segunda-feira, 31 de outubro de 2011

I ♥ Mrs Bucket (Bouquet)


É impossível não adorar esta odiosa e ridícula personagem, a protagonista de Keeping Up Appearances, que passou em Portugal no princípio dos anos 90.

A série está toda editada em DVD e tenho vindo a adiar a compra (a crise, ah, a crise!), mas ontem passei uma tarde divertidíssima a ver episódios no YouTube, e ri a bom rir.

Mrs Bucket (Bouquet, como insiste em ser tratada, sendo perpétua fonte de mortificação o facto de toda a gente persistir no Bucket que ela tanto detesta), de nome próprio Hyacinth, vinda da classe operária, vive para impressionar os vizinhos e tentar ascender socialmente. Uma name-dropper  (sobre pessoas que nem conhece) do pior, chapéu e luvas nunca faltam na sua indumentária, nem que seja nas visitas ao lado sombrio da sua vida, a família. Se é certo que em cada família há sempre uma ovelha ronhosa, Hyacinth foi tripla ou quadruplamente amaldiçoada. A irmã Daisy, uma desmazelada incurável, vive com o marido Onslow (outra figura impagável, sempre de camisola interior de alças, lata de cerveja na mão, instalado frente ao televisor) numa casa incrivelmente suja e desarrumada, em que vive também a irmã Rose (todas as irmãs têm nomes de flores, há ainda Violet, muito bem na vida, a única sobre a qual Hyacinth enche a boca a vangloriar-se, não perdendo ocasião de referir a moradia de luxo, o Mercedes, a sauna, and room for a pony). Temos também o pai senil, velho baboso sempre atrás de mulheres e a cometer os maiores desacatos.

A irmã Rose, só por si, é toda uma personagem. Uma espécie de Essex girl entradota, de ar extraordinariamente vulgar, cabelo loiro oxigenado, saias curtíssimas e saltos agulha, sempre envolvida com homens casados que invariavelmente, depois de duas ou três voltinhas, passam a ignorá-la e regressam ao aprisco conjugal.

Temos ainda Richard, o marido de Hyacinth, funcionário público que a atura com mansidão cristã, e o filho dos dois, Sheridan, que nunca vemos e a que só assistimos aos telefonemas, invariavelmente a pedir dinheiro. Hyacinth passa a vida a gabar o filho, que está na universidade e de quem tanto se orgulha, e com o qual tem um elo telepático. Nós rimos à socapa, pelas conversas a que assistimos, que nos deixam com a firme certeza de que Sheridan é gay, coisa de que nem remotamente passa pela inocente cabecinha de Hyacinth.

E temos Elizabeth, a vizinha do lado, que vive permanentemente aterrorizada pela personalidade dominadora de Hyacinth, e o seu irmão Emmet, com o qual Hyacinth namorisca subtilmente. Emmet mudou-se para casa da irmã a seguir ao divórcio e dirige uma sociedade operática amadora. Em pouco tempo sucumbe também ao terror que Hyacinth inspira, já que ela, de cada vez que o avista, se lança em cantorias supostamente líricas numa deixa pouco subtil para integrar a tal sociedade. Ambos aceitam com resignação o facto de serem convidados permanentes para os célebres little candlelight suppers de Hyacinth (que pena nunca assistirmos a um único!).

E que dizer da fórmula com Hyacinth que atende o telefone? «The Bouquet residence. The Lady of the house speaking.» Infelizmente, muitas das chamadas destinam-se invariavelmente ao take-away de um restaurante chinês, o que tem sempre o condão de a exasperar.

A personagem de Mrs Bucket (Bouquet) é magnificamente servida por Patricia Routledge, grande actriz de teatro — o Vítor viu-a há uns cinco anos como Lady Bracknell em The Importance of Being Earnest e ficou extasiado.

Deixo-vos a primeira parte do primeiro episódio. Depois é só irem seguido. Desejo-vos gargalhadas tão boas como as minhas.

13 comentários:

  1. Ai, ai, ai, e o que é que eu ando a rever, aos poucos? Pirraça! Ainda pensei em comprar, mas £50 era um absurdo. E me mate, que nem apreciar mas gosta de me ver contente (e ocupada), foi em busca da série, por essa net fora (vergonha, eu sei; mas já não temos onde arrumar mais dvd).
    Já nem me lembrava do Sheridan, que às tantas muda para um curso de decoração de interiores, se não estou em erro. E as broncas do marido da Violet, que se veste de mulher :D
    Ando a pensar atender o telefone da mesma forma: é a Senhora da casa.
    (até me deu um arrepio ao imaginar esta actriz a fazer o papel de Lady Bracknell. ai, quem me dera. "A bagggggg?". Como adoro essa peça, tinha-a gravada em vhs, e revi até estragar).

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  2. E o roommate do Sheridan faz as suas próprias cortinas e ganhou um concurso de bordados, não te lembras? :))))

    Afinal essa maravilhosa prestação como Lady Bracknell foi há mais tempo do que eu pensava, às vezes a noção de tempo é imprecisa. Vê esta peça tão interessante:

    http://www.telegraph.co.uk/culture/4721313/I-dont-recommend-adultery.html

    Recomendo-te também esta coisa gloriosa, que só tenho em VHS e ainda não substituí por DVD:

    http://www.amazon.co.uk/Talking-Heads-Complete-Collection-DVD/dp/B0006PTYOW/ref=sr_1_1?s=dvd&ie=UTF8&qid=1320075162&sr=1-1

    Uma série de monólogos brilhantes pelo gigantesco dramaturgo que é Alan Bennett. O dela é arrepiante. Que actriz!

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  3. P.S. Estou doida para chegar ao episódio em que ela está à espera da entrega de uns sofás, que vêm de uma empresa que tem na carrinha o prestigiante By appointment to Her Majesty the Queen. É dos que lembro melhor.

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  4. Oh, ainda não cheguei a esse episódio, estou no início da segunda temporada.
    Já agora, o The Importance que eu tanto amava e vi até rebentar a fita não era o filme de hollywood, era este: http://www.youtube.com/watch?v=FIxJvENNp4E&feature=related

    (e agora a ver esses links todos)

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  5. Esse está disponível em DVD, e para mim é possivelmente dos mais fracos.
    Tenho outro com a maravilhosa Joan Plowright como Lady Bracknell.
    Mas o meu favorito é outro, acabo de o encontrar e já estou a copiá-lo, não vá perdê-lo outra vez ;) Tem uma longa história por trás.

    A handbag?!

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  6. P.S. Estive a ver com atenção o segmento que me enviaste. O texto está mutilado (isto foi uma produção para o cinema), falta por exemplo aquela parte deliciosa em que ela lhe pergunta qual o número da casa. «Humm, not the fashionable side.»

    E acho que Michael redgrave foi uma má escolha para o papel de John Worthing, devia ser pessoa mais nova.

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  7. Não conhecia, nem me lembro de ver, mas adoro este tipo de humor e estes cenarios tão british...ganhou uma aficcionada, a Dona Bouquet! ;)

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  8. Não conhecia, nem me lembro de ver, mas adoro este tipo de humor e estes cenarios tão british...ganhou uma aficcionada, a Dona Bouquet! ;)

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  9. É impagável, vale a pena ver tudo, é só rir. :)

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  10. Amo amo amo... aqui na area social do departamento ha livros para o pessoal ler 'a hora de almoco. Muitas vezes escolho almocar a horas que nao lembra o diabo so' para nao encontrar ninguem com quem fazer sala e poder rir 'as gargalhadas com o diario da Hyacinth! E como ela se refere 'as casas? The Avenue, a residencia permanente, e Marston Hall a casa de campo em decadencia. Mas perde muito para a serie. A verdade e' que o livro so tem piada imaginando a actriz e os seus maneirismos.

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  11. O diário da Hyacinth? Hum... não sabia disso! Lá vou eu pesquisar! ;)

    Diz-me cá uma coisa: tu alguma vez leste The Queen and I, Sue Townsendd? :)))

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  12. Nao, nunca li... e' recomenda-se? Da Sue Townsend li os primeiros 2 Adrian Moles claro, na minha adolescencia. Muito bons.

    O livro chama-se hyacinth bucket's hectic social calendar. E' a agenda dela, escrita em forma de diario. Para te ser franca nao tem assim muita piada. Eu rio-me como perdida porque fico a imaginar a actriz da serie nas suas peripecias:)

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  13. Já está um bocadinho datado, mas é delicioso, vais rir como uma tarda:

    http://www.amazon.co.uk/Queen-I-Sue-Townsend/dp/0141010878/ref=sr_1_1?s=books&ie=UTF8&qid=1320329746&sr=1-1

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