sábado, 6 de agosto de 2011

O problema das capas

As capas são tramadas, acreditem em mim, que tenho experiência na matéria. Quando um livro vai finalmente para a gráfica já estamos tão fartos dele, de tanto ler e reler em busca de eventuais erros, que descuramos uma coisa tão básica como a própria capa. E é logo aí que a coisa pode correr mal. Mesmo muito mal.

Há muitos anos, perto de vinte, havia um organismo chamado Comissão dos Descobrimentos, com sede na Casa dos Bicos. Era uma coisa luxuosa (nem imaginam quanto, e eu não vou contar aqui, mas ainda hoje me fornece histórias deliciosas). E tinha uma revista mensal à altura, a Oceanos, luxuosíssima, papel couché do mais caro, ainda tenho ali as duas primeiras caixas, além de muito interessante (porque era) revelou-se útil, serviu-me de base para a fantástica aparelhagem que me ofereceram nos meus 40 anos até eu arranjar móvel digno. Ora as empresas, os organismos, o que quiserem, têm uma obrigatoriedade anual chamada Relatório e Contas (e não Relatório DE Contas, como se encontra muitas vezes dito e escrito por economistas ignorantes, são duas coisas distintas, temos o relatório e temos as contas). A 31 de Março de 1994 (acho que foi nesse ano, a fiar-me na memória) a Comissão dos Descobrimentos apresentava um livro imponente com o Relatório e Contas, coisa fina, a custar uma pipa de massa, paga por nós, contribuintes. Visto e revisto à pinça, à cata dos inevitáveis erros. A revisão foi escrupulosa, falhou a da capa. Que diabo, haveria assim tanto para rever numa coisa em papel caro, com uma capa linda e que dizia apenas Comissão dos Descobrimentos e Relatório e Contas?

Havia, como se descobriu quando já estava na gráfica, tudo impresso, e toda a gente andou de rabo para o ar a apanhar capas, não fosse alguma parar aos jornais. É que na palavra CONTAS faltava o t.

Foi impossível não me lembrar desta história quando há pouco comecei a ver a nova revista com olhos de ver e dei com este disparate na capa. Há vida fora da fora do apartamento? A Rititi não merecia isto.


14 comentários:

  1. Oh como eu conheci a Comissão dos Descobrimentos e a revista Oceanos!
    Foram anunciantes do JL, logo meus fregueses... até à extinção do organismo e da luxuosa revista. Conservo duas delas, as restantes fui oferecendo a pessoas a quem queria impressionar :)

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  2. Conceição, aquilo impressionava mesmo! Era de um luxo asiático! Palavra que suplantava um catálogo da Christie's.

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  3. O cúmulo de um erro numa capa é transformar-se um título como Os Amantes Sem Dinheiro em Os Amantes do Dinheiro. Deus meu, como é possível que ninguém tivesse dado por nada até que o livro estivesse nas livrarias? Chego a perguntar-me se não seria uma ironia deliberada de uma alma perversa.

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  4. Teresa,
    "Um luxo asiático" (adorei!) com, gerência lusa, tinha que dar buraco!
    E as dívidas, e as dívidas...
    Cala-te boca :)

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  5. Desculpe a brejeirice, Teresa,mas o erro (contas sem "t") não seria mesmo adequado ao nome da sede, sita na chamada Casa dos Bicos?

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  6. Comprei a revista e confesso que o meu olho clínico não apanhou essa gralha... mas à Teresa não escapa nada ;)

    Quanto à revista, gostei de quase tudo o que li... mas sinceramente não sei se a voltarei a comprar...

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  7. José,
    Ai, José, as coisas que eu podia dizer-lhe!!!

    Espreite este post sobre um livro de Ken Follet, que vários blogues reproduziram, copiando a asneirada da editora na contracapa:

    http://jjoaovalentim.wordpress.com/2011/06/23/o-homem-de-sampersburgo-de-ken-follett/

    «Tendo como palco a Londres vitoriana, O Homem de Sampetersburgo é um emocionante romance sobre um revolucionário russo que viaja até Inglaterra para tentar criar um incidente internacional.
    A acção decorre em 1914, quando a época vitoriana vivia os seus dias de glória (...)»

    Os dias de glória da época vitoriana em 1914? Como é possível? Depois dela já tinha passado a eduardina, e o rei já era Jorge V. Ó céus! Eu é que sou uma idiota.

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  8. Conceição,
    Aposto que não sabe dos teclados dos computadores. Ia ficar a rir até ao próximo ano. Cala-te boca. ;)

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  9. Dulce,
    A revista está pejada de asneiras ortográficas e gramaticais. Logo na primeira página o editor sai-se com um "pretencioso" (devia ser pretensioso, claro, mas condiz). À Rititi escreveram Badajós (Badajós, credo!!) por três vezes, fora a desgraça da chamada na capa, e ela tem de longe o melhor texto da revista, ainda bem que aparece na última página, sempre consegue reconciliar-nos com aquilo.

    Nem imagina quanta asneira encontrei. Sabe o que a revista me parece mesmo? Um exercício de vaidade. Não vai durar. Mais um número ou dois, no máximo.

    E, como eu dizia em privado hoje a uma amiga:

    «Falando sério: ainda bem que não participas disto. O meu jantar de hoje foi acompanhado da leitura da revista (ainda não estou descansada quanto a uma indigestão). É má, é muito má. É tudo pretensioso (o editor escreve pretencioso), tipo famous last words, bora cá botar faladura. Erros ortográficos em barda, de construção gramatical nem se fala. À Rititi, que tem de longe o melhor texto, conseguiram escrever-lhe Badajós três vezes. Badajós!

    Apetecia-me escrever mais sobre a revista na Gota, mas poderia passar uma imagem de despeito por não participar, há sempre boas almas a quem essas ideias ocorrem. O meu conselho para futuros números da revista é um só: arranjem um bom revisor e paguem-lhe bem, vai merecer cada cêntimo. Mas atenção, também tem de ser bom a editar, que aquela gente escreve asneiras de arrepiar.»

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  10. Lembro-me muito bem da revista Oceanos, luxuosa e muito bonita. A tua história do Relatório e Con(t)as lembrou-me uma parecida, de um amigo meu dirigindo-se por escrito a um ministro, mas neste caso sem remédio, porque, quando deu por isso, já tinha enviado a carta: "Exmo Senhor Ministro, venho solicitar uma audiência porque tenho um pedido muito urgente que precisa de solução imediata." Na palavra "pedido" faltava o primeiro d... :-)

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  11. Ana,
    Segue em privado história de uma gaffe monumental que eu apanhei a tempo no Colosso. Vais rir pouco, vais. :)

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  12. Cheguei a ter uma uma camisola com o símbolo dos Descobrimentos. Bom material!
    E obrigado por nos fazer rir aqui na sala :-)

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  13. É impossível não rir com isto, não é? :)

    E a revista era mesmo muito boa.

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