segunda-feira, 3 de junho de 2013

A estoirar de indignação

Este é o meu isqueiro Dupont. Melhor dizendo, é uma imagem dele caçada na internet, porque o meu tem as minhas iniciais gravadas naquele quadradinho no topo. E um Dupont é como um Rolls Royce, é coisa para a vida inteira.

É-me especialmente querido, porque muito querida é a pessoa que mo ofereceu, e mo ofereceu por duas vezes, a segunda no Natal de 2000, já que o primeiro me foi roubado em circunstâncias abjectas.

Andava um bocado desafinado, não fechava bem, levei-o à Tabacaria Rossio, sítio de toda a confiança e onde me fazem sempre descontos amorosos (foi lá que comprei em 1998 a charuteira Dunhill ou Cartier, não tenho a certeza, que ofereci ao ofertante do isqueiro), além de terem a representação da marca. Tinham a representação da marca, passado. Isso agora só existe em Espanha, segundo me informaram pesarosos. Claro que poderiam tratar do assunto, mas eu teria sempre de pagar coisa de oitenta euros apenas pelo seguro, reparação à parte. Guardei o isqueiro na carteira, agradeci e disse que não me apetecia dar dinheiro a ganhar a espanhóis, pelo menos de maneira tão leviana.

Uns meses depois, num jantar do Liceu, referi o caso. Alguém me sugeriu que tentasse a reparação no Corte Inglés. Achei boa ideia, pelo menos era capaz de me ver livre do absurdo do seguro. Quando, lá por Fevereiro, fui ver Les Misérables com a Tina (que agora só sonha voltar a Londres para ver a peça, que eu entretanto copiei-lhe o disco e emprestei-lhe o DVD do 10.º aniversário e a mulher está fanática e até já passou a paixão ao marido), aproveitei o facto de estar no Corte Inglés, que tem um stand Dupont, e lá deixei o meu precioso isqueiro a arranjar.

Telefonaram-me há pouco. Como vos disse, tratava-se de uma afinação insignificante. Nos bons velhos tempos da Tabacaria Rossio (gente muito séria) seria coisa aí para, máximo dos máximos, uns quinze euros. Até saltei quando me disseram o valor da reparação. 158 euros. «Está a brincar, não?» A funcionária, de voz muito simpática, encavacou, era o valor que ali tinha. «Minha querida, esqueça a reparação, quero o meu isqueiro de volta, é um objecto de valor sentimental e sempre faz um bonito bibelot. Por pouco mais do dobro compro um novo, tem noção disso?»

Despedimo-nos nos termos mais cordiais, que a senhora não tem qualquer culpa. A ver se um dia destes passo no Corte Inglés para recuperar o meu isqueiro. Ladrões!


5 comentários:

  1. Esse isqueiro deve ser de ouro e com pedras incrustadas. ahahah

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  2. Sim, S*, o isqueiro é de ouro. Há Duponts de prata, de ouro e de ouro e laca da China (os mais caros e aqueles de que menos gosto). O meu é de ouro. Sem pedras.

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  3. Cap Créus,
    Há quanto tempo! E que prazer reencontrá-lo!

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  4. Teresa,

    Tenho passado imensas vezes por aqui, tendo até deixado vários comentários de incentivo e de boas-vindas. :-)
    Sempre um prazer aqui voltar e ler estas linhas.

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