segunda-feira, 11 de julho de 2011

Deus quer, o homem sonha, a obra nasce

Há pouco mais de um ano, a Maria contava-nos o seu sonho. Que não era bem um sonho, não era um mero castelo no ar à moda de Mofina Mendes, como tantos se vêem por aí: era um objectivo. E, como escrevi na altura e continuo a pensar, «a diferença entre um e outro reside no facto de que ter um objectivo passa por ter um plano para o pôr em prática. Não se fica a sonhar que nos sai o Euromilhões. Arregaçam-se as mangas e vai-se à luta, que para a frente é que é o caminho.»

Foi o que a Maria fez em todo este ano. É certo que foi amparada por uma enorme rede de afectos e de solidariedade, de gente a querer ajudar. O que não sei bem quantas pessoas poderão imaginar é todo o enorme esforço suplementar em horas arrancadas a um descanso muito merecido que este projecto lhe tem exigido ao longo de um ano. Eu sei, porque muitas vezes falámos sobre isso de viva voz. Outras pessoas sabem. Mas não todas. Durante mais de um ano a Maria tem tido a casa transformada num acampamento, deita-se altas horas da manhã (e quantas vezes falámos a horas incríveis) depois de ler e responder a mensagens, de vigiar as ofertas dos sucessivos leilões. Passagens diárias nos correios para expedir os artigos licitados, frequentemente com uma sensação de frustração quando as encomendas vinham devolvidas por irresponsabilidade de quem tinha licitado. Isto para não falar dos vencedores das licitações que depois desapareciam como desfeitos em fumo. De tudo isto foi feito este último ano da Maria.

Mas eis que, in a simple twist of fate, como cantou Bob Dylan numa das canções que me são mais queridas, todo o cenário em que a vida da Maria se equacionava dá uma surpreendente e enorme reviravolta. Tão grande, tão grande, que a leva para muito mais longe do que Bruges, a duas horas de avião, tão grande que a leva para o outro lado do mundo, para uma terra que já foi portuguesa. A Maria vai para Timor e eu, que há algum tempo, desde a primeira hora, sabia dessa extraordinária notícia, alegrei-me por ela e com ela. Tal como outras pessoas. Novos caminhos se desenham, imprevistos e abençoados, reafirmando a minha crença em que o esforço acaba por ser recompensado. Talvez afinal a Maria nem tenha de passar pelo Colégio da Europa, quem sabe? Talvez a Maria, depois deste voluntariado de seis meses, tenha a entrada pela porta grande facilitada na ONU, seu grande sonho de sempre. Com muito trabalho pelo meio, sabe-se, mas ela não é nem foi nunca mulher de se esquivar ao trabalho, antes se atirou sempre a ele com unhas e dentes. O futuro a Deus pertence e eu acredito que Ele reserva grandes coisas à Maria.

Uma única e grande mágoa: a impossibilidade de levar o Gato. E o que ela batalhou por isso! Mas ter um bicho não é diferente de ter um filho, pensa-se sempre nele e no seu bem-estar em primeiro lugar. O Gato fica bem, muito bem e muito mimado, tendo a sua custódia sido disputada por quatro pessoas diferentes. Eu própria me teria oferecido para o receber, não fosse ter já duas princesinhas voluntariosas que teimam em recusar qualquer convívio. Espero que em Timor a Maria tenha boa ligação à Internet, que possa ver diariamente o Gato pelo Skype para que ambos possam matar saudades. 

Minha querida Maria, não preciso de dizer como estou orgulhosa de ti, pois não?


Explicação: é uma música exultante e empolgante, que anuncia novos tempos, grandes conquistas. Deu a Carly Simon um muito merecido Oscar de melhor canção em 1988. Era a música que o Vítor me sugeria que pusesse aqui no dia da vitória de Barack Obama. Ponho-a hoje e escolho o mesmo título que dei a esse post de 5 de Novembro de 2008: Deus quer, o homem sonha, a obra nasce. Acho muito apropriado.

Let the River Run 

We're coming to the edge,
Running on the water,
Coming through the fog,
Your sons and daughters.

Let the river run,
Let all the dreamers
Wake the nation.
Come, the New Jerusalem.

Silver cities rise,
The morning lights
The streets that meet them,
And sirens call them on
With a song.

It's asking for the taking.
Trembling, shaking.
Oh, my heart is aching.

We're coming to the edge,
Running on the water,
Coming through the fog,
Your sons and daughters.

We the great and small
Stand on a star
And blaze a trail of desire
Through the dark'ning dawn.

It's asking for the taking.
Come run with me now,
The sky is the color of blue
You've never even seen
In the eyes of your lover.

Oh, my heart is aching.
We're coming to the edge,
Running on the water,
Coming through the fog,
Your sons and daughters.

It's asking for the taking.
Trembling, shaking.
Oh, my heart is aching.

We're coming to the edge,
Running on the water,
Coming through the fog,
Your sons and daughters.

Let the river run,
Let all the dreamers
Wake the nation.
Come, the New Jerusalem.

4 comentários:

  1. Fiquei tão feliz com esta notícia, Teresa querida! A Maria passou em todas as fases de avaliação porque só podia passar! Porque nunca reprovamos quando nos põem à frente um sonho há tanto perseguido. Um beijo enorme às duas*

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  2. Ai Teresa, mulher, que me deixas logo a estas horas do dia com vontade de te dar um valente abraço.

    O caminho foi duro, sim, mas com amigas como tu, a Madalena, a Luna, a Bad, e tantas outras que me ajudaram, a coisa faz-se bem. E a privilegiada aqui fui eu por ter contado com o carinho e o apoio de tanta e tão boa gente desde o início.

    Quando tu tens dois brilhantes veterinários a dizerem-te que esta viagem seria um risco para o Sebastião (e tu sabes isso porque acompanhaste de muito perto) não há volta a dar.

    O Sebastião fica muito bem entregue, sim, e a minha amiga que vai ficar com ele vai ficar também com o teu contacto e do do Prof. Joaquim Henriques.

    Beijo grande.

    Vou dia 22 de madrugada, mas antes disso ainda te ligo.

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  3. Não conhecia a História da Maria, também não ando por aqui à muito tempo! Mas fico muito feliz por ela! Muito, muito! Já não têm muita utilidade as minhas palavras nesta altura do campeonato, mas ficam os votos de toda a sorte do Mundo! Porque se há justiça natural, a sorte também tem ser para quem trabalha por ela e a merece!

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  4. A Maria merece...ela que procure em Timor o João Carvalho e diga que vai da minha parte! Beijinhos MARIA, muitos Beijinhos Rapariga!

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