Ce n'est qu'un au revoir
Há anos que vivia no medo deste dia.
Ei-lo. Chegou.
Em 2016 perdi David Bowie e, principalmente, Leonard Cohen. Em 2017 perdi Jean d'Ormesson (e a cabra da Academia Nobel, que teima em armar-se em interessante e em laurear escritores que não lembram nem ao Menino Jesus em palhas deitado, lá o deixou partir sem lhe dar o prémio que o meu coração exigia havia anos, "Que seja ele! Que seja ele!"). Como fez com Proust, com Borges e com Jorge Amado, só para referir os mais gritantes. Como o deu a Saramago (fiquei contente, apesar de tudo) e o negou a Vergílio Ferreira, que o merecia infinitamente mais. Uma extensa lista de vergonhas, em suma. Em 2018, hoje, 1 de Outubro, perdi Aznavour, Só me falta um gigante, Stephen Sondheim.
Noutro dia que não este, talvez seja capaz de vos contar da importância deste Senhor na minha vida. De como ele e Proust, de mãos dadas, num exercício de autodisciplina, me resgataram para a vida num distante Dezembro de 1981, eu com apenas 21 anos, lendo ferozmente um, ouvindo desgarradoramente o outro, insistindo especialmente em Il Faut Savoir, centenas de vezes ouvido e assumido como um Credo.
Aznavour faz mais parte da minha vida do que muitas pessoas de carne e osso, perdê-lo beira o intolerável. E intolerável é também não conseguir agora pôr aqui música, porque é em música que melhor sei traduzir-me, sempre foi. Depois de muitas hesitações, a escolha recairia provavelmente em Hier Encore, sempre. «Hier encore, j'avais vingt ans...»
Justamente por isso escolhi esta fotografia, um Aznavour de cara sulcada de rugas, a nobreza enorme da idade, das experiências, amálgama de alegrias e dores, toda uma vida, uma tão longa e fecunda vida.
Je vous aime éperdument, Monsieur Aznavour. Je vous aimerai toujours, jusqu'au dernier jour de ma vie. Ce n'est qu'un au revoir.
Je vous aime éperdument, Monsieur Aznavour. Je vous aimerai toujours, jusqu'au dernier jour de ma vie. Ce n'est qu'un au revoir.
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