aqui música, porque é em música que melhor sei traduzir-me, sempre foi. Depois de muitas hesitações, a escolha recairia provavelmente em Hier Encore, sempre. «Hier encore, j'avais vingt ans...»
Justamente por isso escolhi esta fotografia, um Aznavour de cara sulcada de rugas, a nobreza enorme da idade, das experiências, amálgama de alegrias e dores, toda uma vida, uma tão longa e fecunda vida.
Je vous aime éperdument, Monsieur Aznavour. Je vous aimerai toujours, jusqu'au dernier jour de ma vie. Ce n'est qu'un au revoir.
Je vous aime éperdument, Monsieur Aznavour. Je vous aimerai toujours, jusqu'au dernier jour de ma vie. Ce n'est qu'un au revoir.
sexta-feira, 28 de setembro de 2018
Obituário
Vale a pena ler estas palavras da minha Rita sobre um blogue que eu nem sequer conhecia, porque nunca fui exactamente uma fada do lar e blogues de cozinha sempre me passaram quase completamente ao lado. Mas o da Elvira, que foi pioneiro e incentivou a criação de muitos outros, parece que era especialmente bom.
A Elvira partiu, mas teve a generosidade de deixar os seus dois blogues de culinária (um em francês) perenemente abertos. A Rita teve a generosidade de connosco partilhar a Elvira e as suas receitas. A Rita, neste curto texto (como lhe admiro a concisão!), mais do que homenagear a Elvira, devolveu-a à vida, e acrescentou-a pelo menos à minha vida. E, de caminho, a Rita discorreu sucintamente sobre a blogosfera como era em anos distantes, quando de facto se criavam laços.
Os mesmos laços que me fizeram receber, no meu primeiro internamento no IPO, há seis anos, um deslumbrante ramo de flores numa sinfonia de branco, enviado por uma então (fisicamente) desconhecida, por acaso até ausente do país, de férias em Itália. Quem? A Rita, pois claro.
Não, a história de "isto são só blogues" não pega connosco, os da velha guarda. Não eram só blogues. A atestá-lo, o próxima que continuo a sentir-me de meia dúzia de pessoas desse tempo antigo, com quem mantenho contacto quase diário.
Comecei a ler este texto da Joana Roque como quem lê uma homenagem a uma pessoa de que gosta – no caso, a Elvira do Elvira’s Bistrot e antes disso da Tasca da Elvira, o primeiro blogue dela que li e que me obrigava a consultar o dicionário para encontrar ingredientes. Nada no título nem nos primeiros parágrafos me preparou para a tristeza enorme de descobrir que o texto era uma homenagem póstuma, que a nossa Elvira tinha morrido.
Nunca tenho paciência para as pessoas do “isto são só blogues”, como se fôssemos menos pessoas quando escrevemos na internet ou nos medíssemos por bitolas diferentes, tal como tenha pouca paciência para blogues pensados de raiz para a sua mercantilização – poderá haver exceções, mas todos os blogues que fazem dinheiro de que gosto nasceram como simples blogues antes destes novos tempos das fotografias profissionais, dos targets, da especialização. Numa altura em que éramos um conjunto de pessoas que se lia entre si e se firmavam cumplicidades, amizades verdadeiras, amores até e, claro, também ódios de estimação. Em que aprendíamos uns com os outros, ríamos com as peripécias de desconhecidos, ficávamos tristes com os seus infortúnios, trocávamos recomendações, e, no caso dos blogues de cozinha, receitas.
Nunca a conheci pessoalmente nem troquei com a Elvira muito mais do que comentários específicos, sobre cada post ou mensagens curtinhas. Mas ela fez parte da minha vida, acompanhei à distância a sua doença e outros problemas que enfrentava e fiquei tristíssima com a notícia. Se calhar especialmente triste por saber que os seus últimos tempos foram difíceis, que a vida não lhe deu a redenção que sinto que merecia.
Na minha cozinha há um caderninho amarelo – cozinho muito da internet, mas as receitas mesmo boas, as que são para ficar, são passadas para o caderninho amarelo. Lá estão, pelo menos, assim de cor, um bolo de azeite e laranja de Barrancos e uma sopa de grão maravilhosa, duas receitas que adoro, que devo à Elvira e que são parte do meu património culinário e serão parte do património culinário da minha filha.
Este fim de semana vou fazer as duas – mesmo que não tenham nunca lido o blogue da Elvira, recomendo-vos muito que experimentem, para que a forma generosa como partilhava o muito que sabia e que cozinhava continue viva. Acho que ela iria gostar.
domingo, 29 de abril de 2018
O império da asneira
Os atentados ao Português que lemos e ouvimos são diários. Já não se aproveita nada, nem ninguém. Tanto faz que seja a televisão, revistas disto e daquilo, jornais impressos e online, as atrocidades são de arrepiar. Já nem sequer o Expresso e o Público se safam.
Esta, que acaba de me ser enviada pela minha amiga Conceição, é de uma ignorância tão atroz que me deixa muda. É da revista Caras e, a menos que alguém na redacção (se é que têm redacção, sei lá eu) dê pela coisa a tempo, acabará certamente por sair na edição impressa.
quarta-feira, 18 de abril de 2018
This may be a come back. Or not.
De vez em quando almoço aqui, os hamburgers* são óptimos, o serviço é muito simpático e atencioso, está-se lindamente na esplanada.
E confesso que, saloia e desconhecedora das novas tendências como me tornei, até investiguei a expressão Wyne Bar, não fosse a coisa existir e eu ignorar. Não existe, a ignorância é mesmo só deles.
*Recuso-me a escrever "hambúrgueres", lamento lamentar.
terça-feira, 13 de junho de 2017
True story
Vem isto a propósito de um preçário na montra da Parfois da Av. da Igreja que publiquei há pouco no Facebook e que gerou toda uma risota.
Há dias, à saída da aula de Espanhol (pus-me finalmente a aperfeiçoar os excelentes conhecimentos da língua que a leitura semanal de 40 anos de ¡Hola! me proporcionou), reparei numas sandálias na montra da sapataria que fica umas quantas portas a seguir. Eram mesmo o meu género, que tenho uma certa panca por sandálias de tiras, e de salto médio, o que cada vez mais me convém, que já não tenho o fôlego de outros tempos para aguentar de cara alegre saltos altíssimos um dia inteiro. Na montra havia em bege e em preto, tenho quase iguais nas mesmas cores, em azul-escuro é que me faziam mesmo falta. Entrei para perguntar se tinham o mesmo modelo no raio dessa cor que agora parece tão difícil de encontrar.
Não tinham. Mas a empregada, muito prestável, dispôs-se a telefonar de imediato para duas outras lojas a averiguar. Era rapariga à volta da minha idade, de muito bom ar, aparência cuidada, maquilhagem discreta e bem feita. E eu aguentei de cara impassível (nem pestanejei, juro!) a conversa que ouvi por duas vezes, para duas lojas diferentes: "Tenho aqui a referência XYZ. Sim, é a sendália de salto médio, preciso de um azul-escuro 38."
Um autêntico dois-em-um, meus amigos! Bem sabem quanto acarinho um sendálias, mas quando o transformam em singular, a sendália, a volúpia é completa. São pessoas destas que dizem com toda a convicção que "esta calça tem muito bom corte", "este sapato dá muito bom andar", "este brinco alonga-lhe o rosto". E depois, claro, temos o patamar seguinte, lá por terras do Brasil, em que, vá lá Deus Nosso Senhor saber porquê, toda a gente parece dizer "o óculos", referindo-se a um par de óculos.
A título de brinde, fiquem com a fotografia da Parfois da Avenida da Igreja que há pouco pus no Facebook, e que foi todo um êxtase. Encharpe já é todo um clássico da asneira.
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