sexta-feira, 22 de julho de 2011

I ♥ books

Acho que nunca contei aqui que tenho verdadeiro ódio a centros comerciais, e quanto maiores forem mais a coisa agrava, porque maiores são as probabilidades de vermos uma interminável sucessão das mesmas lojas. Quando vivia em Sintra, por exemplo, só ia ao CascaiShopping em caso de extrema necessidade, para ir a uma loja específica, que normalmente era a Worten, mais raramente a Fnac. E planificava a ida de forma a chegar ao meu objectivo pela via mais directa: parava o carro no parque de estacionamento de cima, entrava pela Sport Zone, descia nas escadas rolantes e desembocava mesmo onde queria. Compras feitas, era só repetir o percurso em sentido inverso, sem deitar sequer um olhar em volta.

Na semana passada tive mesmo de ir ao Colombo (pesadelo!), o meu perfume e o Terracota da Guerlain, fiel auxiliar de composição de um ar apresentável há longos anos, tinham acabado. Ainda por cima calhava bem, tinha recebido um SMS da Companhia dos Perfumes a dizer que estavam com promoções de 20%. Procedimento igual, entrada pela porta que me permite acesso mais directo, ida à loja, compra feita, regresso a casa. Bem sei que estava tudo em saldos e que no meu caminho, mesmo o mais curto possível, até passei por lojas. Não olhei para uma única montra. Suspeito que esta minha característica não seja lá muito feminina. Paciência.

Em contrapartida, ontem entrei numa livraria. Gosto, sempre gostei de livrarias. Nos anos do Liceu, quantas horas passadas na Bertrand da Estefânia a folhear livros, a conversar com um empregado cuja cara ainda lembro! Anos mais tarde, quando comecei a trabalhar, a minha Mãe dizia a rir que sabia sempre o dia em que eu recebia o ordenado, porque entrava em casa carregada de livros. Ora acontece que ontem tinha combinado jantar no Aya com um amigo. Uma reunião a demorar mais do que o previsto fê-lo atrasar-se e deu-me uma meia hora para gastar. As Torres Gémeas (nem me perguntem o que acho do nome) têm uma livraria Bulhosa, lá me enfiei.

Acreditem ou não, havia muito tempo que não entrava numa livraria, a Amazon é a minha mais querida amiga. Fiquei surpreendida com a enorme quaantidade de livros delicodoces com títulos românticos. Se são tantos, a única conclusão a chegar é que aquilo vende. Reparei também na variedade de livros com supostas maneiras de enfrentar a crise actual em exposição numa das montras. 

Fiquei contente por ver que há uma nova edição, de ar apetecível, de um grande livro, Os Buddenbrook, o meu favorito de Thomas Mann. Vi muitos volumes de ar fresco e reeditado da minha querida colecção Dois Mundos, que tantos grandes autores me deu a conhecer entre os dez e os vinte anos. Esses anos da dezena são de certeza os mais fecundos na vida de quem ama a a leitura e os livros.Para mim foram, e sei que nunca mais voltarei a ler tanto e durante tantas horas como nesse tempo, cujo apogeu deve ter-se situado entre os 14 e os 17 anos. O que eu li nessa idade, santo Deus!

Já ao balcão, enquanto o empregado procurava no computador informação sobre os livros da Cristina Torrão, reparei num livro, ali à mão de semear, já na caixa, suponho que o princípio seja o mesmo que põe as revistas mais idiotas na zona das caixas dos supermercados (nos Estados Unidos são os tablóides). O livro era este. Revirei os olhos. Folheei-o. O autor, Rodrigo Freixo, é pessoa de grandes qualidades e competências, segundo incensa uma das badanas. Um bom português é que não está entre elas, já que em coisa de um minuto encontrei três asneiras graves (e isto só a folhear, meus amigos!). Um "houvessem" (página 77); um "quanto muito" (é quando muito); um "do" que era obrigatoriamente "de o". Mesmo ao lado estava outro livro sobre o mesmo assunto, de autor diferente. Tive medo de lhe pegar, estava já suficientemente traumatizada.

Mas fiz compras, pronto.

Foi irresistível. Uma bela edição encadernada com toda a poesia,
ainda embrulhada num celofane protector.


Eu e as biografias, pronto. Expliquem-me só que disparate de capa é este. Tive de verificar na contracapa para me certificar de que era mesmo uma biografia da lendária rainha do Egipto.



É mais forte do que eu, pronto. Não há volta a dar-lhe, tenho paixão por biografias. Esta tem uma história curiosa. Foi o primeiro livro em que peguei ao entrar na livraria. Edição portuguesa, brochada (esta). O preço? € 27,50. Então não, coração! Nota mental: ver na Amazon. Óbvio, não? Já a caminho da caixa para pagar os outros dois, vejo de repente a edição original americana. Encadernada, este apetite que se vê na imagem, com mais fotografias. Por € 25,00. 

Como ainda me foi feito um desconto mais simbólico do que simpático (acho que retiraram uns 9% ao valor das compras), não vou consumir-me em arrependimento. Mas uma coisa é certa: tão cedo não volto a comprar livros em Portugal.

Para rematar o assunto, chegaram-me ontem pelo correio dois livros oferecidos pela Presença no Facebook, só paguei os portes de envio, menos de três euros. Mais gente que aderiu à iniciativa na mesma altura deve estar a receber os seus: a Madalena, o Abel, a T do Dias que voam, a Alexandra. Pena é que os títulos disponíveis fossem poucos, acabei por fixar-me nestes. Foram baratos, pronto, estou desculpada?


12 comentários:

  1. Os meus livrinhos da Editorial Presença também já chegaram! Passatempos destes agradecem-se :)

    Eu sei que a Teresa não gosta nada da FNAC mas ultimamente aproveito sempre as promoções deles (livros com 40% de desconto, pague 2 leve 3, etc.) e para quem tem cartão FNAC trazem tudo a casa "grátes". É uma maravilha.

    (Teresa, ando feita louca à procura de dois livros do Yukio Mishima que foram editados pela Presença nos anos 80 e não encontro em lado nenhum. Chamam-se "Cavalos em Fuga" e "A Queda do Anjo". Se por acaso souber de algum lugar que os venda, diga-me por favor!)

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  2. O da Barbie promete!!! Certamente conhece a Lello no Porto. Perco-me horas em livrarias... São sitios mágicos.

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  3. Inês (há quanto tempo!),
    Fiz uma pesquisa sobre os livros de Mishima e de facto não os encontro (fora a infestação de páginas brasileiras). Veja aqui esta informação do André:
    http://andrebenjamim.blogspot.com/2007/02/cavalos-em-fuga.html

    A única hipótese que vejo são os alfarrabistas. Tomei nota, vou passar a perguntar. Os livros hão-de acabar por lhe chegar ás mãos, mais cedo ou mais tarde. :)

    Raquel,
    Só encomendei o da Barbie (além de haver realmente poucos títulos apetecíveis para escolher) porque está em produção ou pós-produção, nem sei bem, um filme sobre ele com Sarah Jessica Parker. O livro foi um best-seller.
    E umas leituras frívolas sabem bem, não vou negar.

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  4. Obrigada Teresa! Era o que eu temia, que estivesse esgotado e nunca mais fosse reeditado. Também entrei em contacto com a Presença mas até agora não me responderam, presumo que receberei a mesma resposta que o André.
    Li o primeiro volume da tetralogia e quando fui para pegar no segundo descobri que não o tinha. Só tinha o terceiro. Não sei bem como é que isto aconteceu... Este ano procurei em várias bancas na Feira do Livro e nada :(

    (eu desapareci da escrita mas não desapareci da leitura)

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  5. Sim, por momentos, antes de fazer scroll down, pensei que a Cleópatra era uma noiva... jordana? Não sei, daquelas bandas certamente; mas actual, não de Antes de Cristo.

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  6. A capa é estranha à primeira vista, mas pensando bem faz sentido: o diadema e a púrpura* reais, as pérolas, o chignon, de uma forma ou outra coisas que ela usava com certeza.

    *púrpura clarinha, mas enfim...

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  7. Já passei muitas horas na praia a ler deliciada Candace Bushnell... Se for bom entretenimento, recomende-me que também vou querer ler ;) E a capa do Cleopatra é de facto sinistra.

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  8. De facto, a capa do Cleópatra não cativa ninguém. Pelo menos, ninguém que se interesse por leitura séria. Parece uma capa da Danielle Steel, ou coisa que o valha.

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  9. Olá, boa tarde

    Não sei se conhece este site:
    http://www.bookdepository.co.uk/

    Mas recomendo, já percebi que lê muitos livros no original. Para Portugal não paga os portes do envio.

    Catarina

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  10. Teresa: o Atto Meleni autor do livro "O Segredo dos Conclaves" (que, a propósito, também tenho) é o personagem principal dos romances históricos "Imprimatur" e "Secretum", do casal de autores Sorti e Monaldi. São absolutamente brilhantes do ponto de vista da exactidão histórica.

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  11. Que saudades de ler! Estive no ECI no outro dia, a ver se alguma coisa me inspirava, mas anda tudo pela hora da morte. O que é remotamente interessante custa os olhos da cara. Pior: a escrita a metro ( que consumo como literatura de comboio), também custa os olhos da cara :(.

    Gostei da biografia da Cleópatra, mesmo com a capa duvidosa. Suponho que um pingente em ouro seria mais adequado do que aquelas pérolas horrorosas (odeio pérolas), mas pronto...

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  12. acerca do modo como a sua referência, neste post, a Os Buddenbrook, me levou a procurar reler o romance: http://leitordeprofissao.blogspot.com/2011/07/thomas-mann-os-buddenbrook.html

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