domingo, 4 de agosto de 2013

Das caprichosas vias da informação

Informação. Não é cultura, cultura é coisa mais vasta e em que cada vez menos me reconheço, quanto mais, à medida que envelheço, me vou sabendo cada vez mais ignorante.

Há tempos falei com amigos no Facebook da febre que foi Trivial Pursuit quando apareceu, lá por 1988 ou 89, já não me lembro ao certo. Esperem, deve ter sido mesmo em 1989, foi o ano em que a minha irmã casou, e nós reuníamo-nos todos os fins-de-semana, ora na casa dela, ora na casa da Costa do Vítor e da Ana. Estávamos viciados. Éramos uns seis ou sete, fazíamos duas equipas, em breve nos impediram, ao Vítor e a mim, de estarmos na mesma, limpávamos aquilo tudo, o que não sabia um sabia o outro. 

As minhas especialidades eram História (amarelo), Arte e Literatura (castanho) e Espectáculo (cor-de-rosa). E também dava umas boas achegas no cor de laranja (Desporto), que já levava três livros sobre futebol no lombo. Nem imaginam a cara esgazeada de todos quando me saiu a críptica pergunta «Quem eram os Cinco Violinos?» e eu os enumerei imediatamente, um por um (cheguei a conhecer Travassos, o  «Zé da Euopa» — google it, sorry). E olhem que eu sou e sempre serei do Benfica. Por isso nos separaram impiedosamente, a mim e ao Vítor, com um «vocês não podem estar na mesma equipa». Como já disse, aquilo que um não sabia era coberto pelo outro. Acresce que o Vítor era absolutamente genial num tema em que eu vacilava muito: Geografia. O Vítor tinha  um Atlas na cabeça. Não vou jurar que a pergunta fosse esta, terei de abordar este assunto, o da memória, aqui e em breve, ando a fugir dele cheia de medo. Julgo eu que a pergunta era qualquer coisa como «Com que 11 países tem fronteira a Turquia?»

Ele só fez um pedido: «Dêem-me tempo, por favor.» Todos nós ficámos suspensos, e as nossas cabeças acompanhavam a dele a relembrar um mapa. Sabem que mais? Enumerou-os todos, um por um. Nem me lembro se na altura já jogávamos em equipas separadas, por imposição dos outros. O que sei é que ficámos todos maravilhados e lhe saltámos ao pescoço em grandes abraços de parabéns.

A mim calhou-me outra pergunta tramada — calharam muitas, numas quantas acertei por intuição pura, como aquela (ainda por cima para queijo!) «De que era deusa Mnémon?» Sabia lá eu! Mas pensei, pensei, pensei muito. E arrisquei a resposta,: «Da memória». A tal memória que me vai faltando e que tanto me atormenta. A resposta estava certa, acreditem ou não. Mas a pergunta mais tramada de todas foi esta, que me calhou em sorte: Quando foi a Inglaterra invadida pela última vez?

Pensei e pensei. Ponderei. Sabem que sou uma tarada por História. E a resposta saiu segura: «1066, Batalha de Hastings.» Está certo, disse quem tinha o cartão na mão. Toda a gente achou aquilo um prodígio, tal como tinha achado um prodígio que o Vítor tivesse um mapa inteiro na cabeça. Eu confessei com toda a humildade como sabia aquilo. Vinha de um livro dos Cinco, de Enid Blyton, mais concretamente o n.º 18, Os Cinco na Quinta Finniston (sim, ainda me lembro de todos os títulos por ordem, só não sei até quando). Por aqui vêem com podem ser caprichosas as vias da informação que nos chega à cabeça.

6 comentários:

  1. Pois a mim esse livro (tão irritante que era o Júnior, não era?...) ensinou-me que os americanos compravam pedras na Europa e, com esse livro, começou o meu fascínio pela cultura céltica.

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  2. E assim nasceu uma paixão, vê? Nessas idades somos tão receptivos que absorvemos tudo.

    Ai o Júnior! E o pequeno-almoço que a Zé lhe levou à cama, lembra-se?

    Outra personagem irritante era o Edgar, o miúdo do n.º 3 (Os Cinco Voltam à Ilha), o filho daqueles Sticks que foram tomar conta do Casal Kirrin na ausência. E o hilariante nome que os primos deram ao cão do miúdo, o Sarnoso? (confesso que desconheço qual seria o nome original, como deve calcular nunca li Enid Blyton em inglês).

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  3. Ali a seguir a "na ausência" devia ter entrado um "da Tia Clara e do Tio Alberto". Maldito impulso de publicar sem reler!

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  4. Há anos que não jogo isso e tenho um aqui numa gaveta :-)
    Também me safava bem. Não tão bem quanto vocês, já percebi!

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  5. Helena,
    Confesso que gostava de voltar a jogar. E concordo que era viciante. Coisa para horas, um pouco como o Monopólio era quando eu tinha 12 anos.

    Cap Créus,
    Um dia destes ainda desencanto um para levar para um jantar do Liceu. Nem quero imaginar a gritaria que seria!

    Pipoco,
    Veja o comentário deixado por um adulto de 31 anos aqui:
    http://narrativasleituraescrita.blogspot.pt/2009/03/resumo-do-livro-os-cinco-voltam-ilha.html

    O resumo é de um miúdo d0 7.º ano. «Entre 16 e 19 anos»?! Eu com 17 lia Proust e devorava Eça de Queiroz, Jorge Amado e outros (os meus anos mais ricos de leitura devem ter sido entre os 14 e os 18, como quase toda a gente).

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