segunda-feira, 4 de abril de 2011

Diálogo com um jovem à rasca

Recebido por e-mail. Claro que é um boneco, uma divertida caricatura. Mas que tem muitos contornos verdadeiros, ah, meus amigos, tem mesmo!


ADENDA, duas horas mais tarde: fui alertada pela querida Pólo Norte, na caixa de comentários, para a origem deste hilariante texto. É de Rui Herbon, no Jugular, pode ser lido aqui. Obviamente, nunca pretendi apropriar-me de texto alheio, comecei por anunciar que tinha sido recebido por e-mail. Sem menção de autor, infelizmente. Agora que lhe sabemos a origem, um grande aplauso para Rui Herbon! É muito merecido.

— Então, foste à manifestação da geração à rasca?

  Sim, claro.

  Quais foram os teus motivos?

  Acabei o curso e não arranjo emprego.

  E tens respondido a anúncios?

  Na realidade, não. Até porque de Verão dá jeito: um gajo vai à praia, às esplanadas, as miúdas são giras e usam pouca roupa. Mas de Inverno é uma chatice. Vê lá que ainda me sobra dinheiro da mesada que os meus pais me dão. Estou aborrecido.

  Bom, mas então porque não respondes a anúncios de emprego?

  Rrrrrrrrrrrrrr...

  Certo. Mudando a agulha: felizmente não houve incidentes.

  É verdade, mas houve chatices.

  Então?

  Quando cheguei ao viaduto Duarte Pacheco já havia fila.

  Seguramente gente que ia para as Amoreiras.

  Nada disso. Jovens à rasca como eu. E gente menos jovem. Mas todos à rasca.

  Hum... E estacionaste onde? No parque Eduardo VII?

  Tás doido?! Um Audi TT cabrio dá muito nas vistas e aquela zona é manhosa. Não, tentei arranjar lugar no parque do Marquês. Mas estava cheio.

  Cheio de...?

  De carros de jovens à rasca como eu, claro. Que pergunta!

  E...?

  Estacionei no parque do El Corte Inglés. Pensei que se me despachasse cedo podia ir comprar umas coisinhas à loja gourmet.

  E apanhaste o metro.

  Nada disso. Estava em cima da hora e eu gosto de ser pontual.
Apanhei um táxi. Não sem alguma dificuldade, porque havia mais jovens à rasca atrasados.

  Ok. E chegaste à manif.

  Sim, e nem vais acreditar.

  Diz.

  Entrevistaram-me em directo para a televisão.

  Muito bom. O que disseste?

  Que era licenciado e estava no desemprego. Que estava farto de pagar para as reformas dos outros.

  Mas, se nunca trabalhaste, também não descontaste para a segurança social.

  Não? Pois... não sei.

  Deixa-me adivinhar: és licenciado em Estudos Marcianos.

  F***-se! És bruxo, tu?

  Palpite. E então, gritaste muito?

  Nada. Estive o tempo todo ao telemóvel com um amigo que estava na manif do Porto. E enquanto isso ia enviando mensagens para o Facebook e o Twitter pelo iPhone e o Blackberry.

  Mas isso não são aparelhinhos caros para quem está à rasca?

  São as armas da luta. A idade da pedra já lá vai.

  Bem visto.

  Quiriquiri-quiriquiri-qui! Quiriquiri-quiriquiri-qui!

  Calma, rapaz. Portanto despachaste-te cedo e ainda foste à loja gourmet.

—  Uma merda! A luta é alegria, de forma que continuámos a lutar Chiado acima, direitos ao Bairro Alto. Felizmente uma amiga, que é muito previdente, tinha reservado mesa.

  Agora os tascos do Bairro aceitam reservas?

  Chamas tasco ao Pap'Açorda?

  Rrrrrrrrrrrrrrrrrr... E comeram bem?

  Sim, sim. A luta é cansativa, requer energia. Mas o pior foi o vinho. Aquele cabernet sauvignon escorregava...

  Não me digas que foste conduzir nesse estado.

  Não. Ainda era cedo. Nunca ouviste dizer que a luta continua? E continuou em direcção ao Lux. Fomos de táxi. Quatro em cada um, porque é preciso poupar guito para o verão. Ah... a praia, as esplanadas, as miúdas giras e com pouca roupa...

  Já não vou ao Lux há algum tempo, mas com a crise deve estar meio morto, não?

  Qual quê! Estava à pinha. Muita malta à rasca.

  E daí foste para casa.

  Não. Apanhei um táxi para um hotel. Quatro estrelas, que a vida não está para luxos.

  Bom, és um jovem consciente. Como tinhas bebido e...

  Hã?! Tu passas-te ou quê? A verdade é que conheci uma camarada de luta e... bem... sabes como é.

  Resolveram fazer um plenário?

  Quê? Às vezes não te percebo.

  Costuma acontecer. E ficaram de ver-se?

  Ha! Ha! Ha! De ver-se, diz ele. Não estás a ver a cena. De manhã chegámos à conclusão que ela era bloquista e eu voto no Portas. Saiu porta fora. Acho que foi tomar o pequeno-almoço à Versailles.

  Tu tomaste o teu no hotel.

  Sim, mas mandei vir o room service, porque ainda estava meio ressacado.

  Depois pagaste e...

  A crédito, atenção. Com o cartão gold do Barclays.

  ... rumaste a casa.

  Sim, àquela hora a A5 não tinha trânsito. Já não havia malta à rasca a entupir o tráfego.

  Moras onde? Paço d'Arcos? Parede?

  Que horror! Não, não. Moro na Quinta da Marinha, numa casita modesta que os meus pais se vêem à rasca para pagar. Para a próxima levo-os comigo.

4 comentários:

  1. Simplesmente fabuloso!!! Desculpa, mas vou pedir emprestado e disseminar via mail (mas não do iPhone, q não tenho) ;)
    *

    ResponderEliminar
  2. Teresa,

    sei que é atenta à questão dos direitos de autor. O texto que subscreve é do meu amigo Rui Herbon que escreve no Jugular.
    Espreite aqui:
    http://jugular.blogs.sapo.pt/2529641.html

    Beijinhos

    ResponderEliminar
  3. Gatinha,
    Claro que sim, o que ´«e bom deve ser partilhado. Mas agora conhecemos a origem, é favor dar os devidos créditos.

    Ursosa,
    Já fiz adenda, obrigada pelo alerta! Recebi por e-mail, sem menção ao autor. Mas não fiz passar por meu, right? ;)

    Beijos!

    ResponderEliminar
  4. Eu sei, não esperava de si outra coisa. ;)

    Só quis que soubesse a sua origem.

    Outro beijinho

    ResponderEliminar