segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Perdidos e achados

As conversas são como as cerejas. Foi na caixa de comentários do post anterior que a Izzie e eu, anglófilas convictas e maníacas por Oscar Wilde, a propósito do desempenho (que não vimos) de Patricia Routledge como Lady Bracknell, abrimos o baú das memórias.

As memórias são semelhantes, mas as versões favoritas são diferentes. A Izzie gastou até à exaustão a versão cinematográfica em VHS de The Importance of Being Earnest de 1952, com Michael Redgrave, da qual não gosto por muitas e variadas razões, sendo a principal o facto de o texto, o incomparável texto de Oscar Wilde, estar horrorosamente mutilado.

A minha versão favorita e inesquecível, mesmo depois de ter visto a grande Joan Plowright como Lady Bracknell, continua a ser a de 1985,  filmada para a televisão a partir da peça, da qual encontrei este cartaz da produção de 1981

E também eu tenho uma história com esta (para mim) insuperável versão filmada. Vocês que são muito mais novos talvez não saibam que quando os gravadores de vídeo começaram a ser vendidos havia dois sistemas, VHS e BETA. Durante uns tempos coexistiram nos clubes de vídeo, sendo que a qualidade do BETA era superior. O Rui, que ia sempre para o que de melhor havia, aderiu ao BETA. No espaço de dois ou três anos, o sistema foi desaparecendo, nos clubes as prateleiras tinham cada vez menos títulos, julgo que houve negócios de milhões por trás da sua agonia. Ora lá por 86 ou 87 o Rui, sabedor da minha paixão por Oscar Wilde, ofereceu-me esta maravilha, que tinha gravado da televisão. Em BETA, claro. Na altura eu nem gravador de vídeo tinha ainda, mas ele emprestou-me um SONY portátil (até alça para pôr ao ombro tinha) que muito viajou para casas de amigos, e nem imaginam a quantidade de vezes que nos deleitámos com esta peça.

O tempo foi passando, a cassete arrumada na estante, o sistema BETA já era apenas uma memória vaga. Subsistia em mim a ideia incómoda de que urgia passar aquilo a VHS quanto antes. Só o fiz lá por 94 ou 95, custou-me um dinheirão e o resultado foi tão desconsolador que até me telefonaram do laboratório a avisar de que aquilo estava impróprio para consumo. Teimosa, achando que se referiam apenas a uma imagem menos que perfeita, mandei-os ir em frente. Grossa asneira, como vim a verificar. Fiquei para todo o sempre com um mono na prateleira.

Criatura obstinada que sou, fiz incontáveis buscas na Amazon ao longo de todos estes anos. Edições em DVD nem vê-las. Só nunca me tinha lembrado de procurar no YouTube. Coisa que hoje fiz, por causa da conversa com a Izzie.

E aqui a têm, a minha versão de eleição, a grande Dame Wendy Hiller (vencedora de um Oscar), que talvez os mais velhos lembrem como a princesa Dragomiroff do Crime no Expresso do Oriente de Sidney Lumet, no papel de Lady Bracknell.

A qualidade da imagem deixa bastante a desejar, é bastante enevoada, mas ainda assim continuo a considerar esta a melhor versão filmada da peça. E aqui fica o texto integral do hilariante diálogo de Lady Bracknell com John Worthing. O diálogo que, tinha eu 16 anos, me apresentou a peça, como já contei algures lá trás.

3 comentários:

  1. Oh, aquela era a única versão que eu conhecia :( E sinceramente, se houvesse mais e melhores à venda acho que mandava vir (todas). A peça é tão boa que merecia o gasto.
    Isto faz-me lembrar uma versão do Cyrano que vi e me fez apaixonar pela peça, e que nunca mais soube identificar. Não era a do Ferrer, acho que era com o Yves Montand, em français, e era uma maravilha. O filme com o Depardieu não desmerece (está muito bom), mas aquela outra versão teatral deixou-e varada.

    A história do beta e do vhs tem a ver com patentes, segundo me contou papai. Papai sempre apostou no beta, e dizia que só comprava um videogravador quando viesse a última versão e melhor, a betamax. Infelizmente, esta apenas ficou para usos profissionais, e vulgarizou-se o vhs (patente aberta, ou lá o que era, qualquer um podia usar sem custos adicionais). Papai lá se rendeu e comprou o aparelho vhs.

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  2. Vê esta versão toda, vais ficar maravilhada (já estou a copiá-la, não vá voltar a escapar-me).

    Quanto ao Cyrano, vê lá se seria esta versão de 1972.

    http://www.imdb.com/title/tt0178361/

    http://www.amazon.com/Cyrano-Bergerac-Broadway-Theatre-Archive/dp/B00008AORH/ref=sr_1_1?s=movies-tv&ie=UTF8&qid=1320084536&sr=1-1

    Ou esta, com Derek Jacobi, o meu adorado Cláudio?

    http://www.amazon.com/Cyrano-Bergerac-translation-Anthony-Burgess/dp/6301328116/ref=sr_1_1?s=movies-tv&ie=UTF8&qid=1320084366&sr=1-1

    Vê as críticas das duas, talvez a memória desperte. Inclino-me mais para a segunda, mas quem sabe?

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  3. Oops! Em francês, disseste?
    Infelizmente os franceses não são como os anglo-saxões a preservar e a divulgar as suas obras.

    Há anos que suspiro pela edição em DVD desta série que tanto me fez sonhar aos 11 anos, Lagardère (é de 1967, mas só passou cá em 1972, o costume).

    http://www.youtube.com/watch?v=kM5BFVaQAps

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