segunda-feira, 1 de outubro de 2018

Ce n'est qu'un au revoir


Há anos que vivia no medo deste dia.

Ei-lo. Chegou.

Em 2016 perdi David Bowie e, principalmente, Leonard Cohen. Em 2017 perdi Jean d'Ormesson (e a cabra da Academia Nobel, que teima em armar-se em interessante e em laurear escritores  que não lembram nem ao Menino Jesus em palhas deitado, lá o deixou partir sem lhe dar o prémio que o meu coração exigia havia anos, "Que seja ele! Que seja ele!"). Como fez com Proust, com Borges e com Jorge Amado, só para referir os mais gritantes. Como o deu a Saramago (fiquei contente, apesar de tudo) e o negou a Vergílio Ferreira, que o merecia infinitamente mais. Uma extensa lista de vergonhas, em suma. Em 2018, hoje, 1 de Outubro, perdi Aznavour, Só me falta um gigante, Stephen Sondheim.

Noutro dia que não este, talvez seja capaz de vos contar da importância deste Senhor na minha vida. De como ele e Proust, de mãos dadas, num exercício de autodisciplina, me resgataram para a vida num distante Dezembro de 1981, eu com apenas 21 anos, lendo ferozmente um, ouvindo desgarradoramente o outro, insistindo especialmente em Il Faut Savoir, centenas de vezes ouvido e assumido como um Credo.

Aznavour faz mais parte da minha vida do que muitas pessoas de carne e osso, perdê-lo beira o intolerável. E intolerável é também não conseguir agora pôr aqui música, porque é em música que melhor sei traduzir-me, sempre foi. Depois de muitas hesitações, a escolha recairia provavelmente em Hier Encore, sempre. «Hier encore, j'avais vingt ans...»

Justamente por isso escolhi esta fotografia, um Aznavour de cara sulcada de rugas, a nobreza enorme da idade, das experiências, amálgama de alegrias e dores, toda uma vida, uma tão longa e fecunda vida.

Je vous aime éperdument, Monsieur Aznavour. Je vous aimerai toujours, jusqu'au dernier jour de ma vie. Ce n'est qu'un au revoir.






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