quinta-feira, 14 de julho de 2011

Medicina caseira

No café dois prédios adiante do meu há muitas pessoas que conheço de vista e a quem cumprimento sem saber senão dois ou três nomes, os dos que têm bichos. Esta manhã, estava ao balcão a beber o meu café quando entra uma senhora que me aborda com um ar radiante, a mostrar-me uma mão onde há pouco tempo havia uma verruga: «Nem acredito! O seu tratamento resultou mesmo! Nem sinais dela, está a ver?» E rimos ambas com gosto.

Pois é, meus amigos, eu tenho um remédio caseiro, milagroso e infalível para as verrugas. Podem rir para aí à vontadinha e duvidar, o que vos garanto é que funciona. Só não me perguntem como nem porquê.

Teria eu uns sete ou oito anos e estávamos de férias em S. Martinho (não pode ter sido mais tarde, porque ainda existia o Café Tábuas, que já só os mais velhos do que eu provavelmente lembrarão), a minha Mãe descobriu que lhe tinha aparecido uma verruga numa mão. A meio da manhã, num daqueles momentos de sornice que se seguiam a um dos muitos banhos diários, os miúdos entretidos com leituras diversas, eu provavelmente agarrada a um livro dos Cinco comprado no Coxo da rua dos cafés, as senhoras ocupadas com as agulhas de malha ou de renda, a minha Mãe levantou-se e anunciou que ia à farmácia, a ver se lhe receitavam alguma coisa para aquela verruga horrorosa que lhe tinha aparecido. Um dos nossos vizinhos de barraca, médico, pediu para ver. Com um sorriso meio embaraçado, deu-lhe um conselho surpreendente. Não valia a pena ir à farmácia, iam receitar-lhe nitrato de prata, ou lá o que era, uma coisa que queimava e deixava a mão muito feia. O que ela ia fazer era, todas as manhãs, em jejum, molhar um dedo em saliva e esfregá-lo na verruga. Ficou a minha mãe estarrecida e ficou toda a gente em volta (ah, que saudades dessas férias de infância, os vizinhos de barraca os mesmos de ano para ano, os anos a desdobrarem-se numa continuidade serena e feliz!). Mas o homem era médico, que diabo! E mal não fazia. Pouco convencida, e acho que mais para ser amável do que outra coisa qualquer, a minha Mãe seguiu o conselho. E o raio da verruga desapareceu como por artes mágicas em coisa de uma semana.

Há uns vinte anos, estava a minha irmã casada havia pouco tempo, apareceu também uma verruga ao meu cunhado. Foi à farmácia, receitaram-lhe o usual para aquilo, a verruga não só não desaparecia como lhe doía imenso e aquilo estava com um aspecto muito feio. Num almoço de fim-de-semana o assunto veio à baila e a minha Mãe lembrou-se da velha receita milagrosa. O meu cunhado riu, fez imensa troça. Eu era a única a lembrar-se daquele episódio tão antigo, claro, a Ana à época tinha um ou dois anos, e garanti-lhe que era verdade. Como não tinha nada a perder, ele lá se decidiu a experimentar. Suponho que já estejam a calcular o que aconteceu à verruga. Pois é, meus amigos: foi-se.

Uns anos mais tarde, foi a minha vez. Nasceu-me uma verruga na base da unha do polegar direito. Minúscula a princípio, cedo começou a alastrar para os lados e a cobrir toda a raiz da unha. Coisa mesmo feia de ver, tão feia que ganhei o tique de tapar o dedo com o indicador, como quem faz uma figa. E é curioso como esquecemos certas coisa: nem sequer me lembrei da velha receita do nosso vizinho médico de S. Martinho. Foi a minha Mãe, uma vez mais, que ma lembrou. Todas as manhãs, mal acordava, ainda na cama, lá molhava eu um dedo em saliva e esfregava diligentemente aquela excrescência que tanto me incomodava. O resultado foi o de sempre, o mesmo sucesso absoluto. A verruga, que na verdade já eram várias, miúdas e coladas umas às outras, desapareceu em pouco mais de uma semana.

Suponho que esta receita tenha algo que ver com algum suco gástrico activo quando ainda em jejum, não faço ideia. A explicação não me interessa grandemente, só me interessa a eficácia, que é total. Assim, e confiem em mim: se vos aparecer uma verruga, ou a alguém que conheçam, deixem-se cá de modernos tratamentos de azoto e coisas similares que vos custarão uma pipa de massa num consultório de um bom dermatologista. Saliva, a vossa própria saliva, em jejum. E depois contem-me.

7 comentários:

  1. Que curioso! Em miúda tive várias verrugas, que desapareceram com o tempo. Espero que não reapareçam para eu testar o seu remédio. Muitos beijinhos.
    P.S. Obrigada pela foto do Patrick Stewart cheio de caracolitos. Priceless!

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  2. Oh Teresa! Que coisa! Nunca pensei vir a dizer semelhante barbaridade, mas em verdade "tenho pena de não ter uma verruga". É que agora gostava mesmo de experimentar essas artes de Merlin.

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  3. Teresa!! Se este seu tratamento resultar, fico-lhe eternamente agradecida! Tenho verrugas há anos, que se foram alastrando nos dedos da mão direita, mesmo junto às unhas. Tenho um produto para as queimar, mas por mais que o aplique e que o tamanho reduza, de facto, substancialmente, nunca consigo "matá-las" e voltam sempre a crescer. Até porque chega a uma altura em que tenho de fazer uma pausa, porque fico com a pele toda queimada! Vou tentar, sem dúvida. Obrigada pela dica.

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  4. Secretária,
    A minha confiança no tratamento é total, já o vi resultar vezes suficientes. Boa sorte e depois venha cá contar. Não se trata de redução, trata-se de desaparecimento. Até pode levar mais de uma semana, não desista e não se esqueça: logo de manhã, em jejum, saliva com a verruga.
    Confio inteiramente.

    Julie,
    Também espero que não reapareçam, credo!

    Marta,
    Careful what you wish for, seria uma pena ter essas unhas tão bonitas e primorosamente cuidadas conspurcadas por tão feia coisa! :)

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  5. S. Martinho? Que saudades da R. dos Cafés, da Bony e até do nevoeiro matinal...e o pão quente? Meu Deus o pão quente! S. Martinho era sinónimo de festa.

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  6. Do Café Tábuas efectivamente não me recordo, mas do Coxo da Rua dos Cafés sim. :) Também lá passava muito tempo em férias, a namorar as lombadas dos livros para escolher o próximo que iria pedir aos meus pais. :)

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  7. Teresa o que recomenda para quem sofra de insónia crónicas? Alguém que mesmo com recurso a medicação tenha dificuldade em simplesmente adormecer e se o faz passa 90% do sono no estágio 4 do sono REM e acorda mais cansado do que aquilo que se deitou. Para alguém que tem pesadelos dia sim dia sim e se lembra de cada detalhe cruel durante todo o restante dia que permanece acordado...

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