terça-feira, 5 de abril de 2011

Uma missão apaixonante

No sábado passado houve jantarada monumental em casa da Madalena. Os únicos convidados éramos o Paulo e eu, numa reunião há muito combinada.

A blogosfera é coisa mesmo muito engraçada e a que devo boas amizades e até grandes amizades. O Paulo e eu já nos visitávamos nos nossos blogues há muito. Só mais tarde, muito mais tarde, o Paulo encontrou num blogue qualquer, muito possivelmente o meu, a Madalena, amiga de infância, colega de turma de todos os anos do liceu. Tinham-se perdido de vista nas voltas da vida, agravadas pelos dez anos que a Madalena viveu no Brasil. Com o blogue dela parado há quase dois anos (és mesmo parva, mula!), foi no Facebook que passámos a encontrar-nos. E houve finalmente o jantar de sábado. Que durou até às oito da manhã de domingo, em conversa imparável. Conversa que, inevitavelmente, resvalou muitas e muitas vezes para uma enorme paixão que o Paulo e eu temos em comum: a Ópera. Era mais forte do que nós, várias vezes pedimos desculpa à Madalena, mas insensivelmente lá deslizávamos para o nosso grande amor. E lembrávamos óperas, árias, cantores, enredos, cantarolávamos.

O desenvolvimento foi surpreendente, e deleitou-nos aos dois. Na tarde do dia seguinte recebemos, via Facebook, a seguinte mensagem da Madalena:

«Fiquei aqui a pensar em toda a conversa de ópera que ouvi ontem e na pena com que fiquei de não poder juntar as vossas palavras à música descrita (para perceber melhor a vossa paixão) e em como, de repente, tenho um novo interesse. Ora eu gosto de ópera, do ponto de vista de quem não vê um boi do assunto.


Que tal empenharem-se os dois meninos em me "educar"? Sugiro uma ópera de cada vez, muito bem explicada pelos dois (a história interessa-me tanto como a música) e com links para download.

Qué tal

Seguiu-se resposta entusiástica do Paulo:

«Boa ideia. Acho que a Teresa vai gostar de participar no ensinamento. Mais tarde, quando fores iniciada, passaremos a Wagner (essa cátedra é minha) e a Rossini (especialidade da Teresa). 

O lado histórico e afectivo da coisa conta muito, por isso proponho começarmos com a Traviata de Lisboa. É impossível não gostar (vou ver se descubro links para download - deve haver). (A Lucia é minha, Teresa. OuvisteS?) — espertalhão, é para impingir a da Callas, em vez da da Sutherland!



La Traviata é uma ópera muito bonita. Como a Teresa disse ontem, Verdi compô-la a partir d'A Dama das Camélias, mas o libretista mudou os nomes às personagens.»


E eu, pouco depois:  

«Que missão apaixonante! E não precisas de comprar nada, nós fazemos-te cópia do que temos! E tenho aqui livros que são fabulosos para quem quer iniciar-se na ópera. Estou já a pensar no magnífico Opera 101, mas há mais.

Não concordo nada com o Paulo com o que diz da Traviata. Não é uma ópera muito bonita. É uma ópera LINDA! Concordo com a sugestão do Paulo de começares por ela (prepara-te para chorares muito), se bem que os especialistas sugiram para uma primeira abordagem a Bohème (Puccini) ou o Rigoletto (Verdi, baseada numa peça de Victor Hugo, Le Roi s'Amuse), por exemplo.
Paulinho, o que te sugiro é que faças cópia da tua Traviata (eu não tenho nenhuma das da Callas, a de Lisboa tive-a e ofereci-a (confesso que lhe destestava o som escuro). Tal como o Paulo, também matava para ter visto a Traviata de Visconti.
Damn, I'm so excited! :))))»


Poupo-vos a catadupa de mensagens cruzadas que se seguiu. Hoje houve almoço conspiratório. Problemas no computador impediram o Paulo de gravar a Traviata de Lisboa, trouxe-ma para que eu pudesse copiá-la. Eu, por minha vez, ia munida de livros, para decidirmos juntos o que mais interessaria à Madalena. Se, no fim disto tudo, ela desistir do seu recém-adquirido interesse, mata-nos de desgosto.

A banda sonora tem uma explicação: tentámos cantar Parigi, o Cara à Madalena, explicando-lhe o enquadramento, a nossa manifesta falta de voz (eu estou mais para basso profondo, estaria melhor para um Boris Godunov) agravada pela emoção a fazer-nos tremer a voz, perigosamente perto das lágrimas.

5 comentários:

  1. Eu é que te mato por expor assim a minha ignorância ao mundo, ó despudorada!!! :-)))

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  2. Já agora, e se não for pedir muito, educavam-me também. Ando há séculos sem comprar uma ópera, que Traviata me aconselham? Callas ou Sutherland?

    (comprei aqui há um par de meses ou mais a Lucia com a Sutherland, influência de quem? Ah, pois é.)

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  3. E essa educação da Madalena vai ser pública ou privada?

    l., vá pela Callas (em Lisboa). Eu tenho ambas, e apesar das tosses e outras falhas de uma gravação inicialmente não-oficial, gosto muito mais da da Callas.

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  4. Li seu curto comentário num blogue recente e, nem gostando nem deixando de gostar, percebi que você, por não se ter contextualizado, referiu Alves Redol, como se eu não conhecesse e não tivesse lido o livro, "Constantino, guardador de vacas e de sonhos"!... Acontece, que o blogue, "Constantino, guardador de vacas", pretende, apenas, ser isso, em toda a boçalidade da galhofa, resumida numa conversa de tasca como simples "guardador de vacas". Simples, não fosse o blogue de quem é. O que me surpreende, é a ingenuidade com que não se apercebem do enxovalho!... Se isso me incomoda?!... Na verdade, não, no entanto confesso que me dá um certo gozo "picar os miolos" de certos cromos espertalhões, que não têm qualquer respeito por nada nem ninguém e muito menos por Mulheres da blogosfera!... Não gosto de armadilhas, má educação e abomino qualquer espécie de chulice!...
    Quando algumas criaturas se referem a mim como sendo uma pessoa amarga, ressabiada, revoltada, meu sorriso alarga-se e, eu e meus filhos rimo-nos com a forma que os ditos “inocentes e respectivas ingénuas”, continuam a cair, constantemente, no conto do vigário!...
    Só para ficar com uma pequena ideia do calibre desse “guardador de vacas”, desde há mais de um mês a esta parte que a criatura, como anónimo, tem deixado um único comentário em vários dos meus poemas dizendo: “mais um poema... de merda”. Até lhe tenho feito a vontade e, para que se sinta um pouco mais realizado, lá lhos publico!... Porque até me dá um certo gozo, saber que um “cagãozito” qualquer, com o juízo há muito virado para o avesso, vai andar com a preocupação de ser descoberto, sabendo, logo à partida que já o foi!...
    Tenho blogues desde Janeiro de 2008 e, claro que tenho visto administradores do piorio e do melhor que se pode desejar, honestos e da mais baixa estirpe, com humor de fazer rir a bom rir e pessoas com uma tristeza enorme; todos eu respeito, sem excepção!... Aqueles que não respeitam a dignidade de cada um, não merecem qualquer respeito de minha parte, mas, ainda assim, até posso ser bastante cru e grosseiro coma as palavras, sem que isso signifique má educação!... Apenas, porque sou o que sou e… pouco mais!
    Quanto a comentários no blogue referido, não pretendo desperdiçar mais tempo com o dito cujo; cada um que entenda como quiser e aceite o que quiser. Nem mais aí.

    Queira desculpar, mas apenas vim por ter tocado em d’Alma. Sem contextualizar.


    Boa quinta feira



    Abraço

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