quarta-feira, 11 de abril de 2012

Defesa do consumidor

Poder-se-ia pensar que pagamos mensalmente uma data de dinheiro para ter uma data de canais de televisão (dos quais devemos espreitar uns dez por cento) para ter um serviço em condições, não é verdade?

Não, não é. E aqui a culpa nem é dos serviços que nos facultam a televisão por cabo. A culpa é mesmo dos canais, que estão positivamente a borrifar-se para o espectador pagante, muito pagante, tanto faz que seja à Zon, à MEO ou a outro fornecedor qualquer.

Vejamos a SIC Mulher, por exemplo.  Depois de ter feito arrastar durante não sei quanto tempo a segunda temporada de MasterChef Australia, repetindo incontáveis episódios até à exaustão, além de nos obrigar sempre a voltar a ver o segundo episódio do dia anterior, repete agora... MasterChef Australia. E que temporada? A terceira (que por acaso já vi toda na internet)? Isso é que era bom! Não, repete a segunda. Temos para uns largos meses. Da mesma maneira, com tanta temporada que o raio do programa teve, e tendo ainda há muito pouco tempo passado a 13.ª ou 14.ª de America's Next Top Model, brinda-nos agora justamente com a mesmíssima temporada e as mesmas carinhas larocas, umas mais larocas do que outras. Deve haver mais casos, mas hoje em dia as poucas coisas que me fazem não mudar de canal quando por lá passo são o show de Ellen DeGeneres e o óptimo programa de entrevistas de Adelaide de Sousa. Se calho a apanhar o Dr. Oz, fujo em grande velocidade, aquilo deprime-me e, não sendo hipocondríaca, fico sempre a achar que tenho imensas doenças, todas as que lá são referidas.  Se é aquela pequena que grita imenso, a Ana Rita Clara, os meus ouvidos melindrados também dão às de vila-diogo. Idem para o Querido Mudei a Casa, calham-me sempre repetições. E o Dr. Phil, esse grande querido, passa a horas impróprias, género cinco da madrugada — sei porque esta noite acordei e lá estava ele a enxovalhar um casal.

E depois há o Biography, o inefável Biography. Não são só as asneiras de pronúncia, não são só as asneiras de português, não são só os anúncios espanhóis (mas por que raio havemos nós de ver anúncios espanhóis que nos aliciam a comprar produtos que nem sequer se vendem cá?!). O Biography deu ultimamente em fazer uma coisa que acho francamente abusiva: não dobra programas nem os legenda. Passa-os em inglês, cá vai disto, quem não perceber paciência. É o caso do reality show de Gene Simmons (que até me diverte, acho-o pessoa muito inteligente, pelo que já li sobre ele). É o caso de Raw Nerve, o programa de entrevistas de William Shatner. Aqui a coisa ainda é mais estapafúrdia, porque passam sempre dois episódios seguidos. Um não tem legendas, quem não souber inglês que se arranje, estudasse! O seguinte é dobrado. Claro que, com a minha sorte, quando o entrevistado foi Gene Simmons teve de me calhar um dos dobrados.

Ora acontece que a esmagadora maioria dos espectadores, espectadores que pagam mensalmente o acesso àquele canal, não tem inglês suficiente para acompanhar um programa não legendado. Isto para para não mencionar sequer quem nem inglês fala, mas tem o mais legítimo dos direitos a usufruir de um serviço pelo qual paga e que não lhe é fornecido em condições.

Um escândalo. Um abuso. Uma vergonha.

11 comentários:

  1. Tenho uma certa admiração pelo casal Gene Simmons/Shannon Tweed.
    Ele foi uma das maiores rock-stars dos anos 70 e 80, ela foi umas das playmates mais populares do seu tempo e actriz de filmes pseudo-eróticos, conheceram-se na mansão Playboy, apadrinhados pelo próprio Hefner.
    Seria de esperar que a relação durasse meia dúzia de meses ou então aquilo fosse um deboche total com trocas de casais e ménages.
    Curiosamente ou talvez não, estão juntos vai para 30 anos, os amigos dizem que eles são o casal mais aborrecido do Mundo porque são absolutamente fiéis um ao outro e até os seus 2 filhos são miúdos muito bem educados e nada rebeldes.

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  2. Não posso estar mais de acordo, Pedro.
    Aliás, lembro-me muito bem de ela ter sido Playmate do ano em 1982, porque estava de férias no Algarve e um amigo meu comprou essa Playboy. Ela era lindíssima!
    Os miúdos parecem-me miúdos fenomenais, muito bem estruturados e inteligentes (o ambiente em que se cresce influencia tanto!). Espreitei agora a imdb e fiquei atónita com a altura de Nick, o filho. O miúdo tem 2,03 m!!!

    E agora o mais cómico: depois de vinte e muitos anos a dizer que não casava, não é que acabaram por dar o nó no ano passado?

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  3. É realmente uma vergonha. Há pouco estava a fazer zapping e vi uma coisa que me lembrou da Teresa: no MGM, a propósito da Ellen Degeneres, li a seguinte pérola de legenda:

    " é uma apresentadora que as pessoas identificam-se".

    Blhec.

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  4. Sinceramente, só à paulada!
    E quantas vezes encontramos essas pérolas pela blogosfera! O lugar do pronome reflexo é um mistério para muita gente.

    Conheço uma menina "muito bem" que diz "eu aforo ele!" Oh, céus!

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  5. é verdade. a programação tem estado continuamente a decair e parece que não há muito ao nosso alcance. tenho vontade de desistir de mais de metade dos canais que tenho actualmente...

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  6. O Biography Channel já foi um bom canal quando oferecia biografias de grandes escritores e figuras importantes da História. Há uns anos começou com biografias de actores, músicos... eu sei que muitos deixaram a marca na respectiva profissão, mas uma maioria se tivesse continuado a vender cachorros quentes não se perdia nada.
    Na Sic Mulher apenas vejo o Jamie Oliver a cozinhar, mas acho que já não dá nada dele há muito tempo.

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  7. Teresa, não vou comentar este post porque não conheço os programas de que falas. Gostei muito do texto que publicaste no anterior, o artigo do António José Saraiva é inqualificável!

    Vou-te dizer porque abri a caixa dos comentários: aqui há tempos, falávamos das mudanças do blogger/google (até andaste sem janela de pop-up) e eu dizia que não conseguia agendar comentários para depois das 12h00. Seguiram-se muitas sugestões, mas nenhuma resultou. Na minha opinião, era mesmo impossível.
    Agora (aleluia!) o blogger finalmente resolveu o problema! Teve a ideia genial de acrescentar a.m. ou p.m. à lista das horas. Uma solução realmente difícil de encontrar, é compreensível que demorassem tanto tempo!

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  8. (que não, não tem nada que ver com este post, mas onde andas tu? estás bem? começo a estranhar esta ausência prolongada...)

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  9. Uma solução é contactar os canais (ou as empresas que trabalham com esses canais) para fazer passar as mensagens de desagrado. Enquanto as pessoas se queixarem em blogues e afins, as coisas não vão mudar. Pro-actividade.

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