sábado, 22 de fevereiro de 2014

Coisas que QUASE toda a gente escreve e diz mal

—  Degladiar. É digladiar.
—  Delapidar. É dilapidar.
—  Pirinéus. Pirenéus, sim? Pirenéus.

Eu arriscava uma percentagem acima dos 90, palavra.
Proponho-vos uma experiência: da próxima vez que estiverem com quatro ou cinco amigos (quantos mais, melhor), no café ou à mesa do restaurante, peçam que vos escrevam estas três palavrinhas. E depois contem-me, claro.

27 comentários:

  1. E eu que fazia um vistozinho à frente dessas todas? E pior, acrescente aí o iridiscente (risca) iridescente.

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  2. Ana, o português é tramado, tem incontáveis subtilezas e armadilhas. Veja por exemplo quantas pessoas escrevem "dispender". Se se escreve "dispêndio" e "dispendioso", por que raio há-de escrever-se "despender", não é? Beats me. Mas é como se escreve. :)

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  3. Parece que agora delapidar é considerado correcto, a par de dilapidar, no português europeu (acho que no português do Brasil tal não acontece).

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    1. Teresa, copio a minha resposta no Facebook a uma amiga que levantou essa questão agora mesmo:

      Quanto ao delapidar, fui consultar o mestre Cândido de Figueiredo, esse sim, um verdadeiro barómetro. Que o admite, sim senhora, dizendo que é o mesmo que dilapidar. Mas já sabemos que quando os dicionários dizem de alguma palavra que é "o mesmo que", aquela para que remetem é a mais correcta ou, pelo menos a mais pura. Dilapidar é a que vem directamente do latim (dilapidare). Como tal, eu opto declaradamente por ela. Mas pode portanto escrever delapidar sem problemas de consciência. E obrigada pela chamada de atenção, que aprendemos todos uns com os outros.

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    2. Os erros vão sendo assimilados pela língua. Há dias também me tentaram convencer de que “perca” é agora aceite como o mesmo que “perda”! (Nem tentei confirmar com medo de descobrir que falavam a sério...)

      Também gosto de consultar Cândido de Figueiredo. No entanto, não sei se um dicionário onde ainda se escrevia orthographia à data da última revisão feita pelo autor será o melhor barómetro para questões ortográficas.

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    3. Fui agora consultar o Priberam, que é um belíssimo exemplo de dicionário a NÃO ter em conta. Também fiquei aliviada, para ele "perca" continua a ser apenas uma forma verbal.

      A sua observação sobre o dicionário de Cândido de Figueiredo (a.ª edição de 1939, a minha é de 1991) é muito pertinente. Ainda assim, continuo a achar que é o de maior confiança. Ele e o Morais (que presentemente não tenho comigo).

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  4. Era "acrescente-se", ora raios parta o teclado que me pôs a tratar-te por você.

    O meu eterno problema será sempre o obcecado/obsessão (se bem que agora decorei, sempre "c" ou sempre "s").

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    1. Pois é, Fátima! Será que foi por uma questão de pena que parecem ter acabado com eles? ;)

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  6. Olá Teresa,
    Gosto tanto destes posts. Tenho pena de não escrever melhor e tento sempre aprender. Infelizmente é, às vezes, complicado aprender (mesmo) com os muitos livros que leio. Há, infelizmente, demasiadas gralhas (e quem diz livros, diz TV, revistas, etc) que me levam a enganos.
    Uma das situações "caricatas" que vivi foi numa formação de inglês. Farta de ouvir o formador dizer a palavra "diverted" de uma forma a que não estava acostumada perguntei-lhe qual era a mais correcta. A resposta "tanto faz, é como o aceite e o aceitado" deixou-me irritada. Acho que fiquei imediatamente marcada por ter respondido: "pois é, mas aceite e aceitado usam-se em situações diferentes, depende do verbo auxiliar". Ficaram todos a olhar para mim como se eu fosse um bicho raro e picuinhas. Veio a confirmar-se que o dito formador era uma nódoa e foi rapidamente substituído.
    Cmptos

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    1. A sua resposta foi perfeita, até na concisão, mas aposto que ele nem sequer percebeu. Não há nada pior do que a ignorância arrogante. Eu assumo a cada momento a minha ignorância e agradeço qualquer informação que possa diminuí-la nem que seja só um pouquinho.

      Já as pronúncias, ah, minha amiga, as pronúncias! Estou sempre muito atenta. Nem vamos considerar as diferenças entre o Reino Unido e os Estados Unidos, basta concentrarmo-nos em Inglaterra. Ainda há dias, num documentário britânico, apanhei a palavra "dilemma" dita de maneira diferente por duas pessoas diferentes (em "ai" e em "i). Depois há também diferenças entre a acquired pronunciation que todos desejamos conseguir ter e a pronúncia da aristocracia. E depois, numa bolha à parte, há a pronúncia da realeza e, principalmente, a da Rainha. São mundos e mundos. Como dizia o Manelinho, «não adianta, nunca conseguirei falar essa língua!» :)

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  7. Tirando o digladiar, declaro-me culpada. E digladiar escrevo correctamente só porque uma certa vez tive a dúvida e fui ver.
    Pelos comentários já confirmei que também é correcto escrever despender, que é algo que às vezes me deixa ali vai não vai. É que escrevo com e, mas vejo tantas vezes com i, que uma pessoa começa a duvidar.
    Outra que me causa urticária, e nunca sei se estou a acertar ou calinar: sedeado ou sediado?

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    1. Eu tive há muitos anos essa dúvida do sedeado ou sediado. Antes da internet, imagina a trabalheira. Resolvi a questão de maneira muito simples: "com sede em". Entretanto, fui espreitar o Ciberdúvidas:

      sedeado vs. sediado

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  8. eu diria degladiar mas já aprendi alguma coisa hoje :-) obrigado
    delapidar está correto pelo que diz o dicionário
    (jaime roriz)

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    1. Sim, Jaime, mas ainda assim parece-me mais correcto dizer dilapidar, logo opto por essa forma. Mas tanta gente sabedora não deve estar enganada.
      Beijinho! É impressão minha ou é a primeira vez que comentas aqui? :)

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  9. No outro dia um aluno corrigiu-me por eu ter escrito "Pirenéus". Grande discussão porque o corrector do telemóvel afirmava que "Pirinéus" é que está certo...

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    1. Ah, pois é, o problema da informação errada que circula na internet, multiplicando-se como cogumelos venenosos.
      Ora espreita esta informação sobre Courrèges que espreitei há dias na Wikipedia, vê o local de nascimento: http://pt.wikipedia.org/wiki/Andr%C3%A9_Courr%C3%A8ges

      Estamos conversadas, não é verdade?

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    2. quem consulta a wikipedia deve saber que tudo o que lá está é escrito por "pessoas normais". Qualquer pessoa pode editar os textos da wikipedia e corrigi-los.

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    3. Exactamente. Eu própria já editei informação. Era a página sobre as agraciadas com a DCBE (Dame Commander of the Order of the British Empire), faltava lá a minha adorada Dame Joan Sutherland, imagine-se se eu ia deixar ficar aquilo assim!

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    4. É engraçado como nos damos ao trabalho destes pormenores quando os temas nos são caros. Tenho um amigo que costuma editar as páginas sobre política portuguesa, ele é um bocado perito na matéria (ciência política), porque é incapaz de deixar ficar as enormes bacoradas que encontra.

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  10. Sedeado ou sediado: essa também há tempos tive de ir ver, por causa de coisas aqui do trabalho. Parece que o correcto é sediado, segundo pesquisei.
    Agora culpada me confesso quando ao "Pirenéus", não fazia ideia. E eu que já tantas vezes os atravessei.

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    1. No priberam apontam sediado, no meu dicionário da Academia de Ciências encontra-se apenas "sediar", mas já vi tantas vezes escrito sedeado que enfim...

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    2. Vê a resposta à Izzie acima.
      A verdade é que há coisas em que os nossos olhos e ouvidos tropeçam a vida inteira e parece que andamos cegos ou surdos. Confesso envergonhada que só há coisa de um ano percebi que tinha andado a vida inteira a dizer mal Buckingham!

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    3. Sim, já vi :)
      Acho que na altura também já tinha dado com essa página do ciberdúvidas.
      E fica a pergunta: então quer dizer que podemos "confiar" no ciberdúvidas? É importante, porque eu nem sempre tenho um dicionário à mão e costumo tirar dúvidas na internet muitas vezes.

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    4. O Ciberdúvidas é da MAIOR confiança, mais do que qualquer dicionário da Porto Editora, diria eu. Só tenho pena que as respostas não sejam às vezes mais claras e definitivas, preto no branco, é isto e acabou-se a conversa.

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    5. :)
      Mas já é bom alguém dizer, preto no branco, que "é da MAIOR confiança", sem nenhum "mas" a seguir.

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