Crisis? What Crisis?
Ando muito seriamente a tentar deixar de fumar, se bem que quase toda a gente me diga que este momento é provavelmente o menos adequado de todos, como se eu não tivesse já suficientes batalhas pela frente. Mas tenho as minhas razões, e são poderosas.
Ora ontem ia a caminho do IPO para fazer mais um exame e ia enervadíssima. Tudo em mim pedia um cigarro, a coisa estava a tornar-se uma obsessão. E acabei por fazer uma coisa que muito poucas vezes fiz na minha vida, e que detesto que me façam (até porque sou incapaz de recusar, o que já resultou, por exemplo, em dar cinco cigarros no percurso entre o Rossio e o Terreiro do Paço): pedir um cigarro a um estranho.
Cruzei-me com um senhor de bom ar, dos seus 60 anos, que ia a fumar. Morta de vergonha, a enrolar as palavras, murmurei qualquer coisa como «Desculpe, será que pode dar-me um cigarro?»
O senhor estendeu-me prontamente o maço, esperou que eu tirasse o cigarro para mo acender, olhou-me de alto a baixo e comentou:
— Isto está mesmo mal, hem?
Encavacada, com vontade de que o chão me engolisse, acenei que sim. «É. Estou desempregada.»
— Calculei. Com uma Louis Vuitton que se vê bem que não é de Carcavelos... Olhe, eu há quatro anos andava de BMW, agora guio um chaço de 400 euros.
Podia ter acrescentado «E eu tenho cancro. Ganho eu!», mas abstive-me. Apertámos cordialmente as mãos e desejámo-nos um bom resto de dia e melhor sorte.
E os reembolsos do IRS? Nos anos anteriores foram sempre 20 dias certimhos, religiosamente contados, o tempo entre a entrega da declaração e a entrada do dinheiro na minha conta, e o mesmo aconteceu com toda a gente que conheço. Este ano é uma anedota. O Abel fez a declaração no dia 2 de Maio e continua à espera. Eu entreguei a 19, deveria ter recebido ontem. Está bem, abelha! Ontem, a única coisa que fizeram (porque passo a vida a espreitar o portal das finanças) foi passar a minha situação de "certa" a "direito a reembolso" — e com data de 3 de Junho, para dar melhor aspecto. Vai esperando, Abel. Vai esperando, Maria Teresa.
E sabiam que os doentes oncológicos no desemprego, no anterior governo, recebiam uma comparticipação (ou a totalidade, não tenho a certeza) para os transportes? Agora já não. E sabiam que para poder ter isenção de pagamento de taxa moderadora nos hospitais por incapacidade é preciso ir a uma junta médica? Até aqui nada de anormal, acho mais do que justo. O que já acho bizarro, para não dizer pior, é que para tal se tenha de pagar 50 euros.
Bem sabem que nunca aqui fiz comentários à situação política, com a única excepção do acordo ortográfico. Mas agora apetece-me mesmo pôr a boca no trombone. Muito podia eu contar!
Banda Sonora: Supertramp - Two of Us (do álbum Crisis? What Crisis?)
Não fazia ideia que também estás desempregada, Teresa.
ResponderEliminarEnfim, este governo, não quero saber de cores, sempre tive as minhas definidas mas nem é a questão da cor. É a destruição gratuita e sem resultados positivos de tanta coisa que se alcançou. Custa-me assistir e custa-me ainda mais perceber que não há luz ao fundo do túnel, se isto perdurar por mais anos. Que tenho 33 anos, estou mal e só vai piorar. Não me venham dizer para ter iniciativa, criatividade, seja lá o que for. Tudo isso já tive, demasiada. Num país, com dirigentes que não merecem. Nem sei se o povo merece. Tanto esforço em vão.
A saúde? O que será da saúde, das pessoas, com as alterações que se avizinham? Acreditam mesmo que os seguros as vão proteger? Os seguros foram criados para ganhar dinheiro. A ingenuidade tem limites.
Ninguém abre a pestana? Já tenho inveja dos gregos, dos Irlandeses. Ninguém se mexe. Lá está, sou sempre a "reaccionária".
Enfim, adiante, fora as políticas, fora a situação financeira que nos deita muito abaixo, há coisas muito mais importantes. Família, amigos, saúde. Protejamos esses. Valorizemos esses.
Um grande beijinho. Sei que vais dar a volta por cima, só sei isso.
Desculpa o desabafo mas hoje em dia nem se pode dizer nada contra estes canalhas que toda a gente se melindra, por isso sabe bem poder abrir a boca junto de quem nos compreende. Os salvadores, pois. País à venda ao desbarato.
Pois é, agora as juntas médicas pagam-se. A minha mãe ainda teve direito a fazer sem pagar mas estou a ver que para renovar a incapacidade irá ter que pagar também. Foi numa altura em que aumentaram as vacinas de uma maneira louca e as juntas médicas que eram gratuitas passaram para essa estupidez. Ora, uma pessoa pede o procedimento para ser isento e para ser isento tem que desembolsar esse dinheiro! É bonito!
ResponderEliminarQuando a minha mãe adoeceu andei a pesquisar todos os benefícios que ela teria. É uma revolta grande termos que o fazer, por ser sinal de doença. Mas já que quando nos prejudicam não olham para trás, por que razão não havemos de procurar aquilo que nos é de direito.
Eu não sei o que agora está em vigor mas, por exemplo, um doente oncológico também ficava isento do Imposto único de circulação. Tem a isenção de taxas moderadoras e tem também benefícios fiscais a nível do IRS.
E falando de IRS, eu também meti o dos meus pais dia 5 de maio e nada. Ainda atrasou o processo porque foram chamados a apresentar os recibos do salário porque a entidade patronal do meu pai nem se deu ao trabalho de enviar os ficheiros com os descontos dos trabalhadores. É uma treta.
Um beijinho cheio de força
Yes, you can...muito, muito sinceramente! All the best!
ResponderEliminarainda por cima desempregada?! bolas, Teresa... desejo-lhe toda a sorte do mundo!
ResponderEliminarqt ao resto do seu post... o povinho não os pôs lá?... e a agenda liberal do passos coelho não foi por este anunciada aos 4 ventos durante a campanha eleitoral? então, queixam-se do quê? não é qualquer surpresa, infelizmente...
Estou francamente escandalizada. Não fazia ideia dessa situação, achava que as isenções dependiam dos rendimentos, que é algo fácil de demonstrar. Desde que este governo foi eleito já o repeti umas cem vezes, mas digo mais uma: não é para isto que pago impostos. Não é. Vão matar o SNS, e qualquer rede de apoio a quem precisa.
ResponderEliminarForça, muita força e paciência.
Um beijinho Teresa. Every little thing is gonna be alright...
ResponderEliminarTeresa, toda a força do mundo. E isso que conta é verdadeiramente chocante.
ResponderEliminarAlexandra, como pode dizer que até parece que não se pode dizer nada?? pode dizer sempre tudo! aliás, estes das agendas liberais também contam com isso: que as pessoas tenham medo de falar, de dizer o que está mal, de parecerem ignorantes sobre as medidas económicas de que eles se dizem tão especialistas...bah, vão para o c*r*lho, perdoe-me a gota de ran tan plan.
ResponderEliminarE reaccionária não é quem diz o que pensa e critica o governo...aliás o dicionário até diz que um dos significados é 'oposto à liberdade'.
Gota de Ran Tan Plan: ler o que escreveu aqui dá-me volta ao estômago. Pensamos que este governo é capaz de tudo, mas estas histórias contadas na primeira pessoa, de facto impressionam. Já não é a primeira vez que digo isto: de bom grado viveria num país em que metade dos meus rendimentos fossem para impostos, para saúde, educação, etc, tudo o que está escrito na Constituição como sendo um Direito Fundamental. Aliás, lá também está escrito que é dever do Estado garantir e promover os Direitos Fundamentais...
O Estado não tem dinheiro para pagar os reembolsos. E como tal está a adiar os pagamentos. É a triste situação a que chegámos.
ResponderEliminarFico verdadeiramente escandalizada quando se tem de pagar para ir a uma Junta Médica, provar um grau de deficiência, mas não se paga taxa moderadora para fazer um aborto. As prioridades continuam muito mal definidas.
Um grande beijinho e muita força.
Olá Teresa,
ResponderEliminarSabe que a sigo há já...uns 4 anos? Mais?
Lamento imenso essa situação de desemprego e se puder ajudar em alguma coisa, disponha.
Quanto ao IPO...não sei o que dizer, apenas que desejo as melhoras, espírito aberto e boa disposição.
Ah! E deixe de fumar sff!
Um abraço
Desempregada que estou há 1 ano e meio, não pago nem recebo IRS - nem declarei.
ResponderEliminarMas há quem esteja muito pior e não é com regozijo que o digo.
Do fundo do coração,Teresa, desejo que mantenha a força e a fé na sua cura, que o resto se há-de compor.
Abraço amigo.
Teresa
ResponderEliminarJá sabia dessa noticia, mas para eles
é tudo à grande, não lhes falta nada!
~Sou como a primeira comentadora, falo e barafusto.
Força, Teresa.
Bjocas
Karocha
Teresa, lamento que tenha mais essa adversidade para lidar, a qual eu também desconhecia. Todas estas situações são inadmissíveis. Os pacientes passaram primeiro a utentes e agora a clientes: tudo é pago. É a destruição do SNS.
ResponderEliminarEu estou a sentir e de que maneira os efeitos desta crise. Tenho salários em atraso desde Fevereiro e a empresa aguarda a declaração de insolvência há quase um mês, dando origem a que nós, trabalhadores, façamos piquetes para evitar a saida do pouco material que ainda existe, porque enquanto a insolvância não for decretada não está a salvo dos credores e de penhoras. Não me sabem dizer quando é que vou começar a receber o subsídio de desemprego e para ajudar à festa o meu IRS ainda não foi pago porque a entidade patronal do meu marido se enganou a preencher a declaração. Estou a delapidar as minhas economias para fazer face às despesas imediatas e temo pelo futuro que vou conseguir dar ao meu filho. Este pais não é para velhos, nem para novos, nem para quem quer trabalhar por um futuro melhor, muito menos para doentes. Não sei onde vamos parar. Gostava de ter confiança no futuro e calar as vozes negativas, inverter este estigma do fado lusitano, mas dou por mim a pensar do que será desta geração. E sobretudo do que será de nós.
Teresa, desculpe o testamento. Um grande abraço.