segunda-feira, 19 de setembro de 2011

A mais mágica das noites




Há duas noites às quais eu, que Deus me perdoe, teria mesmo vendido a alma ao Diabo para poder ter assistido. Uma é a da primeira Lucia di Lammemoor de Dame Joan Sutherland em Covent Garden, a 19 de Fevereiro de 1959, que a catapultou para o estrelato — uma impossibilidde absoluta, se considerarmos que nem sequer tinha nascido. A outra é a do concerto de Simon & Garfunkel no Central Park, que faz hoje trinta anos.

A televisão transmitiu-o algum tempo depois, já em 1982, e vi-o com o querido Tio Fernando, já velhinho, no Hotel Florida, onde ele vivia. Ia-lhe explicando a importância daqueles dois rapazes (tinham passado apenas dez anos desde a separação do duo) e por que lhes tinha eu tanto amor. Ele sorria, divertido, bonacheirão, até porque eu não resistia a cantarolar as letras que sabia de cor. Mas a certa altura, quando começaram a cantar The Boxer, seguramente uma das suas três maiores canções, dei um pulo sobressaltado no sofá. «Que foi, filha?», perguntou o tio Fernando, admirado. Toquei-lhe no braço a pedir silêncio, depois explicava, toda eu olhos e ouvidos para os versos que eu não conhecia, que não estavam no disco original.

«Now the years are rolling by me
They are rockin' evenly
I am older than I once was
And younger than I'll be, that's not unusual.
No it isn't strange
After changes upon changes
We are more or less the same
After changes we are more or less the same.»

Foi com um nó na garganta que os ouvi. As lágrimas saltaram-me com o olhar de soslaio que Paul deita a Art aos 2:29, o sorriso de quem tem muita história comum ao baixar os olhos logo a abrir-se num riso alegre,  e correram livremente aos 2:42, com a mão carinhosa de Art nas costas de Paul. Tanto passado, o daqueles dois!

No Verão de 1983, de férias no Algarve, costumava passar ao fim da tarde, depois da praia, no Calypso, o lindo bar ao lado do Summertime, ambos decorados por Pinto Coelho. Tinham um ecrã gigantesco e tinham o filme do concerto. Revi-o incontáveis vezes, àquela hora havia pouca gente e os empregados adoravam-me. Acho que no fim das férias todos eles sabiam também todas as letras de cor.

Mais uma vez, o site em que alojo a música está em baixo. Por isso mantenho a tocar American Tune, a música que ouvi pela primeira vez no concerto e que muito depressa se tornou para mim uma obsessão. É só carregarem no botãozinho de pausa, lá em cima à direita, para verem e ouvirem Paul e Art. Não percam, vão por mim.

3 comentários:

  1. Excelente recordação. Merecida e que partilha comigo uma sensação. Tomar ter estado lá.

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  2. O meu pai temo vinil desse concerto ao vivo que comecei a ouvir desde que me lembro de ser gente e ainda hoje gosto de o ouvir :)

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  3. Percebo. Eu nunca achei este som a minha praia, mas também tenho os meus concertos fêtiche aos quais faltei. Os Queen em Wembley em 86, e os Nirvana em Portugal em 92 (este estive para ir, mas quem diria que tudo acabaria quase logo a seguir?).

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