Mágicas noites de Teatro: The Breath of Life
O que acontece quando uma mulher decide confrontar aquela que foi, durante muitos anos, a amante do marido? O que acontece quando a mulher traída é Dame Judi Dench e a amante é Dame Maggie Smith e tudo isto se passa no palco de um teatro? Magia pura.
O encantamento começou logo que entrámos na sala do belíssimo Haymarket Theatre, um dos mais antigos de Londres. A cortina subida deixava-nos ver o cenário e a minha reacção foi igual à de toda a gente que avançava pela coxia: um grande "oh!!" deslumbrado. Que me lembre, só tive tal reacção a um cenário duas outras vezes. A Street Car Named Desire no National Theatre (Londres, com Glenn Close como Blanche Dubois e um Woody Harrelson a aplaudir furiosamente de pé umas filas atrás), e Dinner at Eight, no Lincoln Center, em Nova Iorque. Não eram cenários, eram interiores que só por si contavam histórias.
Escrita pelo grande David Hare (autor, entre muitas outras coisas, do guião de The Hours), a peça agarra-nos desde o primeiro segundo. Apenas duas actrizes, mas quem precisa de mais quando as actrizes se chamam Judi Dench e Maggie Smith?
O encontro-confronto das duas mulheres não começa da melhor maneira, como seria de esperar. Madeleine, a amante durante 19 anos, conservadora de museu reformada e mulher com o seu quê de excêntrico, vive agora na ilha de Wight. Frances, a mulher, a legítima, fingiu ignorar a traição durante grande parte da sua duração. Tinha sabido quase desde o princípio e tinha-se calado. Aquilo que nunca tinha dito ao marido, que entretanto a abandonara para ir viver com uma pateta com metade da sua idade, vem agora dizê-lo à antiga rival. Um confronto de titãs e muitas mágoas dos dois lados.
Posso garantir-vos que poderíamos ouvir cair um alfinete, tamanha a magia do que acontecia no palco. Podíamos ouvir como as pessoas não respiravam, suspensas, chegadas à frente nas cadeiras. E assistimos fascinados à conversa destas duas mulheres no ocaso da vida, uma conversa que traz memórias antigas, que esclarece dúvidas, que revela outras infidelidades das quais nenhuma sabia («não, isso não foi comigo»). As horas correm, o último barco que sai da ilha ja partiu, Frances fica para jantar e para dormir, e a conversa continua. Noutras circunstâncias, poderiam ter sido grandes amigas. Ficamos todos a fazer votos por essa amizade quando finalmente se separam, ambas apaziguadas, e Frances, no dia seguinte, muitas horas de muita conversa depois, apanha o barco que a leva da ilha. O traste passou a ser assunto devidamente arrumado para as duas. E mesmo no ocaso da vida, há vida para diante.
Apontamento cómico: Um mês depois o Vítor voltou a Londres e tinha novamente bilhetes para a peça (compra sempre dois, mesmo que vá sozinho). Eram disputadíssimos, the hot ticket in town, lembro-me de o meu amigo Pedro, irmão da actriz Margarida Marinho (uma grande actriz, na minha opinião) me ter contado que ela tinha ficado inconsolável por não ter conseguido ver a peça. O Vítor chega ao Haymarket Theatre e há à porta uma data de gente suplicante a pedir um bilhete. Ele ia sozinho, puxou do bilhete extra. Antes que pudesse abrir a boca, um senhor ofereceu-lhe 300 libras por ele. Ia recusar, não? E o senhor, na certa, nem pôde acreditar na sua sorte quando viu que o lugar era na terceira fila ao centro.
Encomenda para a menina a camimnho: http://www.jn.pt/PaginaInicial/Cultura/Interior.aspx?content_id=2369721
ResponderEliminarescolheste uma das musicas da minha vida :)
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