sábado, 7 de maio de 2011

Nação Valente

Helena Sacadura Cabral pedia hoje, no seu blogue, que todos divulgássemos o filme abaixo. O nosso embaixador em Paris, cujo blogue conheci e passei a acompanhar com muito interesse aquando da manifestação da Geração à Rasca, também o divulgou, numa espécie de post scriptum para a sua notável Carta a um diplomata finlandês. A carta viria a ter enorme repercussão e a sair na imprensa. O "caro Steinbroken" a quem é dirigida mais não é do que o conde de Steinbroken, o caricato embaixador da Finlândia de Os Maias, razão pela qual o meu comentário foi apenas um sibilino e só para iniciados «C'est grave, c'est excessivement grave.»

Só não publico esta entrada mais cedo porque estive horas numa guerra feroz com o Fileden (o que lhes valeu uma wild letter, que uma fúria minha é como Varsóvia depois da guerra — não fica pedra sobre pedra). Pequena amostra:

This is going too far! Now I cannot access Fileden page without being redirected to a disgusting page of prostitution (check the enclosed printscreen). There is no way I can access my account, which happens to be a paid one. I demand an explanation and an immediate answer.

Sincerely,

Tudo isto porque, tal como não vivo sem música, este blogue também precisa dela. E eu queria alojar (e pago para isso) música de um compositor português para acompanhar esta entrada. Bem sei que neste ponto as opiniões são desencontradas. Há quem abomine encontrar música em blogues, e é a pensar nessas pessoas que ela está tão visível, ao cimo da barra lateral: é só carregar no botão e a música pára — coisa que, agora, vos peço para fazerem quando virem o filme abaixo. Por outro lado, tenho recebido muitas mensagens, quer em comentários quer em e-mails, de pessoas que acham que este blogue sem música não seria o mesmo, que é frequente voltarem cá repetidamente no mesmo dia só para voltar a ouvir a música que está a tocar. Há quase sempre uma relação muito estreita entre a música que toca e o que vou escrevendo, mesmo que só para mim possa ser perceptível.

Vamos agora ao filme e à minha opinião sobre ele. Podia ser melhor, podia ser muito melhor, podia. O ideal seria um cruzamento entre ele e uma notável apresentação em powerpoint que recebi há uns dois ou três anos e que está algures na minha cada vez mais atafulhada caixa de correio, porque jamais apagaria coisa de tanta qualidade. O filme, falando francamente, tem coisas idiotas e dispensáveis, a meu ver. Que diabo é aquela parte sobre o porco e em que é que isso nos torna melhores? Qual será a relevância de Portugal ser o único país europeu que nunca ganhou o festival da Eurovisão? Outras há, evidentemente, mas devemos fixar-nos na mensagem final, na campanha organizada em Portugal, em 1940, para angariar ajuda para um país em sérias dificuldades. Os mais novos talvez não saibam, mas decorria a II Guerra Mundial. Portugal ficou fora do conflito mas também lhe sofreu as consequências, houve racionamentos e bichas para os bens essenciais, como o leite. Ainda assim, tal como a minha família acolheu uma menina austríaca enviada pela Caritas, Portugal estendeu a mão solidária para ajudar um país distante de língua incompreensível: a Finlândia. Passaram 70 anos, é certo, mas a gratidão é sentimento bonito e não tem prazo de validade.

Leiam a carta do nosso embaixador, vejam o filme. E, já sabem, parem a música do grande Carlos Seixas no seu soberbo Concerto para Cravo e Cordas.


10 comentários:

  1. O filme é interessante e bom para nos aumentar a auto-estima.
    No entanto, a parte final, que lhe agradou, Teresa, tem para mim dois defeitos, que aliás já apontei no Facebook:
    #1 os actos de generosidade não se cobram;
    #2 julgo que em 1940 os finlandeses não levavam vida de rico com dinheiro emprestado. Nós, portugueses de 2011, pedimos solidariedade para continuar a gastar da mesma maneira.

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  2. Gi,

    #1 De acordo, inteiramente de acordo. A falha é do lado de lá, que precisa de avivar a memória.

    #2 Essa é tramada, e receio que verdadeira. Não tinha pensado nisso, e temo que haja aí muita verdade.

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  3. Obrigado pela ligação ao Steinbroken. E é excelente a escolha do Carlos Seixas (sem invocar qualquer inexistente parentesco...)

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  4. este post é uma síntese perfeita de todas as virtudes do seu blogue: a sofisticação e o cuidado com os leitores (música, mas só para quem quiser), a erudição subtil, isto é, que não grita «olhem para mim» (referência ao Steinbroken) e sobretudo uma capacidade crítica que a faz distinguir cuidadosamente o trigo do joio - num vídeo que nos arrasta facilmente por razões afectivas e superficialmente patrióticas, analisa tudo o que é irrelevante, absurdo ou contraproducente. se a tudo isto acrescentarmos o estilo e o sentido de humor, está tudo dito. que bom tê-la decoberto!

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  5. e no apagão perderam-se também comentários. tinha feito aqui um, em que lhe dizia que este posts sintetizava perfeitamente todas as virtudes do seu blogue. o cuidado com os leitores (tem música, mas como irrita certas pessoas, é só para quem opta por ela); a cultura que não se exibe («olhem para mim, olhem para mim»), mas aparece subtil e constantemente; e a capacidade de distinguir o trigo do joio: repare-se como num vídeo que nos arrasta facilmente, pelo conteúdo afectivo e patriótico, distingue o essencial do acessório, do absurdo e do contraproducente. se a isto associarmos o seu estilo e o seu sentido de humor, percebe-se porque sou fã.

    tenho-a recomendado em todas as esferas.

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  6. Caro Francisco,
    Espero não soar desrespeitosa não lhe dando a excelência que lhe é devida, e não o tratando por Senhor Embaixador. Mas aqui vejo-nos apenas como dois bloggers.
    A sua ideia de dirigir aquela carta tão acutilante a Steinbroken, justamente a Steinbroken, foi um rasgo de génio, uma inspiração divina, nem sei bem que lhe chame. Divulgá-la ainda mais do que já tinha sido era imperioso, para mais sendo Os Maias, inquestionavelmente, o livro da minha vida.

    Vou mais longe e lanço-lhe um desafio que, ou muito me engano, lhe dará prazer. Gostaria de conhecer as suas respostas no seu blogue. Torna-se assim o meu 11.º desafiado (e nem imagina como as respostas dos anteriores foram gratificantes e me lembraram títulos que deixei vergonhosamente de fora).
    O desafio está aqui:

    http://gotaderantanplan.blogspot.com/2011/04/desafio-literario.html

    Conto consigo?

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  7. P.S. A música! Que engraçado!
    Na altura não fiz qualquer associação, mas agora a minha imaginação gosta de pensar em dois ramos antigos de Seixas a entroncarem numa árvore comum. E não é impossível, diria mesmo que é bastante provável.
    Se o meu amigo Luís, o apaixonado da genealogia, lê isto, ainda é rapaz para se lançar em investigações.

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  8. Caro José,
    Eu tinha lido o seu comentário anterior, que me deixou sem palavras, tão imerecidamente elogioso era. A verdade é que nem sabia como responder-lhe.
    Agora fico duplamente em dívida, pela delicada atenção de, tendo percebido que foi apagado pelo Blogger, vir de alguma maneira repô-lo.
    Seja como for, quero que saiba que nunca o esqueceria. A blogosfera tem coisas boas e tem coisas más, como a minha entrada de hoje prova mais uma vez, mas um comentário como o seu redime cem negativos e reconcilia-me com ela. Bem haja!
    Um grande abraço.

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  9. Cara Teresa:

    Vi, com muito cuidado, o seu questionário e, através dele, dei-me conta do que seria a banalidade de uma eventual resposta (sincera) minha às suas questões.

    E eu não opto, como às vezes vejo alguns, por construir respostas "inteligentissimamente" falsas, para dar-se ares de grande cultura.

    Como já deve ter dado conta, se segue o meu blogue, eu, desde há uns anos para cá, leio muito pouca ficção, concentrando-me em livros de atualidade política, nas memórias e biografias.

    Ora o seu questionário está manifestamente voltado para quem lê ficção, o que, infelizmente (e digo-o com triste sinceridade), não é o meu caso.

    Por isso, lamentando muito, tenho de recusar o seu simpático desafio.

    Desculpe lá!

    Um abraço

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