terça-feira, 9 de agosto de 2011

Até que o divórcio nos separe

Ontem, em mais um episódio de Desperate Housewives (já foi anunciado que a próxima temporada será a última), Lynette e Tom Scavo separaram-se, ao fim de mais de vinte anos de casamento. O que me fez lembrar uma conversa tida há dias ao almoço com a minha amiga Luísa.

Debatíamos como ultimamente era grande o número de casamentos de  muitos anos que chegam ao fim. Entre as nossas amizades são imensos. Quando fui ao primeiro jantar trimestral do meu grupo do Liceu, em 1996 (os jantares tinham começado no ano anterior), éramos 18, só três de nós não éramos casados. Os casados, a esmagadora maioria, já levavam quase todos mais de dez anos de casamento em cima e não havia um único divórcio. Agora, quinze anos passados, é raro que a cada novo jantar não fique a saber de mais uma separação. Com algumas histórias tétricas pelo meio, a começar na mulher encantadora de um de nós, com quem eu, mesmo sem a conhecer, acabava por ter grandes conversas ao telefone quando ligava para o marido, e que sem dizer água vai, quando percebeu que a separação estava por dias, se apressou a limpar-lhe uns largos milhares de contos de uma conta conjunta. O meu amigo andou uns bons três ou quatro anos para se reequilibrar financeiramente. Ela, no meio disto tudo, quase todas as noites se enfiava no carro e ia parar discretamente perto do prédio para onde ele se tinha mudado, a vigiar as entradas e saídas, e se havia luz nas janelas — e sei isto confessado pela própria, de uma vez em que me telefonou. Há uma história caricata de divórcio e recasamento, e nova separação (já estão novamente juntos, mas desta vez não casaram). Há o caso do meu amigo que descobriu que a mulher andava a traí-lo com o melhor amigo (um clássico), que ainda por cima era patrão dela. O Vítor e a mulher, durante tantos anos o casal mais feliz e harmonioso que alguma vez conheci, separaram-se ao fim de 24 anos. Há casos de graves crises que iam desembocando em divórcio, mas que conseguiram ser superadas, só não se sabe até quando. Mas a verdade é que as separações vão sendo cada vez mais frequentes no nosso grupo.

Claro que há casamentos que me parecem muito sólidos, como os da São, da Clara, da Vanda, da Eunice ou do António. Há o caso único do Helder e da outra Eunice do nosso grupo, namoro começado ainda no Liceu e casamento que dura até hoje. E é uma delícia conversar com cada um em separado e ver e ouvir o carinho, a admiração e a consideração com que cada um fala do outro. Ainda há coisa de dois meses o Helder veio almoçar comigo (trabalha muito perto do Colosso) e, falando dos problemas de saúde dos pais, uma situação complicada de gerir, me dizia coisas enternecedoras como "não imaginas como a Eunice é extraordinária, o jeito, a meiguice e a paciência que tem para os meus pais!" Faz bem à alma ouvir coisas destas. Como faz bem à alma pensar na história da Leninha e do João, que já contei aqui e aqui. O divórcio da Leninha, ao fim de 18 anos de casamento, foi dos primeiros divórcios tardios do nosso grupo. Quatro anos depois ela e o João reencontravam-se e estão quase a completar um ano de casados.

O fim de qualquer relação entristece-me sempre. Traz consigo sofrimento para as duas partes, sofrimento para os filhos. E era isso que eu debatia naquele almoço com a Luísa, ela própria casada há vinte e muitos anos, a admitir francamente que nem sempre era fácil, que havia altos e baixos, necessidade de muita compreensão, de muitas concessões, de muita paciência. Pode ser isso que falha e que acaba por ditar tantos divórcios. Ou então, hipótese que também equacionámos, chega-se à conclusão de que aquela relação há muito que não é satisfatória, que não chega, que não preenche. Os filhos já estão crescidos e vivem as suas próprias vidas. Quer-se mais, talvez emoção, talvez entusiasmo, qualquer coisa que já não se tem e se quer voltar a ter, enquanto há tempo, antes que seja demasiado tarde.


2 comentários:

  1. Este texto é mesmo bonito, sincero, e acho que todo o mundo se poderá reconhecer, mesmo que tenha círculos de amigos diferentes. Venho de uma família onde o divorcio é a palavra chave, onde a admiração por esses casais juntos é a minha maior fonte de admiração, onde eu própria tento não nutrir frustrações (porque também quero tentar), enfim.

    As histórias de divorcio pesam-me (menos quando é a beneficio de alguém, como alguém que era maltratada/o), e essas historias de sucesso do amor são o açúcar da vida. ;)

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  2. Eu própria sou filha de pais divorciados. Apesar de nunca ter assistido a discussões, as crianças percebem que as coisas não estão bem. Se não há solução, mais vale partir para o divórcio, é mais saudável do que ambientes tensos.

    E continuemos a acreditar que haverá sempre as excepções.

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